Primeiro a prática, depois às considerações.
Tudo que é dito para você é uma hipótese, uma teoria, uma declaração que pode ser verdadeira ou falsa. Por exemplo, eu posso te dizer que sou um extraterrestre. Você pode acreditar ou duvidar, mas você não tem certeza. Minha declaração tanto pode ser verdadeira como pode ser falsa.
Eu posso te dizer que sou um viajante do tempo. Que nasci em 3056 e vim para 2025 para salvar o planeta da extinção. Você pode acreditar ou duvidar, mas você não tem certeza. Minha declaração tanto pode ser verdadeira como pode ser falsa.
Eu posso te dizer que sou a reencarnação de Adão. Que não comi a maçã, que a serpente é o dono do condomínio celeste e que fui expulso porque não paguei o aluguel. Você pode acreditar ou duvidar, mas você não tem certeza. Minha declaração tanto pode ser verdadeira como pode ser falsa.
Posso te dizer uma infinidade de coisas e tudo que eu disser, você não tem como ter certeza se é verdade ou mentira. Porém, tem uma coisa que é impossível que você tenha qualquer dúvida. Tem uma coisa que se eu te falar, imediatamente a verdade ficará explícita, óbvia, evidente, inegável e irrefutável.
Que coisa é essa?
— Eu sou mudo!
Quando digo “eu sou mudo” você imediatamente sabe a verdade. Você imediatamente sabe que não sou mudo. Não há nenhuma dúvida sobre isso. É óbvio que não sou mudo. Mas por que você tem certeza que não sou mudo se estou afirmando que sou mudo?
Você tem certeza que não sou mudo, porque se eu fosse, seria impossível eu dizer que sou mudo. O fato de estar falando que sou mudo é a prova de que não sou mudo. Contra fatos não há argumentos. Contra fatos não há dúvida. O fato é óbvio. O óbvio é inegável e irrefutável.
Em um texto chamado “Nota zero para os cientistas”, do livro “Iluminação É Caviar”, conto o seguinte:
Estava assistindo um debate sobre a natureza da realidade com um cientista Phd em física e um estudioso do budismo, aluno do Dalai Lama. O cientista era um escritor best seller, inteligente, bem-humorado e ótimo comunicador. Ele começou sua participação dizendo o seguinte: “Na ciência, tem mais coisas que não sabemos do que coisas que sabemos. Mas sabemos algumas coisas e vou compartilhar um pouco do que sabemos”.
Aí sim! Nota dez para os cientistas!
No meio do debate, o estudioso em budismo questionou o cientista sobre a consciência. Perguntou qual era a relação da consciência com a natureza da realidade. O cientista respondeu: “A consciência faz parte das coisas que ainda não sabemos”.
Aí não! Nota zero para os cientistas!
Por que nota zero para os cientistas? Ora, por que a declaração do cientista “A consciência faz parte das coisas que ainda não sabemos” é idêntica à declaração “eu sou mudo”. Só que os cientistas não percebem isso.
Me diga algo que você não sabe! Qualquer coisa! Vamos supor que você não sabe meu nome. Ótimo! Sendo assim, me diga:
— Como você sabe que não sabe meu nome?
EUrekaaaaa? Percebe que até para não saber algo é preciso ter a capacidade de saber, é preciso consciência. É por isso que quando o cientista respondeu “A consciência faz parte das coisas que ainda não sabemos”, ele estava fazendo o mesmo que na declaração “eu sou mudo”. O cientista só é capaz de saber que não sabe porque ele é um ser consciente. E sendo um ser consciente, a resposta para a pergunta “o que é consciência?” é o oposto do que ele respondeu.
É óbvio que o cientista sabe o que é consciência. Consciência é saber. Consciência é o que está possibilitando ele dizer que não sabe o que é consciência. Caso contrário, ele não teria como saber que não -sabe. Nem ele, nem você, nem nenhum ser do universo.
O problema é que o cientista, assim como todos os seres humanos, confundem saber com raciocínio. O que o cientista quis dizer quando disse “a consciência faz parte das coisas que ainda NÃO SABEMOS”, é que “a consciência faz parte das coisas que ainda NÃO ENTENDEMOS”.
Aqui tem uma boa notícia e uma má notícia. A má notícia é que jamais iremos entender. É impossível entender a consciência porque é a consciência que sabe do pensamento e não o pensamento que sabe da consciência. A boa notícia é que basta entender isso e você já está imediatamente entendendo o que é consciência.
Consciência é saber. Simples assim! Óbvio assim! Irrefutável assim! Inegável assim! Exatamente assim! Sem sombra de dúvida!
Sei que não-sei é a metodologia mais fácil para despertar a consciência e sair da confusão entre saber e pensar. Mas você também pode usar algo que você sabe para fazer o mesmo exercício.
Me diga algo que você sabe! Qualquer coisa! Vamos supor que você sabe meu nome: Ferrari. Ótimo! Sendo assim, me diga:
— Como você sabe que sabe meu nome?
EUrekaaaaa? Percebe que você sabe meu nome, mas você não sabe como você sabe meu nome. Se eu te perguntar se você tem certeza que sabe meu nome você me dirá:
— Com certeza! Claro que eu sei! Seu nome é Ferrari.
Mas se volto a te perguntar:
— Como você sabe que sabe meu nome?
Novamente você não consegue responder. No máximo você responde:
— Não sei! Apenas sei que sei!
Por que você não consegue saber como sabe meu nome? Porque meu nome é um sabido e não um saber. Meu nome é um pensamento do qual você está sabendo. É a consciência que sabe do pensamento e não o pensamento que sabe da consciência.
Eis o paradoxo da iluminação. Quando alguém te pergunta se você sabe o que é iluminação, você responde que sabe. Quando alguém te pergunta como você sabe, você responde que não sabe. Iluminação nada mais é do que saber que sabe (sei que sei). Só isso! Nada além disso.
Saber do pensamento não é algo que você não tinha antes e adquiriu, sempre foi assim, nunca foi diferente, você que estava ACREDITANDO que pensar é saber. Não é! Isso é um equívoco. Pensar é mexer o caldeirão dos pensamentos. Saber é consciência. Saber é capacidade cognitiva. Saber é isso que você está fazendo agora e sempre e não consegue parar de fazer.
Outro equívoco é acreditar que iluminação é uma experiência. Se iluminação fosse uma experiência:
1) Quem estaria sabendo da experiência da iluminação?
2) Iluminação terminaria, porque toda experiência tem começo, meio e fim.
3) Iluminação seria subjetiva, pois toda experiência é subjetiva.
4) De nada adiantaria as escolas e os mestres falarem sobre iluminação, porque experiência é particular, então, cada mestre teria uma iluminação diferente dos outros mestres e dos seus alunos.
Iluminação é saber que sabe. Saber que sabe não é uma experiência e também não é algo que você ainda não tem e precisa adquirir. Você sempre sabe que sabe. Se não soubesse, não teria como saber de nada. O que te impede — ou melhor — impedia de atingir a iluminação era acreditar que pensar é saber. Equívoco esclarecido!
Está oficialmente iluminado!
Buscar conhecimento é buscar certeza. Você tem necessidade de certeza assim como tem necessidade de se alimentar. Não é opcional. Você pode dizer que não se importa, que não tem essa necessidade, mas é mentira. Você tem essa necessidade e não tem como deixar de ter.
Mas por que você busca certeza. Já se perguntou sobre isso? É simples! Enquanto não há certeza, há dúvida. Enquanto há dúvida, não há paz. É por isso que você busca certeza, você quer paz.
É preciso certeza para ter paz? Sim, é impossível ter paz com dúvida. Se fosse possível, você já teria paz, pois você vive na dúvida. Se você quiser paz, precisa sair da dúvida e ter certeza.
Então, porque quanto mais a ciência e o conhecimento científico avança, maior a dúvida, a incerteza, e a angústia? Eis a questão que vale a paz profunda e permanente.
O problema é que é impossível ter certeza.
Como assim? Se é preciso ter certeza para alcançar a paz profunda e permanente, mas é impossível ter certeza. Então como alcançar a paz profunda e permanente?
Eis a questão que vale a paz profunda e permanente com cobertura extra de bem viver. É impossível ter certeza. Mas é totalmente possível e simples, ter SERteza.
Certeza diz respeito ao sabido (conhecimento). Conhecimento muda conforme o ponto de vista. Por isso é impossível ter certeza. SERteza diz respeito a vista sem ponto, ou seja, ao saber. Saber é permanente. Por isso é possível e simples ter SErteza.
SERteza é saber que sabe. Esse livro foi escrito para te ajudar a ter SERteza. Se você de fato praticou os exercícios “sei que não-sei” e “sei-que-sei”, você deve ter SERteza agora. Se ainda ficou alguma dúvida, é porque continua preso no equívoco de acreditar que pensar é saber. Refaça os exercícios até ter SERteza.
Boa prática!
Feito água
numa gota de chuva
escorrendo pelo vidro
Feito a boca no batom
Feito som explodindo
no ouvido
Feito as cores no arco iris
Feito pano escondido
no vestido
Feito argila no tijolo
Feito a fôrma
que dá forma
ao bolo
Eu sou, eu sou
o saber no sabido
Mas jamais
reconhecido