Tenho entre 10 e 12 anos de idade. Estou jogando futebol na rua com os meus amigos do bairro quando um acontecimento recorrente ocorre: um dos meus amigos me chama de Maleita. Fico emputecido. Detesto esse apelido. É o pior apelido do mundo. Só que não reclamo. Continuo jogando. Sei que se reclamar vai ser pior, daí que o apelido pega mesmo.
O apelido de Maleita diz respeito a minha barriga. Eu não sou magro como a maioria dos moleques do bairro. Sou gordinho, por isso me chamam de Maleita.
Para mim, a palavra maleita se assemelha a leitoa. Também sei que é uma doença conhecida como malária. Somando as duas coisas, parece que estão me chamando de leitão doente. Detesto essa ideia e apelido. Vou tentando me esquivar do apelido a todo custo, mas não está fácil.
Passado um tempo, chega no bairro e na turma um moleque bem mais gordo do que eu, gordo mesmo. Quando vamos jogar bola, os moleques começam a chamar ele de Maleita. Eis que a sorte se vira a meu favor. Chamo ele de Maleita também. Ele é ingênuo e reclama. Aí que o apelido pega nele. E eu me livro desse apelido para sempre.
Esse texto foi escrito de forma didática e faz parte do primeiro passo de uma prática de autoanalise chamada: Diário Da Consciência. Clique no áudio abaixo para ouvir a prática inteira.