A primeira vez que ouvi sobre as cinco fases do luto, tive uma EUreka. Pensei: “As cinco fases do luto não acontecem só com o luto, acontece com tudo que é indesejado”. E o que são as cinco fases do luto? Essa é a parte fácil, pois já foi explicada por Elisabeth Kübler-Ross em sua obra “On Death and Dying” (Sobre a Morte e o Morrer) que está amplamente divulgada na internet. O que faço neste livro é mostrar como as cinco fases do luto são, na verdade, as cinco fases da negação de Deus. Espero com isso ajudá-lo a sair da negação e viver melhor.
Boa leitura!
Não existe aceitação sem a possibilidade de negação. Quando você aceita algo, você está fazendo isso porque existe a possibilidade de negar. Imagine que você fosse incapaz de negar (dizer não). Alguém diria para você beber água da privada e você, incapaz de negar o pedido, beberia. É graças a possibilidade da negação (não) que existe a possibilidade de aceitação (sim), caso contrário, quando você aceitasse algo, você não estaria aceitando de fato, pois não haveria outra opção.
A possibilidade da negação é fundamental para autonomia também. Se você fosse incapaz de optar pela negação, o outro diria para você miar e você miaria, o outro diria para você latir e você latiria, o outro diria para você fazer fotossíntese e você faria. Percebe a escravidão?
A possibilidade de negação é o fundamento da liberdade individual. É graças a possibilidade da negação que você tem autonomia para viver, caso contrário, você seria escravo dos outros e dos seus próprios instintos.
Estamos investigando as cinco fases da negação de Deus, então, preciso definir Deus. O que é Deus? Vou usar uma definição empírica e autocientífica: Deus é o criador da sua realidade.
É impossível experimentar uma realidade incriada. Primeiro uma realidade precisa ser criada para depois ser experimentada. Igual um filme na televisão. Primeiro a televisão precisa criar a cena na tela para depois você poder assistir. O mesmo está acontecendo agora e sempre. Você está experimentando sua realidade agora e sempre porque sua realidade está sendo criada agora e sempre, igual um filme em uma televisão.
Dizer que sua realidade é um filme, é um jeito de dizer que realidade é efeito. Dizer que realidade é efeito, é um jeito de dizer que realidade é criatura. Está claro isso? Ótimo! Demos um grande passo chegando até aqui. Agora vamos dar um passo maior ainda. Sendo que sua realidade é criatura, quem é o criador da sua realidade?
Você acredita que é Deus. E você está correto. Deus é uma palavra que usamos no lugar de criador. Só que Deus não é outro. Deus é você. Por isso que na religião se diz que a criatura é imagem e semelhança do criador. Você é o criador da sua realidade. Realidade é sua criatura.
A parede que te separa do fato de que você é Deus, é sua mentalidade materialista. Você acredita que sua realidade é física e externa. Não é! Essa realidade que você está experimentando é virtual e imanente como a realidade na tela de uma televisão. Parece física e externa, mas só parece.
Você-Deus é como uma televisão. Realidade é com um filme. Então, você não está dentro da sua realidade, sua realidade está dentro de você, assim como o filme está dentro da televisão.
Note que uma televisão existe sem o filme, mas o filme não existe sem a televisão. O que isso significa? Significa que a televisão é causa e o filme é efeito. Significa que a televisão é o criador e o filme é a criatura.
Analogamente, você-deus, você-criador, existe sem a realidade que está criando e experimentando, mas a realidade não existe sem você. O que isso significa? Significa que você é causa e sua realidade é efeito. Significa que você é o criador da sua realidade e sua realidade é sua criatura.
A metáfora da televisão serve para esclarecer a relação entre criador e criatura, mas não serve para esclarecer como você cria sua realidade. Para isso, ao invés de pensar em si como uma televisão criando e assistindo um filme em si, pense em si como um videogame jogando um jogo em si.
O que é preciso para jogar um jogo de videogame? Como você cria cada cena do jogo? Você faz escolhas. Escolher é decidir, arbitrar. Você cria sua realidade através do arbítrio, igual em um jogo de videogame.
Nesse momento, por exemplo, a realidade que você está experimentando é ler esse livro. Como essa realidade está sendo criada? Através do arbítrio. Você optou por clicar no link do livro e está optando por ler. Se você optar por parar de ler, é essa realidade que irá experimentar.
Se você entendeu o que foi explicado até aqui, qual é a conclusão? Você é o culpado por sua realidade. A culpa é sua, pois sua realidade é o efeito do seu arbítrio. Achou ruim? Calma que vai piorar! Se você é culpado, por que você nega sua culpa? Porque você acredita que Deus é outro.
Por mais contraditório que possa parecer, quanto mais você acredita em Deus, mais você comete o pecado de negar Deus. Isso acontece porque Deus não é outro, Deus é você. Então, sua crença em Deusoutro é você negando o verdadeiro criador da sua realidade: você.
Por isso o vitimismo é o pior “pecado”. O vitimismo é um equívoco que nasce da crença de que Deus é outro. Você acredita assim: “Se o criador da minha realidade é outro, então, não sou eu. Se não sou eu, então, sou vítima”.
As cinco fases da negação é o processo consciencial que você atravessa para se conscientizar que não é vítima, é culpado. Você começa como vítima, negando que é o criador da sua realidade, colocando a culpa em um Deusoutro que pode ter diversos nomes, Deus, universo, matéria, vida, governo, sociedade, capitalismo, vizinho, vírus, etc. Após atravessar as cinco fases, você chega na aceitação do óbvio: a culpa é minha.
Claro que você não é o único criador no universo. Cada ser é um Deus, criador da própria realidade, e durante uma co-criação, cada ser é culpado apenas pelas suas escolhas. As cinco fases da negação servem para você se conscientizar inclusive disso.
A primeira fase da negação de Deus é a reclamação.
O que está implícito na reclamação? Está implícito que a culpa não é sua. “Não é minha culpa!” você pensa e reclama. Você acredita que o culpado por sua realidade não é você, o criador da sua realidade não é você. Se não é você, é o outro. Atribuir ao outro a culpa pela criação da sua realidade, é negar que você é o criador da sua realidade. Negar que você é o criador da sua realidade, é negar a Deus.
A segunda fase da negação de Deus é a vingança.
Uma vez que você acredita que a culpa é do outro, que você não tem nada a ver com a realidade que está experimentando, que você é vítima, você se enche de raiva e parte para a vingança. Olho por olho, dente por dente. E se a vingança não puder ser executada diretamente, será executada indiretamente. Se o outro for uma pessoa pública, por exemplo, você irá difamá-lo como forma de vingança.
A terceira fase da negação de Deus é a esperança.
Uma vez que você acredita que a culpa é do outro, que você não tem nada a ver com a realidade que está experimentando, que você é vítima, você se agarra na esperança de que o outro crie uma realidade melhor para você. Um exemplo clássico da fase da esperança são as orações que as pessoas fazem a Deus e aos santos.
A quarta fase da negação de Deus é a autopiedade.
Uma vez que você acredita que a culpa é do outro, que você não tem nada a ver com a realidade que está experimentando, que você é vítima, você entra em depressão. “Coitado de mim! Sou uma pobre criatura impotente! Sou uma vítima! Nem adianta fazer nada!”, você pensa e chora. A fase da autopiedade é o fundo do poço. Embora seja ruim estar no fundo do poço, é nessa fase que você está mais próximo de sair da negação de Deus.
A quinta fase da negação de Deus é assumir a culpa.
A quinta fase é quando você entende que seu carro foi roubado porque você optou por comprá-lo. É quando você entende que sua esposa ou marido te traiu porque você optou pelo casamento. É quando você entende que seus filhos são um fardo porque você optou por ter filhos. É quando você entende que você caiu em um golpe porque optou por acreditar na história do enganador. E se você for bem a fundo na compreensão da culpa, é quando você entende que toda realidade que você vivencia é fruto da sua decisão em continuar vivendo.
Como disse no início do livro, não existe aceitação sem a possibilidade de negação. O processo de negação de Deus é saudável e necessário para o desenvolvimento da responsabilidade. A história bíblica do filho pródigo simboliza isso. O filho nega o pai (Deus) e vive em negação. O próprio processo de viver em negação faz o filho ficar consciente de seu equívoco. Uma vez esclarecido, abandona a negação, aceita o pai e volta para o lugar de onde saiu, porém, consciente do equívoco.
Toda vez que você nega sua culpa, você é o filho pródigo. Toda vez que você se coloca na posição de vítima, você está em algumas das cinco fases da negação de Deus. Encare o processo de conscientização praticando auto-observação. Quanto mais você fizer isso, mais fácil e rápido chegará a fase cinco, resultando em bem viver.
Boa prática!