Eu achava (e ainda acho) que os brasileiros deveriam primeiro aprender a ler e escrever em português, conhecerem as produções artísticas brasileiras, para depois se preocuparem com o que vem dos Estados Unidos. Então, mesmo sabendo falar inglês, não me agradava à ideia de ser professor. Mudei de opinião depois que fiz uma viagem para Machu Picchu.
Quando meu pai morreu, minha irmã decidiu sair da bolha executiva e fazer viagens alternativas. Uma dessas viagens foi para Machu Picchu. Fomos juntos. Aconteceu muita coisa interessante nessa viagem, mas o que importa contar aqui é o dia que acampamos no posto de apoio da trilha Inca.
Depois de um dia inteiro subindo a cordilheira dos andes e mastigando folha de coca, chegamos no posto de apoio da trilha Inca. A cidade de Cusco, de onde havíamos saído, é conhecida como o umbigo do mundo. O posto de apoio da trilha Inca era o centro do umbigo.
Durante o pôr do sol, num pátio do tamanho de uma quadra de vôlei, tinha gente do mundo inteiro interagindo e conversando. E todos no pátio estavam conversando em inglês. Eram pessoas de culturas diferentes, com valores e crenças diferentes, mas conversando como se fossem da mesma cidade.
Não sei se a língua inglesa é o esperanto que deu certo ou se é a estratégia de dominação norte-americana que deu certo. Mas naquele momento, vendo todos interagindo e conversando num mesmo idioma, baixei a guarda da resistência ao estrangeirismo e compreendi o bem que a aprendizagem do inglês podia proporcionar às pessoas e ao mundo.
Por isso aceitei dar aulas de inglês. Primeiramente, em empresas, depois, numa escola. E foi por causa do que aconteceu nessa escola que comecei a entrar na autociência.