A escritora Adélia Prado, em um texto intitulado “O que a memória ama, fica eterno”, diz o seguinte:
“Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano. É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo. O tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos, mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.”
Nesse texto, Adélia Prado nos faz lembrar da importância da memória na experiência humana. Só que a memória é mais do que importante, é fundamental. Memória é tudo. Tudo que você pensa é baseado em suas memórias. Tudo que você faz é baseado em suas memórias. Sem memória você é como um bebê recém-nascido, só consegue mijar e cagar.
Tudo que você pensa, faz e que resulta em mal viver, também tem origem em suas memórias. Por isso é fundamental voltar às memórias da infância e analisá-las para que você possa se libertar de padrões de comportamentos nocivos. É na infância que estão assentados os primeiros tijolos dos seus padrões de comportamentos atuais.
Ao ficar consciente dos primeiros tijolos, você reconhece todos os tijolos subsequentes, você reconhece a casa inteira de comportamentos nocivos. Só que raramente você se dá ao trabalho de voltar ao passado para descobrir o alicerce dos seus comportamentos nocivos. Até porque, você não tem consciência do papel central da memória na sua experiência. Você não tem consciência que você-pessoal é feito de memória.