Durante muito tempo carreguei o fardo de que precisava eliminar o sofrimento do mundo (das pessoas). Acreditava que o despertar existencial acontecia para que o desperto se tornasse mestre dos adormecidos. Só que não conseguia eliminar o sofrimento de ninguém, nem de mim mesmo. Só conseguia fracassar e aumentar o peso desse equívoco. Até que, depois de sofrer muito, entendi porque fracassava. Porque o sofrimento é o mestre. Essa foi a Eureka mais libertadora que jamais tive. Por quatro motivos:
1) Eu não precisava mais seguir nenhum mestre.
2) Eu não precisava mais ser mestre de ninguém.
3) Eu não precisava mais carregar o fardo de eliminar o sofrimento do mundo.
4) Eu não precisava mais viver fugindo do meu sofrimento.
Se não fosse por essa descoberta, estaria até hoje sentindo pena do sofrimento alheio e incentivando o vitimismo das pessoas. Hoje em dia, quando vejo alguém sofrendo, fico feliz. Sei que o sofrimento está conduzindo essa pessoa com dedicação e carinho no seu processo de autoconhecimento. Foi o sofrimento que me conduziu também. É o sofrimento que me conduzirá sempre. Não tenho dúvida nenhuma disso. Por isso, não sigo mais ninguém. Sei que se tomar uma decisão equivocada, o sofrimento irá me avisar no instante seguinte. Sei que a presença do sofrimento será infalível, personalizada e ininterrupta, até que aprenda a lição. Que mestre pode ser melhor do que esse?