Tenho 12 anos. É domingo à tarde e estou na matinê do clube. Minha colega de escola disse que viria hoje. Estou muito ansioso. Olho grudado na porta de entrada. Nunca beijei uma menina antes. Nem sei como é que faz isso. Mas pra tudo tem uma primeira vez. E hoje vai ser minha primeira vez.
Maria Eugênia chega. Até hoje só conhecia ela usando uniforme da escola. Calça azul marinho e camiseta branca. Hoje ela está vestindo uma saia. Ela encontra algumas amigas, começam a conversar, depois vão dançar, etc.
Depois de uns 20 minutos me aproximo. Maria Eugênia me cumprimenta e fico ali, conversando um pouco, dançando um pouco. Depois de uns 10 minutos chamo ela para conversar lá fora, longe do barulho. Ela aceita.
Maria Eugênia é minha colega de classe. Ela senta na carteira atrás da minha. Aliás, sentava, porque o ano escolar terminou. Durante todo o ano, conversamos muito, brincamos muito, rimos muito e nos tornamos bons amigos. No último dia de aula, naquela tradicional brincadeira de assinar o caderno e a camisa dos amigos, Maria Eugênia escreveu uma declaração de amor para mim, bem no canto do caderno, com florezinhas ao redor do texto.
Chegamos na rua. Estou suando frio. Não sei por onde começar nem o que fazer. Mas sei que ela gosta de mim, escreveu até uma declaração de amor, então, vai ser fácil. Talvez basta olhar para ela e ela mesmo venha me beijar.
Olho para ela, mas ela não faz nada, não me beija, fica apenas me olhando estranho e por fim me pergunta:
— O que foi?
Puta merda! Sinto que preciso falar alguma coisa. Mas o que?
— Adorei o que você escreveu no meu caderno! — eu digo.
— Bonito, né? É um poema — ela diz — Copiei da minha agenda. Escrevi em todos os cadernos da classe.
Para tudo! Para tudo! Para tudo! Como assim escreveu em todos os cadernos da classe!!!! Como assim!!! Então, aquilo não era uma declaração de amor??? Não acredito! Como eu sou tonto! Maria Eugênia não está apaixonada por mim. E agora? O que eu faço?
— Mas você me chamou aqui fora só pra falar isso? — ela pergunta.
Puta merda! O que eu faço agora?
— Sabe o que é, sabe o Oswaldinho, ele gosta de você e me pediu para perguntar se você gosta dele.
Maria Eugênia sorri e responde:
— Sério! Eu gosto sim. Acho ele lindo. Pode falar pra ele.
Me sinto frustrado e aliviado ao mesmo tempo.
Voltamos para a matinê.
Esse texto foi escrito de forma didática e faz parte do primeiro passo de uma prática de autoanalise chamada: Diário Da Consciência. Clique no áudio abaixo para ouvir a prática inteira.