Pensa bem, é muito estranho experimentar pensamentos. E não é um só! Sua cabeça parece um fórum de debates. Caos total. Cada voz querendo ganhar no grito da outra. Você só acha isso normal porque se acostumou e não tem como desligar. Mas escutar pensamento é estranhíssimo. Por isso o povo antigo acreditava estar ouvindo a voz de Deus.
Imagine que você nunca tivesse escutado seu pensamento e, de repente, começasse a escutá-lo. Na melhor das hipóteses você iria achar que ligaram um chip de celular na sua cabeça, ou então, que é a voz de Deus (seu criador). E você estaria certo e errado ao mesmo tempo. Certo porque seu pensamento é a voz de Deus. Errado por que Deus não é outro, é você mesmo.
Fiz faculdade de comunicação. Fazia parte do curso ter aulas de propaganda e marketing. Logo na primeira aula dessa matéria, um professor com cara de integrante do clube da luta (ops! quebrei a primeira regra) perguntou para a classe cheia: “Qual é a coisa mais cara do mundo?”.
O povo começou a listar produtos de grifes famosas: “Uma Ferrari, um colar de diamantes, um relógio suíço, etc”. O professor foi balançando a cabeça em sinal negativo para cada um dos produtos listados. Depois de 10 minutos de fracasso coletivo, o professor respondeu: “A coisa mais cara do mundo é o seu tempo”.
Ninguém entendeu a resposta. O professor explicou: “10 segundos do seu tempo de telespectador, na Rede Globo, no horário nobre, custa 100 mil reais. Ou seja, seu tempo custa 10 mil reais por segundo”.
Eu não lembro o valor exato, mas era algo assim, espantoso, de fazer cair o cu da bunda. Os alunos ficaram de pau duro, sonhando com o poder da profissão. Eu lembrei da música dos Engenheiros do Hawaii: “Um dia me disseram / que as nuvens não eram de algodão / sem querer eles me deram / as chaves que abrem essa prisão”.
Nesse dia, comecei a abrir mais um pedaço da minha prisão mental. Estou contando isso para que você possa abrir mais um pedaço da sua também. Mas vamos por partes, porque tem várias grades e vários cadeados nessa prisão. Um cadeado está aberto, vamos para o próximo.
Um hóspede entra no elevador de um hotel e a ascensorista lhe pergunta: “Para qual andar o senhor deseja ir?”. O hóspede responde: “Tanto faz, entrei no hotel errado!”. Ora, de que adianta ir para o primeiro, segundo, terceiro ou quarto andar no hotel errado? De que adianta ir para qualquer andar do hotel errado? Nenhum andar do hotel errado pode levar você até um quarto que fica em outro hotel. Óbvio!
O segundo cadeado está aberto. Logo mais você vai entender melhor porque contei essa piada. Vamos agora ao terceiro cadeado. Depois que abrimos o terceiro cadeado, o primeiro e o segundo cadeados farão mais sentido e você poderá sair da prisão inteira.
Tem um jogo de enigma que o coordenador do jogo conta o final da história e os jogadores devem descobrir tudo que aconteceu até chegar naquele final fazendo perguntas ao coordenador. Os jogadores podem fazer qualquer pergunta de sim ou não para o coordenador, absolutamente qualquer pergunta.
Essa é uma das características mais divertidas desse jogo, porque surge tudo quanto é tipo de teoria. Por exemplo, tem uma história que termina com a seguinte cena: um homem pelado no deserto com um palito de fósforo na mão. Os jogadores devem descobrir tudo que aconteceu para chegar nessa cena. Como a cena é muito estranha, as teorias são mais estranhas ainda, principalmente quando os jogadores possuem imaginação fértil.
“O homem é casado? O homem era professor de matemática? O deserto é de areia ou é um deserto de bolinhas de isopor? O homem foi para o deserto de camelo? De jipe? De avião? O homem é vegetariano? O homem é fã dos Beatles?”. Vale fazer qualquer pergunta de sim ou não. E muitas vezes as perguntas mais absurdas são as mais reveladoras.
O coordenador do jogo, que conhece a história inteira, deve responder sim ou não para cada pergunta. De pergunta em pergunta, os jogadores vão avançando rumo a descoberta da resposta.
Só que tem um terceiro tipo de resposta que o coordenador do jogo pode dar além de sim ou não. Qual é o terceiro tipo de resposta?
Irrelevante!
O coordenador do jogo pode responder: sim, não ou irrelevante. Por exemplo, se um jogador perguntar: “O homem pelado no deserto é diabético?”. O coordenador do jogo pode responder que sim, se o homem for realmente diabético, pode responder que não, se o homem não for diabético, mas pode responder também que é irrelevante.
Quando um jogador faz uma pergunta e o coordenador responde que é irrelevante, o jogador costuma ficar com raiva do coordenador e reclama: “Sim ou não? É sim ou não?”. E o coordenador repete: é irrelevante!
Os jogadores não aceitam a resposta “irrelevante”. Não desce. A resposta “irrelevante” causa a sensação de que o coordenador não quer sequer considerar sua pergunta, de que o coordenador está fazendo pouco caso da pergunta e por isso está dizendo que é irrelevante.
O jogador acredita que a resposta irrelevante não ajuda em nada, que é a pior resposta. Só que é justamente o contrário. “Irrelevante” é a melhor resposta. “Irrelevante” significa que a linha de raciocínio que o jogador está fazendo não vai levá-lo à descoberta do enigma, irá afastá-lo da descoberta. “Irrelevante” significa: “abandone esse elevador porque você entrou no hotel errado”.
Quando você está no hotel errado, a melhor coisa que você pode fazer é sair do elevador. Quando você acredita que algo irrelevante tem relevância, a melhor coisa que pode acontecer é descobrir que não tem, caso contrário continuará indo cada vez mais para o lado errado e se afastando cada vez mais do seu objetivo.
“Irrelevante” é a melhor resposta porque faz você investir bem na coisa mais cara do mundo: seu tempo. Você vai morrer. A brincadeira de ser humano começou e vai acabar, vai chegar ao fim, assim como toda brincadeira. Seu capital temporal tem fim. Entende isso?
Se você entende mesmo, preste atenção no que vou lhe dizer: é absolutamente irrelevante pensar sobre o que acontece e sobre o que aconteceu! Para viver bem, só tem uma questão relevante a ser pensada: seu próprio pensamento. Viver bem é resultado do investimento temporal que você faz na prática de pensar o pensamento. Todo resto é você andando de elevador no hotel errado.
Quando você tem uma experiência, quando algo acontece, imediatamente você começa a pensar sobre o que aconteceu, principalmente quando o acontecimento é indesejado, ruim, desagradável.
Quando seu celular é roubado, por exemplo, você começa a pensar: “Por que comigo? Por que hoje? O que será que fiz de errado para merecer esse castigo de Deus? Por que atraí esse infortúnio para mim? Por que um ser humano aponta uma arma para o outro e atira? Cadê o respeito? Cadê a justiça? Cadê o valor à vida? Que valor tem a vida? Etc.”
Você passa dias, às vezes anos, e às vezes até uma vida inteira, pensando coisas assim sobre um acontecimento, só que você nunca, jamais, em momento algum, pensa os pensamentos que você está pensando.
Por exemplo, todo dia você pensa: “Por que isso aconteceu comigo?”. Porém, você nunca pensa: “Por que estou pensando sobre porque isso aconteceu comigo? Qual é a utilidade de ficar pensando sobre porque isso aconteceu comigo? Por que não consigo parar de pensar no porquê isso aconteceu comigo?”
Você gasta todo seu tempo pensando sobre os acontecimentos, mas você não analisa a lógica dos seus pensamentos. O resultado desse seu comportamento tem três consequências:
1) Você não produz autoconhecimento, pois mesmo que você chegue a conhecer tudo sobre o acontecimento, o acontecimento é o outro e autoconhecimento é conhecer a si e não conhecer o outro.
2) Você continua vivendo mal porque é impossível viver bem em estado de ignorância de si.
3) A qualidade da sua realidade nunca muda, pois a qualidade da sua realidade depende da qualidade da sua mentalidade e a qualidade da sua mentalidade só muda quando você pratica pensar seus pensamentos.
Sendo assim, para viver bem, é absolutamente irrelevante pensar sobre os acontecimentos. A única utilidade dos pensamentos que você tem sobre os acontecimentos é servir de material de análise para você poder pensá-los e assim produzir autoconhecimento.
Eu converso diariamente com meus alunos e leitores. Recebo perguntas de todo tipo. Porém, as perguntas mais recorrentes são sobre acontecimentos. Então, é claro que no começo da pandemia do Covid, recebi muitas perguntas sobre os acontecimentos pandêmicos. Uma das perguntas foi essa aqui: “O que você pensa sobre o que está acontecendo nesse momento de pandemia, caos na saúde e mortes?”. Abaixo segue o começo da minha resposta.
Eu penso o óbvio. São dois óbvios:
1) O que está acontecendo é o que está acontecendo.
2) O que está acontecendo é irrelevante.
O que está acontecendo não importa, pois está acontecendo, o que importa é como você lida com o que está acontecendo. Só tem duas formas de você lidar com o que está acontecendo: bem ou mal. Lidar bem é viver bem. Lidar mal é viver mal.
O que importa para viver bem é lidar bem com o que está acontecendo, seja lá o que estiver acontecendo. Entendendo isso, surge a pergunta: como lidar bem com o que está acontecendo? E surge a resposta que nenhum aluno quer escutar: com autoconhecimento.
Por que digo que nenhum aluno quer escutar essa resposta? Porque pensar o pensamento requer esforço e o ser humano tem preguiça de pensar. Observe isso.
Você não precisa fazer esforço nenhum para pensar sobre os acontecimentos. Algo acontece e você automaticamente começa a pensar sobre o acontecimento. Você escuta um barulho estranho na sua casa durante a noite e você automaticamente começa a pensar: “O que foi isso? Será que entrou alguém em casa? Será que é um ladrão? Será que é um gato. Etc”.
Não é preciso esforço nenhum para pensar sobre os acontecimentos. Na verdade, é o oposto, quando os pensamentos sobre os acontecimentos começam a ficar insuportáveis, você precisa fazer esforço para que eles parem. Você precisa mudar o foco, pensar em outras coisas, praticar algum tipo de relaxamento, etc.
Não é preciso esforço nenhum para pensar sobre os acontecimentos porque o pensamento subconsciente é uma resposta automática do seu sistema de crenças. Toda vez que algo acontece, seu sistema de crenças responde automaticamente produzindo um pensamento sobre o acontecimento.
É por isso que pessoas diferentes pensam coisas diferentes sobre o mesmo acontecimento, cada pessoa possui um sistema de crenças diferente. É por isso que crianças não pensam em coisas que adultos pensam, porque não possuem ainda determinadas crenças que todos os adultos possuem.
Pensar o pensamento requer esforço e não acontece automaticamente. Pensar o pensamento é uma decisão. Você precisa decidir pensar o pensamento e executar essa prática para que ela aconteça ou então não acontece.
Além de preguiça de pensar, você não tem prática nenhuma em pensar o pensamento. O próprio termo “pensar o pensamento” lhe parece extraterrestre. Nunca ninguém lhe falou sobre isso. Nunca ninguém lhe explicou como fazer isso. Então, além da preguiça, você não consegue pensar o pensamento por ignorar o modus operandi dessa prática.
A seguir vou explicar como pensar o pensamento e dar exemplos para retirarmos esse obstáculo. O primeiro passo para pensar o pensamento é você se dividir em dois: observador e observado, pensador e pensamento.
Você já viu a imagem clássica de consultório de psicólogo? O psicólogo fica sentado em uma cadeira e o paciente fica deitado em um divã. A divisão entre observador e observado é assim.
Você-observado (pensamento) é o paciente deitado no divã, então, você-observado deve falar tudo que está pensando SOBRE o acontecimento.
Você-observador (pensador) é o psicólogo sentado na cadeira ouvindo você-paciente, então, você-observador deve ouvir tudo que você-observado está falando sobre o acontecimento e fazer perguntas que o retire da dimensão do acontecimento e o traga a dimensão do autoconhecimento.
Exemplo (1)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Não posso ligar para minhas filhas?
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Eu amo minhas filhas.
Nesse caso, você descobriu que seu sofrimento não é pelo roubo do celular, mas pelo roubo do seu amor pelas suas filhas. Só que o amor pelas suas filhas não foi roubado de fato, o roubo foi do celular. Mas para o seu pensamento o roubo foi do amor pelas suas filhas.
Seu pensamento está equivocado. Mas seu pensamento não é capaz de sair do próprio equívoco. Seu pensamento precisa que “alguém do lado de fora” pense no que ele está dizendo e aponte seu equívoco através de uma pergunta. Esse “alguém do lado de fora” é você-pensador.
Muitas vezes, tudo que você-pensador precisa fazer para se retirar de um profundo sofrimento é se perguntar “e daí?” repetidas vezes. Cada vez que você pergunta e o pensamento responde, você vai aprofundando um pouco mais no autoconhecimento e saindo um pouco mais do mal viver.
Exemplo (2)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: O que será que fiz de errado para merecer esse castigo de Deus?
Pensador: E por que você acredita que esse acontecimento é um castigo?
Pensamento: Devemos temer a Deus e fazer a vontade de Deus, caso contrário, Deus castiga.
Nesse caso, você descobriu que seu pensamento pensa que Deus é um ente externo, que é imperativo com sua vontade e que pune as criaturas desobedientes. Você produziu esse autoconhecimento.
Talvez você já tenha sido religioso e se tornou ateu, mas seu pensamento ainda pensa assim, ainda é temente a Deus. Talvez seus pais fossem católicos e você budista, mas ainda assim seu pensamento tem um conceito cristão de Deus. Você produziu esse autoconhecimento.
Exemplo (3)
Pensamento: Roubaram meu celular.
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Por que atraí esse infortúnio para mim?
Pensador: Por que você acredita que infortúnios são atraídos?
Pensamento: Por que eu li o livro sobre a lei da atração.
Nesse caso, você descobriu que seu pensamento pensa que infortúnios são atraídos tal como você leu no livro sobre lei da atração. Você produziu esse autoconhecimento. E você pode seguir na investigação fazendo perguntas que faça você descobrir se deve continuar pensando assim.
Exemplo (4)
Pensamento: Por que um ser humano aponta uma arma para o outro e atira?
Pensador: E daí? Qual é o problema?
Pensamento: Cadê o respeito? Cadê a justiça? Cadê o valor à vida? Que valor tem a vida?
Pensador: Respeito, justiça e valor são objetos físicos assim como uma árvore?
Pensamento: Não, são conceitos humanos.
Pensador: Cadê os conceitos humanos, onde estão?
Pensamento: Dentro das pessoas.
Pensador: Todas as pessoas tem a mesma conceituação?
Pensamento: Não, cada um tem uma conceituação diferente.
Nesse caso, você descobriu que cada um tem conceituação diferente, mas seu pensamento pensa que todos devem ter conceituação igual a você, o que obviamente é impossível.
Assim que você-pensamento deitar no divã, você irá expressar muitos pensamentos e você-pensador não irá conseguir se lembrar de tudo. Uma estratégia muito útil para você-pensador não perder o fio da meada, é usar um caderno ou um computador e escrever tudo que você-pensamento diz, ou então, mais fácil ainda, ligar o gravador do celular e gravar. Após escrito ou gravado, você pega o registro e começa a pensar o pensamento passo a passo. Boa prática!
Por trás de todo comportamento tem uma escolha, por trás de toda escolha, tem um discurso, uma mensagem, uma lógica, uma fala implícita. Porém, por ser implícita, na maioria das vezes, nem o emissor tem consciência do que está dizendo, nem o receptor tem consciência do que está escutando, mas a fala e a recepção acontecem subconscientemente.
Por exemplo, quando um pai denigre uma pessoa para seu filho e depois atende o telefone para falar com essa pessoa e enche a pessoa de elogios, o pai emitiu uma mensagem e o filho recebeu a mensagem. Qual mensagem? Seja hipócrita!
Comportamento fala. Você pode não entender conscientemente o que um comportamento está dizendo, mas subconscientemente, você recebe a mensagem e produz um entendimento.
Imagine que você está andando na rua, de repente, surge uma pessoa, aponta uma arma para você e lhe diz: “Me dá seu celular ou te mato!”. O que essa pessoa está lhe dizendo com esse comportamento? Qual é a mensagem que está sendo emitida e que você, subconscientemente, entende?
Ora, o assaltante está lhe dizendo: “Você não vale nada para mim! Sua vida não vale nada para mim! Você é irrelevante! Você não tem importância nenhuma! Para mim, sua vida vale menos do que um celular”.
Você ouve isso subconscientemente e entende isso subconscientemente, caso contrário, não entregaria o celular. Você entrega o celular para o assaltante porque entende que, para ele, seu celular de 700 reais vale mais do que sua vida.
Agora, vamos supor que você também está armado e decide apontar sua arma para o assaltante, qual é a mensagem que você está emitindo e que o assaltante, subconscientemente, entende?
Você está dizendo para o assaltante: “Você também não vale nada para mim! Sua vida também não vale nada para mim! Você também é irrelevante e sem importância. Para mim, sua vida vale menos do que meu celular”.
Agora, transfira esse entendimento para todos os relacionamentos que você já teve com seus familiares, amigos, sociedade, etc. Você irá entender tudo que lhe foi dito subconscientemente e que você memorizou e tudo que você disse subconscientemente e que foi memorizado pelo outro.
Vamos supor que seus pais foram pais ausentes, que passaram a vida trabalhando e te deram muitos presentes para recompensar. O que seus pais lhe disseram subconscientemente? Disseram que dinheiro é mais importante do que afeto. Vamos supor que você bateu em seus filhos toda vez que eles te desobedeceram. O que você disse para seus filhos com esse comportamento? Disse que uma pessoa não vale nada se não for obediente.
Percebe até onde vai o buraco do coelho?
Sua cabeça está cheia dessas aprendizagens subconscientes que você nem sabe que tem, e pior, que você reproduz e perpetua com os outros durante cada instante de convivência. Enquanto não ficar consciente que faz isso e da natureza dessas mentalidades, continuará reproduzindo e perpetuando.
A solução não é mudar de comportamento, pois comportamento é efeito. A solução é praticar autociência para ficar consciente das mentalidades geradoras dos seus comportamentos. E só isso! O próprio despertar consciencial para essas mentalidades geradoras de mal viver impulsiona toda a mudança necessária e no sentido do bem viver.
Você tenta limpar uma casa. Usa água, sabão, detergente, escovas, aspirador de pó e muita motivação. Porém, por mais que tente limpar essa casa, não consegue. A sujeira não sai. A bagunça continua.
Você não entende porque fracassa, mas não desiste. Nada abala sua motivação. Todo dia você acorda e tenta novamente. Heroicamente. E segue fracassando até morrer.
Quando morre, fica arrasado. Você passou a vida inteira tentando limpar uma casa e fracassou. Você sente que desperdiçou sua vida. Tanto trabalho para nenhum resultado. A frustração é tanta que você não consegue parar de chorar.
Um anjo escuta seu choro e vem conversar com você. Ele pergunta o que aconteceu e você conta sua história. O anjo vai até a casa que você tentou limpar e volta para conversar com você.
— Você cometeu um grande equívoco — diz o anjo.
— Qual equívoco? — você pergunta — Usei o sabão errado? Usei a escova errada? Usei o detergente errado? O que foi que fiz de errado?
— Você tentou limpar a casa errada! — responde o anjo — Aquela casa não é a sua! É a casa do outro!
Não faça a coisa certa no lugar errado. Faxina mental é certo, mas a única mentalidade que você consegue limpar é a sua.
Existe no mundo uma mentalidade espiritualista que nega a memória em detrimento do despertar da consciência. Tal mentalidade considera irrelevante e até nociva à história pessoal e aconselha seus adeptos a ignorarem suas memórias e histórias de vida.
Não sei como essa mentalidade se originou. Suponho que tenha se originado da boa intenção de mestres espiritualistas tentando produzir em seus alunos um discernimento entre memória e consciência.
Sim, memória não é consciência, é objeto da consciência. Esse discernimento é fundamental para o autoconhecimento e o bem viver. Mas, por conta disso, acreditar que é preciso negar a história pessoal para alcançar um despertar consciencial, é jogar fora o bebê junto com a água suja do banho. E pior ainda! É se condenar a viver mal.
Assim como ciência e religião devem fazer as pazes urgentemente, pois são dois aspectos complementares do ser humano, psicologia e espiritualidade também. Espiritualidade trata do ser, psicologia trata do humano. O ser humano não é só ser, nem é só humano, é ser e humano.
Negar a própria história é dar um tiro no pé, por dois motivos:
1) Você pode até abandonar sua história, mas sua história jamais abandonará você. Tudo que você pensa e faz é sua história pensando e fazendo junto com você. Afinal como você poderia pensar ou fazer o que quer que fosse sem um banco de dados, sem memórias.
2) Sua história pessoal é sua fonte de sabedoria. Por exemplo, é sua história pessoal que lhe alerta para não colocar a mão no fogo novamente, pois você irá se queimar.
“Ah! Mas tem lembranças que dói muito lembrar!” você pensa. Sim! E tem que doer mesmo. As duas maneiras da sua história pessoal te passar sabedoria é através da dor (sofrimento) e do prazer (felicidade). Por isso dói lembrar do que dói. Dor lembrada é sabedoria.
Claro que é mais agradável executar o negacionismo da memória. Mas lembrar de memórias desagradáveis a fim de fazer autoanálise, não é masoquismo, é extração de sabedoria.
Memórias são como ostras. Dentro de cada memória, mesmo que desagradável, tem uma pérola de sabedoria e autoconhecimento pessoal. Você-ser, você-consciência, você-espírito, é o mergulhador do seu mar de memórias. Você pode e deve mergulhar em sua história e extrair suas pérolas de sabedoria. Sem elas é impossível você viver bem.
O negacionismo da memória é uma estratégia para fugir da dor. Mas fugir da dor é fugir da sabedoria. E sem sabedoria não é possível lidar bem com a dor. Eis o ciclo vicioso do negacionismo da memória.
Para caminhar rumo ao bem viver, em algum momento, é preciso que você dê um passo para fora do negacionismo da memória e para dentro da sua história. Sim, dói tudo de novo. Mas também liberta e cura.
Existe um termo popular no mundo da psicologia que é “elaborar”. Elaborar é pensar uma experiência até a entender. Para explicar e entender o processo da elaboração, gosto de fazer uma analogia com o processo digestivo das vacas.
Uma vaca é capaz de comer até 10 quilos de capim por dia. Porém, em um primeiro momento, a vaca apenas engole o capim, não o tritura, nem o digere. Só depois de engolir o capim a vaca começa o processo de triturar e digerir. Esse processo se chama ruminação. Durante a ruminação, o capim engolido é regurgitado, mastigado e engolido novamente.
A palavra “elaborar” faz parte do título de um dos livros do psicólogo Sigmund Freud: “Recordar, Repetir e Elaborar”. Claro que “elaborar” é um termo mais acadêmico e humano do que ruminar. Mas, por outro lado, “ruminar” deixa visível o processo invisível da elaboração.
Você também engole muitos quilos de experiências diariamente sem nenhuma digestão. E pior! Dias viram meses, meses viram anos, anos viram uma vida inteira. E você também deve ruminar essas experiências a fim de digeri-las. Mas como? Pensando e analisando.
“Ruminar pensamentos” é uma gíria que expressa o processo da elaboração. Outra gíria muito popular sobre isso é “remoendo”. Todo ser humano está sempre remoendo alguma coisa ou outra dentro da cabeça. Então, não é preciso ser doutor em psicologia para saber o que é elaborar e como a elaboração é importante para a saúde mental.
Informações são como capim e pensá-las é como a mastigação da vaca. Mas para ruminar o capim engolido, é preciso que a vaca faça algo fundamental antes de mastigá-lo. Algo que está implícito, mas passa despercebido. A vaca precisa regurgitar o capim engolido, precisa trazê-lo do bucho até a boca.
Você também precisa regurgitar seus traumas a fim de ruminá-los (pensá-los) e assim digeri-los, extraindo autoconhecimento deles. Assim como o processo de digestão começa pelo regurgitar, o processo de produção de autoconhecimento e cura psicológica também.
Regurgitar, em termos psicológicos, é lembrar. Não tem como você se curar de um trauma sem antes você regurgitar esse trauma, trazendo-o do estado de esquecido (inconsciente) ao estado de lembrado (consciente).
Lembrar é fundamental para a produção de autoconhecimento e cura psicológica. Sem regurgitar o capim não tem alimento para ser digerido, sem lembrança do trauma não tem experiência para ser entendida. A tentativa de esquecer, negar e ignorar um trauma, não ajuda em nada a digerir o trauma.
Negar o trauma é como se a vaca tentasse digerir o capim já engolido, engolindo mais capim, sem ruminar antes. Uma vaca que fizesse isso, iria explodir. Muitas pessoas explodem por negarem seus traumas. E quando não explodem, implodem.
A escritora Adélia Prado, em um texto intitulado “O que a memória ama, fica eterno”, diz o seguinte:
“Quando eu era pequena, não entendia o choro solto da minha mãe ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que minha mãe não chorava pelas coisas visíveis. Ela chorava pela eternidade que vivia dentro dela e que eu, na minha meninice, era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocada por pequenos milagres do cotidiano. É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando momentos. Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos dentro da gente. Quando nos damos conta, nossos baús secretos – porque a memória é dada a segredos – estão recheados daquilo que amamos, do que deixou saudade, do que doeu além da conta, do que permaneceu além do tempo. O tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras, apelidos, mesmo que por fora restem cabelos brancos, artroses e rugas.”
Nesse texto, Adélia Prado nos faz lembrar da importância da memória na experiência humana. Só que a memória é mais do que importante, é fundamental. Memória é tudo. Tudo que você pensa é baseado em suas memórias. Tudo que você faz é baseado em suas memórias. Sem memória você é como um bebê recém-nascido, só consegue mijar e cagar.
Tudo que você pensa, faz e que resulta em mal viver, também tem origem em suas memórias. Por isso é fundamental voltar às memórias da infância e analisá-las para que você possa se libertar de padrões de comportamentos nocivos. É na infância que estão assentados os primeiros tijolos dos seus padrões de comportamentos atuais.
Ao ficar consciente dos primeiros tijolos, você reconhece todos os tijolos subsequentes, você reconhece a casa inteira de comportamentos nocivos. Só que raramente você se dá ao trabalho de voltar ao passado para descobrir o alicerce dos seus comportamentos nocivos. Até porque, você não tem consciência do papel central da memória na sua experiência. Você não tem consciência que você-pessoal é feito de memória.
Seu subconsciente executa seu comportamento, mas não sofre com o resultado. Quem sofre é você. Sofrer é experimentar. Experimentar é saber. Quem sabe é você. Seu subconsciente é igual um computador, apenas executa a programação sem saber do que se trata, sem saber se é certo ou errado, bem ou mal.
Seu subconsciente não tem culpa do comportamento que está executando. Que culpa um computador tem de executar a programação para o qual foi programado? Culpa nenhuma. Está perfeito. Tudo que você espera de um computador é que ele execute exatamente a programação.
Seu subconsciente não faz errado, faz o programado. Então, se você não consegue sair do sofrimento e deseja sair, ao invés de empenhar seu esforço e tempo tentando mudar seu comportamento e fracassando, empenhe seu esforço e tempo reprogramando seu subconsciente e conseguindo.
Você foge do seu pensamento conversando SOBRE o pensamento. Conversar SOBRE mantém você na superfície, ou seja, na superficialidade. Você lê livros SOBRE pensamento. Você escuta mestres falando SOBRE pensamento. Você estuda filosofias SOBRE pensamento. Tudo para fugir do seu próprio pensamento.
Conversar SOBRE pensamento não produz autoconhecimento pessoal. Para produzir autoconhecimento pessoal você deve conversar COM seu pensamento.
Queime os livros e leia-se! Seu pensamento é o único livro que você precisa ler para adquirir autoconhecimento pessoal. Saia da superficialidade e entre no autoconhecimento. Não converse SOBRE o pensamento, converse COM seu pensamento.
Não, é analisar o crédito que você está dando a ele. Por isso o despertador existencial é importante. Quando você está consciente que você é o observador do pensamento, você entra no pensamento sem entrar no equívoco de acreditar que você é o pensamento.
Não! Você experimenta essa realidade porque opta. Sua realidade é sempre resultado do seu arbítrio. Analise é para você descobrir porque você opta por essa realidade. E sendo um replay, porque opta repetidamente.
Primeiro aceite, pois é impossível analisar algo que você rejeita. Imagine que você deseje analisar um pote de merda, mas você rejeita o cheiro da merda. Como poderá analisar a merda? Impossível. Então, primeiro aceite sua experiência para poder dar início a um processo de analise. Prossiga aceitando e analisando. Não precisa mudar nada. Quando o processo de análise deixar óbvio o que você está fazendo de errado, naturalmente você irá fazer as mudanças necessárias para viver melhor.
Fazendo uma analogia com o computador, o psiquiatra mexe no hardware (cérebro) e o psicólogo mexe no software (programação mental). Se o problema é de software, não adianta mexer no hardware e vice-versa.
E pior! Quando o problema é de software (programação mental), só o usuário (indivíduo) tem acesso ao problema, pois só o usuário (indivíduo) tem acesso a sua programação mental.
O psicólogo funciona como um técnico em informática dando instruções pelo telefone sobre como consertar o bug no seu Windows. É difícil? É! É limitado? É! Demora? Sim, bastante. Mas é melhor que nada.
Talvez no futuro seja possível conectar um cabo USB da cabeça do terapeuta para a cabeça do paciente. Por enquanto, a única porta de entrada que o terapeuta tem para acessar a programação mental do paciente, é o diálogo.
Através da preguiça de pensar. O ser humano se orgulha de ser racional, se diz pensante, mas fica só no orgulho mesmo. O ser humano não pensa. Até para fazer as quatro operações matemáticas básicas o ser humano usa a calculadora, tamanha é a resistência mental em que está atolado. O ser humano decora nomes, discursos alheios, explicações acadêmicas, preconceitos culturais e repete tudo até babar. É copy paste, do copy paste, do copy paste. O ser humano chama isso de pensar. E briga de faca, metralhadora e bomba atômica com quem discorda do que ele pensa que pensa. Observe o tanto de cursos e livros que prometem resolver seus problemas por você. A pessoa paga os tubos para resolver algo que basta pensar 5 minutos e já está resolvido. Mas e a preguiça de pensar? Paga 10 mil reais e até mais se for preciso, mas… Pensar não! Pensar nunca! Pensar jamais! Por isso não faço terapia com ninguém. Fazer terapia é empurrar pedra. Você já empurrou uma pedra? O que acontece quando para de empurrar? A pedra volta a inércia. Fazer terapia é empurrar preguiçoso. A pessoa tem preguiça de pensar e paga o terapeuta para pensar por ela. Quando me procuram para fazer terapia, aconselho entrar no ciclo de estudos. A pessoa sai correndo. Tem que pensar? Pensar não! Pensar nunca! Pensar jamais! Melhor tomar antidepressivo, ayahuasca, fazer curso de unicórnio quântico, qualquer coisa, menos pensar. Então tá!
Imagine que seu celular não está funcionando e você está tentando consertá-lo. Como sabe que encontrou a solução? Quando seu celular volta a funcionar é sinal que você encontrou a solução, não é? Analogamente, o mesmo com a autoanálise. Enquanto não estiver vivendo bem é sinal que ainda não encontrou a solução.
Não lido! Ema, ema, ema, cada um com seus problemas! Professor de autociência não é conselheiro, nem guru, nem terapeuta. Meu trabalho é ajudar você a ficar consciente de como funciona seu arbítrio e de que forma esse funcionamento afeta a qualidade da sua experiência.
Crenças são apenas objetos mentais. O buraco é mais embaixo. Para viver bem, ao invés de trocar uma crença por outra, você deve ficar consciente sobre o que é acreditar. Como funciona? Para que serve? Enquanto você não estiver consciente sobre o que é acreditar, pouco importa quais são suas crenças, você só irá trocar uma por outra e continuará vivendo mal.
Coragem é o que os outros pensam de você quando você liga o foda-se. Coragem é o que os outros pensam de você quando você pula sem a corda.
Tem um fiapo de manga no seu dente. Está incomodando. Mas o fio dental está no banheiro e você está confortavelmente sentado no sofá. Levantar do sofá é doloroso, requer muito esforço, vai doer mais do que o fiapo de manga. Então, você fica sentindo a dor que julga ser menor.
Só que o fiapo de manga inflama o nervo do dente. A dor fica latejante e insuportável. Você se levanta do sofá, vai até o banheiro, pega o fio dental e tira o fiapo de manga do dente.
Quem te vê levantando do sofá, pensa: “Como ele é corajoso!!! Ele pulou do sofá, foi até o banheiro, pegou o fio dental e tirou o fiapo de manga do dente!!! Ele é meu herói!”. Só que não teve coragem nenhuma no seu feito. Foi a dor que te fez pular para fora do sofá. A dor era tanta que você pensou: “Foda-se! Vou pular fora desse sofá!”. E pulou!
(1) Deixar o outroísmo explícito.
(2) Deixar a função espelho explicita.
(3) Entender a relação entre 1 e 2.
O que mais?
Mais nada.
E se não fizer isso?
Não resolve o mal viver.
Se fizer parcialmente?
Só resolve parcialmente.
Sua história está baseada no seu arbítrio. Seu arbítrio está baseado no seu sistema de crenças. Sendo assim, sua história revela seu sistema de crenças. É por isso que sua história tem uma história para te contar. Sua história é o dossiê detalhado de tudo que você acredita e não acredita. Olhe bem para sua história e você ficará espantado de como ela é reveladora da sua personalidade.
Não! O tratamento é o segundo passo: autoanálise. O perdão acontece como consequência. Você não pratica o perdão diretamente, o perdão, tanto a si mesmo como ao outro, é resultado da prática de autociência. Sem a prática de autociência seu perdão não tem efeito nenhum. Com a prática, você nem precisa perdoar, o perdão acontece por conscientização.
Lamúria é uma estratégia de controle. Visa convencer o outro que você é vítima e fazer com que o outro sinta pena de você. Ou seja, você não executa a lamúria para resolver seu sofrimento, você executa a lamúria para controlar o outro.
Seus pais não te aceitam assim, então, você finge ser assado. Seus amigos não te aceitam redondo, então, você finge ser quadrado. O casamento não aceita a libido, então, você finge ser capado. A religião não te aceita egoísta, então, você finge ser abnegado.
Cada fingimento que você executa é um tijolo a mais que você coloca nas costas. Você vive soterrado, mas não deixa ninguém relar em um tijolo sequer. São seus troféus. É o fruto da sua autonegação. Anos e anos aprimorando a competência subconsciente em ser outro. Você nem sabe mais ser você. Ser outro é tudo que lhe resta.
Por isso você defende seu outroísmo apesar do sofrimento.
É fundamental se permitir sofrer para fazer autoanálise. É o primeiro passo. Você deve se permitir sentir raiva, angústia, medo, remorso, frustração, tristeza, enfim, sentir todas as emoções e sentimentos desagradáveis. Porém, o segundo passo, é pensar com a cabeça ao invés de pensar com o coração. A maioria das pessoas tropeçam no segundo passo. Provavelmente esse é seu caso também.
Para fazer uma boa viagem é preciso usar um bom mapa. Para fazer um bom diagnóstico do sofrimento também é preciso usar um bom mapa do que é ser humano. Por mais competência que um terapeuta tenha, por mais brilhante que seja, se o terapeuta não usar um bom mapa, completo, que explique o ser e humano, seu diagnóstico fica limitado e, consequentemente, sua análise também fica limitada. O mapa que a 1ficina usa para diagnosticar o sofrimento humano é o mais completo que conheço. Um mapa que não contenha a compreensão da unitrindade, do outroísmo e do quatrix, está fadado ao enfraquecimento de diagnóstico e terapêutico.
Porque o acontecimento é o outro e autoconhecimento é saber de si.
Para ficar consciente da ligação entre o padrão de comportamento do passado e o atual. E também para perceber como o mesmo padrão se repetiu durante sua vida inteira em diferentes cenários.
A cura psicológica é diferente da cura fisiológica (medicina). Na cura fisiológica o doente não precisa se envolver com o processo de diagnóstico. Basta que o doente vá até um médico e reclame de alguma dor. Só isso. Todo resto do processo de descoberta da doença é executado pelo médico, os exames, o estudo de caso e o entendimento. Ou seja, o doente sai do consultório do médico no mesmo estado de ignorância em que entrou.
Na cura psicológica isso é impossível, pois a cura psicológica não é um processo que começa depois de um diagnóstico executado por um terceiro, a cura psicológica acontece conforme o doente vai ficando consciente da sua doença. Na medicina, o diagnóstico leva a cura, na psicologia, o diagnóstico é a cura.
O diagnóstico do psicólogo é terceirizado, por isso não funciona. Para que o doente psicológico se cure é preciso que ele saia do consultório do psicólogo consciente sobre sua doença. E para que isso aconteça, não adianta o terapeuta ouvir o sofrimento do doente, analisar e entregar um diagnóstico pronto, é preciso que o psicólogo funcione como um filósofo e não como um médico. É preciso que o psicólogo faça o doente ouvir seu próprio sofrimento, analise e se conscientize sobre a causa do seu sofrimento.
Qual é o psicólogo que faz isso? E pior! Qual é o psicólogo que sabe a causa do sofrimento humano, sendo que a causa não é humana, é existencial. E sendo que o psicólogo não sabe, como pode conduzir o doente a conscientização (cura)? Por isso que terceirizar o processo de análise não resolve. O que resolve é autoanalise.
Porque a nova memorização também exige repetição.
A 1ficina não faz terapia. A 1ficina é uma escola que ensina a praticar autociência e produzir autoconhecimento. Autoconhecimento cura, ou seja, tem efeito terapêutico. O que difere a abordagem da 1ficina das tradicionais psicoterapias, é considerar que você é um ser humano e não um humano ser. Outra diferença é considerar que a natureza humana é quaternária.
Autoanálise acontece junto com a autoobservação, mas não é a mesma coisa. Autoobservação é ver o pensamento. Autoanalise é pensar o pensamento que você está vendo. Se você não estiver vendo o pensamento, não tem como você pensar o que não está vendo, por isso ambas acontecem simultaneamente, mas não são a mesma coisa.
Terapia é executar um processo consciencial (autoanálise) para realizar a cura (conscientização) de uma doença psicológica (equívoco). O que leva a duas perguntas que nenhuma escola psicológica responde: 1) O que é doença psicológica? 2) Qual é a doença psicológica humana?”.
Entende o problema das psicoterapias? Como um trabalho terapêutico pode ter eficiência quando ignora qual é a doença? Doença psicológica é uma mentalidade em desacordo com sua unicidade. A doença psicológica humana é o outroísmo. Terapia é pensar o pensamento até ficar consciente do próprio outroísmo e sair dele.
A pior análise é aquela que você não faz.
A principal doença humana, não é humana, é existencial. Esse é o problema. A principal doença do ser humano é a ignorância sobre o que é ser humano. Ignorância é uma questão consciencial, ou seja, existencial.
O doente é você-ser e não você-humano. Sua doença consciencial é dormir (estado de ignorância). A natureza humana é apenas o programa que você-ser está usando para brincar de ser humano.
A natureza humana é como um carro. Você-ser é o motorista. O motorista dorme no volante e o carro cai no abismo. Que culpa tem o carro? Nenhuma!
Outroísmo é efeito colateral da ignorância. Nenhum ser humano lúcido vive outroísta.
É a mesma diferença entre ouvir música e fazer música.
Quando você está ouvindo música, mesmo que seja uma composição sua, a música já está feita e você está apenas dando REplay e ouvindo passivamente. Quando você está fazendo uma música, você não está dando REplay, você está ativamente produzindo a música que depois irá dar REplay e ouvir passivamente.
Pensar o pensamento é o ato consciente de analisar os velhos pensamentos e produzir novos pensamentos. Pensar o pensamento é fazer novas composições mentais. Experimentar pensamentos é ficar ouvindo todos os pensamentos que já estão gravados e ficam tocando subconscientemente num REplay infinito.
O outroísmo mais difícil de curar é o próprio. Até porque não tem outro para você curar.
Estudo do ser humano no aspecto existencial, psicológico, pessoal e social.
1CHAT é a conversa semanal do ciclo de estudos EUreka. Cada 1CHAT é sobre um dos livros de autociência escritos pela 1ficina. Esse 1CHAT é sobre o livro Pensamento no Divã, que trata da prática de autociência, autoobservação e autoanálise, entre outros assuntos.