Inveja do Prem Baba

28/10/2021 by in category Textos, Três passos tagged as , , , with 0 and 0

Demorou até admitir que tinha inveja do Prem Baba (Guru brasileiro de tradição indiana). Não tinha inveja especificamente dele, mas da quantidade de alunos que ele tinha. Eu me considerava um professor melhor que ele, mas enquanto o Prem Baba dava palestras para um gigantesco auditório lotado, eu me encontrava com uns gatos pingados na grama molhada do parque do Ibirapuera. E, muitas vezes, os gatos pingados nem pingavam no encontro e eu ficava lá sozinho, esperando ninguém.

O pior é que eu gostava do cara. Eu participava dos satsangs dele e entendia o que ele dizia, apesar do vocabulário espiritualista e indiano. Mas tinha inveja dele ter um montão de alunos devido ao marketing espiritualista e eu não ter quase nenhum. Até que, certo dia, me imaginei no lugar dele. Me vi barbudo e odeio barba. Me vi de bata e adoro usar roupa esportiva. Me vi falando termos espiritualista e adoro falar gírias e palavrões. Me vi tendo que cumprir um monte de rituais e não tenho saco nem para arrumar a cama. Por fim, me vi tendo que aguentar o fanatismo dos discípulos e detesto aluno bitolado. Minha inveja evaporou numa fração de segundos. Entendi que não queria aquela vida de guru para mim nem por um milhão de alunos. Minha inveja se transformou em dó. Fiquei com dó do fardo que o Prem Baba tinha que carregar diariamente.

Ter inveja é considerado errado, feio, não espiritualizado, por isso demorei para admitir. Mas sentir inveja é natural e serve para o autoconhecimento. Admitir é o primeiro passo. Só quando admiti minha inveja, pude analisá-la e ver tudo isso que contei. Se você também quer transformar sua inveja em autoconhecimento, dê o primeiro passo: admita.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari