
É sempre útil dar nome aos bois, ajuda na identificação e na comunicação, boi manso, boi bravo, boi gordo, boi malhado, etc. Neste livro, dei nome a sete tipos de maus alunos na aprendizagem de autociência. Espero que esse livro possa lhe ajudar a identificar se você é um desses sete tipos e deixar de ser. Boa leitura e muitas EUrekas!
Em um povoado existia um jovem, muito estudado, que havia viajado o mundo inteiro atrás de conhecimento e fez várias formações, mestrados, doutorados, etc. O sonho desse jovem era se tornar o substituto do sábio desse povoado.
Um dia, o jovem marcou uma audiência com o sábio. Assim que o sábio abriu a porta, o jovem começou a despejar todo seu conhecimento, cursos e formações que adquiriu nas maiores universidades do mundo. O sábio apenas ouviu e perguntou: — Aceita uma xícara de chá?
O jovem aceitou o chá e continuou falando. O sábio encheu a própria xícara e depois começou a encher a xícara do jovem. Sem dar muita importância para o que o jovem falava, o sábio apenas olhava nos olhos do jovem e derramava o chá sobre a xícara. A xícara encheu, começou a transbordar, e o sábio continuou derramando chá na xícara. O rapaz, indignado, exclamou: — Você não vê que a xícara está cheia?
O mestre colocou a chaleira no chão e disse: — Meu rapaz, sua xícara está muito cheia, transbordando de tanto conhecimento e arrogância. Quando você esvaziar sua xícara, volte para iniciarmos seu treinamento. Hoje, dentro de você, não cabe mais nada.
Essa metáfora ilustra o que é um aluno cheio. Aluno cheio é o popular sabe tudo. Aluno cheio é o aluno que acredita que é professor do professor. O problema de ser um aluno cheio é que se você já sabe, por que aprender? Não seja um aluno cheio de teorias. Você não é teoria. E autoconhecimento não é mais teoria, é menos ignorância.
Autoconhecimento é uma jornada do ponto A até o ponto B, mas não é uma jornada de deslocamento. Você não viaja de carro. Autoconhecimento é uma jornada consciencial. O ponto A é o estado de ignorância de si, ignorância sobre o que é ser humano. O ponto B é o estado desperto, consciente. Eis o problema!
Você já é um ser humano, então, você acredita que já sabe. Você tem convicção! Tanta convicção que até dá conselhos. Só que você não sabe. Você pensa que sabe. Se você soubesse mesmo, não vivia mal. Viver mal é a prova de que você não sabe o que é ser humano.
Mas é pior! Além de não saber, você não sabe que não sabe. Você ignora que ignora. Mas como você pensa que sabe, conclui: “Por que vou me dar ao trabalho de descobrir o que já sei?”. Eis como seu autoconhecimento termina antes de começar.
Você é um aluno que acredita que é professor. Eu chamo isso de ignorância Phd. O problema da ignorância Phd é o mesmo de acreditar que você sabe pilotar um avião quando, de fato, ignora. Acidente garantido!
É por isso que você vive mal. É impossível viver bem em estado de ignorância. E como sair da ignorância Phd? O primeiro passo é admiti-la.
Ele tem RG e brevê
É doutor e P-H-D
Anel de bacharel e você
Ainda quer discutir com o cara
Pois bem, fique você sabendo, ninguém
Sobre tudo, contudo e porém
Tem conhecimentos além
Pra poder discutir com o cara
Mas se arrancar o pingo do “i”
Quebra as pernas e vira saci
Já não sabe o valor de pi
Não sabe onde põe a cara
Ele pensa que sabe
Pensa que sabe
Ele pensa que sabe
Pensa que sabe
Ele pensa que sabe
Pensa que sabe
Ele pensa que sabe
Não sabe nada
Não sabe nada
Não sabe nada
Não sabe nada
Não sabe nada
Mas quem sabe já não pensa
E quem pensa já não sabe
Só quem sabe a diferença: sabe
Teve uma época que frequentei um trabalho espiritualista. Eram palestras com grupos pequenos, entre 15 a 20 pessoas, então, podíamos interagir diretamente com o professor. Com o tempo, fiquei íntimo do professor. Então, de repente, ele começou a me chamar de “sábio”. Por um lado, achei o máximo. “Até que enfim alguém me reconheceu!” pensei. Mas quando a esmola é demais o santo desconfia.
Desconfiei, mas fiquei na minha. O professor continuou me chamando de sábio. Sábio pra lá, sábio pra cá. Às vezes, alguém fazia uma pergunta e ele encaminhava para mim: “O que você acha, sábio?”. Eu papagaiava um monte de conceitos filosóficos, psicológicos e espiritualistas.
Muito tempo depois, fui acompanhar esse professor em uma palestra. Nesse dia, tinha uma pessoa participando da palestra que era tipo sabe-tudo. De repente, o professor começou a chamar essa pessoa de sábio. Putz! Lembrei dele fazendo o mesmo comigo e a ficha caiu! Quando o professor me chamava de “sábio”, não estava elogiando minha sabedoria, estava apontando minha ignorância Phd. Eu não sabia, eu pensava que sabia.
Entendeu, sábio?
Quanto tempo de sonho perdido
Quanto tempo esquecido
É melhor nem lembrar
Eu pensei que entendia de tudo
Que sabia de tudo
Mas vivia no ar
Mas agora eu sei
O que aconteceu
Quem sabe menos das coisas
Sabe muito mais que eu
Dos conselhos que às vezes ouvia
Eu sempre fugia
Não queria entender
E num mundo de sonho andava
E só acreditava em mim
E em você
Mas agora eu sei
O que aconteceu
Quem sabe menos das coisas
Sabe muito mais que eu
Humildade não é murchar feito uva-passa. Não é virar capacho. Humildade é justiça. É encaixar em si, sendo justamente do tamanho que se é: nem mais, nem menos. Não arrote iluminação só porque devorou a biblioteca. Não banque o escolhido só porque assistiu Matrix. Seja do seu tamanho, sem Photoshop.
Você é um aluno de autoconhecimento. Aluno é aquele que está em estado de ignorância. Ter uma mochila cheia de mapas não significa que você conhece o território. Tenha a humildade de admitir que você não sabe — apenas acredita. Não é demérito assumir a verdade. É nobre e benéfico. Quando você for sábio e tiver autoconhecimento, faça o mesmo, tenha humildade de reconhecer sua sabedoria.
Aluno fechado é quando você não quer aprender. Por exemplo, um amigo diz que você TEM QUE fazer o curso xis, porque é maravilhoso, mudou a vida dele e vai mudar a sua também. Você faz e acha péssimo. O curso pode até ser maravilhoso, mas você não aprende porque está contrariado. Você não quer aprender aquilo, você quer que o curso acabe o quanto antes para poder ir embora.
Aprendizagem é como fome: ou você tem fome de aprender algo, ou não tem. E se você não tem, não adianta se forçar a ter. Quando você se obriga a aprender algo, o prazer de aprender desaparece e você se fecha para a aprendizagem.
Todo mundo tem fome de aprender alguma coisa. Quem não quer aprender isso, quer aprender aquilo. Procure o que você tem fome de aprender e abandone o que não tem. Não entre em um processo de aprendizagem sem vontade de aprender, você só vai perder tempo e energia à toa.
Estar com a faca e o queijo na mão é uma expressão usada para dizer que se tem tudo. Mas não é verdade! Tem algo mais importante do que ter a faca e o queijo na mão. O que? Ter fome. Fome é o que dá sentido a faca e o queijo. Fome é o principal. Fome é interesse. É a fome que inventa a faca para comer o queijo.
Por isso, quando o outro não tem interesse no seu queijo, não há o que fazer. Seu queijo pode ser lindo, maravilhoso, perfurado e perfumado. Não há o que fazer. Não adianta obrigar o outro a ter fome. Quando você não tem interesse no queijo do outro, idem. Não adianta se obrigar a ter fome. Sem fome não se come. Comer forçado dá ânsia de vômito.
A experiência humana é um self-service para todos os tipos de fome. Self sirva-se. Respeite a fome do outro. E boa refeição!
Provavelmente você já ouviu a expressão “ir para China”. Significa ficar perdido. É similar a expressão “viajou na maionese”. Praticar autociência é o oposto de ir para a China. Autociência é ficar na esquina. Mas o que é ir para China e o que é ficar na esquina?
Você sabe o que é mindfullnes? É um termo em inglês que significa atenção plena. Mindfullnes é também uma prática de concentração. Se você ficar um tempo prestando atenção na sua respiração, você estará praticando Mindfullnes. Se você ficar um tempo observando a chama de uma vela, você estará praticando Mindfullnes.
Ficar na esquina é mindfullnes, ou seja, atenção plena. Ficar na esquina é focar no que você está estudando sem se distrair. No caso da prática da autociência, o que você está estudando é você, então, ficar na esquina é ficar em si, ou seja, ficar em estado de auto-observação.
E o que é ir para China? É sair de si e ir para crenças, teorias, achismos. Aluno chinês é quando você perde o foco, perde a auto-observação, quando se distrai, quando fica pulando de devaneio para outro, sem prestar atenção no que realmente importa: você.
Aluno perfeito é quando você não consegue aprender com seus erros porque você é perfeito, ou seja, você não erra. Por exemplo, ao invés de estudar sua vaidade, você olha para a vaidade dos outros e analisa a vaidade dos outros. Ao invés de estudar suas maldades, você olha para as maldades dos outros e analisa a maldade dos outros.
Primeiramente, autoconhecimento não é estudar os outros, é estudar a si. Segundo, você não tem acesso ao que se passa dentro dos outros, logo, é impossível estudá-los.
Se você quer autoconhecimento, não seja um aluno perfeito. É através dos erros que a aprendizagem surge. Sempre e só através dos erros. Fingir perfeição não te ajuda a aprender nada, pelo contrário, só atrapalha.
Você já empurrou uma pedra? O que acontece quando você para de empurrar? A pedra para! Aluno pedra é assim, só se movimenta quando é empurrado.
Aluno pedra não é aluno, é um cumpridor de tarefas. Faz o que tem que ser feito e nenhum milímetro a mais. Tudo que é facultativo, ele não faz. O que não é obrigatório, ele não faz. E se o prazo para fazer algo é 7:00, ele procrastina até o limite e entrega às 6:59.
Aluno pedra não estuda para aprender, estuda para não ser excluído, reprovado, penalizado. Não é motivado pelo prazer, é motivado pelo medo.
Autoconhecimento requer automotivação. Professores são muletas, podem te ajudar na caminhada, mas não podem caminhar por você.
Se quer progredir a passos largos no autoconhecimento, não seja um cumpridor de tarefas. Se joga na aprendizagem. Se a tarefa for ler uma vez, leia três. Se for escrever uma redação, escreva cinco. Se for pensar meia hora, pense o dia inteiro.
Sem economia poooorraaaaa!
Um grupo de homens seguia pelo inferno rumo ao paraíso, cada um carregando sua cruz. Um deles, muito esperto, achou que sua cruz estava muito pesada, pegou um serrote e cortou um pedaço. Ninguém reclamou. Nada de mal aconteceu. Sua cruz ficou mais leve. Ele cortou outro pedaço. Ninguém reclamou. Nada de mal aconteceu. Sua cruz ficou mais leve. Ele foi cortando cada vez mais pedaços, até ficar só com um cotoco de cruz.
Quando o grupo de homens chegou na porta do paraíso, todos estavam exauridos e o homem esperto estava descansado. Porém, na divisa entre o inferno e o paraíso, tinha um abismo. Para atravessar o abismo era preciso usar a cruz como ponte. Todos fizeram isso. Quando chegou a vez do homem esperto, sua cruz estava muito pequena e não chegava do outro lado. Então, ele teve que voltar para pegar todos os pedaços de cruz que havia cortado.
Essa metáfora ilustra bem o que é um aluno coxa e a consequência disso. Aluno coxa é aquele que faz nas coxas, ou seja, faz mal feito. O objetivo do aluno coxa é enganar o professor e passar de ano. E ele até consegue. Mas em se tratando de autoconhecimento, de que adianta?
Autociência não é para passar no vestibular e adquirir diploma, é para você viver bem. Quando você estuda mal, você não aprende e continua vivendo mal. Para viver bem, você precisará voltar e estudar tudo novamente. Sua esperteza é burra. Quer ser esperto? Estude com dedicação. Senão, o barato vai sair caro.
Aluno fantasma é o tipo mais comum de aluno, principalmente quando se trata de autoconhecimento. O objetivo do aluno fantasma é fingir de morto. Ele quer falar, mas não fala. Quer perguntar, mas não pergunta. Quer participar, mas não participa. O lema do aluno fantasma é: fingir e fugir.
O problema de ser um aluno fantasma, é que autoconhecimento não é se esconder, é se revelar. Então, se você quer mesmo se conhecer, precisa se expor, precisa sair da toca, precisa parar de fingir de morto e interagir com o professor para que ele possa te conhecer e te ajudar.