Motorista da realidade

07/03/2022 by in category Textos, Tic tac tagged as , , with 0 and 0

— Imagine uma prateleira cheia de filmes. Você ainda não assistiu nenhum dos filmes que estão nessa prateleira. Sendo assim, os filmes nessa prateleira são:

( ) filmes felizes ou
( ) filmes infelizes?

INTERLOCUTOR: Não sei, ainda não assisti.

— Isso mesmo! Os filmes não são felizes nem infelizes. Sendo assim, pergunto: porque os filmes não são nem felizes e nem infelizes?

INTERLOCUTOR: Porque depende da minha avaliação.

— Ótimo! Daí você pega um filme na prateleira e assiste. Após ter assistido, te pergunto: ”Esse filme é feliz ou infeliz?” E você me responde: “É um filme infeliz.” Por que antes você era incapaz de saber que o filme era infeliz e agora sabe?

INTERLOCUTOR: Porque agora eu já assisti.

— Exato! Você não sabia que o filme era infeliz porque você ainda não havia assistido o filme. Depois que assistiu, você ficou consciente do conteúdo do filme, avaliou esse conteúdo e daí se tornou capaz de me dizer que é um filme infeliz. Está claro isso?

INTERLOCUTOR: Sim.

— Agora, imagine que esse filme que você pegou para assistir é sua vida. Por que você é capaz de dizer que é um filme feliz ou infeliz?

INTERLOCUTOR: Por que estou assistindo minha vida.

— Exato! E você consegue qualificar de feliz ou infeliz a vida que você ainda não criou e por isso ainda não assistiu?

INTERLOCUTOR: Se ainda não criei, não tenho como assistir, logo, não tenho como avaliar.

— Sendo que você só é capaz de assistir a vida que você já criou e nunca a vida que ainda não criou, então, a vida que você está assistindo agora e sempre, é:

( ) presente ou
( ) passado?

INTERLOCUTOR: É passado.

— É por isso que presente é passado. A vida que você está experimentando agora e sempre, primeiro é criada por seu arbítrio e só depois você experimenta. Arbítrio é causa, vida é efeito. Seu presente é sempre o passado do seu arbítrio. É o passado mais recente, mas é passado.

INTERLOCUTOR: E o presente? Cadê o presente?

— Não existe presente, o que existe é sua eterna PRESENÇA criando e assistindo sua vida, assim como um jogador de videogame jogando e assistindo o jogo.

INTERLOCUTOR: Minha história é o jogo de videogame da minha vida!

— Essa é uma ótima analogia! Mas agora que você entendeu o presente, vamos entender o passado. Que ação você pode executar no passado?

INTERLOCUTOR: Nenhuma.

— Então, para que serve o passado se você não pode fazer nada no passado?

INTERLOCUTOR: Não serve para nada.

— Serve sim! Pensa novamente e responde novamente.

INTERLOCUTOR: Não sei.

— Vamos supor que você perca toda a memória. Daí eu coloco um filme para você assistir. Você será capaz de me dizer se o filme que está assistindo é feliz ou infeliz?

INTERLOCUTOR: Não.

— Por que não?

INTERLOCUTOR: Porque não terei critérios para avaliar.

— Então, para que serve o passado se você não pode fazer nada no passado?

INTERLOCUTOR: Para ter critérios.

— Critérios do quê?

INTERLOCUTOR: Critérios de felicidade e infelicidade.

— E para que serve ter critérios de felicidade e infelicidade?

INTERLOCUTOR: Para poder avaliar se a vida que estou vivendo é feliz ou infeliz.

— E para que serve avaliar isso?

INTERLOCUTOR: Não serve para nada.

— Claro que serve! Vamos supor que você está dirigindo por uma estrada. De repente, você percebe que está na estrada da infelicidade. Qual é o benefício dessa descoberta?

INTERLOCUTOR: Posso virar o volante e mudar a direção.

— E qual é o volante que você usa para dirigir sua vida?

INTERLOCUTOR: O volante é o arbítrio.

— Então, para que serve você classificar sua história de infeliz?

INTERLOCUTOR: Serve para mudar de estrada (mudar de opção).

— Exato! A vida que você está vivendo a cada momento, seja feliz ou infeliz, já está criada, já aconteceu, o leite já está derramado, não há nada que você possa fazer. Então, você não precisa aceitar o presente para viver bem, você só precisa estar consciente que presente é passado. Uma vez que você esteja consciente disso, se num dado momento você estiver vivendo vida infeliz, você vira o volante e muda de estrada (muda de opção). Se num dado momento você estiver vivendo vida feliz, você pisa no acelerador (continua na opção).

INTERLOCUTOR: Eu sou o motorista da minha história, é isso?

— Sim! Você é o motorista da sua história. E sendo que sua história é sua realidade, você é o motorista da sua realidade. Seu arbítrio é o volante que você usa para dirigir sua realidade.

INTERLOCUTOR: Viver bem é dirigir bem minha realidade?

— Isso mesmo! E viver mal é dirigir mal.

INTERLOCUTOR: Nessa metáfora do motorista, o que é felicidade e infelicidade?

— É a voz do GPS te avisando se você está na estrada da autorrealização ou não.

INTERLOCUTOR: Vida feliz significa que estou na estrada da autorrealização?

— Isso! E vida infeliz significa que você está na estrada da autonegação.

INTERLOCUTOR: Não leve a mal, mas isso eu já faço.

— Sim! Autoconhecimento não é fazer nada de novo, é ficar consciente sobre o que você sempre é e o que você sempre faz. Você é um ser humano, não tem novidade nisso. E o que você sempre faz é viver (dirigir sua realidade), também não tem novidade nisso.

INTERLOCUTOR: Entendi. Valeu!

— Disponha. E boa viagem!

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