Sigmund Freud, o pai da psicanálise, faz uma afirmação expressiva e desconcertante sobre a personalidade. Ele diz: “O ego não é senhor em sua própria casa”. A palavra “ego” é o termo em latim para dizer “eu”. Por isso a afirmação é desconcertante. Freud está dizendo que você não é dono da sua vontade, que sua vontade é dona de você. Falta incluir o arbítrio na equação, mas a observação de Freud sobre ferramenta e vontade está correta.
Ferramenta não tem vontade própria. A fonte da vontade de uma ferramenta não é a ferramenta, é o usuário da ferramenta. Observe uma tesoura cortando um tecido. A tesoura, por si só, não quer cortar o tecido, QUEM quer cortar o tecido é a costureira. A tesoura é a ferramenta que a costureira está usando para realizar sua vontade.
O mesmo acontece com suas personalidades, são apenas ferramentas mentais sem vontade própria, assim como uma tesoura, um alicate, uma colher, um abridor de latas, etc. Mas sendo assim, de QUEM é a vontade que anima a manifestação das suas personalidades? Quem é esse QUEM que quer e não quer?
Esse QUEM é voser (você-ser). Você não é SÓ humano, você é SER humano. O ser que você é, existe, aliás, é a única coisa que existe, mas voser não é humano, é existencial. Você não percebe isso, porque voser está se manifestando através da natureza humana, assim como a vontade da costureira se manifesta através da tesoura, e voser, usuário da natureza humana, se confunde com a ferramenta que está usando.
Imagine que você fosse incapaz de ver a costureira enquanto ela está cortando o tecido com a tesoura. Imagine que você só conseguisse ver a tesoura. Você passaria a acreditar que QUEM quer cortar o tecido é a tesoura. Você passaria a acreditar que a tesoura tem vontade própria. É exatamente isso que acontece com voser e você. Tudo que você faz é motivado por voser. QUEM quer é voser. Só que voser não vê voser, voser só vê você (pessoa), só vê sua manifestação humanizada, então, voser passa a acreditar que voser é você (só humano).
Esse é o entendimento que falta na psicologia para entender o funcionamento do desejo. O desejo humano não é humano, é existencial. Por isso que o ego não é senhor em sua própria casa, porque o dono da casa é voser. Freud chamou voser de Id. Mas Freud, sendo um cientista materialista, definiu o Id como sendo corporal e não existencial.