Vivi minha infância inteira em São José Do Rio Preto. Mudei para São Paulo quando tinha 13 anos. Quer dizer, não mudei, fui arrastado pelos meus pais completamente a contragosto. Eu amava Rio Preto e odiei São Paulo. Para quem vem de outro sonho feliz de cidade, São Paulo é mesmo o avesso do avesso do avesso do avesso. Aprendi a amar a Paulicéia Desvairada, mas ainda assim, era tudo longe, caro, demorado, e principalmente, cheio.
Em 2005, eu havia separado da minha primeira esposa e não havia mais motivo para continuar doando sangue para São Paulo. Decidi alugar meu apartamento e mudar para o sítio da minha avó, perto de Rio Preto. Minha despesa imobiliária se transformaria em fonte de renda, eu ficaria hospedado na tranquilidade do ambiente rural e faria companhia para minha avó que tinha ficado viúva recentemente. Era o plano perfeito. Aluguei meu apartamento e fui.
No começo, me dediquei a aprender como tudo funcionava no sítio. Eu andava para cima e para baixo com o caseiro como se fosse um estagiário. Aprendi a cortar, moer e alimentar as vacas com napier (espécie de capim). Aprendi a alimentar as galinhas com milho, alimentar os porcos com lavagem e farelo, recolher ovos, tirar leite, carpir o pomar, entre outras atividades. No tempo vago, tocava violão e escrevia para o Blog.
De vez em quando, minha mãe vinha visitar a mãe dela (minha avó) e seu filho (eu). Numa dessas vezes, ela disse que iria viajar para o exterior e perguntou se queria que trouxesse algo. Nessa época, a importação não era fácil e barata como hoje. Pedi que me trouxesse uma filmadora portátil. Passado um tempo, ela voltou de viagem e me entregou a filmadora.
Um amigo de São Paulo havia me falado de um site na internet chamado youtube. Segundo ele, o tal do youtube iria revolucionar o mundo, pois qualquer um podia ter seu próprio canal de televisão dentro deste site. Assim que ganhei a filmadora, decidi fazer um teste. Fixei a câmera num pedestal e gravei meu primeiro vídeo falando sobre meditação. Depois carreguei no youtube.
A primeira vez que ouvi essas duas palavras “significante” e “significado” foi na faculdade de comunicação, numa matéria que todo mundo levava bomba, chamada semiótica. Quase levei bomba também. A professora explicava, explicava, mas não entrava na minha cabeça. Não entendia porque tinha essa matéria chata e inútil no curso de comunicação. Quando tive o despertar existencial, os termos “significante” e “significado” ressurgiram na minha cabeça com total sentido.
Naquela época, havia muito pouco conteúdo sobre meditação no youtube, menos ainda em português, e até hoje, nenhum explicando meditação através dos conceitos de significante e significado. O vídeo foi muito bem recebido e teve muitas visualizações, mas pelos comentários, percebi que era difícil para algumas pessoas entender a meditação através dos termos da semiótica. Para deixar mais simples ainda, usei a pedagogia do sei que sei.
Gravei vários vídeos nessa época, e todos, de uma forma ou de outra, explicavam a meditação. O vídeo abaixo foi o campeão de audiência do canal, creio que por causa da piada.
Por motivos pedagógicos, quando comecei com o trabalho da 1ficina, retirei todos os vídeos dessa época do youtube. Coloquei alguns aqui no livro para fins de ilustração e registro histórico.