Ramalho acorda com o chamado da esposa. Levanta lentamente para não acordar o filho que está dormindo na mesma cama. Calça o chinelo fino e vai até a cozinha. Isolda lhe pede para descer urgente a ladeira da favela e comprar carne moída no açougue. Ela reforça a pressa dizendo: “Vá logo, homê, vá!”.
Do lado de fora da casa, um bafo quente abraça o corpo de Ramalho. Ainda é outubro, mas o clima também é vida loka. Depois de cinco quarteirões, Ramalho está derretendo. Para encurtar o caminho e andar pela sombra, decide pegar um atalho, o curral, conhecido apenas pelos traficantes e moradores antigos.
Ramalho se encaixa nos dois casos: é traficante e morador antigo. Aliás, maizoumenos. Faz dois anos que saiu da cadeia. Ficou preso cinco anos. A pena era de dez, mas foi diminuída por bom comportamento, para o espanto de todos, pois, desde a infância, Ramalho nunca foi de bom comportamento.