Narciso não é uma pessoa, é um mito grego que representa uma característica do ser humano. Um mito é construído por meio de uma história. O mito de Narciso é a história de uma pessoa que se apaixona por seu reflexo. Acreditamos que uma pessoa narcisista é uma pessoa apaixonada por si. Isso é um equívoco. Narciso não se apaixona por si, como se costuma pensar, Narciso se apaixona por seu reflexo.

Narciso existe sem seu reflexo, mas o reflexo não existe sem Narciso. Narciso é causa, reflexo é efeito. Isso é obvio, mas é um detalhe que não é fácil de perceber. Você existe sem seu reflexo, mas o oposto não acontece. Você é causa. Reflexo é efeito.

Quando você ignora essa obviedade, você confunde causa e efeito, tal como acontece com Narciso. Ele se apaixona pelo seu reflexo e esquece de si. Narciso acha que ele é o reflexo.

Quando você se apaixona pelo seu reflexo, você se perde de vista. O reflexo é a criatura, você é o criador. Quando você esquece que você é o criador, você perde sua autonomia, perde seu autocontrole, perde a responsabilidade pela sua criação.

Quando você está assistindo televisão, tem a mídia da imagem e a mídia do som. São duas mídias distintas. Mas você não percebe que tem duas mídias acontecendo simultaneamente. Você fica tão imerso na experiência que parece que é uma mídia só. Essa realidade que você está experimentando agora e sempre, também é multimídia. Então, você também não percebe que são várias mídias acontecendo simultaneamente. É fundamental entender que realidade é multimídia para entender o Narcisismo. É fundamental entender que a realidade é feita de duas mídias distintas que acontecem simultaneamente: significante e significado.

Assim como você mistura imagem e som quando está assistindo televisão, você mistura significante e significado quando está vivendo. Essa confusão é a raiz do narcisismo, pois faz você acreditar que o significado é o significante. Quando você olha para uma coisa, o significado que você está vendo na coisa não está na coisa. A coisa é o significante e funciona igual um espelho. O significado que você vê na coisa está em você, que está olhando para coisa, assim como a imagem que você vê no espelho está em você, que está olhando para o espelho.

Significante e significado são termos de uma ciência chamada semiótica que estuda a estrutura das linguagens humanas. A 1ficina usa esses termos de forma mais abrangente: significante = objeto. Cadeira, mesa, pessoa, dedo, cabelo, óculos, nariz, dente, parede, etc, é significante. Significado é o valor que você agrega ao objeto.

Quando você vê uma cadeira e pensa “coisa para sentar”. O pensamento “coisa para sentar” está na cadeira? Não, é um valor que você agrega a cadeira. Quando você olha para um copo e pensa “coisa para beber água”, onde está esse pensamento no copo? Não está em lugar nenhum, porque copo é só um objeto, ou seja, significante.

O que você pensa a respeito do copo é significado. Quando você assiste um filme e pensa: “filme triste!”. Cadê a tristeza no filme? Não está em lugar nenhum, porque tristeza é o valor que você está atribuindo ao filme. Tristeza não é significante, é significado.

Enfim, significante é tudo que você experimenta com os 5 sentidos, são os objetos, coisas, pessoas, acontecimentos. Significado é tudo que está dentro da sua cabeça e que você vê refletido nos objetos, coisas, pessoas, acontecimentos.

Para entender o narcisismo é preciso entender que Narciso existe sem seu reflexo, mas o reflexo não existe sem Narciso. O significante existe sem a atribuição do significado, mas o significado não existe sem o processo de atribuição. Ou seja, você projeta o significado que está vendo refletido no objeto.

Narciso vendo a si refletido no rio é uma metáfora para projeção psicológica. Não existia psicologia na Grécia, então, os gregos usaram a ideia de reflexo para tratar da projeção psicológica do significado. Narciso é o significante e o reflexo de Narciso é o significado.

O que acontece se você jogar um significante em um urubu? Uma pedra, por exemplo. Você pega uma pedra e joga no urubu. O urubu sofre? Sim, ele sofre! Por que o urubu sofre? Porque dói.

Mas não é só isso! O urubu sofre porque quer prazer e não quer dor.

Se o urubu quisesse sentir dor, ele agradeceria você pela pedrada. Mas ele não quer sentir dor, ele quer prazer. Então, o desejo tem que entrar na equação do sofrimento do urubu. Só o fato de doer não é suficiente.

Se você jogar um significado em um urubu, ele sofre? Se você falar que o urubu é feio, por exemplo. Você pega o feio e joga no urubu: “Seu urubu feio, narigudo e fedido”. Ele sofre? Não sofre. E por que o urubu não sofre quando você chama ele de feio? Primeiro, porque feio não é um objeto, igual uma pedra, é um significado. Depois, porque o urubu não quer significar bonito. Se o urubu quisesse significado de bonito, na hora que você o chamasse de feio, ele sofreria. Mas urubu não entende o que é bonito e feio. Nem quer entender. Nem tem o desejo de significar bonito.

Se o outro te jogar um significante, uma pedra, por exemplo, você sofre? Sim, você sofre. E por que você sofre? Porque você quer prazer e não quer dor! Novamente temos a presença do desejo na equação do sofrimento. É preciso entender que a questão do narcisismo está ligada a questão do desejo. Mas enfim, note que até aqui você está igual o urubu.

Se o outro te jogar um significado, você sofre? Por exemplo, se o outro te chamar de feio, carniceiro, repulsivo, fedido, você sofre? Sim, você sofre. E por que você sofre? Você sofre porque quer significar bonito. Veja que novamente o desejo aparece na equação do sofrimento. O urubu não sofre quando é chamado de feio porque não quer significar bonito. Você sofre porque quer significar bonito.

Agora você ficou diferente do urubu. Estou usando o urubu como exemplo de um ser não humano. E por que? Para deixar evidente que o sofrimento com o significado só acontece com o ser humano. Você pode xingar o quanto quiser a lagartixa, a barata, o cachorro, a parede, a torneira e nenhum deles sofrerá com isso.

O ser humano tem uma experiência similar a dos bichos no que diz respeito ao significante, mas no que diz respeito aos significados, só o ser humano tem essa coisa de sofrer com o significado. Isso é um funcionamento humano que precisa ficar consciente, senão, fica impossível lidar bem com o narcisismo.

Por que você quer significar xis e não ípsilon? Você quer significar xis porque você se considera xis. Vou usar o adjetivo “bonito” no lugar de “xis”. Você quer significar bonito porque você se considera bonito. Se você não se considerasse bonito, uma pessoa lhe diria: você é feio. E não teria problema nenhum. O problema vem do choque de significados. Você olha para si e atribui o significado de bonito. O outro olha para você e atribui o significado de feio. Tem um choque de atribuições de significados na convivência. Tem um choque entre a imagem que você faz de si e a imagem que o outro faz de você. A imagem que você tem de si é a auto-imagem. A imagem que o outro tem de você é a outro-imagem. Tem um choque entre a auto-imagem e a outro-imagem.

Qual critério de significação você usa para se considerar bonito? Você usa o seu critério. Qual critério de significação o outro usa para considerar que você é feio? O outro usa o critério dele. O seu critério é igual o critério do outro? Não! Cada um tem um critério diferente. Então, como o outro pode atribuir o mesmo significado que você atribui? Simples, não pode. É impossível. Mas se é impossível, por que você quer que o outro faça algo impossível? Por que você quer que o outro use um critério de significação que ele não tem?

Você quer que o outro tenha o mesmo critério que você porque você é narcisista. Se você não fosse narcisista, você não iria querer isso. Mas como você é humano e narcisista, você quer o impossível. O urubu não quer o impossível, porque não é narcisista, nem consegue ser. Você, por ser humano, pode ser. E é.

Mas sendo que seu desejo é impossível, você é narcisista ou burro? Minha sugestão para você lidar melhor com o narcisismo é ficar consciente que narcisismo é burrice. Quando estiver sendo narcisista, diga a si “Estou sendo uma anta, uma toupeira, estou querendo que o outro faça uma coisa que é impossível”.

Claro que você não sabia que narcisismo é burrice. Mas agora você sabe, porque caminhou até aqui. Até ontem você ignorava que realidade é multimídia, ignorava que significante não é significado. Mas agora você sabe tudo isso, então, não precisa mais ser burro.

Narcisismo é a crença de que seu critério de significação é absoluto.

A professora pediu aos alunos que fizessem um verso com rima de tarefa. No dia seguinte, foi verificar a tarefa.

— Leia seu verso, Mariazinha — disse a professora.

— A rosa é formosa — ela disse.

— Muito bem, Mariazinha! — disse a professora.

— E você Joãozinho, qual é sua rima?

— Urubu tem pena no cu — ele disse.

— Tá errado! — disse a professora — Refaz a tarefa que amanhã vou perguntar novamente.

No dia seguinte a professora voltou a perguntar:

— Qual é sua rima, Joãozinho?

— Urubu tem pena no cu — ele disse.

— Já falei que tá errado! — disse a professora — Refaz a tarefa que amanhã vou perguntar novamente.

Depois de um mês fazendo a mesma tarefa, Joãozinho já estava de saco cheio da professora. Então, quando a professora perguntou:

— Qual é sua rima, Joãozinho?

Ele disse:

— Urubu tem pena no pé, porque no cu a professora não qué.

Eis a dificuldade de viver autoísta. Seu urubu é seu, você é livre para colocar a pena onde quiser. Sua vida é sua, você é livre para viver como quiser. Mas os professores (religiosos, morais, sexuais, etc) te reprovam e te mandam refazer a tarefa, até você aprender, até você viver do jeito que eles querem. E o pior é que não fazem isso por mal, fazem isso porque os professores deles fizeram o mesmo com eles.

Essa rima se chama uniformidade, é triste, mas é verdade. Acontece o tempo todo, desde sempre, em todo lugar. E se você não suportar a rejeição, a punição, e a discriminação por viver sua própria rima, vai acabar rimando amor com dor, se transformando em mais um professor da uniformidade e enfiando a pena no cu dos outros. É isso que você quer?

Então, me diga, qual é sua rima?

Universalismo é alteridade. No absoluto não existe alteridade, só existe você. Você é tudo e não tem outro. No universalismo existe você e o outro, isso é alteridade! A definição de universalismo da 1ficina é: 1≠1 (um diferente de um). Outro é diferente de você e você é diferente do outro.

Não somos todos iguais, somos todos igualmente diferentes. Eu sou outro você. Você é outro eu. Mas eu não sou você, nem você sou eu. Eu sou eu e você é você. A luz de uma estrela é luz, igual a luz de outra estrela, mas a luz de uma estrela é a luz de uma estrela e não de outra. Um dedo é a mão, outro dedo é a mão, os cinco dedos são a mesma mão, mas retirado os dedos, que mão tem? Universo não é unidade, é UNImultiplicidade. Convivemos, mas isso não significa ausência de individualidade, significa coexistência, pois como poderia haver convivência sem coexistência?

Somos oito bilhões de super heróis, todos tentando salvar o mundo. E salvar o mundo do que? Do errado. O cristão quer salvar o mundo do islamismo e o islâmico quer salvar o mundo do cristianismo. O ateu quer salvar o mundo da crendice e o crente quer salvar o mundo do ateísmo. Os heterossexuais querem salvar o mundo da homossexualidade e os homossexuais querem salvar o mundo da heterossexualidade. A esquerda quer salvar o mundo da direita e a direita quer salvar o mundo da esquerda. Os pais querem salvar os filhos e os filhos querem salvar os pais. Resultado, treta, guerra, soco, pontapé, facada, mágoa, inimizade, ódio, etc. E tudo em nome de ajudar o outro.

Ajudar o outro é piada! É mentira cabeluda! Ninguém quer ajudar o outro. Cada um quer ajudar a si mesmo. Cada um quer que o outro reze sua cartilha. Cada um quer que sua verdade seja absoluta. Se não fossemos hipócritas e admitíssemos isso, daí sim, ajudaria. Mas não, somos todos certos e santos. O vilão é sempre o outro. A culpa é sempre do outro. O errado é o outro. O inferno é o outro. O capeta é o outro. Eu sou o salvador. Eu imponho meu certo ao outro porque são as bases da santidade, da verdade, do amor e da salvação.

Você pode expor sua opinião e seu critério de valores ao outro sem ser um caga regras. Como? Exatamente como estou fazendo aqui: explicando. E só estou fazendo isso porque você veio aqui se esclarecer. Caso contrário, não lhe explicaria nada, pois estaria sendo invasivo. Expor é diferente de impor. Explicar é diferente de implicar. Expor e explicar é saudável e produz bem viver. Impor e implicar é violento e produz mal viver.

Ocupação é um termo popular nos movimentos de cidadania. Tem um lugar desocupado, alguém vai lá e ocupa. Tem uma praça pública, o povo vai lá e ocupa. O Movimento Sem Terra é um tipo de ocupação. Quando os povos antigos foram se espalhando pelo mundo, estavam fazendo ocupação. O nome histórico é colonização, mas isso é só terminologia, colonização é ocupação. Ocupação acontece quando um lugar é terra de ninguém ou público. Os portugueses ocuparam uma (suposta) terra de ninguém que chamaram de Brasil. Moradores de rua ocupam os espaços debaixo dos viadutos.

Mas tudo isso é ocupação física: cadê a ocupação metafísica? Parafraseando Morpheus no filme Matrix: “A ocupação metafísica está em todo lugar. É tudo que te rodeia. Você pode vê-la quando olha pela janela ou quando liga sua televisão. Você a sente quando vai para o trabalho, quando vai à igreja, quando paga seus impostos. É a realidade colocada diante dos seus olhos para que você não veja que é um escravo. Como todo mundo, você nasceu num cativeiro, nasceu numa prisão que não consegue sentir ou tocar: uma prisão mental. Por isso, é impossível lhe dizer o que é ocupação metafísica. Você precisa vê-la em si e por si”.

Em outras palavras, no começo da civilização humana, a ocupação era física, territorial. Hoje em dia, a ocupação é metafísica, mental, cultural. Sua cabeça é a terra de ninguém dos colonizadores da modernidade. Guerra cultural é a disputa entre esses colonizadores pela ocupação do seu pensamento. Numa guerra pela ocupação de espaço físico, as armas são físicas: revólveres, metralhadoras e bombas. Numa guerra pela ocupação do seu pensamento, é preciso usar armas mentais: ideologias, teorias, propaganda, fake news, fofoca, injuria, enfim, todo tipo de manipulação de informação.

Eis o que é e como funciona a guerra cultural.

A palavra “discriminação” é inadequada para descrever o comportamento a que se refere. Discriminar significa separar em categorias. Discriminar é um processo mental natural, saudável e inevitável. Caso contrário, você estaria morto, pois seria incapaz de discernir a diferença entre as coisas.

Dizer que abacate é fruta, por exemplo, é fazer uma discriminação. Significa que abacate pertence ao grupo das frutas. Dizer que fulano é brasileiro, significa que fulano pertence ao grupo dos brasileiros. Dizer que beltrano é feio, significa que, para você, beltrano pertence ao grupo das pessoas feias.

Porém, quando você discrimina alguém (tal como a palavra discriminação é cotidianamente usada) você não está colocando a pessoa na categoria a qual acredita que ela pertence, pelo contrário, você está querendo que a pessoa se enquadre em uma categoria na qual ela não pertence.

Por exemplo, quando você proíbe uma pessoa de ser gorda, você não está discriminando a pessoa, pois a pessoa gorda se encaixa na categoria de gorda, o que você está executando não é discriminação, é uniformização (padronização). Você está querendo que a pessoa gorda se encaixe na categoria de magra.

Esse é o equívoco de usar a palavra “discriminação”, onde o correto seria dizer “uniformização”. Comportamentos como racismo, xenofobia, misoginia, capacitismo, etarismo, aporofobia, intolerância religiosa, etc. Não são discriminações, são uniformizações.

É fundamental entender isso, pois sendo a discriminação um processo mental automático, discriminar não é opcional. Quer você queira, quer não, o processo mental de discriminação acontece. Uniformização, sim, é uma escolha. E uma péssima escolha, pois sendo impossível que algo deixe de ser o que é, resulta em mal viver e má convivência.

Como se curar do narcisismo? Simples: sofrendo feridas narcísicas.

Se você não sofrer nenhuma ferida narcísica você jamais vai despertar do equívoco do narcisismo. Para se curar do narcisismo, abrace suas feridas narcísicas porque elas só estão acontecendo para que você desperte a consciência e saia do equívoco do narcisismo. É impossível viver bem em estado de ignorância e a ferida narcísica vem para te tirar do estado de ignorância.

Pronto! Narciso está nu! Boa prática! Muitas curas!

PERGUNTAS

Função espelho é um funcionamento mental subconsciente, automático e constante. Esteja você consciente ou inconsciente da função espelho, continua acontecendo.

O primeiro obstáculo é a ignorância da existência da função espelho. A função espelho faz parte da experiência humana assim como o tato, o paladar, a visão, etc. Só que você nasce, cresce e morre ignorante da função espelho. Você vive convicto de que os significados estão nos objetos. Esse equívoco é o primeiro obstáculo para percepção da função espelho. Quando você desperta para a existência da função espelho, surge o segundo obstáculo: a ignorância do Quatrix, ou seja, a ignorância da sua natureza humana. Quando você desperta para quaternalidade da natureza humana, surge o terceiro obstáculo: falta de prática na autoobservação e na autoanálise.

Significa que esse personagem está espelhando algo sobre quem é você, sobre sua personalidade.

Quando você liga a televisão, você acredita que está assistindo televisão. Não está! A televisão é um espelho. Por isso tem um famoso seriado que se chama Black Mirror. A tradução de Black Mirror é Espelho Preto. Uma televisão desligada é um espelho preto. Um celular desligado é um espelho preto.

Assistir televisão e olhar no celular é se olhar no espelho. Tanto os conteúdos que te afetam positivamente, de forma atraente, como os que te afetam negativamente, de forma repelente, espelham algo sobre quem é você, sobre sua personalidade. Não é a toa que atração e repulsa acontecem, é devido a função espelho.

Pessoas, reais ou fictícias, para você, são igualmente personalidades. Quando você interage com uma personalidade alheia, seja através de uma pessoa real ou personagem fictício (filme ou livro), a função espelho acontece subconscientemente. Se você observar acontecendo, o conteúdo subconsciente se tornar consciente e vira autoconhecimento.

Sim, tanto as competências que você vê em Fulano, como sua admiração por essas competências, estão em você. Mas tem uma sutileza nesse entendimento. Vou explicitá-la. Mas primeiro, para facilitar a explicação, vamos nomear as competências que você admira em Fulano. Vamos chamá-las de Respeito e Lucidez. Se você não tivesse ao menos o conceito de Respeito e Lucidez em si, você seria incapaz de reconhecer isso em Fulano, e consequentemente, de admirar. Uma criança pequena, por exemplo, não é capaz de reconhecer a mentira, nem a inveja, nem a cobiça, nem a amizade, nem a paciência, nem o respeito, nem a sinceridade, nem qualquer competência do outro, pois a criança sequer tem a ideia abstrata dessas competências dentro de si. Conforme a criança vai vivendo, tendo experiências e fazendo abstrações, ela vai criando todos os conceitos das competências humanas, e daí sim, vai se tornando capaz de reconhecer essas competências nos outros. Depois, você só é capaz de reconhecer a competência do Respeito e da Lucidez em Fulano, porque Fulano possui tal competência, caso contrário, seria impossível. Como você poderia ver o cabelo ruivo de Fulano se Fulano tivesse cabelo preto? Então, a competência que você vê em Fulano, está tanto em Fulano como em você. Talvez ela seja apenas um conceito para você e uma maestria para Fulano, mas o espelhamento só acontece porque estão em ambos. Por fim, tem a questão da admiração. O fato de você admirar o Respeito e a Lucidez de Fulano significa que são competências desejadas por você, que você também deseja ser uma pessoa respeitadora e lúcida, caso contrário, você sentiria desprezo por essas competências e não admiração. Então, é a função espelho que lhe permite identificar competências nos outros e sucessivamente ficar consciente se são competências desejadas ou indesejadas. Se forem desejadas, significa que você deve praticá-las e transformá-las em maestria, que irá viver melhor. Se forem indesejadas, significa que você deve abandoná-las e praticar as competências opostas, que irá viver melhor.

Objeto é significante, não é significado. Mas a função espelho é como um truque de mágica e se você não percebe esse truque, você cai no equívoco de acreditar que significante é significado. O espelho é um ótimo exemplo para entender esse truque. Quando você olha no espelho, o que você vê? Você vê o espelho? Não! Você vê seu cabelo, seu nariz, seus dentes, sua cabeça, seu corpo, etc. Tudo isso está no espelho? Não, está em você. O que tem no espelho? Nada! O espelho é vazio. No caso da convivência, o outro é o outro. O que você vê no outro, é o que VOCÊ vê no outro, não é o outro. Por isso que cada um vê um outro diferente. Por exemplo, você me vê como professor. Minha esposa me vê como marido. Minha mãe me vê como filho. Meu amigo me vê como amigo. O governo me vê como contribuinte. E assim por diante. Eu sou tudo isso? Não. Eu sou eu. O que você vê no outro espelha suas crenças, valores, preferências, desejos, etc. E vice-versa. O outro é um espelho para sua prática de autoconhecimento. Você jamais conseguiria se ver sem espelho. Você jamais conseguiria produzir autoconhecimento sem o outro.

Cada caso é um caso. A resposta para o seu caso, requer análise do seu caso. Contudo, o motivo básico é uma dessas três ignorâncias ou as três:

1) Você ignora a existência da função espelho.
2) Você ignora qual é seu objetivo espelhado no objeto (outro).
3) Você quer mudar o espelho (outro).

Se colocar no lugar do outro é executar a empatia. A empatia é uma prática. Quanto mais você pratica empatia, mais fácil fica executar. Então, se você não consegue se colocar no lugar do outro, e deseja conseguir, você deve se perguntar o que te impede de praticar a empatia, o que te impede de se colocar no lugar do do outro.

Pode ser, por exemplo, que você evita a empatia para fugir da sua parcela de culpa e colocar toda a culpa no outro. Pode ser uma forma de cultivar a uniformidade. Pode ser para continuar no jogo do controle. Pode ser que não está preparado para ouvir a verdade do outro. Etc. Descobrindo, você começará a ter empatia.

O conceito de maldade sim, caso contrário você seria incapaz de reconhecer e nomear o que está vendo. A intensão ou a prática de ser maldoso, não necessariamente. Mas pode ser que a maldade que você está vendo no outro, não está no outro, só está em você. Isso acontece porque bem e mal depende do sistema de crenças do observador. Vamos supor que o seu sistema de crenças, por algum motivo, tenha uma programação assim: “Pessoas de cabelo grisalho são pessoas do mal”. Quando você olhar para mim, mesmo que não exista maldade em mim, você verá maldade, pois bem e mal, para você, depende da programação mental que está em você.

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