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Era uma vez agora. Era duas vezes agora. Era três vezes agora. Era agora e sempre.

Você acorda como de costume, toma café como de costume, veste os sapatos como de costume e vai trabalhar como de costume. Entra no ônibus como de costume e chega no escritório como de costume. Olha na agenda como de costume e vai para reunião como de costume. Senta na cadeira como de costume, pega uma caneta e um bloco de papel como de costume e se entorpece com a eloquente fala dos colegas de trabalho como de costume.

De repente, por algum motivo que não de costume, você se dá conta que tudo o que está acontecendo é como de costume, mas você não se sente acostumado como de costume. Você se sente incomodado. Quase irritado com o que está acontecendo. Há uma caneta na sua mão, você pode sentí-la. Será que pode? Será que é caneta? Para aliviar sua angustia, eu retiro a caneta da história. Você se concentra no bla-bla-bla dos colegas. É linda a arquitetura musical da conversa, mas todas as palavras lhe parecem vazias. São como bolhas de sabão que explodem ao se chocarem com seus tímpanos. Você volta a ficar angustiado. Eu retiro o som da história.

Agora seus colegas gesticulam e mexem a boca, mas você não escuta mais as palavras. Você se pergunta sobre aquelas pessoas. O que estão fazendo ali? Será que estão mesmo ali? Quem são? Por que pessoas? De que se tratam? Um bando de corpos se mexendo com uma convicção frenética. Por que corpos? Que convicção? Eu retiro as pessoas da história. Aproveito e retiro a mesa, as cadeiras e todos os outros objetos que montam o cenário da sala. Você fico sozinho na sala vazia de objetos, de frente para uma porta. Você pensa em abrir a porta como de costume. Mas será que é porta? Ou será que é só costume? Eu retiro a porta da história e deixo apenas você, as paredes, o chão e o teto.

Você se sente calmo. Anda sobre o chão. Dá alguns socos de leve nas quatro paredes. Parecem sólidas. Mas são feitas de tijolos ou de costume? E os tijolos são feitos de que? Eu retiro todo o cenário de costume da história. Ônibus, café, manhã, sol, chão, parede, tudo. Deixo apenas o pensamento. Você pensa. Será que estou pensando? Se estou pensando, logo, existo. Penso, logo, existo. Será que existo? Quem sou eu?

Eu retiro o pensamento da história.

Calma! Eu retirei todo cenário da história para termos uma conversa só eu e você.
Eu e você? Quem está falando?
Eu.
Quem é você?
Eu sou você.
Você sou eu?
Isto mesmo!
Então, estou conversando comigo?
Sim.
Estou delirando?
Não, toda história é uma conversa de alguém consigo mesmo.
Toda?
Sim.
E as histórias coletivas?
Também.
E a história da humanidade.
É uma conversa da humanidade consigo mesma.
Para conversar é preciso dois.
Isto mesmo.
Então sou dois.
Você é três.
Três?
Você é o escritor da história, a história e o leitor da história.
Um de cada vez?
Não, tudo aqui e agora. Você é três aqui, agora e sempre. A história que você está lendo (experimentando) aqui e agora é a história que você está escrevendo aqui e agora.
E o que acontece no próximo aqui e agora desta história.
Acontece o que você escreve.
O que acontece se escrevo abacate?
Você lê abacate.
O que acontece se escrevo samba?
Você lê samba.
O que acontece se escrevo amor?
Você lê amor.
O que acontece se escrevo guerra?
Você lê guerra.
O que acontece se escrevo família?
Você lê família.
O que acontece se escrevo depressão?
Você lê depressão.
O que acontece se escrevo alegria?
Você lê alegria.
O que acontece se escrevo católico apostólico romano?
Você lê católico apostólico romano.
O que acontece se escrevo vegetariano?
Você lê vegetariano.
O que acontece se escrevo miséria?
Você lê miséria.
O que acontece se escrevo violência?
Você lê violência.
O que acontece se escrevo estresse?
Você lê estresse.
O que acontece se escrevo pizza com borda de catupiry?
Você lê pizza com borda de catupiry.
O que acontece se escrevo nada?
Você lê nada.
O que acontece se não escrevo?
Impossível. Você está sempre escrevendo algo.
Sempre?
Sim, sempre. É por isto que você está sempre lendo (experimentando) algo.
Faz sentido.
Você lê (aqui e agora) o que escreve (aqui e agora). Está evidente?
Sim, mas quem escreve é você.
Sim, mas eu sou você.
Entendi! Sou eu que estou escrevendo a história que estou lendo.
Exato! Seria injusto você estar lendo (experimentando) algo contra sua vontade, não acha?
Sim, é justamente o que penso.
E se o escritor da sua história não fosse você, quem seria?
Deus.
Deus sou eu.
Você é deus?
Sim, deus-criador, deus-escritor da sua história.
Mas você disse que você sou eu.
Sim.
E se você é deus, então, eu sou deus.
Sim, você é deus.
Quer dizer que aquela história de Adão e Eva é mentira?
É uma metáfora.
E aquela história de big-bang é mentira?
O big-bang é uma história equivocada.
Nooooooooosa!
O que foi?
Por que você não me contou tudo isto antes?
Se eu tivesse lhe dito isto antes você não teria experimentado a história que experimentou até aqui, não é? Outro motivo é que você ainda não estava preparado.
Preparado para que?
Para descobrir quem você é.
E agora?
Agora sua história vai mudar?
Mudar como? De que maneira?
Como você quiser. Da maneira que você quiser. Você é o escritor da sua história. Você que escreve sua história, não é sua história que escreve você.
Uhu! Ótimo! Finalmente estou no controle da minha história.
Você sempre esteve, sempre estará.
O que mudou então?
Sua consciência sobre si mesmo e sobre o que você faz. Antes você acreditava que era apenas o leitor (experimentador) de uma história que estava sendo escrita por um outro que não você mesmo.
Entendi, mas no que isto muda minha história?
Amplia suas possibilidades de escrita (criação).
Como assim?
Vou explicar mais nos próximos capítulos.
Tenho muitas perguntas.
Eu também teria!

Como pode existir história se é sempre agora?
Por causa da Máquina do Tempo.
Máquina do Tempo?
Assim como um escritor usa uma máquina de escrever para escrever histórias, você está usando uma Maquina do Tempo para escrever esta história que você está lendo, ou melhor dizendo, está experimentando.
Quer dizer que é possível viajar no tempo?
Não só é possível como é isto que você faz o tempo todo.
Eu sabia! E como se faz para viajar no tempo?
Basta você fazer o que você está fazendo agora.
O que estou fazendo agora?
Criando uma história.
Criar uma história é viajar no tempo?
Exato! Isto que você experimenta e chama de vida é você usando sua Máquina do Tempo para viajar no tempo.
E onde fica minha Máquina do Tempo?
Em lugar nenhum. Todos os lugares que você experimenta são da história, logo, são criações da sua Máquina do Tempo. Por isto sua Máquina do Tempo não está em lugar nenhum lugar.
Não entendo, como posso estar escrevendo esta história na minha Maquina do Tempo se minha Máquina do Tempo não está em lugar nenhum.
Vamos do entendimento antigo para o novo entendimento. Me diga onde você está? Onde tudo está?
Eu estou no espaço. Tudo está no espaço.
Este é o entendimento antigo. Neste entendimento é a história que está criando você e não você que está criando a história. O novo entendimento é o oposto. Você é o criador da história.
Isto eu Entendi. Mas se estou usando minha Máquina do Tempo para criar esta história assim como um escritor usa uma máquina de escrever, cadê a Máquina do Tempo que estou usando?
Está em lugar nenhum.
Não entendo.
Onde está o espaço?
Em lugar nenhum.
A Máquina do Tempo é o espaço.
Então estou usando o espaço para escrever esta história.
Não apenas usando.
O que mais?
Você é a Máquina do Tempo que você está usando.
Mas você disse que a Máquina do Tempo é o espaço.
Sim, disse.
Então, eu sou o espaço?
Este é o novo entendimento. Você não está no espaço, você não existe no espaço, você é o espaço. Tudo que você experimenta é a história que você cria dentro de você. Por isto que no começo desta história você retirou todo o cenário, retirou até seu corpo, e ainda assim você permaneceu.
Eu sou o espaço! Mas espaço não tem começo, nem meio, nem fim. Armas não ferem, fogo não queima, águas não molham, ventos não ressecam.
Gita! Gita! Gita!

Então, tudo que experimento é ilusório? Não é realidade?
Realidade é ilusão.
Como assim, realidade é ilusão?
Esta casa em que você está, este quarto da casa, esta cadeira no quarto da casa, este corpo sentado na cadeira no quarto da casa, tudo isto não é parte do cenário da história que você está experimentando agora?
Sim, é.
Realidade é ilusão porque realidade é história. O que está além da ilusão, o que está além da história, o que está além do tempo, é você. Se a Máquina do Tempo não estivesse além da viagem, a viagem é que seria o criador da Máquina do Tempo. Se você não estivesse além da sua história, sua história é que estaria criando você.
Entendi, realidade é ilusão, é sonho, é história. Mas sonho é algo absurdo.
E qual a diferença do que você chama de realidade?
Realidade é lógica, não é um absurdo.
Engano seu. Altura, largura e profundidade não é um absurdo?
Pensando bem, é!
Cor, cheiro, sabor, dureza e som, não é um absurdo?
Pensando bem, é!
Alegria, tristeza, amor, ódio, medo, coragem, prazer e dor, não é um absurdo?
Pensando bem, é!
Corpo, dente, nariz, orelha, fígado, coração, unha, cabelo, não é um absurdo?
Pensando bem, é!
Vestir roupa, escovar os dentes, comer pão com manteiga, tomar café com leite, dirigir um carro, passar horas trabalhando para ganhar dinheiro, usar o telefone, assistir televisão, não é um absurdo?
Nunca havia pensado nisto antes!
A palavra “ilusão” é uma palavra que faz você experimentar um sentimento negativo em relação a história que você está criando. A palavra “ilusão” faz você experimentar um sentimento de que você está sendo enganado. Quando você pensa em ilusão desta maneira, você deixa de sentir a maravilha que é ser um Maquina do Tempo e criador de histórias. Ilusão não é oposto de realidade, é sinônimo. Realidade não tem oposto, realidade tem multiplicidade.

Quer dizer que eu não sou um ser humano.
Você é os dois, ser e humano. Ser é a Máquina do Tempo que você é. Humano é o gênero da história que você está criando na Máquina do Tempo que você é.
Como assim, gênero?
Toda história tem gênero e subgêneros. Por exemplo, uma história pode ser um romance, uma comédia, um drama, uma aventura, etc, não é?
Sim, tem vários gêneros.
Todos estes gêneros, em relação ao gênero humano, são sub-gêneros. Romance é um sub-gênero de história humana, comédia é outro sub-gênero de história humana, drama é outro sub-gênero de história humana, aventura é outro sub-gênero de história humana. E dentro dos sub-gêneros tem outros sub-gêneros e assim por diante. A história de Romeu e Julieta, por exemplo, é uma história de gênero humano, de sub-gênero romance, de sub-sub-gênero tragédia, de sub-sub-sub-gênero preconceito, de sub-sub-sub-sub-gênero classe social, e assim por diante.
Os sub-gêneros diferenciam as histórias de mesmo gênero.
Exatamente!
Mas até que ponto?
Até o ponto de uma história ser única, impar, singular, sui generis.
Tipo qual?
Tipo esta que você está escrevendo.
Minha história é sui generis.
Sua história é de gênero humano e possui muitos sub-gêneros similares a outras histórias humanas, mas similar não é igual, por isto não tem como uma história ser igual a outra.
Explica melhor, por favor.
A história de cada um é criada a partir da unicidade de cada um, assim como toda árvore é criada a partir de um semente única. Pense numa floresta, são milhões de histórias do mesmo gênero, árvore, porém, cada história de árvore está sendo contada de um jeito único (diferente). O mesmo se dá com todas as suas histórias, seja do gênero que for.
Existem outros gêneros de histórias além do humano?
Sim, para citar alguns que você conhece, animal, vegetal e mineral, por exemplo.
Ops! Por que você deletou o resto do parágrafo?
Por que é informação desnecessária no momento.
E por que você está escrevendo na história que deletou parte da história.
Para você pensar a respeito disto. Mas voltando na questão do Sui Generis. Você é um criador Sui Generis, é por isto que você pode criar a história que quiser e ainda assim você estará sempre cumprindo seu destino.
Destino? Existe destino?
Destinos! No plural. Se não houvesse destinos não haveria multiplicidade de história.
E você sabe dizer qual é meu destino.
Sim, seu destino é sempre o mesmo em todo história que você cria.
Me conta! Me conta! Qual é meu destino?
Seu destino é ser você.
Claro! Óbvio! Evidente!
Então por que perguntou?
Estou sendo irônico. Só ficou óbvio agora.
Ironia do destino, né? Completando o raciocínio. O destino de toda semente é realizar a si mesma. Todas suas histórias nascem de você. Por isto seu destino, em qualquer história, é ser você.
Mas meu destino é só isto?
Você acha pouco! Nesta história, por exemplo, você tem sido tudo, menos você.
Como assim?
Até aqui nesta história você tem fingido ser qualquer coisa que faça o outro te aceitar, valorizar, satisfazer e beneficiar. Até aqui nesta história você tem sido tudo, menos você.
Agora você está me dando lição de moral.
Lição de destino para que você possa parar de patinar no mesmo equívoco. Seu destino é ser você, sui generis. Seu destino nunca foi outro. Nunca será outro. Você é que tem sido outro.

Como funciona a Máquina do Tempo?
Funciona com a lei da causalidade.
Que lei é esta?
Passado cria presente.
Passado cria presente!!! Não é o contrário?
Não! O que está invertido e seu entendimento. Aliás, nem invertido, você ignora mesmo a causalidade.
Eu ignoro a lei da causalidade?
Você não se ignora como criador da sua história?
Sim, ignoro. Ou melhor, ignorava…
Então, você é a causa, sua história é a consequência. Não é sua história que está criando você, é você está criando sua história, lembra?
Sim. Estou começando a entender melhor.
Já era tempo!
Mais uma ironia do destino?
Sim, claro!
Mas como pode o passado criar o presente?
O que é isto que você chama de presente?
Chamo de presente esta realidade que estou experimentando agora.
Exato! E quem está criando esta realidade que você está experimentando agora?
Sou eu mesmo!
E como é que você está criando esta realidade que você está experimentando agora?
Fazendo uma opção.
E o que você faz primeiro, opta ou experimenta?
Primeiro opto, depois experimento.
Eis porque é o passado cria o presente. Se fosse ao contrário, você estaria lendo estas palavras antes de escrevê-las. Você escutaria uma musica antes de tocar as notas. Enfim, se fosse ao contrário, a consequência seria a criadora da causa. Mas não é assim que funciona, ou é? Você cria sua história e não o contrário. Optar é criar. É através do arbítrio que se cria histórias. Por exemplo, como foi que sua história chegou até aqui?
Não sei.
Foi através das suas opções. Toda história é uma somatória de opções.
Pode explicar melhor esta história de somatória?
Assim como uma reta é uma somatória de pontos, uma história é uma somatória de opções.
Então, sem opção não tem viagem no tempo?
Sem opção sua viagem no tempo seria como ir ao cinema e assistir uma fotografia. Mas sua história não é como uma fotografia, é?
Não, não é!
Só que sua história também não é como um filme.
Não?
Não! Filme é uma história passiva e inalterável.
Como assim?
Neste exato momento da sua história você está lendo este livro, não está?
Sim, estou.
Tem alguém lhe obrigando a ler?
Não, é opção minha.
O que acontece se você mudar de opção? Se parar de ler este livro e for fazer outra coisa?
Minha história se altera junto com minha opção.
Exato! Percebe isto? Sua opção altera sua viagem no tempo, altera sua história.
Sim, percebo.
Mas seu arbítrio não altera em nada um filme, altera?
É mesmo, não altera!
Sua viagem no tempo não é passiva e inalterável como num filme, onde você apenas assiste a história, sua viagem no tempo é ativa como num vídeo game, onde você opta e experimenta sua opção.
Entendi. Então, meu arbítrio é como o volante da Máquina do Tempo.
Ótima metáfora! Sejam histórias pessoais, sejam histórias coletivas, o arbítrio sempre é o volante da história. É através do arbítrio que se viaja no tempo.

Passado é causa, presente é efeito.
Sim, isto mesmo!
E o futuro?
Futuro é universo.
Universo?! Como assim?
Futuro é o universo das possibilidades de causa e efeito. Futuro é o universo de todas as histórias, todas as viagens no tempo, todas as opções.
Então, o futuro já existe? E todas as histórias também?
Futuro pré-existe. Sua viagem no tempo é uma viagem pelo futuro. Sua viagem no tempo cria as histórias, ou seja, transforma o pré-existente em presente.
Quase entendi. Me explica melhor.
Fazendo uma analogia, você pode pensar no futuro como sendo o universo das palavras. As palavras pré-existem a história. Escrever uma história é trazer as palavras pré-existentes para o presente da história. Reflita no seguinte, como você poderia escrever uma história se as palavras não pré-existissem?
É mesmo, seria inviável. Então, não existe imaginação?
Sim, existe, mas não funciona do jeito que você imagina.
Outra ironia do destino?
Sempre!
Por favor, prossiga.
Isto que você chama de ideia, imaginação, pensamento, não é um milagre, nem é um acontecimento aleatório. Ideia, imaginação, pensamento vem do seu futuro de forma precisa e intencional.
Como assim? Quem envias essas ideias tão precisas e para mim?
No seu caso, quem envia sou eu.
Mas você sou eu.
Isto mesmo!
Então, quem envia minhas ideias para mim sou eu mesmo?
Sim.
E por que esta divisão entre eu e você se somos o mesmo ser?
É apenas uma forma pedagógica de lhe explicar as três etapas da viagem no tempo.
Mas quando você me explica quem entende é você mesmo, certo?
Sim, explicar para você é explicar para mim mesmo.
Entendi. Prossigamos. Quais são as 3 etapas da viagem no tempo?
As 3 etapas são futuro, passado e presente.
Exatamente nesta ordem?
Sempre.
E como funciona?
Na etapa 1 (FUTURO) eu envio as opções de próximo presente para você. Na etapa 2 (PASSADO) você escolhe o próximo presente. Na etapa 3 (PRESENTE) nós experimentamos o presente escolhido.
E assim segue a viagem no tempo?
Isto mesmo! E assim segue a história.
Quer fazer um exercício auto-cientifico de comprovação das 3 etapas?
Sim, quero.
Ok, então, vamos escrever uma pequena história aqui, com sujeito, cenário, verbo e complemento. Primeiro escolha o nome do personagem da história, estou lhe enviando “via imaginação” as opções de nome.
Recebeu as opções de nome?
Sim, recebi.
Qual opção de nome você escolhe?
Escolho dois nomes: Adão e Eva.
Mais uma ironia do destino?
Como você sempre diz: sempre!
Prosseguindo… Percebe que ao escrever a opção escolhida você criou Adão e Eva, ou seja, você trouxe Adão e Eva da pré-existência (FUTURO) ao presente da história.
Sim, percebo.
Ok, agora estou lhe enviando “via imaginação” algumas opções de cenário para Adão e Eva. Recebeu?
Sim. Escolho o Jardim do Éden. Adão e Eva estão no Jardim do Éden.
Ok, agora estou lhe enviando “via imaginação” algumas opções de comportamento para Adão e Eva. São verbos. Recebeu?
Sim, recebi. Escolho o verbo comer. Adão e Eva estão no Jardim do Éden comendo.
Ok, agora estou lhe enviando “via imaginação” algumas opções de complemento. São frutas. Escolhe uma fruta para Adão e Eva comerem. Recebeu?
Sim, recebi. E já escolhi.
Como ficou a história de Adão e Eva com sujeito, cenário, verbo e complemento?
Adão e Eva estão no Jardim do Éden comendo um pêssego.
Creio que a história de Adão e Eva ilustrou bem o processo de viagem no tempo.
Sim.
Este exemplo de criação da história de Adão e Eva é análogo ao processo de criação desta história humana que você está escrevendo (criando) agora mesmo. Entende isto?
Estou digerindo.
Ótimo! O próximo capítulo será o último capítulo desta nossa história aqui.

Qual é a finalidade de criar histórias e viajar no tempo?
A finalidade é experimentar as histórias.
Qual é a finalidade de experimentar histórias?
Autoconhecimento.
Como assim?
Toda história é alguém conversando consigo mesmo, lembra?
Sim, lembro.
Cada um é o escritor da sua história.
Certo. E o que isto significa?
Que criar uma história é como se olhar no espelho, é você brincando de imagem e semelhança.
Certo. E o que isto significa?
Que sua história tem uma história para te contar.
Ah é? É qual é a história que minha história tem para me contar?
Só você pode saber, pois é você que está escrevendo sua história.
Mas você não pode dar uma dica?
Sendo que criar histórias é você brincando de imagem e semelhança, todas suas histórias tem apenas duas histórias básica para te contar.
Quais são estas duas histórias básicas?
Que você está EM imagem e semelhança ou que você está SEM imagem e semelhança.
Entendi. E o que acontece quando estou SEM imagem e semelhança.
Você cria uma história terapêutica (curativa) para si mesmo.
Como assim, história terapêutica?
Você cria uma história com todos os ingredientes necessário para que você possa tomar consciência do desajuste (doença) e assim efetuar o reajuste (cura). Durante uma história terapêutica tudo que você experimenta é um processo de cura. O que você chama de pai, mãe, marido, esposa, irmãos, filhos, família, etc, é processo de cura. O que você chama de sociedade, cultura, cidade, religião, profissão, economia, politica, comercio, governo, filosofia, etc, é processo de cura. O que você chama de comida, transito, conversa, trabalho, férias, ônibus, gripe, é processo de cura. Nada do que você experimenta durante uma história terapêutica tem outro propósito senão lhe servir como processo de cura. Talvez você nunca tenha considerado que esta história que você está experimentando seja uma história terapêutica.
Não, nunca pensei nisto.
Mas pode ser. Provavelmente é. E se for, quanto antes você tomar consciência disto, melhor uso você pode fazer da sua história terapêutica e se dar alta.
E como posso saber se estou numa história terapêutica?
Basta você observar a qualidade da sua história. Se for um mal viver, então sim, você está em estado de imagem sem semelhança e está numa história terapêutica. Se for um bem viver, então não, você está em estado de imagem e semelhança e numa história de autorealização.
Se esta for uma história terapêutica, qual é minha doença?
Se for, sua doença é a Doença do Equívoco.
Doença do Equívoco! Que equívoco?
O equivoco da igualdade.
Como assim?
Você acredita que somos todos iguais.
E não somos todos iguais?
Não. Cada um é único, ou seja, diferente de cada um.
E por que este equívoco é uma doença?
Ao acreditar neste equivoco você se nega o direito de criar sua própria história, única, diferente do outro. E também tenta negar ao outro o direto dele criar a história dele, única, diferente da sua.
Entendi. E como posso me curar desta doença?
Só existe uma medicina capaz de curar um equívoco.
Qual medicina?
Consciência.
Consciência? Só isto!
Sim! Com consciência tudo se resolve, sem consciência tudo se complica.
Me explica melhor isto.
Imagine que você é cego e tem um relógio, como ajustar as horas?
É bem complicado.
Exato! Sem consciência tudo se complica. Agora, imagine que você enxerga, mas se colocou num estado de cegueira fechando os olhos. Como ajustar as horas?
Basta eu abrir os olhos.
Com consciência tudo se resolve.
Entendi.
Só existe um jeito de resolver qualquer problema porque só existe um problema a ser resolvido.
Qual?
Ignorância.
Entendi.
Espero que sim. Agora vamos para o fim desta história.

Era uma vez agora. Era duas vezes agora. Era três vezes agora.

Você está em casa. Sua maior curiosidade é atravessar aquele buraco do tempo. Você passa horas imaginando o que tem do outro lado do buraco. Você rabisca e pinta maluquices dentro da sua cabeça. Depois apaga tudo. Por mais maluca que sejam as coisas que você imagina, são imagináveis, e do outro lado do buraco do tempo só deve existir coisas além da imaginação. Aliás, falar em coisas já é imaginar algo imaginável, coisa já é coisa da sua imaginação. Mas enfim, você pensa nisto tudo e fica se coçando de curiosidade. Volta a imaginar coisas inimagináveis. Que cor tem as cores inimagináveis? Que cheiro tem os cheiros inimagináveis? Que sabor tem os sabores inimagináveis? Como é o mundo além da imaginação?

De tempo em tempos, uma Máquina do Tempo chega através do buraco do tempo. A Máquina vem buscar pessoas para fazer a viagem além da imaginação. Num dia desses, você vai falar com o capitão da Máquina do Tempo.

— Leve-me em sua Máquina do Tempo — você diz ao capitão.
— Você está preparado? — pergunta o capitão.
— Sim! Estou sim! — você responde.
— Tem certeza? — diz o capitão — Para viajar na Máquina do Tempo você precisa estar preparado para deixar este tempo e tudo que você tem nele. Tudo que conhece. Tudo que você gosta, e também o que desgosta. Seus pais, seus amigos, seus brinquedos, suas raivas, suas alegrias, suas idéias. Inclusive suas imaginações sobre o que há além da imaginação. Tudo, entende? Viajar na Máquina do Tempo é igual morrer. Você deve deixar até suas esperanças de voltar. Se você estiver preparado para deixar tudo isto, eu levo você agora mesmo.

Você imaginou este momento centenas de vezes, com replay e slow motion. Só que o preço de torná-lo realidade está alto demais. Você ama meus pais, ama seus amigos, ama seu gato, ama seus passeios pelo bosque, ama até a professora chata da escola e o sapato apertado que sua mãe insiste em te fazer usar. E se for ruim do lado de lá do buraco do tempo? E se o inimaginável não for nada do que você imagina?

— Perdão, Capitão! Não estou preparado — você responde e volta para casa.

Sempre que a Máquina do Tempo volta, o capitão olha ao redor, mas não vê mais você. Você está se preparando. Você decidiu que só voltará a falar com o capitão no dia que estiver pronto para partir. Mas os dias passam e ao invés de você se sentir mais pronto você se sente cada vez mais despreparado. Você ainda nem saiu de viagem, mas já sente vontade de voltar. Então, certo dia, quando a Máquina do Tempo chega, você vai conversar com o capitão.

— Olá! — exclama o capitão.
— Vou embarcar para o outro lado do buraco do tempo.
— Lembra do que disse? Você deve deixar tudo para trás. Está preparado?
— Não, capitão! Mas vou mesmo assim, despreparado.

O capitão abre um baú e pede que você deixe tudo ali. Você vai colocando tudo dentro, até ficar nu.

— Eu disse tudo! — Alerta o capitão.
— Já coloquei tudo.
— Falta uma coisa ainda — diz o capitão.
— Falta o quê, Capitão? — você pergunta — Já coloquei meus pais, amigos, gato, sorvete preferido, sonhos, bicicleta, estilingue, medos, alegrias e tristezas. Estou completamente nu. O que falta?
— Falta você! — diz o capitão.
— Como assim, eu? — você pergunta.
— Nada deste tempo pode ser levado numa viagem no tempo. Você precisa deixar você também. — diz o capitão.

Você leva um susto. Você hesita. Depois reafirma sua decisão. Você está decidido a ir para além do buraco do tempo mesmo que tenha que se deixar. Você se despe de si mesmo e entra na Máquina do Tempo.

Viajando na velocidade além da imaginação, em poucos minutos, a Máquina do Tempo atravessa o buraco do tempo. Mas quando você começa a avistar o lugar em que esta chegando, parece que você viajou de marcha ré. O lugar além da imaginação é igual o lugar que você deixou no baú. Idêntico. Sem tirar nem por. As mesmas cores, os mesmos cheiros, as mesmas ruas, as mesmas casas, as mesmas pessoas, tudo igual. Tão idêntico que a cena de chegada parece fotografia da cena de saída. A Máquina do Tempo chega. O capitão abre a porta e lhe diz:

— Boa viagem!

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