Na sangha do EEU de São Paulo, tinha um rapaz muito inteligente e muito intenso em sua busca espiritual. Um dia, esse rapaz decidiu que tinha que beber ayahuasca e começou a me encher o saco para que o levasse para experimentar. A inquietude do rapaz era genuína e se destacava da maioria dos integrantes, então, decidi levá-lo a um grupo que estava frequentando na época.
Tomei o chá azedo, deitei no colchonete e me concentrei nas músicas xamânicas que começaram a tocar. Quando entrei no transe da ayahuasca, as músicas ficaram de fundo e começou uma conversa dentro da minha cabeça.
— Você tem ideia de quanto trabalho é necessário?
— Calma aí! Quem está falando?
— Irrelevante!
— Irrelevante não, você é uma voz falando dentro da minha cabeça.
— Exatamente! Sou uma voz falando dentro da sua cabeça. Uma voz que você chama de pensamento. Isso sim é relevante! Muito relevante! Embora você ignore completamente o quão fantástico é isso.
— Tudo bem! Entendi. Vamos em frente.
— Um a zero para mim!
— kkkk… Mas não entendi a pergunta. De que trabalho está falando?
— Quanto trabalho é necessário para que você possa ouvir uma voz dentro da sua cabeça? Quanto trabalho é necessário para criar um sistema mental de raciocínio, ou seja, uma linguagem humana?
Buuuuum! Minha cabeça explodiu.
— Você está me perguntando quanto trabalho é necessário para criar um idioma?
— Não apenas um idioma, mas todas as linguagens humanas, pois todas são fundadas no pensamento.
Buuuuum! Buuuuum! Buuuuum!
— Não!
— Até para responder um simples “não” como fez agora, é preciso muito trabalho.
Buuuuum! Buuuuum! Buuuuum!
— Para pensar é preciso usar uma linguagem. Não é possível pensar sem linguagem.
— Sim, e daí?
— Desde muito tempo o pensamento vem sendo aprimorado para que os seres humanos possam pensar o pensamento.
— Sim, e daí?
— Daí que vocês não usam o pensamento para pensar o pensamento.
— Sim, e daí?
— Daí que todo trabalho empreendido na criação do pensamento está sendo desperdiçado.
Me senti um ingrato. Eu fazia parte do pelotão do desperdício.
— Calma! Não tem problema desperdiçar. Nada se perde no universo. E ninguém tem obrigação de aproveitar as oportunidades. Mas que é um tremendo desperdício, é sim.
— O que posso fazer para ajudar no aproveitamento?
— Explicar.
— Explicar o que?
— Explicar que o ego (pensamento) é um telefone que serve para comunicação consigo mesmo e com outros seres.
— Só isso?
— Não! Explique como usar o ego também.
— E como usar o ego?
— Pensando o pensamento. Conversando consigo sobre o que pensa e sente.
Buuuuum! Buuuuum! Buuuuum!
— Telefone celular não é nada perto do pensamento. Pensar, sim, é high tech. Aproveitem essa tecnologia.
— E que nome dou a prática de pensar o pensamento?
— Dá o nome que quiser.
Passei o resto da sessão pensando em um nome. Pensei em vários. Por fim, tive a ideia de juntar “ego” com “telefonia” e surgiu a palavra: egofonia. Depois disso tive várias outras experiências que me levaram à criação dos 10 Passos Da Egofonia. Uma delas foi o jogo de RPG (Roll Playing Game). Quando conheci o RPG, não vi um jogo, vi uma sessão de terapia acontecendo de forma lúdica através de um jogo. Entendi que o RPG era o futuro da terapia e também da aprendizagem.
Os 10 Passos Da Egofonia é um jogo de RPG adaptado para descoberta do outroísmo subconsciente. O truque da Egofonia está no passo 07, onde tem a inversão dos personagens. A eureka da inversão aconteceu quando um amigo estava me dando uma bronca. Do ponto de vista dele, eu tinha feito uma coisa errada. Só que ele desconhecia meu ponto de vista e motivação. Se meu amigo pudesse pensar com minha cabeça e sentir com meu sentimento, ele não só entenderia que fiz certo, como teria feito o mesmo que eu. Quando meu amigo terminou com a bronca, pedi que ele se levantasse e trocasse de lugar comigo.
Ele olhou para mim.
Eu olhei para ele.
Ele era outro eu.
Eu era outro ele.
Ele sorriu para mim.
Eu sorri para ele.
Ele me entendeu.
Eu entendi ele.
Nós nos entendemos.
Assim nasceu o passo 07 da Egofonia.
Os 10 Passos Da Egofonia é a solução que encontrei para ajudar os alunos da 1ficina a fazerem autoanálise (pensar o pensamento). A Egofonia foi a primeira prática que apliquei nos alunos da 1ficina e que ensinei como aplicar em si mesmos. Atualmente tem diversas práticas de autoanálise no site, mas todas são derivações da Egofonia.