“O médico disse que você está recuperado e pode voltar para a cela”, disse a enfermeira.
“O que tem de bom nessa notícia?”, perguntou Ramalho.
A enfermeira riu e depois disse: “Você precisa se trocar. Suas roupas estão penduradas no banheiro e seu remédio está em cima da mesa. Vista-se! Um carcereiro está vindo te buscar para levá-lo de volta à cela”.
Ramalho entrou no banheiro e saiu vestido com a tradicional roupa de presidiário: calça cáqui e camiseta branca. Ao sair, viu que a enfermeira não estava mais lá. A sala ficou vazia por alguns minutos e logo entrou um carcereiro.
“Está pronto?”, perguntou o carcereiro.
“Pronto pra quê? Para voltar pra um cubículo cheio de homens fedidos?”, perguntou Ramalho.
“É isso aí!”, respondeu o carcereiro sério, e depois completou: “A enfermeira pediu para lembrá-lo de pegar seu remédio em cima da mesa”.
Ramalho foi até a mesa. Não tinha remédio nenhum ali, só tinha o livro da enfermeira.
“Pegou o remédio?”, perguntou o carcereiro.
Ramalho mostrou o livro.
“Isso não é remédio, é um livro!” exclamou o carcereiro.
Ramalho balançou a cabeça verticalmente em sinal afirmativo e saiu caminhando atrás do carcereiro até chegar em sua cela.