Grupo ou time?

17/08/2021 by in category Capitulos, Democracia universal, Textos tagged as , , with 0 and 0

Quando um jogador faz um gol, acreditamos que quem fez o gol foi só aquele jogador. Foi fulano que chutou a bola, então, foi fulano que fez o gol. Mas como a bola chegou até fulano? Foi fulano que jogou o jogo inteiro sozinho até aquele momento de fazer o gol?

Claro que não! Fulano fez a parte dele no jogo. E fez muito bem feito, marcou o gol. Mas nenhum jogador faz tudo sozinho em um time. Tudo em um time é um trabalho de equipe. Para bola chegar no pé do fulano e ele fazer o gol, é preciso todo um trabalho de equipe. Todos os jogadores do time precisam trabalhar conjuntamente e com o mesmo objetivo.

O mesmo acontece com todo e qualquer trabalho coletivo. Participar de um trabalho coletivo é como ser jogador de um time. Seu comportamento não depende só de você, depende simultaneamente de você e de todos os integrantes do trabalho.

Pense no seu corpo e nos órgãos. Seu coração, por exemplo, pode bombear o sangue sozinho? Sim e não. Sim, porque essa é a função do coração. E não, porque não é o coração que conduz o sangue até o coração, são as veias. E não são as veias que produzem o sangue, é a medula óssea. E assim por diante. 

Nenhum órgão no corpo consegue fazer o trabalho do coração. Isso é individualidade. Cada órgão tem uma natureza, uma função, uma singularidade. Mas o coração não consegue fazer seu próprio trabalho individual sem que todos os órgãos façam também e simultaneamente o trabalho individual deles. Isso é individualidade com cooperação, trabalho coletivo.

Em um trabalho coletivo, a individualidade é fundamental para o benefício de todos, quanto melhor cada participante executa sua participação, melhor para todos, mas o individualismo é prejudicial para todos. Imagine que o coração decidisse bombear sangue de segunda a sexta e dormir no sábado e no domingo. O que aconteceria no primeiro final de semana após essa decisão? O corpo inteiro morreria. E o coração? Morreria junto.

Individualismo é a crença de que você é independente. Isso é um equívoco. Você é um indivíduo e tem autonomia, mas sendo que você faz parte, então, não é independente, é participante de um coletivo, integrante de um todo interdependente.

Em uma coletividade, a qualidade da sua manifestação depende da qualidade da manifestação coletiva e a qualidade da manifestação coletiva depende da qualidade da sua manifestação. Todos ganham com a individualidade de todos, mas todos perdem com o individualismo de cada um.

Essa é a diferença entre um time e um grupo. Um grupo é um amontoado de indivíduos se perguntando: “O que todos pode fazer para me beneficiar?”. Um time é um trabalho coletivo em que cada indivíduo se pergunta: “O que eu posso fazer para beneficiar todos?”.

Um grupo convive na base do “cada um por si”, que resulta na “guerra do todos contra todos”. Um time convive na base do “um por todos e todos por um”, onde cada indivíduo faz sua parte, milímetro a milímetro, momento a momento, no máximo da sua excelência, resultando no benefício de todos, inclusive de si próprio. Um grupo é um amontoado de eus. Um time é nóis.

Para terminar, deixo você, leitor, com as palavras do treinador Tony D’amato, no filme Um Domingo Qualquer: “Eu não posso obrigar você. Você tem que olhar para quem está do seu lado, olhar dentro dos olhos do seu companheiro e ver um homem que vai disputar cada milímetro com você. Ver um homem que vai se sacrificar pelo time, porque ele sabe que quando chegar a hora, você fará o mesmo. Isso é um time. Então, ou saramos agora, como um time, ou morreremos, como indivíduos”.

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