Todo ano, na fase existencial do ciclo de estudos EUreka, aconselho os alunos a estudarem o conceito de interface. Mesmo dando ênfase ao conselho, ninguém estuda. Interface é um assunto de informática e os alunos espiritualistas o consideram inútil para o autoconhecimento. Só que é o oposto. O conceito de interface é fundamental para o autoconhecimento, pois a natureza humana é uma interface e o ser humano é um usuário da interface humana.
No ciclo de estudo EUreka 2023, alguns alunos aceitaram meu conselho e foram pesquisar o conceito de interface na internet. Após a pesquisa, me disseram que havia pouco conteúdo conceitual sobre interface, que a maior parte era conteúdo técnico. Entrei no youtube para ver se encontrava algum bom vídeo sobre o assunto. Encontrei vários vídeos, mas nenhum explicando a essência do conceito. Isso me fez pensar em qual era a essência do conceito e como explicá-la para um leigo em informática. Encontrei a essência e pensei em um jeito de explicá-la. Sendo assim, estou escrevendo esse livro por três motivos:
1) Explicar para um leigo em informática o que é interface.
2) Conduzir o leigo em informática do conceito de interface até o entendimento de interface computacional.
3) Conduzir o aluno de autociência até o entendimento de que a natureza humana é uma interface existencial semelhante a uma interface computacional.
Claro que o terceiro objetivo é o principal e também o mais difícil. Mas assim que os dois primeiros objetivos forem atingidos, o terceiro se tornará fácil com a ajuda dos livros que já foram escritos pela 1ficina.
Dito isso, levantar ancora e içar velas! Que comece a navegação!
Mesmo que você seja completamente leigo em informática, você tem um celular. Sendo assim, você usa a interface do seu celular todos os dias. Só que o fato de você usar a interface do seu celular não significa que você saiba o que é uma interface e como funciona. Arrisco dizer que a maioria das pessoas que usam o celular nem desconfiam que estão usando uma interface. Então, não adianta começar esse livro dizendo que o Android do seu celular é uma interface, você continuará sem entender o que é e como funciona uma interface e o objetivo desse livro é o oposto. Sendo assim, vamos começar com um entendimento bem simples e leigo.
O que é interface? Interface é um sistema operacional que transforma uma coisa em outra. A palavra “sistema operacional” é fundamental dentro dessa definição, então, para não deixar buracos no entendimento, vamos definir também o que é sistema operacional. Sistema operacional é um mecanismo. Trocando a palavra “sistema operacional” por “mecanismo”, nossa definição de interface fica assim: Interface é um mecanismo que transforma uma coisa em outra.
Muito bem! Agora vamos pegar um exemplo bem concreto para materializar nossa definição: um ventilador. Isso mesmo! Um ventilador é um excelente exemplo de interface que se encaixa nessa definição. Vamos verificar. Um ventilador é um mecanismo? Sim. Um ventilador é um mecanismo que transforma uma coisa em outra? Sim. Transforma que coisa em outra? Um ventilador é um mecanismo que transforma eletricidade em vento.
Todo eletrodoméstico é uma interface, pois transforma eletricidade em alguma outra coisa. E tem vários outros mecanismos que também são interfaces e que você nem desconfia. Vou citar alguns. Uma árvore é uma interface, pois é um mecanismo que transforma gás carbônico em oxigênio. Uma vaca é uma interface, pois é um mecanismo que transforma capim em leite. Uma abelha é uma interface, pois é um mecanismo que transforma néctar em mel.
Por essa você não esperava, né?
Toda interface executa um processo de transformação do que entra nela. No caso do ventilador, entra eletricidade e sai vento. No caso da árvore, entra gás carbônico e sai oxigênio. No caso da vaca, entra capim e sai leite. No caso da abelha, entra néctar e sai mel.
O que entra em uma interface é diferente do que sai. Então, para distinguir a coisa que entra da coisa que sai, vamos dar nomes diferentes para essas duas coisas. Vamos chamar a coisa que entra na interface de “input” e a coisa que sai de “output”.
No caso do ventilador, a eletricidade é o input e o vento é o output. No caso da árvore, o gás carbônico é o input e o oxigênio é o output. No caso da vaca, o capim é o input e o leite é o output. No caso da abelha, o néctar é o input e o mel é o output.
Sendo assim, temos agora uma definição mais aprimorada de interface: Interface é um sistema operacional que transforma input em output.
Na infância, eu tinha um amigo nerd que montava umas maquinetas malucas. Eu, que era fã do Professor Pardal, ficava vidrado nas produções dele. Um dia, ele me levou até a sala da casa dele e me mostrou uma tábua cheia de fios e interruptores.
— O que é isso? — perguntei.
— É um computador — ele respondeu.
Depois ele conectou a tábua cheia de fios na televisão da sala, mexeu nos interruptores e fez nascer um quadradinho branco que se deslocava pela tela preta. Foi assim que vi um computador funcionando pela primeira vez.
Passado um ano, esse amigo comprou um TK85. Creio que foi o primeiro PC do mercado brasileiro. O TK85 não tinha entrada para disket. Nem existia disket ainda. Os programas vinham em fitas K7 e os usuários tinham que fazer uploud dando play em um toca-fitas.
Quando meu amigo me mostrou o TK85, fiquei entusiasmado para jogar os joguinhos. Abri a caixa de programas e peguei uma fita K7 com um jogo chamado “fliperama”. Coloquei a fita K7 no toca-fitas e apertei o play. Só que esqueci de ligar o fio que conectava o toca-fitas ao computador. Por consequência, comecei a escutar uns barulhos eletrônicos: “pi-pu-iiii-uu-oo-eoeoiii-tu-xiii”. Fiquei assustado. Achei que tinha estragado o computador.
— Que barulho é esse? — perguntei.
— É o programa do jogo de fliperama — respondeu meu amigo, rebobinando a fita e conectando o fio do toca-fitas ao gravador.
Depois que tocou a fita inteira, que foi um upload bem arcaico, surgiu o jogo de fliperama na tela da televisão.
Essa foi minha primeira experiência com uma interface de computador. O barulho estranho que ouvi saindo do gravador era o input e o jogo que surgiu na televisão era o output. O TK85 era a interface que estava transformando o input em output.
Claro que não entendi quase nada disso naquela época, mas ficou uma faísca de entendimento. Só muitos anos depois, com a invenção do Microsoft Windows, que eu finalmente entenderia o que é uma interface de computador.
Como o propósito desse livro é aplicar o conceito de interface a experiência humana, vou dar um gigantesco pulo na história da evolução das interfaces computacionais. Vou pular do TK85 para os atuais navegadores de internet. E para manter a explicação fácil de entender, inclusive para leigos em informática, vou resumir todo processo de interface de um computador a um navegador de internet.
Você navega na internet todos os dias. Para fazer isso, você precisa usar um navegador. Mesmo que você não saiba que está usando um, você está, inclusive nesse exato momento, enquanto está lendo esse livro no site da 1ficina.
É impossível acessar a internet sem usar um navegador. Assim como você precisa de um ventilador para transformar eletricidade em vento, você precisa usar um navegador para transformar os inputs da internet em output na tela. A interface que faz isso no seu computador se chama: navegador.
Tem vários modelos de navegadores. O Google Crome é o mais popular deles. Mas tem o Windows Explore, o Fire Fox, o Safari, para computadores da Apple, entre outros. No caso da navegação pelo celular também é assim e os navegadores também são os mesmos.
Pois bem, uma vez que você está usando um navegador para ler esse livro, vamos usá-lo para entender como ele está servindo de interface entre você e a internet. Dê play no vídeo abaixo e continue lendo o texto.
Está vendo esses peixes? Você sabe que não tem peixe nenhum dentro do seu computador. Então, como é possível que esses peixes estejam nadando na tela do seu computador? Você acha que eles vieram nadando pelo fio da internet até seu computador e por isso estão aí? Claro que não! Mas então, porque você está vendo esses peixes? Simples! Porque seu navegador é uma interface que está transformando os inputs da internet no output que você está vendo: os peixes.
Você não acessa a internet diretamente, você acessa a internet através de uma interface que é o navegador. Para acessar a internet diretamente, você teria que conectar o cabo de internet nos seus olhos e não no computador. Só que se você conectar o cabo de internet nos olhos, você não verá nada, você apenas receberá impulsos eletromagnéticos.
Todo dia você acessa centenas de conteúdos na internet: vídeos, fotos, músicas, textos, etc. Mas nada disso está na internet. Na internet só tem impulsos eletromagnéticos. Apenas quando esses impulsos (inputs) são transformados em outputs pelo navegador que eles ganham forma de vídeos, fotos, músicas, textos, etc.
Espero que com essa explicação você tenha compreendido o que é um navegador de internet e como funciona. Esse entendimento é fundamental para avançarmos para o entendimento do navegador humano.
Agora que você já entendeu o que é um navegador de internet, vamos usar esse entendimento para sair do mundo do conhecimento e ir para o mundo do autoconhecimento. Vamos fazer isso de forma prática através de um experimento de auto-observação.
Experimente sua realidade de forma integral. Não divida sua realidade em objetos: cadeira, mesa, árvore, céu, rua, etc. Ao invés de separar um objeto do outro, junte todos os objetos e o espaço entre os objetos em uma realidade só, tipo uma tela de cinema com vários objetos dentro.
Mantenha-se experimentando sua realidade de forma integral e considere que isso que você está experimentando é o output de um navegador de internet. Um navegador 360 graus que acompanha sua mudança de foco. Se você está em uma sala, por exemplo, você vira o foco para a direita e o navegador produz output do lado direito da sala, se você vira o foco para esquerda, o navegador produz output do lado esquerdo da sala.
Continue experimentando sua realidade de forma integral e inclua seu corpo na experiência. Faça assim, como nessa fotografia:
Note que seus pés, suas pernas, seus braços, suas mãos, seu peito, enfim, seu corpo é parte integrante do output que o navegador está produzindo.
Mantenha-se experimentando sua realidade de forma integral e se pergunte: cadê o navegador de internet que está produzindo esse output que estou experimentando? Procure o navegador no output que você está experimentando. Você consegue experimentar o navegador que está produzindo o output? Claro que não! E por que não? Porque o navegador é a interface criadora do output, logo, antecede o output, assim como o ventilador antecede o vento.
Você experimenta o vento porque tem uma interface transformando a eletricidade em vento, mas quando você experimenta o vento você não experimenta o ventilador. Analogamente, o mesmo está acontecendo com essa realidade que você está constantemente experimentando. Essa realidade é como o vento. Tem um ventilador transformando os inputs do universo nesse vento que você chama de realidade, mas você não experimenta o ventilador, você só experimenta o vento.
O universo é como uma internet. Assim como não tem peixes, nem vídeos, nem áudios, nem fotos, nem nada na internet, mas apenas impulsos eletromagnéticos, assim também é o universo. Você não é um corpo contido no espaço pisando no chão duro. Isso é output. Você está tendo a experiência de ser um corpo contido no espaço pisando no chão duro porque tem uma interface produzindo esse output.
É como se você fosse um olho usando um óculos de realidade virtual. Mas como você não consegue tirar o óculos, você não percebe que está usando óculos e passa a acreditar que é um corpo contido no espaço pisando no chão duro tal como o óculos de realidade virtual está te mostrando. Ou seja, você não percebe que sua experiência é o output de uma interface.
Para navegar no mar de inputs da internet você precisa usar um navegador de internet. O universo é um mar de inputs sem forma igual à internet. Para navegar no mar de inputs do universo, você também precisa usar um navegador. Existem vários tipos de navegadores que você pode usar para navegar pelos inputs do universo. Para citar alguns, navegador animal, mineral, vegetal e humano. Atualmente você está usando um navegador humano, por isso está tendo uma experiência assim:
A imagem azul, cheia de zeros e uns, representa os inputs do universo. A imagem com os pés, representa o output humano que você está constantemente experimentando. A estreita moldura que divide a imagem do fundo azul, representa o navegador humano, a interface humana que você (ser) está usando para brincar de ser humano.
Enfim, caro ser humano, você é um ser que está usando uma interface humana para navegar pelo universo. Tudo que você experimenta é o universo, mas sendo que sua experiência é um output da interface humana, não é o universo em si, é o universo humanizado. Um ser que esteja usando uma interface vegetal, por exemplo, está acessando os mesmos inputs universais que você, mas está experimentando um universo vegetalizado, e assim por diante.
Não existe um universo absoluto em questão de output. Todos são relativos. O universo humanizado não é um output mais verdadeiro do que o universo vegetalizado, são apenas outputs diferentes, assim como o output do Google Crome é diferente do output do Windows Explorer, embora ambos estejam acessando a mesma internet.
O universo absoluto é o universo de inputs. Mas não tem como um ser experimentar um input senão através do output de um navegador. Isso é como na história do Rei Midas em que tudo que ele toca vira ouro. Você está usando uma interface humana para navegar pelo universo, então, todo input que sua interface humana toca vira output humanizado. E como você não tem como trocar de interface, aliás, como você sequer tem consciência que está experimentando o universo através de uma interface, você acredita que o universo é tal como está experimentando.
Muita coisa para processar, não é mesmo? Não precisa processar tudo de uma vez. Repita a prática de auto-observação do capítulo anterior e o entendimento explicado nesse livro irá surgindo e se organizando dentro de você. Leia os outros livros da 1ficina que também são de grande ajuda. E boas navegações!
Assista o vídeo abaixo:
TRANSCRIÇÃO:
O que acontece na ideia do materialismo? Quem está te criando é o espaço. Não tem explicação. A ciência não consegue explicar por que a forma se mantém sempre da mesma forma, porque um abacate permanece sendo um abacate. Ele podia, de repente, virar um sapo. Ele podia desintegrar. E por que você não desintegra?
Nada garante que a forma vai permanecer sempre da mesma forma, só que permanece. Se você está contido no espaço, se é o espaço que está te criando, então, o espaço que te contém está te dando forma. Agora, por que esse espaço que é feito de nada e como esse espaço que é feito de nada consegue te manter da mesma forma?
Entende? A forma fica sem fôrma. A forma não aparece no materialismo. A forma tá sempre da mesma forma, o abacate nunca vira sapo, mas não tem um motivo pro abacate ter forma de abacate, nem pra ele deixar de ter forma de abacate virar um sapo.
Só que você está tão bitolado no materialismo que nem se dá conta que no próximo instante o abacate pode virar um sapo. Acha um absurdo. “Como? O Ferrari tá delirando? No próximo instante o abacate é abacate e ele vai continuar sendo abacate”. Quem garante? Nada garante! Daqui a pouco tudo pode desaparecer. Puft!
Mas você acredita que não pode. Por que não pode? Não pode porque nunca aconteceu. Mas porque nunca aconteceu não significa que não possa acontecer.
Como funciona a mentalidade materialista? O espaço te cria por algum motivo e ele cria dessa forma e você não tem explicação por que é dessa forma, ou seja, não tem a fôrma. Você está sempre experimentando uma forma que não se desintegra, que permanece. Tem algo fazendo isso, produzindo a forma. Como se tivesse um programa.
Por isso é bom usar a analogia do computador. Quando você vê as coisas acontecendo no computador, tem um programa fazendo acontecer. Por exemplo, um emoji aparece na tela e dá um sorrisinho. O emoji tem a forma de emoji e dá aquele sorrisinho, não aleatoriamente. Tem um programa que faz o emoji ter aquela forma e não virar um outro emoji, ou não virar um sapo, ou não virar um abacaxi. Tem um programa controlando tudo aquilo. É o programa que possibilita que o emoji apareça com aquela forma.
O programa é a fôrma. O programa é a inteligência que está mantendo a forma e dando vida para ela. Agora está acontecendo o mesmo. Para você estar se vendo como um corpo no espaço, tem um programa fazendo isso acontecer. Só que você não vê esse programa, assim como você não vê o programa no computador, você só vê a experiência, só vê o que está na tela, só vê a realidade. Então, você acha que é milagre.
Você não vê a fôrma, que é a programação, você vê o resultado. Você está acostumado com o resultado e você acha que está acontecendo por milagre. O abacate não vira sapo por milagre. Tem um milagre que impossibilita e faz com que o abacate continue abacate e não vire sapo. Mas não é milagre. O abacate continua abacate porque tem uma programação fazendo ele ser abacate.
Eu estou mostrando o problema do materialismo pra você. O problema do materialismo é ignorar a fábrica da realidade. Você vê a realidade, experimenta a realidade, mas não experimenta a fábrica da realidade.
Quando a 1ficina explica que você é a fábrica da realidade, o que a 1ficina está dizendo é que você é o espaço. Tudo isso que você está experimentando, que você acha que é espaço, não é espaço, é você. Quando você olha pro sol e vê o sol, o sol está dentro de você. Por quê? Porque o sol está no espaço. Qual espaço? Você. Você é o espaço. “Porra, mas o sol tá dentro de mim?” Está! O sol é uma experiência. Sua experiência está dentro de você.
O grande problema de você entender que você é o espaço, é que o universo desaparece. O universo entra dentro de você. Se o universo está dentro de você, não tem nada do lado de fora. Não tem chão, entende? Não dá nem pra você cair em queda livre, porque para você cair em queda livre, você tem que ser um corpo, mas não tem corpo, não tem nada.
Você é o espaço, é a absoluta inversão da física. Na mentalidade materialista da física, você é um corpo contido no espaço. Para você entender a fábrica da realidade, você tem que entender que você é o espaço que contém todos os corpos, inclusive o seu.
Sim, caso contrário a comunicação entre os seres humanos seria impossível.
Não, a mentalidade materialista é nociva por ser um equívoco. Todo equívoco é nocivo, por impedir o bem viver. Só que você está fazendo uma confusão. Qual? Você está confundindo “mentalidade materialista” com “perspectiva perceptiva de fisicalidade”. A mentalidade materialista é uma crença. E é uma crença equivocada. Por isso é nociva. Mas você pode deixar de acreditar no materialismo se você ficar consciente que é um equívoco. A perspectiva perceptiva de fisicalidade NÃO É UMA CRENÇA. Enquanto você for um ser humano, você sempre experimentará a realidade com PPF (Perspectiva Perceptiva de Fisicalidade). A PPF, sim, é neutra. Nem boa, nem ruim. É o que é: uma perspectiva perceptiva de fisicalidade.
Imagine que você está jogando um videogame. Você é um personagem em frente uma caixa. Você abre a caixa e tem um gato dentro. O gato estava dentro da caixa antes de você abrir? Se você partir da premissa materialista que supõe que a realidade é externa, dimensional, e temporal, independente da observação, você dirá que sim. Óbvio que o gato estava dentro da caixa, caso contrário, você não teria visto o gato quando abriu.
Essa resposta está perfeita na lógica materialista. Só que você é um personagem em um videogame e não um corpo material no universo. No videogame, nenhuma realidade se faz presente na tela até que você a crie através do controle (arbítrio). Enquanto você não opta por abrir a caixa, não tem sequer a imagem do interior da caixa, pois o videogame não criou essa imagem na tela ainda. Então, pode ter um gato dentro da caixa, mas também pode ter um repolho roxo, um pote de sorvete, um sapo, uma cebola, etc, infinitas possibilidades.
Sua decisão em abrir a caixa é o tal do colapso de onda. Você opta por abrir a caixa e experimenta a realidade resultante dessa opção. A partir desse momento, e só a partir desse momento, o videogame cria a realidade do interior da caixa com um gato dentro. Se você ignorasse que está jogando um videogame, você teria a convicção de que o gato é uma coisa material dentro de uma caixa material e que ele apareceu dentro da caixa porque já estava lá dentro.
Pense em um videogame. Na realidade virtual de um videogame também tem leis da natureza, só que você sabe que são criações do videogame. Nessa experiência humana é a mesma coisa, só que você ignora que são leis do videogame humano.
Não atualiza. Sua interface humana é sua natureza humana. Se fosse possível alterar sua interface humana, você deixaria de ser humano. Se você deixasse de ser humano, deixaria de ter uma experiência humana. O que você pode atualizar são suas crenças e não sua interface.
Você não tem como conhecer a interface, pois a interface é anterior a sua realidade. A interface é a fábrica que está criando sua realidade e você só consegue saber do produto e nunca da fábrica. A única coisa que você pode dizer da interface, é que existe, que está instalada em você, e que está criando sua realidade, caso contrário, sua realidade seria um caos, ao invés de ordenada espacialmente e temporalmente como é.
Investigando porque você acredita que o mundo é externo. Olhe para isso que você chama de “externo” e investigue do que se trata através da auto-observação. O que é externalidade? Quanto mais você investigar, mais consciente irá ficar que se trata de uma perspectiva perceptiva de externalidade e não de externalidade.
Observe que lugar é experiência de fisicalidade. Observe que seu corpo é experiência de fisicalidade. Observe que seu corpo deslocando é experiência de fisicalidade. Observe que experimentar não é uma experiência e não sai do lugar.
Imagine que você (ser) e todos os outros (seres) humanos estão jogando um videogame. Todos nasceram com um óculos de realidade virtual e não conseguem tirar. Cada um está “enxergando” o mundo “externo” através dos seus óculos de realidade virtual. Vocês acreditam que existe um mundo externo, pois quando conversam, entram em acordo sobre o que estão “vendo”. Só que não tem nenhum mundo externo. Cada um está vendo apenas a telinha dos seus óculos de realidade virtual simulando um mundo externo. É mais ou menos assim.
Através do estímulo. Vamos supor que eu te envie uma fotografia de uma girafa. O que saiu do meu computador, viajou pela internet, chegou até o seu computador e está fazendo você ver essa girafa, foi uma girafa? Essa girafa foi andando pelo fio da internet e entrou na tela do seu computador? Foi isso que aconteceu? Não, o que viajou pela internet foi uma série de impulsos que o seu computador decodificou e mostrou na tela como girafa. Analogamente, o mesmo está acontecendo com tudo isso que você chama objetos materiais e externos.
Sim, tudo que você está vendo agora e sempre é virtual. Olhe para um objeto. Note que é um objeto tridimensional com altura, largura e profundidade. De onde vem altura, largura e profundidade? Faz parte da estrutura do universo? O universo é tridimensional? Não! O universo é adimensional. O universo não tem dimensão nenhuma. Altura, largura e profundidade são construções mentais humanas para você conseguir lidar de forma humana com os estímulos adimensionais que chegam até você.
Muito abstrato? Calma! Para facilitar o entendimento, vou explicar fazendo uma analogia. Pense na internet. Você está pesquisando um site para comprar um sapato. Você clica e aparece um sapato azul na tela do seu navegador. Esse sapato azul tridimensional que você está vendo na tela, com altura, largura e profundidade, saiu da loja, percorreu o fio da internet e chegou na tela do seu navegador?
Claro que não! O sapato é virtual. O que saiu da loja e chegou no seu navegador foram sinais de internet e não o sapato. O sinal da internet é feito de impulsos. Impulsos não tem altura, nem largura, nem profundidade. Impulsos são adimensionais. O que está criando um sapato tridimensional na tela do seu computador é a decodificação que seu computador está fazendo dos impulsos.
O mesmo está acontecendo com essa realidade que você está experimentando agora e sempre. Ela é sua decodificação humana e dimensional de impulsos adimensionais. Ou seja, é uma realidade virtual humana.
Não existe experiência compartilhada. Experiência é realidade (output). O que você emite ao outro é input. Esse input é decodificado pela interface do outro e transformado na experiência do outro. Quando o outro usa uma interface COMUM a sua, o que acontece é COMUNicação.
Não! Isso é consumismo.
Não, é o oposto. A interface humana que cria o corpo. Igual em um jogo de videogame, não é o avatar que cria o jogo de videogame, é o jogo de videogame que cria o avatar.
Natureza humana é essa interface que você está usando para brincar de ser humano.
Você é um ser universal. Seu ambiente é o universo. Mas quando falo “universo” não estou me referindo a esse espaço repleto de estrelas e planetas que você acredita que é o universo. Isso não é o universo. Isso é apenas uma experiência visual. O universo não é uma experiência. O universo é a coletividade dos seres. Você está em constante interação com todos os seres do universo e vice-versa. Cada ser decodifica sua interação com o universo usando uma interface, você é um ser universal usando uma interface humana. Por isso você está tendo uma experiência humana e se entende como ser humano.
Nada! Tudo na sua realidade é decodificação da manifestação dos seres. Sua decodificação da manifestação dos seres não são os seres em si, assim como o que você vê na tela do seu computador não são os sinais de internet.
Você não precisa fazer nada. Absolutamente nada. Sua interface humana faz isso por você, tal como está fazendo agora e sempre. A interface humana está instalada em você-ser. Só que você-ser ignora isso. A 1ficina está te ajudando a sair dessa ignorância. Não tem nada para fazer. Tem para despertar. Se quer fazer algo, faça auto-observação para despertar.
Esse é o equívoco do materialismo. Para ficar consciente da natureza da matéria, você deve estudar OS cinco sentidos e não COM os 5 sentidos. Você deve investigar como os 5 sentidos criam a perspectiva perceptiva de materialidade que você chama de matéria.
Para criar a perspectiva perceptiva de mundo externo.
Porque matéria é experiência de materialidade e experiência acontece dentro do observador e não no objeto observado.
O que a 1ficina faz através das explicações existenciais é ajudar você a explodir uma ciência humana conhecida como “física”. E como a 1ficina faz isso? Usando a lógica da computação. É aí que surge um grande desafio para você aluno. São dois obstáculos:
1) Você é leigo em física.
2) Você é leigo em computação.
Sendo assim, é mais que compreensível que você não compreenda as implicações das analogias da computação sobre os paradigmas da física.
O materialismo é muito arraigado na coletividade humana. É quase impossível pisar fora dele. Todas as palavras são derivadas do materialismo e não tem como explicar sem palavras, logo, tudo que falamos para sair do materialismo acaba nos prendendo a ele.
O fato de você ser leigo em física e computação é um obstáculo, mas se você entende que sua dificuldade vem disso, você fica em paz com essa dificuldade.
— Mas eu queeeeero entender! — você diz.
Ótimo! Louvável! A função da 1ficina é te ajudar com isso. Quem não tem cão caça com gato. Faz o seu melhor que a 1ficina está fazendo o mesmo.
Porque você QUER ACREDITAR que é um corpo. Você pensa assim: “Se não sou um corpo, então, o que eu sou? Um fantasma? Um nada? Um vazio? Não! Isso é loucura! Não, não, não! É óbvio que sou um corpo! Olha o corpo aqui! Estou vendo! Estou pegando! Isso é conversa de maluco!”
Porque a interpretação que cada ser humano tem sobre uma experiência depende do seu sistema de crenças. Sistemas de crenças diferentes produzem interpretações diferentes.
Os cinco sentidos não percebem os objetos materiais que existem externamente, os cinco sentidos criam os objetos e a perspectiva de externalidade. Essa é a resposta simples, óbvia e desconcertante.
Retire os cinco sentidos que fazem você supor um objeto material e externo, que objeto material e externo tem? Não tem nenhum! E por que não? Porque não tem objeto material e externo em si para ser percebido pelos sentidos, nunca teve, nunca terá. Só tem experiência de objeto, que no caso do ser humano, é feita de cinco sentidos.
A lógica da explicação existencial é a lógica existencial. Só que a lógica existencial é uma lógica atemporal e adimensional. Então, não tente entender a lógica maior pela menor. Não tente encaixar o atemporal e adimensional dentro do temporal e dimensional. Faça o oposto. Perceba que a lógica do materialismo está contida na lógica existencial. Perceba que temporalidade e dimensionalidade é produto da existência. Percebido isso, problema resolvido.
Interface é a fôrma que dá forma ao que não tem forma (input). É sua interface humana que está transFORMAndo os inputs que você está recebendo do universo em forma humana e criando essa realidade que você está experimentando agora e sempre.
Ser não é uma bolinha de isopor, morta e inerte. Ser não é substantivo. Ser é verbo. Ser é existência viva, pulsante. Input é a manifestação de um ser. Mas tem você-ser e tem o outro-ser. Então, tem dois tipos de input: o input que você recebe do universo (recebe de todos os seres) e o input que você emite para o universo (emite a todos os seres).
É errado usar o verbo ESTAR para tratar da existência, o correto é usar o verbo SER. Você É o espaço. Sua realidade ESTÁ em você.
Todos os seres do universo estão conectados, independente de suas interfaces. A diferença de conexão entre seres humanos e outros seres, é que entre seres humanos é possível a comunicação humana, ou seja, a comunicação conceitual.
Estudo do ser humano no aspecto existencial, psicológico, pessoal e social.
Aula do ciclo de estudos de autociência – EUreka 2025 – 1ficina