Você não reclama com o caixa eletrônico, mas você reclama com o funcionário humano do banco que executa o mesmo serviço do caixa eletrônico. Por que?
Até reclamo com o caixa eletrônico, mas sei que não vai dar em nada.
Por que não vai dar em nada?
Porque o caixa eletrônico é um robô programado.
O caixa eletrônico se comporta sempre de acordo com o gabarito dele (programação dele). E o ser humano?
O ser humano tem autonomia para tomar decisões e mudar de comportamento. Por isso reclamar com o atendente do banco é diferente de reclamar com o caixa eletrônico.
Ao invés do termo “autonomia para tomar decisões” vou usar a palavra “arbítrio”. Você não reclama com o caixa eletrônico porque sabe que o caixa eletrônico não tem arbítrio, logo, é impossível convence-lo a mudar de comportamento. Você sabe que pode chorar, espernear, chantagear e até explodir o caixa eletrônico, ele não vai mudar de comportamento para satisfazer seu desejo. Por isso você nem tenta. Mas você tenta com o outro ser humano, por que?
Porque o outro ser humano pode decidir mudar de comportamento e atender minha reclamação.
Exato! Você não consegue convencer o caixa eletrônico a lhe agradar, mas consegue convencer um ser humano. Mesmo que você apontar uma arma para um caixa eletrônico e disser “Me dá todo seu dinheiro ou eu atiro e te mato!”, o caixa eletrônico não vai mudar de comportamento. Você sabe disso. Então, você nem tenta. Porém, na infância, quando sua mãe tirou a teta da sua boca, você chorou. E sua mãe, mesmo cansada, mesmo sem leite, mesmo com o bico do peito doendo, ou seja, mesmo contrariada, deu a teta de volta para lhe agradar. Nesse momento você fez a matricula na faculdade do outroísmo e teve sua primeira lição de como transformar um ser humano em um escravo seu. Basta chorar e reclamar. Muita prática e hoje você é o mestre do mimimi. O problema é que são milhões de seres humanos no mundo e apenas um deles é sua mãe. Então, quando está convivendo com esse outros seres humanos, por mais que você chore, reclame e tente, a teta não vem.
Então, acredito que o amor impossível é possível porque o outro ser humano pode optar por me agradar, mesmo que ao fazer isso ele esteja desagradando a si mesmo?
Exato! E vice versa. Você tem arbítrio, então, você pode se obrigar a optar pelo que é mal, ruim, falso e nulo. Você sofre e vive mal quando faz isso. Mas isso é possível. Então, você passa a acreditar que é possível amar o que você odeia. Amar não é possível, por isso você odeia. Mas é possível optar por viver assim. Isso é o outroísmo submisso. No outroísmo impositivo, você tenta obrigar o outro a fazer, gostar, valorizar ou pensar igual você. Você não tem como controlar o arbítrio do outro, mas o outro se deixa ser controlado por você. Isso lhe dá a falsa impressão de que você consegue controlar o arbítrio do outro e por isso você acredita que consegue fazer o outro amar o que odeia.