Todos os dias interagimos com diversas pessoas. Mas o que vemos delas? O que vemos das pessoas? O que vemos de fato? Vemos cabelos, ouvidos, olhos, ombros, pernas, cotovelos e pés. O que essas pessoas veem de nós? A mesma coisa. Veem cabelos, ouvidos, olhos, ombros, pernas, cotovelos e pés.
Claro que cabelos, ouvidos, olhos, ombros, pernas, cotovelos e pés são partes integrantes de uma pessoa, mas são a totalidade? Ou seja, uma pessoa é apenas um corpo?
Quando dizemos “eu te amo” para uma pessoa, não estamos dizendo tais palavras para um par de ouvidos e sim para quem está escutando. Mas quem está escutando?
Quando abraçamos calorosamente alguém, não estamos abraçando um corpo e sim quem está recebendo o caloroso abraço? Mas quem está recebendo o abraço?
Você se olha no espelho e vê seus olhos. Mas quem está vendo? Você sorri. Mas quem está sorrindo?
Você acorda com ódio da cor dos seus cabelos. Mas quem acordou com ódio? Você decide pintar seus cabelos de verde. Quem tomou essa decisão? Quem escolheu a cor verde?
Enfim, quem é quem? Ou em outras palavras: quem é você? Quem é esse “eu” que você sabe que não é só um corpo, mas você sequer sabe como sabe disso?
Tem pessoas que não se interessam pela pergunta: quem sou eu? Não pensam sobre isso. Apenas caminham de olhos fechados, do berço ao cemitério, para morrerem no mesmo estado de ignorância que nasceram. Pessoas assim vivem.
Mas tem pessoas que são teimosas. Não sossegam enquanto não responderem a pergunta: quem sou eu? Só pensam nisso. Só se interessam por isso. Enfrentam qualquer obstáculo para se aproximarem um pouco mais da resposta. Não aceitam entrar no cemitério no mesmo estado de ignorância que nasceram. Pessoas assim, mais do que vivem, despertam.
Freud é um exemplo desse tipo de pessoa teimosa, incapaz de aceitar a permanência no estado de ignorância. E ainda assim, ele desistiu duas vezes da sua teimosia. Sua carreira, sua reputação, seu casamento e até sua própria sanidade começaram a ruir. O preço era alto demais. Mas para nossa alegria, teimosos subsequentes, estudiosos do ser humano, o preço não era maior do que seu desejo de autoconhecimento.
Em nome do Id, do ego e do superego, louvada seja a teimosia do pai da psicologia.