— O próximo, por favor.
— Sou eu.
— Pode entrar, é por aqui.
— Grato.
— Pode se sentar.
— Grato.
— O senhor está procurando emprego?
— Sim, estou.
— O que o senhor sabe fazer?
— Nada.
— Nada!
— Quase nada.
— Ótimo, o que sabe fazer?
— Eu sei amar.
— Amar! Como assim?
— Eu amo as coisas, os bichos, as plantas, as pessoas…
— Meu amigo, você não pode estar falando sério.
— É sério! Eu amo mesmo.
— Só pode ser pegadinha!
— Estou amando você, por exemplo.
— Rá rá rá! Engraçado! Cadê a câmera?
— Com todo o respeito, Doutor …
— Doutor Ataliba.
— Eu só sei amar mesmo.
— Como espera arranjar um emprego assim?
— Ué! O mundo não precisa de amor?
— Amor conserta geladeira?
— Não, Doutor Ataliba.
— Amor faz pão francês?
— Não, Doutor Ataliba.
— Amor enche o tanque do carro?
— Também não, Doutor Ataliba.
— Então, meu amigo!!!
— Me ajuda, Doutor Ataliba, só sei amar.
— Bem, tem uma vaga aqui.
— Ótimo! Ótimo! Ótimo!
— Mas já vou avisando.
— O que foi?
— O funcionário anterior foi crucificado.