O foda-se entrou na minha história através dessa música, entre o fá sustenido e o lá maior. Por volta de 2006, eu participava de uma banda chamada “Seus Putos”. Era uma banda de amigos de infância. Um dos integrantes da banda, o baixista, andava muito estressado com a vida, cuspindo marimbondos. Para ajudá-lo a desestressar, tive a ideia de fazer uma música dizendo metade do que está dito no refrão.
“Deixa pra lá, meu irmão. Deixa pra lá, meu velho! Deixa pra lá, aperte o botão! Não leve tão a sério”. O foda-se já estava ali, na parte de apertar o botão, mas estava implícito e discreto como geralmente as coisas são em uma letra de MPB.
Quando a música ficou pronta, levei para banda tocar junto. Foi aí que fodeu tudo! Com guitarra e bateria, quando a música era tocada, ficava um buraco instrumental entre uma frase e outra. “Se a comida está sem sal… (buraco)… Se enfiou o pé na jaca… (buraco)… Se alguém chutou o pau… (buraco)… Da sua barraca.”
Tocamos a música uma vez. Todos gostaram, mas nota sete. Não foi aquela empolgação de ouvir um hit. Quando fomos tocar a música novamente, passada a introdução, quando falei a primeira frase e surgiu o primeiro buraco, o baterista gritou: “fooooooda-se!”.
Caímos na gargalhada e imediatamente a nota sete se transformou em dez. Todos os próximos buracos foram preenchidos com um “fooooooda-se” gritado a plenos pulmões, não só pelo baterista, mas por todos. A empolgação surgiu e permaneceu durante todo ensaio.
A música se tornou um hit. Era a música mais aguardada dos shows. A plateia inteira gritava foooooooda-se, até os garçons. Quando o show terminava, o público nos obrigava a tocar a música novamente, só para gritar foda-se mais uma vez e desopilar o fígado antes de voltar para suas vidas fodidas.
E foi assim que comecei a me tornar íntimo do foda-se.