Contar uma história com os verbos no presente é tecnicamente difícil. Sou escritor e sei bem disso. História é passado, no presente não tem história, no presente se faz a história que depois contamos. Outra dificuldade é que contar é relatar o que lembramos e lembrar é passado. Então, tem essas duas dificuldades técnicas. Mas a dificuldade não é apenas técnica, é psicológica também, é resistência.
Vou destacar dois motivos da resistência:
1) FUGA DA DOR – Quando você conta a história com os verbos no passado você afasta a dor, quando você conta a história com os verbos no presente, você reaproxima e reincorpora a dor. Então, a resistência em colocar os verbos no presente é fuga da dor. Funciona. Mas sendo que o sofrimento é o mestre, ao afastar a dor, você está afastando também a eureka que irá curar a dor que está afastando.
2) FUGA DA SOLIDÃO – Quando você conta a história no passado, você conta para o outro, para plateia. Quando você conta sua história no presente, a plateia desaparece, é só você com você. Então, a resistência em colocar os verbos no presente é fuga da solidão de ser um indivíduo. Só que você é um indivíduo. E não funciona ignorar isso.
Essas duas resistências acontecem também no seu viver aqui e agora e as duas fugas também.