Páscoa ao pé do espírito

20/04/2025 by in category Sem categoria, Textos tagged as , , with 0 and 0

Religião é simbolismo. Buda, por exemplo, não é uma pessoa, é a representação de um estado de consciência. Cristo também não é uma pessoa, também é a representação de um estado de consciência. Por isso que a religião cristã é cristã e não Jesuíta.

Se todos os religiosos conseguissem entender que religião é simbolismo, não haveria conflito entre religiões, haveria apreciação da diversidade. Cada religião seria como um poeta diferente, usando metáforas diferentes, para falar sobre o mesmo tema.

Mas os conflitos religiosos existem. E por que? Porque a capacidade em lidar com símbolos e metáforas é rara entre os seres humanos. Se fosse abundante, o mundo estaria cheio de poetas, ou pelo menos, cheio de leitores de poesia. Mas não é esse o caso.

É preciso pensar de forma analógica para se entender uma metáfora, a lógica literal não funciona. Quando você acorda e diz, por exemplo, “hoje estou com a macaca”, não tem nenhuma macaca do seu lado, o que você está querendo dizer é que você está agitado.

O pensamento analógico é o mais difícil de ser construído, por isso as crianças levam tudo ao pé da letra e demoram para entender o que é uma metáfora. Se você falar para uma criança “hoje estou com a macaca”, a criança irá procurar a tal da macaca.

A incompetência humana em lidar com símbolos e metáforas é o primeiro obstáculo para o entendimento das religiões. Mas não é o único. Símbolos religiosos dizem respeito ao autoconhecimento, então, para se entender um símbolo religioso, é preciso ter autoconhecimento.

Imagine que você é cego e escute uma metáfora que expresse a beleza das cores da aurora boreal. O que você irá entender dessa metáfora? Nada! E por que não? Porque você é ignorante das cores e a ignorância impossibilita o seu entendimento.

O mesmo acontece com as religiões. Não basta você ter pensamento analógico e ser capaz de interpretar metáforas, você precisa de autoconhecimento para poder entender sobre o que o simbolismo e as metáforas religiosas estão falando.

Esse é o segundo obstáculo para o entendimento das religiões: você não tem autoconhecimento. Todas as religiões são cartilhas de autoconhecimento, falam sobre você para você. Mas como você não tem autoconhecimento você não consegue entender o que dizem.

Hoje, por exemplo, é domingo de Páscoa. A Páscoa representa uma etapa da jornada de auto-realização do ser humano. Representa o momento em que a consciência de um indivíduo sai da cova da mentalidade materialista e desperta para sua natureza espiritual. Essa é a ressurreição. Cristo é a consciência desperta.

Mas como você vai entender isso se a sua consciência ainda é materialista? Se você continua adormecido? Se você mesmo não passou pela ressurreição da consciência e se tornou um Cristo? Não tem como! Sua ignorância de si lhe condena ao entendimento de que a Páscoa diz respeito a Jesus.

“Então, não tem como abrir as metáforas religiosas sem autoconhecimento?”, você pensa. De fato, não. Mas você pode contar com ajuda alheia, tal como está contando com a minha agora. Revelar o simbolismo é a função dos sacerdotes de cada religião. O problema é que, na maioria das vezes, esses sacerdotes também não possuem autoconhecimento.

Sendo assim, a maneira mais fácil, direta e garantida de entender os simbolismos religiosos, é deixando de lado os intermediários e indo direto ao autoconhecimento. Fazer isso é dar início a sua via-crúcis. No final dela, você chegará a sua Páscoa. Quando chegar, me avise, te felicitarei pela Páscoa. Enquanto isso, bom domingo.

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