13 | OVELHA NEGRA DA FAMÍLIA

30/08/2022 by in category Mayasang with 0 and 0

— Minha família é a humanidade — eu dizia e minha mãe queria me matar. Ela era católica. Tinha me colocado no catecismo para aprender e seguir a moral cristã. Jesus dizia que somos todos irmãos. Só que Jesus não era filho dela, então, ele podia ser cristão, eu não.

Nascemos em família, somos criados em família, e quando saímos da primeira família, é para criarmos outra família. Por isso a constelação familiar faz tanto sucesso. Mais para frente vou contar sobre um outro grupo espiritualista que participei. O instrutor desse outro grupo dizia que todo trabalho espiritual tem três pilares: a doutrina, a prática e a sangha. A palavra “sangha” é um termo budista para comunidade, ou seja, família.

A escola da Vila Mariana era uma família. Essa era a melhor parte. Nunca participei de um grupo tão cooperativo e fraterno. Tudo era feito de forma gratuita e voluntária. Quando era preciso fazer uma obra na casa, por exemplo, alguém que era pedreiro montava um mutirão e a obra era feita. O mesmo acontecia com a secretaria, a faxina, a cozinha, os estudos, etc.

Mas não éramos só uma família de trabalhadores. Viajávamos juntos, passeávamos juntos, frequentávamos a casa um dos outros. Fiz grandes amigos lá e alguns são amigos até hoje. Por isso doeu quando saí. Foi como se estivesse abandonando meus irmãos.

Hoje sei que esses irmãos, embora queridos e bem-intencionados, eram papagaios dos livros do Samael. Na época, principalmente no começo, achava o oposto. Acreditava que por conhecerem os termos esotéricos, tinham experiência própria no assunto. Mas não, apenas liam e repetiam o lido sem entender. E pior! Sem questionar, pois questionar era coisa do ego.

E foi assim que me tornei uma ovelha negra na família. Comecei a ler os livros e ter meu próprio entendimento sobre os conceitos esotéricos. Comecei a entender que eram simbólicos e que não deviam ser levados ao pé da letra como todos faziam. Por fim, comecei a expressar meus entendimentos.

Certa vez, dei uma aula para iniciantes e falei o que pensava. Eu adorei a aula. Estava inspirado. Mas no dia seguinte, fui chamado na diretoria e proibido de dar aulas por tempo indeterminado. Dar aula era o que mais gostava de fazer e o tal do tempo indeterminado durou meses.

Foi então que, depois de três anos participando do Movimento Gnóstico Universal Cristão Do Brasil Na Nova Ordem, decidi sair. Aos olhos dos meus amigos que ficaram, o ego venceu, eu havia ido para o lado negro da força. Quanto mais explicava que não era isso, mais eles acreditavam ser, pois o intelecto também era coisa do ego.

Por fim, assumi e sumi.

Amigo dos meus irmãos – Hinário

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari