Quando eu era criança, havia uma crença popular que dizia que manga com leite era fatal. Não podia comer manga e beber leite em seguida, ou vice versa, senão você morria. Hoje em dia existe até sorvete de manga com leite, mas naquela época essa crença era uma verdade tão absoluta quanto a lei da gravidade.
Eu adorava manga e adorava leite, então, quando bebia leite não comia manga e quando comia manga não bebia leite. Mas por que não? O que me impedia de comer manga e beber leite? Simples! O que me impedia era o medo de morrer. Mas medo de morrer todos temos. Então, como, especificamente, o medo me impedia de fazer o que queria?
Meu medo específico estava associado a uma crença específica. Eu não tinha medo de comer abacate com coca cola. Eu não tinha medo de comer maçã com detergente. Eu não tinha medo de comer melancia com gasolina. Não havia nenhuma crença popular sobre a fatalidade dessas misturas. A crença popular era específica para o caso de comer manga com leite. Essa sim era uma mistura fatal.
Sendo assim, quando eu comia manga, só de pensar em beber leite já me dava calafrios. Eu me imaginava tendo uma convulsão e morrendo imediatamente. Só que não, né? Nada disso teria acontecido de fato.
Então, eu lhe pergunto: meu medo era falso?
Claro que não! Se tinha uma coisa verdadeira nessa história era meu medo. Eu realmente não queria morrer. Tinha medo de morrer. A falsidade estava na minha crença e não no medo. Meu medo era verdadeiro, porém, sobre algo falso.
Manga com leite não mata ninguém, essa é uma afirmação falsa. O problema era que eu acreditava que era verdade. Então, meu medo reagia a essa crença como se fosse verdadeira, pois eu acreditava ser verdadeira.
Meu medo era verdadeiro e me impedia de comer manga com leite para o meu próprio bem. Quem estava equivocado nessa história, não era meu medo, era minha crença. Meu medo não era falso, era do falso.
Só que o pior de tudo nessa história era que minha crença não era minha. Eu não havia chegado à conclusão que manga com leite era fatal por experiência própria, eu havia herdado essa crença da minha mãe, que havia herdado da minha avó, que havia herdado de sabe-se lá quem.
Certo dia, já na juventude, depois de ter rejeitado muita manga com leite, descobri que a crença era falsa e junto desapareceu o medo.
No filme, O Show De Truman, o protagonista vive um drama semelhante ao meu. Truman tem medo de água. O medo de Truman é verdadeiro, mas está baseado em uma crença falsa. Ele foi induzido a acreditar que seu pai morreu afogado no mar e que por isso ele também pode morrer afogado.
O pai de Truman nunca morreu afogado no mar. Aliás, o pai de Truman sequer era seu pai de verdade. Mas não é nisso que Truman acredita, então, não é assim que ele sente. O medo dele reage ao que ele supõe ser verdadeiro e não a verdade factual.
Se você entendeu o que disse até aqui, deve estar pensando: “Ops! Será que o mesmo que aconteceu com o Ferrari e com o Trumam não está acontecendo comigo também? Será que eu também não estou com medo de um monte de coisas que estão baseadas em crenças falsas?”
Pois é! Será? Será? Será? Só tem um jeito de você saber.
Faça como Truman.
Coloque suas crenças à prova e descubra.