Morte por gravidez

05/03/2023 by in category Simples Assis with 0 and 0

No meu site de literatura ferrariando tem uma série de poemas intitulada Imperativos Da Felicidade. São seis poemas sobre seis verbos que devem ser conjugados no imperativo para se viver bem. Um desses verbos é o verbo dar, que no imperativo fica: dê. Segue o poema:

Dê! O que tiver, o que só você pode dar, ímpar. Dê espaço ao sufocado, desconto ao freguês, olhar quarenta e três, bolacha mordida na metade, ombro 1001 utilidades. Dê beijo, abraço, salada mista, sincera devoção a trindade, seu dinheiro, seu tamborim, seu surdo, seu violão. Dê ciente que é remetente e destinatário. A, bê, cê, dê! Não perca a vez! Semente que não dá seus frutos morre de gravidez

Escrevi esse poema para chegar na última estrofe “semente que não dá seus frutos morre de gravidez”. Não consigo imaginar uma morte pior do que essa. Todo um potencial maduro, pronto para sair, feito mulher grávida em trabalho de parto, mas que decide se guardar, manter o rebento dentro da barriga, prender, impedir a erupção e por isso morre de gravidez.

© 2025 • 1FICINA • Marcelo Ferrari