Certa vez, perguntaram ao filósofo Arthur Schopenhauer qual era a decisão mais inteligente que um homem podia fazer. Ele respondeu que a decisão mais inteligente que um homem podia fazer ele já não fez. Schopenhauer estava se referindo à decisão de não nascer.
Viver dói. Implica em insatisfação, frustração, decepção, conflito de interesses, etc. Por isso, a decisão mais inteligente que um homem pode fazer é não nascer.
Outro filósofo, Albert Camus, diz que só existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio. Decidir se a vida vale ou não vale a pena ser vivida.
Zain, protagonista do filme Cafarnaum, entende que não vale a pena, pelo menos não aquela vida subjugada e miserável em que foi jogado, por isso decide processar seus pais pelo seu nascimento.
Tem muitas pessoas que concordam com Zain e também passam a vida inteira processando seus pais, não juridicamente, mas psicologicamente. Tem também quem passa a vida processando a vida, através da lamúria, do ressentimento, da má vontade, etc.
Sidharta Gautama, o Buda, um dos seres humanos mais sábios que já viveu, tem seus ensinamentos alicerçados em quatro nobres verdades. A primeira nobre verdade diz o que Zain, eu, você, Schopenhauer e todo ser humano descobre após o nascimento: viver dói.
Uma vez nascidos, não adianta tentar evitar a dor. Também não adianta processar os pais, nem a vida, nem deus, nem ninguém. Só nos resta responder, instante após instante, a pergunta de Albert Camus: Vale a pena viver? Mesmo uma vida dolorosa? Fedida? Amarga? Subjugada? Insalubre? Miserável? Mesmo essa? Mesmo que Cafarnaum?