Professora da mulher maravilha

19/04/2017 by in category Casa da razão humana, Outroísmo submisso, Textos tagged as , , , with 0 and 0

MULHER MARAVILHA: Parece que voltei à estaca zero. É como se não tivesse aprendido nada. Ainda bem que meu namorado também tem super poderes. Ele é super paciente e aguenta o tranco quando jogo minhas neuras para cima dele.

— Suas neuras estão vindo à tona justamente para você poder curá-las. O que está acontecendo é que por você saber como faz para viver bem, por ter aprendido a teoria, você não se permite viver mal. Mas assim você só duplica seu sofrimento. Sofre com as neuras e sofre por tentar proibir as neuras e não conseguir.

MULHER MARAVILHA: É isso mesmo!

— Você jamais irá conseguir se curar das suas neuras na base da proibição.

MULHER MARAVILHA: Por que não?

— Porque a proibição é consciente e suas neuras são subconscientes, ou seja, são automáticas. Tentar mudar suas neuras com proibição é igual você tentar controlar a respiração o dia inteiro, no primeiro descuido a respiração volta para o automático. Outra coisa é que para proibir algo esse algo tem que já estar manifesto, caso contrário, não tem nada para ser proibido. Então, o que você está fazendo de fato, não é se proibir, é se culpar. Você está se culpando por não estar sendo na prática o que sabe em teoria, por não estar sendo a Mulher Maravilha que deseja ser. Enfim, você está se culpando por errar.

MULHER MARAVILHA: Isso mesmo!

— Quem está “errando” é seu subconsciente, só que subconsciente não sabe o que é certo e errado, isso é coisa de consciente. Subconsciente é como robô, só entende de executar a programação. Então, seu subconsciente está sempre fazendo a coisa certa, pois está sempre executando a programação que recebeu.

MULHER MARAVILHA: Mas meu subconsciente está executando comportamentos que estão me fazendo viver mal.

— Você sabe disso, mas seu subconsciente não sabe. Saber é consciente. Subconsciente é execução automática da programação. E não é se culpando que você reprograma seu subconsciente.

MULHER MARAVILHA: Como é?

— É se mostrando um jeito melhor toda vez que o jeito pior for executado. Isso é passo a passo e infinitamente. E para uma caminhada infinita: paciência eterna.

MULHER MARAVILHA: Tem razão! Estou me culpando. E também voltei ao padrão de tentar dar o passo maior que a perna.

— Por que a pressa? Para quem você está querendo provar que é perfeita e nunca erra? Para quem você está querendo provar que é a Mulher Maravilha?

MULHER MARAVILHA: Para mim mesma. Quero me olhar no espelho e dizer: você é foda! E por fim morrer aplaudida pela humanidade inteira.

— Então, quer ser aplaudida?

MULHER MARAVILHA: Na verdade, não quero ser vaiada. Tenho vergonha de errar. Me sinto uma bosta quando erro ou faço algo errado. Isso acaba comigo. Então, meu problema nem é acertar. Eu só quero acertar para me livrar da vergonha de errar.

— Eis o nó do seu sofrimento! Coloque para fora sua vergonha que esse nó vai desatando. Use a memória para contar eventos relacionados.

MULHER MARAVILHA: Eu lembro que meu pai ria dos meus erros. Ele tirava um sarro. Na escola também, as crianças davam risada de mim quando eu errava. Eu ficava vermelha de vergonha. Eu ficava acanhada e mesmo sabendo a matéria, não respondia. Ficava só pensando que não podia errar, pois se falasse alguma besteira iriam dar risada de mim. Era um terror. Ah! Eu tinha medo da punição também. Medo de errar e levar bronca, tanto dos meus pais como dos professores. Eu me sentia injustiçada com as broncas, pois eu não errava por mal, errava porque não sabia. Mas levava bronca e esculacho. Me diziam: “Você é muito burra!”. Mas poxa, eu não sabia e não tinha obrigação de saber! Eu não nasci sabendo!

— Você foi no epicentro. Me diga, você gostava de receber broncas por errar?

MULHER MARAVILHA: Não gostava. Me sentia injustiçada. Me sentia um lixo. E não fazia por mal.

— Exato! Você não errava por mal, apenas não sabia o certo. E você não nasceu sabendo. Sendo assim, me diga: Ao invés do outro te dar broncas e rir dos seus erros, como você acha que o outro deveria ter se comportado? Como você acha que seria uma forma boa dele reagir ao seus erros?

MULHER MARAVILHA: O outro deveria ter me explicado como fazer certo ao invés de apenas me crucificar por ter feito errado. O outro deveria ter me explicado com clareza e educação ao invés de ficar me chamando de burra. O outro deveria ter falado comigo com carinho e respeito, me tratando de igual para igual, sem superioridade, sem autoritarismo, sem arrogância. O outro deveria ter sido paciente com meu processo de aprendizagem. O outro deveria ter considerado que eu era uma aluna e não uma professora. O outro deveria ter me mostrado onde estava errando, me feito consciente do erro e me ajudado a corrigir.

— Percebe a função espelho?

MULHER MARAVILHA: Sim! Total! Estou fazendo comigo o oposto disso. Estou sendo impaciente, cruel e severa comigo mesmo, igual meus colegas e educadores na infância.

— Retire a palavra “outro” do que você disse acima, substitua pela palavra “eu” e coloque os verbos no presente.

MULHER MARAVILHA: Eu devo me explicar como fazer certo ao invés de apenas me crucificar por ter feito errado. Eu devo me explicar com clareza e educação ao invés de ficar me chamando de burra. Eu devo falar comigo com carinho e respeito, me tratando de igual para igual, sem superioridade, sem autoritarismo, sem arrogância. Eu devo ser paciente com meu processo de aprendizagem. Eu devo considerar que sou uma aluna e não uma professora. Eu devo me mostrar onde estou errando, me fazer consciente do erro e me ajudar a corrigir.

— Eis a história que sua história tem para te contar.

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