Se justo e injusto fossem absolutos, não haveria conflito por justiça no mundo, pois não haveria divergência sobre a ação justa e a ação injusta. Toda ação justa seria visivelmente e incontestavelmente justa. Toda ação injusta seria visivelmente e incontestavelmente injusta. Não haveria necessidade de tribunais, nem de leis e sistemas judiciários.
Contudo, cada dia as leis e os processos judiciais aumentam nas sociedades humanas. Por que? Porque justo e injusto não são absolutos, são definições humanas, mentais e particulares. Ou seja, cada cabeça é uma sentença, pois cada um tem um critério pessoal do que é justo e injusto, assim como cada um tem um critério pessoal do que é feio e bonito.
No filme Carandiru, que mostra a saga do Dr Drauzio Varella interagindo com os prisioneiros do presídio, todos os prisioneiros tem justificativas para os seus crimes. O Dr Drauzio Varella observa isso e comenta com outro médico. Seu interlocutor lhe responde: “Você ainda não percebeu que todos os prisioneiros aqui dentro são inocentes?”.
Justo e injusto são atribuições pessoais. O que eu considero justo, você pode considerar injusto e vice-versa. E até aí tudo bem. É assim que funciona. O problema é ignorar isso e partir em busca de justiça. Sendo que justo e injusto é particular, buscar justiça se torna uma tentativa de estabelecer algo particular como absoluto, ou seja, se torna uma tirania.