Escravidão voluntária

23/11/2021 by in category Textos tagged as , , with 0 and 0

Imagine que você nasceu e viveu a vida inteira em uma sociedade que acredita que a terra é plana feito uma pizza. Eu sei que parece um absurdo, que ninguém acreditaria nisso, mas use a imaginação e pense numa sociedade hipoteticamente assim. Desde a infância você ouviu todos seus familiares falando que a terra é plana. Na escola, todos os livros mostravam ilustrações de uma terra plana. Todos os professores lhe ensinaram que a terra era plana. Sendo assim, se alguém lhe dissesse que a terra é redonda, você acreditaria?

Agora, imagine que você nasceu e viveu a vida inteira em uma sociedade que acredita que você não pode ser o que quer. Eu sei que isso parece um absurdo, que ninguém acreditaria nisso, mas use a imaginação e pense numa sociedade hipoteticamente assim. Desde a infância você ouviu todos seus familiares falando que você não pode ser o que quer. Na escola, todos os livros mostravam ilustrações afirmando que você não pode ser o que quer. Todos os professores lhe ensinaram que você não pode ser o que quer. Sendo assim, se alguém lhe dissesse que você pode ser o que  quer, que basta você optar por isso, você optaria?

É isso que o filme Tigre Branco mostra com a saga de Balram. Desde a infância, Balram tinha o potencial e o arbítrio para ser o que quisesse, mas a cultura em que Balram estava inserido não colaborava com isso. Pelo contrário, dizia que Balram tinha que ser submisso igual seus pais e os pais de seus pais, etc. Balram foi culturalmente programado para viver em autonegação e submissão. E mesmo sofrendo com isso, mesmo percebendo isso, ainda assim não conseguia se libertar dessa programação e viver em acordo com sua própria vontade. Ou seja, Balram vivia numa espécie de escravidão, mas era uma escravidão voluntária. Balram somos todos nós optando por continuar no cativeiro da uniformidade.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari