— Caro unicórnio, já faz um tempo que percebi que estou dormindo no sofá e sonhando com você. Então, antes de acordar, tenho uma última questão que gostaria de esclarecer com você — diz Marx.
— Comigo não, com você mesmo! Afinal, sou apenas uma criação da sua mente, assim como o capitalismo é uma criação da mente coletiva — diz o unicórnio.
— Hahahahaha! Whatever! A questão é a seguinte: o capitalismo não é de todo ruim, pois o capitalismo produz progresso! Concorda? — pergunta Marx.
— Isso é mais uma farsa! Mentira! O capitalismo não produz nada. A única coisa que o capitalismo produz é lucro. Só lucro! Apenas lucro! Nada além de lucro! — diz o unicórnio.
— Carros, computadores, telefones celulares, foguetes, etc, tudo isso é produto do capitalismo, não? — questiona Marx.
— Marx, Marx, Marx, meu caro Marx…
— Hahahahaha! Para! Já sei! Não precisa ficar me zoando! — diz Marx.
— Na verdade, não estou zoando você, estou zoando os leitores — diz o unicórnio.
— Que leitores? — pergunta Marx.
— Os leitores desse livro! — diz o unicórnio.
— Que livro? — pergunta Marx.
— Eu e você somos personagens de um livro! — diz o unicórnio.
— Sério?! – exclama Marx.
— Seríssimo! — responde o unicórnio.
— Então, não sou eu que estou dormindo e sonhando com você, é o leitor? — diz Marx.
— Isso mesmo! Mas nesse exato momento o leitor acabou de perceber isso. Fizemos ele perceber — diz o unicórnio.
— E porque fizemos isso? — pergunta Marx.
— Porque esse livro está chegando ao fim e o objetivo dessa história é despertar o leitor. Enquanto o leitor continuar em estado de ignorância sobre o truque perverso do capitalismo, os 100 no topo da pirâmide vão continuar controlando os 8 milhões que estão abaixo. Esse sonho é um pesadelo. Preciso morrer para que esse pesadelo acabe. É impossível viver bem acreditando em unicórnios. A ignorância não é uma benção. A ignorância é a medida de todas as feridas — diz o unicórnio.
— Falou bonito! Mas você ainda não respondeu minha pergunta — diz Marx — Carros, computadores, telefones celulares, foguetes, etc, tudo isso é produto do capitalismo, não?
— Tudo isso é produto da criatividade e da realização humana! Dinheiro não pensa! Como pode inventar qualquer coisa? Quem inventa coisas é a criatividade humana. As pessoas vendem suas ideias porque acreditam que precisam de dinheiro para sobreviver. Se não acreditassem nisso, não precisariam vendê-las, apenas colocariam à disposição e benefício de todos. A evolução seria muito maior e melhor — diz o unicórnio.
— Maior e melhor, por quê? — questiona Marx.
— Porque a criatividade e realização humana não ficaria limitada apenas ao que dá lucro aos 100 espertos no topo da pirâmide.
— Por exemplo… — diz Marx.
— Por exemplo, ao invés dos seres humanos usarem a criatividade para produzir mais e melhores armas de guerra, usariam para produzir mais e melhores meios de transporte, casas, cidades, agricultura, formas de organização social, obras de arte, etc — diz o unicórnio.
— Entendi — diz Marx — Acho que chegou a hora de você morrer! Antes que eu acorde e você desapareça, quais são suas últimas palavras para o leitor? — pergunta Marx.
— Mate seus unicórnios antes que eles matem você!
Marx acordou. Percebeu que estivera dormindo no sofá e sonhando. Desligou a televisão. Foi até a janela. Quando abriu a cortina, percebeu que estava em outro planeta. O antigo Planeta Dono havia se transformado no Planeta Imagine.