No meu site de literatura ferrariando tem uma série de poemas intitulada Imperativos Da Felicidade. São seis poemas sobre seis verbos que devem ser conjugados no imperativo para se viver bem. Um desses verbos é o verbo dar, que no imperativo fica: dê. Segue o poema:
Dê! O que tiver, o que só você pode dar, ímpar. Dê espaço ao sufocado, desconto ao freguês, olhar quarenta e três, bolacha mordida na metade, ombro 1001 utilidades. Dê beijo, abraço, salada mista, sincera devoção a trindade, seu dinheiro, seu tamborim, seu surdo, seu violão. Dê ciente que é remetente e destinatário. A, bê, cê, dê! Não perca a vez! Semente que não dá seus frutos morre de gravidez
Escrevi esse poema para chegar na última estrofe “semente que não dá seus frutos morre de gravidez”. Não consigo imaginar uma morte pior do que essa. Todo um potencial maduro, pronto para sair, feito mulher grávida em trabalho de parto, mas que decide se guardar, manter o rebento dentro da barriga, prender, impedir a erupção e por isso morre de gravidez.
Metáfora da pipoca
Rubem Alves, famoso escritor e educador brasileiro, usa a metáfora da pipoca para expressar a morte por gravidez. Ele diz assim:
“… Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante…
…Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar. Piruás também são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo…”
Você ao máximo
As pessoas me perguntam porque faço o que faço se não tenho retorno financeiro. São perguntas assim: “Por que você escreve poesia se não dá dinheiro? Por que você é professor de autociência se não dá dinheiro? Por que você faz música se não dá dinheiro?”. Essas pessoas acreditam que vou responder que é altruísmo, que sou algum tipo de santo missionário. Daí ficam espantadas quando respondo que é por egoísmo, que minha doação gratuita é por prazer e porque não quero morrer de gravidez.
Mas e você, quer morrer de gravidez? Se não quer, comece a aplicar a matemática franciscana na sua vida agora mesmo. Abra o portão azul. Deixe de evitar o inevitável. Deixe seu potencial sair. Viva na plenitude do seu ser. Seja você ao máximo!