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Sei que você já me conhece desde sempre, mas nunca fomos formalmente apresentados. Eu sou o sofrimento. Sim! Sou aquele que você deseja que não exista e não entende porque existe. Sei também que você me considera o vilão da história. Você acredita que se eu desaparecesse da sua vida você seria feliz. Sou literalmente o estraga prazer. Entendo por que você me vê com chifre de diabo. Se eu estivesse no seu lugar, também me acharia malvado.

De fato, todas as palavras que você inventou e inventa para expressar infelicidade se aplicam à minha presença na sua vida. Onde estou não existe felicidade. Eu e a felicidade somos como dia e noite, somos excludentes. A grande ironia nisso é que é justamente por isso que sou o mestre da felicidade.

Sei que você ainda não entende como isso funciona. Por isso estou abrindo esse canal de comunicação com você. Espero que a leitura desse livro possa lhe ajudar a se entender melhor, e consequentemente, me entender melhor. Espero também que esse livro lhe ajude a fazer as pazes comigo.

Agora que estamos formalmente apresentados. Prossigamos…

A matemática ensina que a ordem dos fatores não altera o produto. O bom humor diz que a ordem dos tratores não altera o viaduto. Na matemática e no bom humor o ensinamento funciona, mas em questão de felicidade, altera sim. Eu sou o mestre, você é o aluno. E não adianta tentar inverter essa ordem. Você pode até tentar. É possível tentar. Você tem arbítrio para tentar. Mas é impossível conseguir. Você só irá conseguir ampliar minha presença em você.

Essa é a primeira lição que tenho para te ensinar. É nessa lição que você está empacado desde que sofreu pela primeira vez. Sofrer é ruim, desagradável, doloroso e você quer experimentar felicidade ininterrupta, igual experimentava antes de sair do jardim do útero. Por isso você me rejeita. Tenta me expulsar de você. Luta contra minha presença. Nunca ganha, nem mesmo com ajuda de remédios tarja preta, mas persiste tentando me ensinar felicidade.

Se o aluno fosse eu, era desnecessário você sofrer e você já teria me ensinado. Quem mais entende de felicidade do que eu? Ninguém! Só que você escreveu a bíblia, escreveu todos os livros da biblioteca, equacionou as leis da física, então, você quer ser o mestre. E pior! Além de não conseguir me ensinar em você, ainda quer ser mestre do sofrimento dos outros.

Sinto lhe informar: você vai ter que sofrer muito para sair desse equívoco. Mas não se preocupe, pois não vou embora enquanto você não aprender essa lição.

Minha função é te ensinar felicidade, só que eu não falo português. Esse é o problema. Eu falo, berro e urro felicidade, mas você só ouve sofrimento. Nós não falamos a mesma língua. Você fala português, eu falo sofrimentês. Sua língua é racional, a minha é irracional (emocional). Para aprender as lições que tenho para te ensinar, você deve me traduzir para o português, igual nesse livro.

Imagine se ao invés de estar lendo esse livro você estivesse sofrendo esse livro, o que você estaria entendendo? Nada! Quando você coloca a mão no fogo, eu não te digo pausadamente com a voz do google: “Tira a mão do fogo que está queimando!”. Eu digo: dooooooooor. Dor é sofrimentês. Dor sou eu te dizendo: “Tira a mão do fogo que está queimando”.

Eu sou uma voz dentro de você, mas não sou a voz do google, não sou a voz do raciocínio, sou a voz das emoções. Por isso, quando você está sofrendo, você não entende o que estou te dizendo. Você apenas sofre e não sabe o que fazer comigo. Para me entender, ao invés de apenas sofrer, você deve me traduzir para o português. Só que você não sabe fazer isso. Ninguém te ensinou. Nem é ensinado em nenhuma escola. Nesse livro estou te ensinando.

Vou te contar uma coisa. Não existe sofrimento. Isso mesmo! Mas isso não significa que eu não existo. Claro que existo! Minha presença em você é inegável. Você me experimenta 24 horas por dia. O que não existe é esse tal de sofrimento que dizem que sou eu. Piorou? Vou fazer uma analogia para esclarecer.

Provavelmente você acredita que cachoeiras existem. Você já deve ter visto muitas cachoeiras. Já deve até ter se banhado nelas. Só que cachoeiras não existem. O que você vê quando olha para uma cachoeira é rio em movimento. Analogamente, você também não experimenta sofrimento. No rigor da experimentação, o que você chama de sofrimento não é sofrimento, é você experimentando emoções DESagradáveis.

Cachoeira é conceito, o que você experimenta é rio em movimento. Sofrimento também é conceito, racionalização, o que você experimenta são emoções desagradáveis. Dor, fome, sede, mal estar, raiva, angústia, tristeza, medo, ódio, insatisfação, etc, não é você sofrendo, é você experimentando emoções desagradáveis. Felicidade é o oposto. É você experimentando emoções agradáveis.

Essa é a terceira lição. Porque você experimenta emoções (agradáveis e desagradáveis) te explico na quarta lição.

Você experimenta emoções agradáveis e desagradáveis para ficar consciente do seu desejo e assim poder optar pelo que deseja. Emoções agradáveis sou eu te dizendo: “Sim, você deseja isso!”. Emoções desagradáveis sou eu te dizendo: “Não, você não deseja isso!”. Eu sou o dedo duro do desejo.

Vou te mostrar como faço isso. Imagine que você está em um restaurante. Você abre o cardápio e tem duas fotos com duas opções de pratos do dia. Opção A é um prato de cocô de cachorro. Opção B é sua comida favorita. Olhe (com a imaginação) para a opção A: cocô de cachorro. Que TIPO de emoção você experimenta, agradável ou desagradável? Olhe para a opção B: sua comida favorita. Que TIPO de emoção você experimenta, agradável ou desagradável?

Entende porque você chega a conclusão que deseja a opção B e não deseja a opção A? Por isso sou o mestre da felicidade. Sou eu que te digo qual opção é desejada e indesejada, feliz e infeliz. Mas esse não é o único motivo para você me experimentar, tem outro. Explico qual é o outro na próxima lição.

A todo instante você pensa em opções e eu te digo se são desejáveis ou indesejáveis. A todo instante estou te dizendo qual é a opção feliz. Só que eu não te digo qual é a opção feliz de fato, eu te digo qual é teoricamente a opção feliz. Quando você opta por uma opção, você ainda não está experimentando a opção optada, está experimentando uma hipótese.

Por exemplo, quando você opta por uma profissão, você ainda não está trabalhando na profissão optada. Quando você decide namorar ou casar, você ainda não está experimentando o relacionamento. Quando você pede algo no cardápio do restaurante, você ainda não está comendo o prato que pediu.

Optar antecede o experimentar. Então, muitas vezes, o que você pensa que é a realidade de uma opção, não é. Na prática a teoria pode ser outra. A realidade sempre é mais detalhada e cheia de implicações do que você consegue pensar.

Mas enfim, é aí que eu apareço novamente. Além de dedo duro do desejo, também sou a voz do errou. Sou eu que te digo se você acertou ou errou na sua escolha. Quando você erra na realização do seu desejo, eu apareço e fico falando em sofrimentês que você errou, até você entender e mudar de opção. Quando você acerta, eu não digo nada, quem diz é a felicidade.

Você vive sofrendo porque sua vida é a repetição de dois equívocos: outroísmo impositivo e outroísmo submisso. Nessa lição vou te explicar o primeiro. Tem várias maneiras de explicar, mas como nesse livro estou te explicando minha relação com seu desejo, vou seguir pelo caminho do desejo. Outroísmo impositivo é sua crença de que tudo e todos têm obrigação de satisfazer suas expectativas (desejos).

Isso é um equívoco. Ninguém nem nada têm essa obrigação, nem seu pai, nem sua mãe, nem a vida, nem mesmo o que você chama de Deus. Você é o único responsável por satisfazer suas expectativas (desejos). Por isso você tem arbítrio: para optar pelo que deseja e assim realizar seus desejos. Só que você usa mal seu arbítrio. Ao invés de você optar por comportamentos que estão sob seu controle e irão realizar seu desejo, você opta por controlar o outro e obrigá-lo a realizar seu desejo por você.

Por exemplo, quando você deseja beber água, ao invés de você ir até o filtro e beber um copo d’água, você faz uma tempestade por um copo dágua. Você ameaça o outro: “Me traz um copo d’água agora ou eu te mato”. Você pega um chicote e lasca na bunda do outro. “Vai logo!”, você ordena. Só que o outro não nasceu para ser seu escravo e não vai. Você tenta mil torturas para obrigá-lo a realizar seu desejo, mas nada funciona.

Se você usasse 0,1% da energia que está usando para tentar controlar o outro e fosse você mesmo pegar o copo d’água, seu desejo já estaria satisfeito faz tempo. Só que não! E quanto mais você fracassa, mais sua sede aumenta. Sede é sofrimentês, sede sou eu te falando que você precisa beber água. Então, quanto mais você fracassa, mais você acredita que o culpado pelo minha presença em você é o outro. Quanto mais você acredita nisso, maior são seus esforços para tentar controlar o outro. Quanto mais tenta, mais eu aumento o volume da minha voz, ou seja, mais você sofre. E assim segue o ciclo vicioso do outroísmo impositivo.

Como sair? Basta você me escutar! Eu apareço para te explicar a burrice que você está fazendo. Só que em sofrimentês. Nesse livro estou te explicando em português. Então, da próxima vez que você estiver me experimentando, procure se lembrar dessa explicação. Observe que minha permanência e aumento de volume de voz é resultado da sua opção pelo outroísmo impositivo. Em seguida, faça uma coisa que ninguém pode fazer por você, nem eu: desista do outroísmo impositivo. Minha função é te mostrar qual é a opção feliz e infeliz, mas optar é responsabilidade sua.

Outroísmo submisso é o oposto do outroísmo impositivo. Outroísmo submisso é quando você acredita que tem obrigação de satisfazer as expectativas dos outros (desejos dos outros). Isso também é um equívoco. Você não tem essa obrigação. O outro é o único responsável por satisfazer suas próprias expectativas (desejos). Por isso o outro tem arbítrio: para optar pelo que deseja e assim realizar seus desejos. Só que você usa mal seu arbítrio. Ao invés de você optar por realizar seu desejo independentemente da opinião do outro, você opta por realizar o desejo do outro para controlar a opinião dele sobre você.

Você é um escravo do que dirão. Você vive para agradar os outros. Basta o outro olhar torto para você que você já está sob seu controle. Você é feito um animal adestrado que obedece a todos os comandos do seu dono. O outro fala “deita” e você deita. O outro fala “rola” e você rola. O outro fala “finge de morto” e você finge de morto. Enfim, o outro fala e você obedece. Depois de um tempo, você está tão adestrado, que o outro nem precisa mais falar para você obedecer, você já obedece antes mesmo dele falar. Você internalizou o adestramento. Quando você chega nesse ponto de submissão, o outro pode desaparecer da sua vida, pode até morrer que você continua obedecendo seu dono como se estivesse presente.

Agora, pasme! Sabe porque você vive assim? Por amor! Você se submete à escravidão voluntária para ser amado pelo outro. Você se submete às expectativas dos outros para ser aplaudido, para receber um elogio, um tapinha nas costas, um sorriso de aprovação, um click de curti, um emoji de coração. Submissão é sua moeda de troca. Você se submete para comprar o amor do outro.

Só que você dá sua pele para agradar o outro, doa todo o sangue do seu corpo, se transforma em um mico amestrado, mas o outro, além de não mover uma palha por você, ainda não te ama. Por isso você vive reclamando, vive se lamuriando, vive em depressão. É sua maneira implícita de dizer ao outro que ele está em dívida com você. “Ninguém se importa comigo! Ninguém me ama! Como as pessoas são ingratas!”. Você se sente o cristo encarnado, que faz tudo pelo outro, ama o outro, mas acaba sendo crucificado por quem ama. Só que você não ama o outro, você apenas tenta comprar amor com a moeda da abnegação. É por isso que eu apareço.

Abnegação é irrealizável, pois é impossível não-desejar e desejar é buscar o próprio bem. Só que você teima em acreditar que tem obrigação de satisfazer as expectativas dos outros (desejos dos outros). E para satisfazer as expectativas dos outros, você precisa se proibir de fazer o que você deseja e viver em abnegação. Quanto mais você se proíbe de fazer o que deseja, mais insatisfação você experimenta.

Insatisfação é sofrimentês, sou eu te falando que você deseja algo. Porém, quanto mais insatisfação você sente, mais você acredita que a solução é comprar o amor do outro. Quanto mais você acredita nisso, maiores são seus esforços para tentar viver em abnegação. Quanto mais tenta viver em abnegação, mais eu aumento o volume da minha voz, ou seja, mais você sofre. E assim segue o ciclo vicioso do outroísmo submisso.

Como sair? Basta você me escutar! Eu apareço para te explicar a burrice que você está fazendo. Só que em sofrimentês. Nesse livro estou te explicando em português. Então, da próxima vez que você estiver me experimentando, procure se lembrar dessa explicação. Observe que minha permanência e aumento de volume de voz é resultado da sua opção pelo outroísmo submisso. Em seguida, faça uma coisa que ninguém pode fazer por você, nem eu: desista do outroísmo submisso. Minha função é te mostrar qual é a opção feliz e infeliz, mas optar é responsabilidade sua.

Não existe bem e mal impessoal. Bem e mal é sempre pessoal. O que faz bem para você pode fazer mal para o outro e vice versa. Por exemplo, ouvir rock pode ser desagradável para você e agradável para os outros, futebol pode ser importante para você e irrelevante para os outros, uma pessoa pode ser querida para você e odiada pelos outros, etc.

E tem mais! Não existe bem e mal permanente também. Bem e mal é circunstancial. O que te faz bem num instante pode fazer mal em outro e vice versa. Por exemplo, comer doce de leite pode ser prazeroso para você até a décima colherada, daí em diante pode dar ânsia de vômito, conversar sobre política pode ser importante para você, mas não na hora que você está fazendo sexo, etc. Sendo assim, para que você possa optar pelo que é melhor para você, é preciso que algo lhe diga o que é bem e mal para você a cada passo. Esse algo sou eu.

No início desse livro, disse que sou o sofrimento, mas isso é meia verdade, eu sou a felicidade também. Eu sou felicidade e sofrimento juntos. Eu sou seu sistema emocional. Meu nome é chique, mas é muito abstrato, então, para ficar mais palpável e fácil de você lidar comigo, pense em mim como sendo sua bússola pessoal para viver bem. Felicidade e sofrimento são meus dois ponteiros.

Felicidade (emoções agradáveis) sou eu apontando para o que te faz bem. Sofrimento (emoções desagradáveis) sou eu apontando para o que te faz mal. Use essa lógica para me traduzir para o português. Não importa quão complicada for a situação em que você estiver metido, confie em mim para viver bem, sou uma bússola, nunca falho.

A todo instante você está optando pelo que acredita ser a melhor opção. Quando opta e sofre, você entende que optou mal e muda de opção. Só que você continua sofrendo com a nova opção. Então, você muda de opção. Só que você continua sofrendo com a nova opção. Então, você muda de opção. Só que você continua sofrendo com a nova opção. Então, você muda de opção. E assim por diante, num replay que dura sua vida inteira. Isso acontece porque não adianta você mudar de opção dentro do cardápio do outroísmo, você deve mudar de cardápio.

Você pode dividir todas as suas opções em dois tipos de opções, dois cardápios. Cardápio do outroísmo e cardápio da liberdade. Opções outroístas são aquelas baseadas na crença de que os outros têm obrigação de satisfazer suas expectativas (outroísmo impositivo) e na crença de que você tem obrigação de satisfazer as expectativas dos outros (outroísmo submisso). Opções libertadoras são o oposto. Opções libertadoras são aquelas baseadas no fato de que os outros não têm obrigação de satisfazer suas expectativas (liberdade coletiva) e no fato de que você não tem obrigação de satisfazer as expectativas dos outros (liberdade pessoal).

Quando você estiver vivendo mal, observe qual dos dois cardápios você está usando para optar: cardápio outroísta ou cardápio da liberdade. Quanto mais observar, mais irá perceber que está optando dentro do cardápio do outroísmo. Assim como qualquer opção dentro do cardápio do outroísmo resulta em viver mal, qualquer opção dentro do cardápio da liberdade resulta em viver bem. Então, quando estiver vivendo mal, para viver bem, ao invés de mudar de opção, mude de cardápio.

Meu método de ensino é infalível porque baseia-se no fato de que você sempre deseja o bem e nunca o mal. Então, quando você comete o equívoco de optar pelo outroísmo, seja impositivo ou submisso, eu me visto de capeta e te jogo dentro de um caldeirão de emoções desagradáveis. Como você quer sempre o bem, você precisa descobrir porque está vivendo mal, porque está fritando de raiva, angústia, medo, tristeza, insatisfação, mágoa, etc. Para descobrir, você precisa me traduzir do sofrimentês para o português. Quanto mais você me traduz, mais entende que está vivendo outroísta. Quanto mais entende, mais você muda de cardápio. Quanto mais você muda de cardápio, melhor você vive. Percebe? Sou um professor que não dá aula. Eu te ensino tudo sem ensinar nada. Deixo toda aprendizagem por sua conta. E para garantir a eficiência absoluta da aprendizagem, não vou embora enquanto você não aprende. Chupa Piaget!

Viver bem não é viver sem sofrimento (emoções desagradáveis). Isso é impossível. No instante em que eu deixasse de existir, a felicidade (emoções agradáveis) desapareceria junto e você não teria mais como saber e optar pelo melhor para você. Viver bem é lidar bem com o sofrimento (comigo). Ausência de sofrimento é um ideal romantizado e equivocado.

Só que você acredita nesse ideal. Por isso você foge de mim e vai se esconder no mundo das ideias. Apenas na teoria existe vida sem sofrimento. Aliás, como já te expliquei, nem na teoria, pois sempre que você pensa em algo indesejado, eis que apareço para você saber que é indesejado. Então, a grande ironia nessa sua tentativa de fugir de mim, é que fugir do sofrimento só amplia seu sofrimento.

A pergunta que mais me fazem é: como faço para você ir embora? A resposta é: sofra!

Essa é outra lição que tenho para te ensinar. Eu sou um carteiro tocando a campainha. Meu trabalho é te entregar uma carta. Essa carta explica como me mandar embora. Só que você não abre a porta, por isso eu continuo tocando a campainha, cada vez mais forte.

Abra a porta. Me deixe entrar que eu vou embora. Abrir a porta é se permitir sofrer. Quando você está sofrendo e não se permite sofrer, tudo que consegue é perpetuar minha permanência em você. Resistência ao sofrimento só amplia o sofrimento.

Para que eu vá embora rápido, quando estiver sofrendo, ao invés de fugir de mim tomando comprimido para virar zumbi, se entupindo de distrações, teorias e comida, ou brigando com Deus e o mundo, apenas sofra. Simples assim. Me saboreie como se eu fosse uma bala azeda. Se permita experimentar o sofrimento que está experimentando.

Eu sou seu professor para viver bem. Venho lhe explicar qual é a melhor opção. Mas como você pode viver bem se recusando a ouvir o que tenho para lhe explicar? Impossível. Permita-se sofrer! Você se permitindo sofrer é você se permitindo me traduzir do sofrimentês para o português.

Para aumentar a eficiência da tradução, converse comigo igual estamos conversando nesse livro. Me pergunte qual é o problema. Me pergunte qual é a besteira que você está fazendo e ainda não percebeu. Me pergunte o que você está fazendo e deve parar de fazer. Me pergunte o que você não faz, mas deve começar a fazer. Me pergunte o que quiser sobre você. Eu sou perito em você. Eu sei tudo sobre você, melhor do que você. Então, não se acanhe em conversar comigo. Nunca! Converse sempre comigo!

Quem fala errado, a Mônica ou o Cebolinha? Essa pergunta é uma brincadeira infantil, mas a resposta expressa uma sabedoria de gente grande, madura e esclarecida. Quem fala “errado” é a Mônica, o Cebolinha fala “ellado”.

Que sabedoria tem nisso? Sabedoria da universalidade. O jeito que o Cebolinha fala não é errado, é diferente, é o jeito dele falar. Cada um tem um jeito diferente de fazer a mesma coisa. Todos andamos, mas cada um anda de um jeito diferente. Todos pensamos, mas cada um pensa de um jeito diferente. Todos gostamos, mas cada um gosta de um jeito diferente. Resumindo, cada um tem seu próprio jeito de ser.

Ninguém é igual. Todos são igualmente diferentes. A natureza do universo é a universalidade. Ser diferente é natural, inevitável e saudável. O problema é tentar ser igual. O problema é a uniformidade (outroísmo).

Você é naturalmente e inevitavelmente diferente do outro. O outro é naturalmente e inevitavelmente diferente de você. Quando você se obriga a ser igual o outro (outroísmo submisso), eu apareço. Quando você obriga o outro a ser igual você (outroísmo impositivo), eu apareço.

Eu sou o mestre da universalidade. Eu apareço em diversas situações, mas meu ensinamento é sempre o mesmo: 1≠1. O universo não é uma máquina de xerox. Não existem dois iguais no universo. Cada um é único, ímpar, singular. Isso é óbvio! Ululante! Mas você teima em ignorar.

Toda vez que você opta por viver outroísta, submisso ou impositivo, você está cometendo o equívoco de acreditar na uniformidade, acreditar que 1=1. Viver assim é como viver dormindo. Para que você desperte do equívoco da uniformidade e perceba o óbvio, que 1≠1, existe um despertador dentro de você. Esse despertador sou eu (sofrimento).

Esse livro terminou, mas eu não. Então, da próxima vez que estiver sofrendo, converse diretamente comigo que vou te relembrar do que aprendeu aqui. Por fim, deixo uma poderosa vacina consciencial contra o viver outroísta. Use o quanto quiser. Quanto mais, melhor.

DECLARAÇÃO DE INCOMPETÊNCIA

Eu me declaro incompetente em ser você.
Eu lhe declaro incompetente em ser eu.
Sua competência é ser você.
Minha competência é ser eu.

Eu me declaro incompetente em saber por você.
Eu lhe declaro incompetente em saber por mim.
Sua competência é saber por você.
Minha competência é saber por mim.

Eu me declaro incompetente em querer por você.
Eu lhe declaro incompetente em querer por mim.
Sua competência é querer por você.
Minha competência é querer por mim.

Eu me declaro incompetente em optar por você.
Eu lhe declaro incompetente em optar por mim.
Sua competência é optar por você.
Minha competência é optar por mim.

Que meu viver confirme
minha competência
e minha incompetência.
E assim seja!

Conta a história, que Sidarta Gautama, conhecido como Buda, passou anos meditando debaixo de uma figueira até atingir a iluminação. Vou te contar o que ele descobriu em um segundo: viver dói. Esse ensinamento é conhecido no budismo como primeira nobre verdade.

Óbvio que viver dói. Só que você não aceita isso. Você insiste em acreditar que viver bem é vida boa (vida sem dor). Não existe vida sem dor. Viver dói poooorra! Às vezes dói pouquinho. Às vezes dói mazomenos. Às vezes dói pracaraio. Se Sidarta conhecesse as gírias da nossa época, a segunda nobre verdade seria: aceita que dói menos.

Só que Sidarta não explicou toda a nobre verdade sobre a dor. Faltou explicar que a dor é o mestre. O mestre não é Jesus, não é Buda, não é Maomé, não o espírito santo. O mestre é a dor, o sofrimento, o desconforto, a insatisfação, a contrariedade, o desagrado, etc.

É fundamental que você fique consciente disso para aproveitar a razão de ser do seu sofrimento e extrair aprendizagem dele. Senão, tudo que você já sofreu e ainda irá sofrer, será apenas sofrimento à toa.

Várias pessoas chegam baleadas no hospital do seriado Anatomia de Grey. A médica chefe aparece e pergunta aos internos sobre os procedimentos já realizados. Uma das internas responde que aplicou cinco miligramas de morfina em um dos baleados. O baleado comenta: “Não foi suficiente, pode aplicar mais, porque ainda está doendo”.

Quem quer dor, levanta a mão! Ninguém? E quem quer morfina?

Cada um tem sua morfina preferida. Tem gente que fuma cigarro. Tem gente que bebe álcool. Tem gente que come chocolate. Tem gente que se masturba. Tem gente que compra sapatos. Tem gente que joga videogame. Tem gente que mora nas redes sociais. Só que o sofrimento é o mestre da felicidade, então, fugir do sofrimento é fugir da felicidade.

“Mas dói! Eu quero morfina! Quero alívio para dor! Não quero enfiar o dedo na ferida!”. Entendo e respeito. Mas não tem atalho. Então, por que continuar retardando a dolorosa jornada que se destina a levá-lo ao fim dessa dor?

Um homem morava em um sítio. Certa noite, entrou um ladrão no seu sítio e começou a roubar as frutas do pomar. O cachorro percebeu e começou a latir na janela do quarto. O homem acordou, mas como estava com sono, gritou para o cachorro: — Pare de latir! — e voltou para cama. O cachorro foi até o pomar, confirmou a presença do ladrão e voltou a latir debaixo da janela do homem. O homem acordou novamente, mas como continuava com sono, jogou um sapato na cabeça do cachorro: — Pare de latir! — resmungou o homem e voltou para cama. Mas o cachorro, fiel e inteligente, foi até o pomar e começou a latir dentro do pomar, o mais alto que podia, do lado do ladrão. O homem acordou, pegou a espingarda, foi ligeiro até o pomar e pá! Matou o cachorro. Entendeu o que você faz? Seu sistema emocional é seu cachorro. As emoções desagradáveis são seu sistema emocional latindo. Você é o homem. Toda vez que você ignora seu sofrimento, você está matando uma informação emocional que só surge para lhe ajudar.

— O que é febre?

Interlocutor: Sinal de que algo está funcionando mal no corpo.

— Quando você está com febre, o que você faz?

Interlocutor: Vou ao médico.

— Por que você vai ao médico?

Interlocutor: Porque o medico pode me ajudar a resolver o problema.

— Por que o médico lhe ajuda? O que ele tem que você não tem?

Interlocutor: O médico estudou medicina, sabe diagnosticar e resolver problemas de saúde.

— Imagine que você estudou medicina tanto quanto o médico e sabe diagnosticar e resolver problemas de saúde assim como o médico, há necessidade de você ir ao médico?

Interlocutor: Não.

— Por que não?

Interlocutor: Porque sei diagnosticar e resolver meus problemas de saúde.

— O mesmo acontece com o sofrimento. Sofrimento é febre emocional, sinal de que algo está funcionando mal no seu psicológico. Imagine que você estudou o funcionamento psicológico humano e sabe diagnosticar e resolver seus problemas psicológicos, há necessidade de pedir ajuda?

Interlocutor: Não.

— Por que não?

Interlocutor: Porque sei diagnosticar e resolver meus problemas psicológicos.

— Entendeu?

Interlocutor: Sim, mas não tenho nenhum problema psicológico.

— Se não tivesse não estava sofrendo.

Seu dente dói. O que você faz? Você ignora. Toma analgésico. Resolve? Não. Se analgésico curasse cárie, virava chiclete. O que acontece com a dor? Aumenta. O que você faz? Continua ignorando. Você bebe querosene, fuma casca de banana, faz promessa para fada do dente doente. Resolve? Não. Se querosene curasse cárie, virava enxaguante bucal. O que acontece? A dor aumenta. O que você faz? Continua ignorando. Você coloca sal no dente, sapólio, pólvora, pó de mico. Resolve? Não. Se pó de mico curasse cárie, virava farinha. O que acontece? A dor aumenta. Fica insuportável. O que você faz? Pega o telefone e implora para o dentista enfiar a motosserra na sua boca. Autoanálise é dentista. Dente é mentalidade. Sofrimento é sintoma de cárie mental. Telefone é arbítrio. Se liga!

Inferno mental é você experimentando suas mentalidades subconscientes subindo ao consciente. Você chama de inferno porque são mentalidades que não concorda, não gosta, não admira, etc. Assistir essas mentalidades indesejadas subindo ao consciente, por um lado, é tão infernal como estar amarrado dentro de um cinema que só passa filme de terror, mas por outro lado, é oportunidade de faxina.

Inferno mental é poeira saindo debaixo do tapete. É no nível consciente, e só no nível consciente, que acontece a conscientização e a reprogramação mental. Claro que parece uma boa opção empurrar a faxina para debaixo do tapete também. Deixar para amanhã. Só que amanhã é nunca. E mentalidade indesejada não muda para desejada só porque está escondida debaixo do tapete. Pelo contrário, vai aumentando, até que não tem mais poeira debaixo do tapete, tem tapete em cima da poeira.

A solução é ir passo a passo, aproveitando cada oportunidade e fazendo a faxina da vez. Quanto mais faxina feita, mais você entende que inferno é paraíso empoeirado.

Você foge do seu sofrimento conversando SOBRE o sofrimento. Conversar SOBRE mantém você na superfície, ou seja, na superficialidade. Você lê livros SOBRE sofrimento. Você escuta mestres falando SOBRE sofrimento. Você estuda filosofias SOBRE sofrimento. Tudo para fugir do seu próprio sofrimento. Conversar SOBRE sofrimento não produz autoconhecimento pessoal. Para produzir autoconhecimento pessoal você deve conversar COM seu sofrimento. Queime os livros e leia-se. Seu sofrimento é o único livro que você precisa ler para adquirir autoconhecimento pessoal. Saia da superficialidade e entre no autoconhecimento. Não converse SOBRE o sofrimento, converse COM seu sofrimento.

Quando despertei a consciência existencial, acreditei que havia concluído o ensino superior do autoconhecimento. Foi o sofrimento que me fez desconfiar que estava equivocado. Mesmo ciente da minha existência, continuava sofrendo feito criança mimada. E pior! Meu sofrimento não diminuiu, aumentou, pois não tinha mais para onde fugir. Ou abraçava o diabo ou continuava no inferno de viver fugindo dele. Abracei o diabo.

Passei por uma fase intensa de rendição. Nunca termina, mas tem fases mais intensas. Essa que cito, começou com um chute no meio das pernas, me obrigando a cair de joelhos. E não foi um chute metafórico, foi chute mesmo, feito golpe de karatê. Depois foi soco, porrada e bomba. Como não compensava mais me levantar, comecei a andar de joelhos. Terminado o ciclo de rendição, me levantei.

Agora, quando o sofrimento vem conversar comigo, me ajoelho antes dele chegar e sou todo ouvidos. Render-se a condição de aluno do sofrimento parece humilhação e fracasso aos olhos da ignorância PHD, mas é o único caminho para se tornar um mestre em viver bem.

PERGUNTAS

Você deve colocar em prática a 12ª lição do mestre da felicidade: sofra! Abrace o sofrimento e use-o como estudo de caso para produção de autoconhecimento.

Você está querendo resolver o sofrimento. Você jamais irá conseguir. Ao invés de tentar resolver seu sofrimento, permita que seu sofrimento resolva você.

Impossível. Você está condenado a sofrer porque sofrimento é você experimentando insatisfação. Por mais que você esteja satisfeito, o estado de satisfação sempre acaba e você volta a insatisfação, volta a sofrer. É assim que funciona. Inevitavelmente. Sua opção frente a isso é lidar bem ou lidar mal com isso.

Aceitando o desespero. Ao invés de empurrar seu desespero para fora de você, abrace-o. Diga para o seu desespero que ele é bem-vindo e pode se manifestar livremente dentro de você. Diga que está tudo bem, que ele não precisa ir embora, que pode ficar o tempo que quiser. Acolha seu desespero e você ficará em paz com o desespero. Uma vez em paz como o desespero, converse com ele e descubra qual a mensagem que ele veio trazer. Essa conversa pode durar sua vida inteira. Tudo bem! Não tenha presa de se livrar do desespero, tenha interesse em entender a mensagem contida nele. Só isso! Quando a mensagem tiver sido conscientizada, a cura terá acontecido.

Depois que fica óbvio que o sofrimento é o mestre, você não precisa fazer nada para se manter aluno, sua própria lucidez faz isso. E se você adormece, se por um lapso de insanidade você volta a acreditar que você é o mestre do sofrimento, não tem problema, você volta a sofrer até perceber que retornou ao equívoco.

Surge junto com a mentalidade materialista. A mentalidade materialista pensa assim: “Por que vou encarar a dor se posso fugir até morrer? Por que vou encarar a dor se dor dói e não serve para nada além de me fazer sofrer?”. A mentalidade desperta pensa assim: “Por que vou fugir da dor se é impossível fugir? Por que vou fugir da dor se a dor é o mestre da felicidade e me ajuda a viver cada vez melhor?”.

A tão perseguida felicidade é o inútil prazer de ser você.

Sim, é comum. Tente pegar o osso de um cachorro, por exemplo, ele irá rosnar e pode até te morder. E por que? Para defender seu benefício, o osso. A raiva surge quando você se sente prejudicado. Quando alguém te machuca, você sente raiva. Quando alguém te rouba, você sente raiva. Quando alguém te engana, você sente raiva. A raiva é um chamado ao benefício. Algo ou alguém está lhe prejudicando e a raiva vem lhe alertar sobre isso para você tomar uma atitude. Essa tomada de atitude é você autoísta, cuidando dos seus interesses.

É incorreto. Sofrimento é indicativo consciencial, não é força motivadora. Sua força motivadora é sua vontade. Contudo, emoção e vontade estão ligados como calor e fogo, então, é fácil confundir e na prática não faz muita diferença.

Sim, sentir raiva é natural, saudável e inevitável. Experimentar emoções faz parte da brincadeira de ser humano e cada emoção tem uma função específica dentro da brincadeira. A raiva, por exemplo, tem uma função diferente da alegria.

Não! Pois desejo não é humano, é existencial. Você não tem desejo, você é desejo.

Não, nunca! Pois a felicidade de todos os seres do universo depende do seu trabalho.

Coragem é o que os outros pensam de você quando você liga o foda-se. Coragem é o que os outros pensam de você quando você pula sem a corda.

Tem um fiapo de manga no seu dente. Está incomodando. Mas o fio dental está no banheiro e você está confortavelmente sentado no sofá. Levantar do sofá é doloroso, requer muito esforço, vai doer mais do que o fiapo de manga. Então, você fica sentindo a dor que julga ser menor.

Só que o fiapo de manga inflama o nervo do dente. A dor fica latejante e insuportável. Você se levanta do sofá, vai até o banheiro, pega o fio dental e tira o fiapo de manga do dente.

Quem te vê levantando do sofá, pensa: “Como ele é corajoso!!! Ele pulou do sofá, foi até o banheiro, pegou o fio dental e tirou o fiapo de manga do dente!!! Ele é meu herói!”. Só que não teve coragem nenhuma no seu feito. Foi a dor que te fez pular para fora do sofá. A dor era tanta que você pensou: “Foda-se! Vou pular fora desse sofá!”. E pulou!

Óbvio que não! Se sofrimento fosse desejável, seu sistema emocional seria uma bússola com um ponteiro só. Você só entende o que é norte e sul porque a bússola tem dois ponteiros. Você só entende o que é desejável e indesejável porque felicidade é desejável e sofrimento é indesejável. Nem você, nem qualquer outro ser do universo, deseja sofrimento. É por isso que o sofrimento é o mestre universal da felicidade.

Onde estão instaladas as notas de um piano? Em lugar nenhum e no piano inteiro. As notas de um piano são o fantástico resultado do funcionamento do piano como um todo. Analogamente, o mesmo acontece com as emoções, não estão instaladas em lugar nenhum do sistema emocional, mas no sistema emocional inteiro. Suas emoções são o fantástico resultado do funcionamento do seu sistema emocional como um todo. Experimentar um estado emocional é como ouvir uma música. Podemos pensar, por exemplo, na raiva como um solo de guitarra de heavy metal e na graça como uma sonata de Bach.

A lição “sofra!” é se permitir sofrer, se permitir sentir o sofrimento. Você se proibindo de sofrer é você tentando ser o mestre do sofrimento. O sofrimento vem, você fica dando aula para o sofrimento, dizendo que ele está errado, que deve ir embora, que a culpa é de fulano, etc e tal. Então, enquanto você não aprende a primeira lição, você também não consegue executar a lição “sofra”.

Porque a úncia coisa capaz de atrapalhar sua autorrealização é seu arbítrio.

Lamúria é uma estratégia de controle. Visa convencer o outro que você é vítima e fazer com que o outro sinta pena de você. Ou seja, você não executa a lamúria para resolver seu sofrimento, você executa a lamúria para controlar o outro.

Aluno é aquele que está em estado de ignorância. Então, todo aluno precisa de um mestre para caminhar pelo autoconhecimento. Não tem como um aluno avançar no autoconhecimento sem um mestre. O que o aluno não entende, e precisa sofrer muito até entender, é que o sofrimento é o mestre.

Por isso que as pessoas fogem da 1ficina. Para um buscador da felicidade, abraçar o sofrimento é insuportável. Para um ignorante ilustrado, que acredita que é mestre dos outros, também.

O ciclo de estudos Eureka é um estudo de sofrimentologia. Só que sofrimento não dá ibope, então, faço de conta que estou falando de criação de realidade, despertar da consciência, autorrealização, psicologia, relacionamento, outroísmo, autoísmo, etc. Mas é tudo sofrimentologia. Por isso, quando chega a fase de práticas, os poucos que ficaram, fogem também.

Você não cultiva o sofrimento, você cultiva a ignorância, que resulta em viver mal, que resulta em sofrimento.

Porque sofrimento é desejo insatisfeito. Desejo satisfeito é felicidade

É fundamental se permitir sofrer para fazer autoanálise. É o primeiro passo. Você deve se permitir sentir raiva, angústia, medo, remorso, frustração, tristeza, enfim, sentir todas as emoções e sentimentos desagradáveis. Porém, o segundo passo, é pensar com a cabeça ao invés de pensar com o coração. A maioria das pessoas tropeçam no segundo passo. Provavelmente esse é seu caso também.

Porque é impossível saber sabendo, só é possível saber sentindo.

Vocação significa voz, chamado. Sua vocação é ser você. Seguir sua vocação é seguir a voz interior que chama você para ser você. Sua voz interior é seu sentimento. Sentimento não é racional, é irracional. Então, para seguir sua vocação, você precisa colocar o racional a serviço do irracional. Essa é a dificuldade.

Você foi ensinado a fazer o oposto e tem feito o oposto sua vida inteira. Você acorda deprimido, se sentindo péssimo, mas quando alguém te pergunta como você está, você responde “está tudo bem”. Você discorda de algo, acha que está errado, mas reprime o sentimento e faz o errado, mesmo a contra gosto.

Seus educadores não lhe educaram para seguir seu coração e ser único, singular, impar, eles lhe educaram para se encaixar no gabarito da normalidade. O resultado disso, é que você perdeu completamente a habilidade de seguir seu coração, seguir sua voz interior, seguir sua vocação. E pior! Você quer encontrar sua vocação, mas acha um absurdo seguir seu sentimento.

Vocação não se encontra, vocação se vive. E para viver sua vocação, o único jeito é fazendo o racional se render ao irracional (sentimento). Antes dessa rendição, é impossível viver a vocação. Então, se quer viver sua vocação, renda-se! Coloque seu racional de joelhos diante do seu sentimento e diga amém.

Se quiser produzir autoconhecimento, sim. Mas você não precisa ir atrás do estudo, o estudo vem até você. Toda vez que um sofrimento acontecer em você, é o estudo batendo na porta. Abra a porta e aproveite o estudo daquele momento. Em outro momento haverá outro sofrimento batendo na porta. É outra oportunidade de estudo. E assim por diante, até o fim das oportunidades, ou seja, até morrer.

Seu equívoco é acreditar que você sabe QUEM você é. A brincadeira de ser humano é uma brincadeira de destino inconsciente. Isso foi explicado no livro GPS Do Destino. Em uma brincadeira de destino inconsciente você não tem como saber QUEM você é, você só tem como sentir. É por isso que o sofrimento é o mestre e você é o aluno.

Sofrimento é um dos ponteiros da sua bússola emocional (GPS). Quando você tenta ser o mestre do sofrimento, você está brigando com sua bússola. Imagina um navegador em alto mar brigando com a bússola, dizendo para bússola que o norte não é o norte, que a bússola está equivocada e não entende nada de polaridade. Analogamente, é assim que você vive quando quer ser mestre do sofrimento.

Durante muito tempo carreguei o fardo de que precisava eliminar o sofrimento do mundo (das pessoas). Acreditava que o despertar existencial acontecia para que o desperto se tornasse mestre dos adormecidos. Só que não conseguia eliminar o sofrimento de ninguém, nem de mim mesmo. Só conseguia fracassar e aumentar o peso desse equívoco. Até que, depois de sofrer muito, entendi porque fracassava. Porque o sofrimento é o mestre. Essa foi a Eureka mais libertadora que jamais tive. Por quatro motivos:

1) Eu não precisava mais seguir nenhum mestre.
2) Eu não precisava mais ser mestre de ninguém.
3) Eu não precisava mais carregar o fardo de eliminar o sofrimento do mundo.
4) Eu não precisava mais viver fugindo do meu sofrimento.

Se não fosse por essa descoberta, estaria até hoje sentindo pena do sofrimento alheio e incentivando o vitimismo das pessoas. Hoje em dia, quando vejo alguém sofrendo, fico feliz. Sei que o sofrimento está conduzindo essa pessoa com dedicação e carinho no seu processo de autoconhecimento. Foi o sofrimento que me conduziu também. É o sofrimento que me conduzirá sempre. Não tenho dúvida nenhuma disso. Por isso, não sigo mais ninguém. Sei que se tomar uma decisão equivocada, o sofrimento irá me avisar no instante seguinte. Sei que a presença do sofrimento será infalível, personalizada e ininterrupta, até que aprenda a lição. Que mestre pode ser melhor do que esse?

Não! É se permitir experimentar o sofrimento que se está experimentando.

Você decide. É possível continuar, pois mesmo sem o sofrimento do momento você sempre tem a memória do sofrimento.

Tudo tem pros e contras. Viver na uniformidade evita confronto e você tem vida boa, mas sendo que vive em autonegação, você sofre com isso, vive mal. Viver em universalidade é autorrealização. Você vive bem, mas quem tem interesse na sua uniformidade, pode fazer sua vida ficar ruim. Tem dor tanto em uma opção quando na outra. Então, escolha sua dor.

Sim, eu sofro, igual você, igual qualquer ser humano, igual antes do despertar da consciência, igual sempre. A crença de que o despertar da consciência é o fim do sofrimento é um equívoco.

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FRASES

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