Escrevo esse livro por dois motivos, ambos insolentes.
O primeiro é porque alguém precisa esfregar a ignorância científica dos cientistas na cara deles. Como nenhum cientista me parece capaz ou disposto a fazer isso, vou me dar ao trabalho. Claro que, não sendo cientista diplomado, meu tapa autocientífico não vai nem arranhar a ignorância PhD dos cientistas, que ignoram minha existência, assim como suas próprias, mas o ato de fazer o que acho que precisa ser feito, já me basta.
O segundo motivo é que alguém precisa esfregar na cara dos espiritualistas que iluminação não é bacharelado espiritual, é o pré-primário da espiritualidade. Claro que as inferências feitas a partir da iluminação são resultados de muita reflexão e por isso requer muita competência de pensamento, mas iluminação é ridiculamente fácil de alcançar. Qualquer ser humano pode atingir a iluminação a qualquer instante, sem complicação nenhuma, sem treinamento, sem porra nenhuma.
Ah, claro, tem um terceiro motivo que não é insolente, é empático. Também já busquei a iluminação e fiquei preso nos equívocos do materialismo e do dogmatismo da iluminação. Espero que esse livro possa ajudar você, buscador, a reconhecer esses dois equívocos e finalmente encontrar o que está procurando.
Boa leitura!
Eu tinha muita vontade de experimentar caviar na infância, mas só servia em festa de adulto rico. Eu não era adulto nem rico, então, só me restava ficar fantasiando o sabor. Certo dia, um tio aventureiro viajou para Rússia e trouxe um pote de caviar de presente para minha mãe. Fiquei doido para experimentar. Minha mãe disse que caviar era iguaria e só seria aberto numa ocasião especial. Pqp! Fazer o que? Continuei fantasiando. Quando chegou o natal, abriram o tal do caviar.
— Creeeeeeeedo!
Foi o sabor mais horrível que experimentei na vida. Caviar tem gosto de barraca de peixe em fim de feira. Não era nada do que imaginava. Fiquei muito decepcionado.
Iluminação é o caviar dos buscadores espirituais. Só busca iluminação quem vive no mundo da fantasia e imagina que é algum tipo de experiência transcendental. Mas é o oposto disso. Iluminação é o fim do equívoco da transcendência. Iluminação não é sequer uma experiência, logo, nem gosto tem.
Quando você atinge a iluminação, você se dá conta do óbvio: eu existo. Só isso! E nada além disso. Só que não adianta explicar isso para um buscador espiritual, assim como não adiantava ninguém me dizer que caviar era ruim. Tive que me decepcionar por mim mesmo, tanto com o caviar como com a iluminação.
Se você é um buscador espiritual, boa viagem rumo a decepção. Quando atingir a iluminação, comemore com caviar.
Estava assistindo um debate sobre a natureza da realidade com um cientista Phd em física e um estudioso do budismo, aluno do Dalai Lama. O cientista era um escritor best seller, inteligente, bem-humorado e ótimo comunicador. Ele começou sua participação dizendo o seguinte: “Na ciência, tem mais coisas que não sabemos do que coisas que sabemos. Mas sabemos algumas coisas e vou compartilhar um pouco do que sabemos”.
Aí sim! Nota dez para os cientistas!
No meio do debate, o estudioso em budismo questionou o cientista sobre a consciência. Perguntou qual era a relação da consciência com a natureza da realidade. O cientista respondeu: “A consciência faz parte das coisas que ainda não sabemos”.
Aí não! Nota zero para os cientistas!
Como não sabe o que é consciência? Como? Como! Consciência é saber e saber que sabemos é a única coisa que podemos saber sempre e sem sombra de dúvidas. É hilária a erudição do ser humano. Uma pessoa é capaz de pensar centenas de teorias complexas e quando alguém lhe pergunta sobre o óbvio ululante, a pessoa responde, no apogeu da erudição, que “consciência faz parte das coisas que ainda não sabemos”.
A conta científica não fecha! E a matemática é simples: como um ser humano pode saber do que quer que seja sem consciência? Impossível! Ciência sem consciência é o mesmo que fotografia sem máquina fotográfica. Como pode existir fotografia sem máquina fotográfica? Como um cientista pode saber qualquer coisa sem a capacidade de saber, sem consciência.
Para saber o que é consciência, basta saber que sabe. É simples! É direto! É fácil! É totalmente empírico! É 100% científico! Consciência é saber. Não tem mistério. Não tem dificuldade. Não precisa fazer eletroencefalograma, ressonância magnética e tomografia do cérebro. Não precisa estudar. Não precisa teorizar. Não precisa sequer explicar, basta ficar consciente da consciência.
Infelizmente o estudioso do budismo não soube esfregar essa obviedade na cara do cientista. E mesmo que soubesse, o cientista, para reafirmar seu antidogmatismo, voltaria ao equívoco de que é preciso estudar o cérebro para saber o que é consciência.
“Ninguém nasce sabendo”, diz o ditado popular. Isso é um equívoco. Claro que você não nasce sabendo andar, falar português, nem nada do que aprende depois que nasce. Mas se você não nascesse sabendo, como saberia que nasceu? E mais! Quando você não sabe de algo, como saberia que não sabe?
O que você aprende depois que nasce, não é saber, é sabedoria. Andar é sabedoria, falar português, é sabedoria. Você pode aprender infinitas sabedorias, desde fazer tricô a dar um salto duplo mortal carpado, mas é impossível aprender a saber. Se fosse possível, bastaria matricular um cego em um curso de ótica e ele começaria a enxergar.
Saber é capacidade perceptiva inata. Saber é anterior ao que você está sabendo. Por isso que toda experiência passa e o saber permanece. Saber é parte da sua natureza existencial. Você é saber. Só que você não sabe disso. Você ignora sua natureza existencial. Por quê?
Imagine que você fosse incapaz de fechar os olhos, o que aconteceria?
(1) Você confundiria o que você está enxergando (visto) com a visão (ver).
(2) Você não saberia o que é enxergar porque não saberia o que é não-enxergar.
É impossível não saber, por isso:
(1) Você confunde o que está sabendo (sabido) com o saber.
(2) Você não sabe o que é saber porque não sabe o que é não-saber.
Resumindo: você ignora que é consciência porque é consciência.
Se eu te perguntar o que existe, você irá apontar para tudo que está ao seu redor: estrelas, planetas, pessoas, bichos, plantas, pedras, cadeiras, paredes, etc. Se eu te perguntar com base em que você afirma a existência dessas coisas, você me dirá que é baseado na observação empírica (ciência). Se eu te pedir para continuar usando esse mesmo método e apontar para o observador que está observando tudo que você diz que existe, você irá apontar para o seu corpo.
Eis quando ciência vira crença.
Localizar o observador (consciência) dentro do corpo, como sendo um produto da matéria, feito um programa de computador, não é observação empírica, é crença. Olhe para seu corpo. Não é óbvio que seu corpo se trata de um objeto que você está observando tal como qualquer objeto? Sendo assim, cadê você, observador que está observando o corpo?
Só tem um jeito de um cientista responder essa pergunta e, simultaneamente, continuar perpetuando o equívoco de que a consciência é um produto da matéria: cagando dez quilos de bosta em cima do método científico, abandonando o empirismo e usando o mesmo método que tanto despreza: a crendice.
Afirmar que você, observador (consciência), está dentro do corpo, não é uma afirmação baseada no empirismo, é baseada na imaginação. Sendo que é impossível observar a observação, seu último recurso para se localizar no espaço-tempo, é se imaginar como sendo um fantasma dentro da máquina (dentro do corpo).
É por isso que os neurocientistas fazem tanto eletroencefalograma, ressonância magnética e tomografia do cérebro. Eles estão tentando fotografar você (observador): o fantasma dentro da máquina. O que os neurocientistas não entendem, é que a máquina que está dentro do fantasma, ou seja, o cérebro que está dentro da consciência.
Para que ciência não vire crença, é preciso permanecer no empirismo ao invés de fugir para a imaginação. A resposta científica para a pergunta “cadê você, observador, que está observando tudo que existe?”, é: não estou em lugar nenhum, pois não sou observável.
Iluminação é isso! Ficar consciente que você, observador, é inegável, mas não é observável. Isso não é imaginação, não é crença, é constatação empírica. Você não consegue observar sua observação. Isso é óbvio! E, mesmo não conseguindo, consegue negá-la?
Pronto! Está iluminado! Pode comemorar com caviar.
Você, observador, é a consciência que está observando tudo que existe, mas você não existe. “Como não existo se sou inegável?”, você indaga. Calma! Quando digo que você (observador) não existe, estou usando a lógica materialista e não a lógica iluminada. A lógica materialista iguala realidade com existência. Você observa algo, logo, esse algo é realidade, logo, existe. Segundo essa lógica, sendo que é impossível observar a observação, mesmo que você (observador) seja inegável, você não existe.
O que existe, existe. Não tem começo nem fim. Não termina porque nunca começa. Não está em lugar nenhum porque é o lugar onde tudo está. Não é produto do tempo e do espaço, é a fábrica deles. Não é observável porque é o observador. Fique consciente da consciência e perceberá que ela preenche todos esses requisitos. Logo, você, observador, é quem merece o título de existência. O que você observa não é existência, é realidade.
O que você observa é como um filme, temporal e dimensional, você, observador, é como a televisão, atemporal e adimensional. Só que você não está acostumado a separar existência de realidade, até porque, não existe linha divisória. A realidade acontece “dentro” da observação assim como um filme acontece “dentro” da televisão. O que separa existência de realidade, não é uma linha, é a relação de causa e efeito. O filme não é o criador da televisão, é efeito, é criatura. O mesmo se dá com a realidade, também é efeito.
Mas o rei está dormindo. E quando isso acontece, a realidade ataca o castelo da existência, senta no trono, coloca a coroa e se proclama existência. O resultado dessa inversão de causa e efeito é o reinado do materialismo e tudo que vem nesse pacote.
Iluminação é despertar do rei.
Era uma vez um cientista que negava a existência de câmeras fotográficas. Ele dizia que não havia evidência. Foi então, que outro cientista, amigo seu, marcou um encontro para ele com uma câmera fotográfica no laboratório.
A câmera fotográfica chegou primeiro e ficou aguardando o cientista. O tempo foi passando e o cientista não aparecia. Como já estava tarde e a câmera fotográfica precisava ir embora, ela bateu uma fotografia do laboratório e deixou a fotografia sobre o balcão. Com a fotografia, ela deixou um bilhete: “Caro cientista, estive aqui para o nosso encontro, mas como você não apareceu, deixo esta fotografia do laboratório como prova da minha existência”.
No dia seguinte, o amigo do cientista lhe perguntou sobre o encontro. Ele respondeu:
— Meu carro quebrou e quando cheguei no laboratório a suposta câmera fotográfica já havia ido embora, só tinha esta fotografia no balcão.
O amigo indagou se agora, com a fotografia de prova, ele reconhecia a existência de câmeras fotográficas. O cientista respondeu:
— Claro que não! Eu examinei cada detalhe dessa fotografia e não encontrei a câmera fotográfica em lugar nenhum da imagem.
Para entender a realidade não adianta olhar para fora e entrar dentro do fora, dentro do observado, é preciso inverter o olhar e entrar dentro do dentro, dentro do observador. Assim como é impossível a câmera fotográfica aparecer na fotografia, mas é evidente que ela existe, também é impossível observar a consciência, mas também é evidente que a consciência existe.
O método científico da observação, criado com sangue e suor pelos cientistas, é o único método capaz de retirar um ser humano da superstição e levá-lo até o óbvio. Toda gratidão e honra aos cientistas por isso. Porém, o método científico é alicerçado na mentalidade materialista e ao aplicá-lo no estudo da realidade, ele cria o problema que está tentando solucionar.
Não tem como entender a realidade partindo da suposição de que a consciência é um produto da realidade. Acreditar nisso é o mesmo que acreditar que a câmera fotográfica é um produto da fotografia. Para entender a realidade é preciso aplicar o método científico no próprio método científico, é preciso observar a observação, é preciso usar o método da auto-observação.
Uma piada é uma história onde a moral é sempre a mesma: “que burrice!”. Achamos graça e rimos porque entendemos a burrice. Quando atingi a tão cacarejada iluminação, entrei em estado de graça e comecei a rir da minha estupidez. “kkkkk… Que burro! kkkkk… Como não percebi isso antes!” eu pensava e ria. Mas o que foi que eu percebi? Percebi que estava preso no mesmo equívoco do cientista que não acreditava na existência de câmeras fotográficas: busca pela evidência.
Todo equívoco é sincero. Ninguém fica preso em um equívoco porque quer, mas por ignorância. Quando um cientista afirma que algo não existe por falta de evidência, ele está sendo sincero e defendendo a aplicação do método científico. Eu honro essa sinceridade e aplaudo sua fidelidade ao método científico. Eu amo o método científico e também sou defensor do empirismo. Mas no caso da existência da consciência, esse cientista está equivocado. E pior! Está indo contra o método cientifico.
O que pode ser mais evidente que a existência da consciência? O quê? O quê? O queeeeeeê? A coisa mais evidente que existe é a consciência! Como qualquer um, até mesmo um mosquito, poderia saber qualquer coisa sem a existência da consciência? Só que os sábios cientistas, presos no equívoco do materialismo, querem porque querem encontrar a câmera fotográfica dentro da fotografia. Tremendo equívoco!
Evidenciar é a evidência.
É simples assim. Direto assim. 100% empírico. Completamente dentro do rigor científico. E absolutamente inegável. Buscar a evidência é o que mantém você afastado da iluminação de que evidenciar é a evidência. Pare de buscar a câmera fotográfica dentro da fotografia e você verá a câmera fotográfica por todos os lugares da fotografia. Pare de buscar sua existência na realidade e você se verá em todos os lugares da realidade.
Pronto! Está iluminado! Sugiro dar risada. A outra opção é chorar.
Já bati na ignorância científica, agora vou bater na ignorância espiritual. Caro buscador espiritual, iluminação não é mais, iluminação é menos! Menos o quê? Menos ignorância! Iluminação não acrescenta nada na sua experiência de ser humano, apenas retira seus equívocos. Um desses equívocos é sua crença de que iluminação é uma experiência.
Iluminação não é uma experiência. Experiência tem começo, meio e fim. Iluminação é ficar consciente que você é consciência. Perceba que você percebe. Perceber tem começo, meio e fim? Não! Saiba que você sabe. Saber tem começo, meio e fim? Não! Fique consciente que é consciência. Consciência tem começo, meio e fim? Não! Isso é iluminação. Não é uma experiência e nem precisa buscar.
Sua busca pela experiência da iluminação até faz parte do seu processo de atingir a iluminação, mas não pelo êxito e sim pelo fracasso. Cada fracasso é você retirando de si a crença equivocada de que iluminação é mais. Iluminação é menos!
Você fala, fala, fala, fala, fala, fala que quer atingir a iluminação, mas é mentira. Você só fala. Você não quer isso. Você quer o que acredita que vem junto com a iluminação. Você quer o Nirvana. Ou seja, felicidade eterna.
Por isso você não se conforma que iluminação é apenas ficar consciente que você é consciente. Ficar consciente disso é igual beber água, não tem gosto, nem cheiro, nem sabor. Aliás, é pior do que beber água, pois beber água pelo menos mata a sede, ficar consciente que você é consciente não mata sua sede por felicidade, pelo contrário, aumenta.
Por isso você toma chá de bambu, e faz yoga, e faz sexo tântrico, olha para parede, e bate a cabeça na parede, e viaja para índia, e vai no terreiro, e vai na meditação quântica, e lê, e relê, mas nada de felicidade que dure para sempre. Tudo acaba. Mesmo o pico de felicidade mais estratosférico, tem começo, meio e fim. Então, cadê o Nirvana que vem com a iluminação? Simples! Não tem! A crença de que iluminação é Nirvana, é um equívoco.
Materialismo é a suposição de que você é um corpo contido no espaço. Materialismo é um equívoco. Não existe espaço. Você não está contido no espaço. Você é o espaço onde tudo está contido, inclusive seu corpo. Porém, quanto mais forte é sua crença no materialismo, mais você resiste em perceber isso. Por isso iluminação é para os fracos.
Iluminação não te faz rico, não te faz bonito, não aumenta seu status, não deixa você mais atraente, não paga as contas no fim do mês, não coloca comida na sua mesa. Iluminação é inútil, só serve para você saber que existe. Nada além disso.
Iluminação não é o fim do sofrimento. Sofrimento é uma questão relacionada ao desejo e não a consciência. Por isso, quando você desperta, você pode continuar sofrendo, às vezes, até mais. Para sofrer menos, você precisa aprender a lidar bem com seu desejo, e para aprender isso, você precisa estudar seu funcionamento psicológico e pessoal. Iluminação não te ajuda com isso. Aliás, pode atrapalhar, pois quando você desperta, você pode acreditar que o psicológico e o pessoal é irrelevante, e essa crença irá perpetuar seu sofrimento.
Você lê sobre iluminação, despertar da consciência, espiritualidade e chega a conclusão que está rolando uma festa para a qual não foi convidado. Você fica emputecido e quer entrar na festa de qualquer maneira. Faz meditação, reza, toma chá de bambu, tenta suborno, chantagem, lê tudo que tem para ler e ainda assim não chega nem na porta. Até que desiste e puft! Desperta a consciência. Atinge a iluminação. Então, um anjo vem conversar com você:
— Ufa! Iluminou! Até que enfim! Agora pode voltar!
— Como voltar! Dei um duro danado para chegar aqui. Tive que matar o materialismo dos cientistas e o catecismo dos religiosos.
— Sim. E daí?
— Agora sou um iluminado!
— Sim. E daí?
— Iluminados moram no paraíso, não é?
— O que você acha que vai fazer aqui no paraíso? Passar a eternidade tocando harpa e peidando nuvens? Pode voltar!
— Quer dizer que a gente chega na iluminação só para voltar.
— É por isso que os iluminados chamam a iluminação de vazio absoluto, não tem absolutamente nada para fazer aqui. Aliás, nem aqui tem.
— E a festa? Cadê a festa?
— Não tem festa!
— Mas falaram que tinha.
— Pegadiiiinha!
A consciência em si, não, pois é sempre existencial, mas os parâmetros da conscientização, sim. Imagine uma televisão com mil canais transmitindo mil programações diferentes. Se você for assistir os mil canais ao mesmo tempo, vai fazer uma confusão de experiências e você não irá conseguir assistir nada, por isso você se limita a assistir um canal de cada vez. Analogamente, você-ser pode ter experiências vegetais, animais, e infinitas outras, que você nem é capaz de imaginar, mas ao entrar na experiência humana, você se limita a ter experiências apenas através dos parâmetros humanos para poder viver uma experiência humana.
Não! O único autoconhecimento que você adquire com o despertar existencial é o autoconhecimento existencial. Você fica consciente da sua natureza existencial, só isso e nada além disso. O despertar existencial é existencial, não é psicológico, nem pessoal, logo, não produz nenhum autoconhecimento psicológico e pessoal. Para viver bem, você precisa descobrir como você funciona enquanto pessoa, para descobrir isso, você precisa praticar auto-observação psicológica e pessoal.
Não, todo ser humano já nasce sabendo. Caso contrário, os seres humanos nasceriam cegos, surdos, sem olfato, paladar, tato, e só iriam adquirir essas capacidades perceptivas conforme fossem crescendo. Mas não é assim. Salvo exceções, os seres humanos nascem e morrem com os mesmos cinco sentidos e percepção mental. O que os seres humanos vão adquirindo a partir do nascimento não é consciência, é conhecimento.
Tudo que surge, desaparece. Ser não surge, nem desaparece, ser existe. O que surge e desaparece não existe, acontece. Tudo que você experimenta e chama de realidade não existe, acontece, pois surge e desaparece. Observe que tudo surge e desaparece em um lugar. Esse lugar onde tudo surge e desaparece também surge e desaparece? Não! Esse lugar é permanente. Que lugar é esse? Esse lugar é você-ser, você-existência.
Se você estiver consciente que essas crenças são o que são, crenças, não dificultam em nada. O problema é quando você ignora que uma crença é uma crença e atribui a essa crença o status de obviedade. Quando você faz isso, você não sabe, mas você pensa que sabe. E quando você pensa que sabe, você não tem motivo para descobrir, pois você pensa que já sabe.
Não! Despertar existencial é consequência da prática de auto-observação existencial. Por isso você pode ter um despertar existencial e continuar vivendo mal. Seu despertar existencial não lhe faz consciente do funcionamento da sua natureza humana. Você pode despertar para sua existência, mas se continuar ignorante do seu funcionamento humano, continuará vivendo mal.
Sim e não. Esse é o ponto! Quando você-humano descobre que é ser, quem descobriu não foi você-humano, foi você-ser, pois você-humano não tem consciência. A consciência que você-humano aparenta ter, não pertence a você-humano, pertence a você-ser. Quem está em estado de ignorância não é você-humano, é você-ser que acredita que é só-humano. Por isso, quando você-humano desperta, na verdade, quem despertou foi você-ser.
Sim, mas é preciso entender o que significa infinito e eterno. Para mentalidade materialista, infinito é algo muito grande, eterno é o que dura muito tempo. Isso é um equívoco. Muito muito muito grande, não é infinito, é muito muito muito grande. Muito muito muito tempo, não é eterno, é muito muito muito tempo. E o que é infinito, então? Infinito é adimensional. E o que é eterno? Eterno é atemporal. O atemporal é a fábrica do tempo. O admensional é a fábrica das dimensões (forma, grandeza). Você (ser) é atemporal e admensional. Você é a fábrica do espaço-tempo.
Antes de responder sua pergunta, entenda que é responsabilidade do emissor saber o significado das palavras que está usando para se comunicar. A 1ficina não usa a palavra “mente” porque é uma palavra de significados controversos que mais atrapalham do que ajudam. Por exemplo, gurus espiritualistas atribuem um significado a palavra mente muito diferente dos psicólogos. E assim por diante. Mas se você quer uma definição da 1ficina, eis aqui: mente é você. Um dos maiores equívocos sobre o conceito de mente é acreditar que você tem uma mente. Você não tem uma mente, você é uma mente.
Primeiramente, muda sua noção de existência. Antes do despertar existencial, você vive acreditando que tudo no tempo e no espaço existe. Depois do despertar existencial, fica óbvio que tudo no tempo e no espaço não existe, acontece, o que existe é eterno e adimensional, existe além do tempo e do espaço. Isso muda sua noção de identidade. Se você existe, então, você é eterno e adimensional, existe além do tempo e do espaço. Isso muda um monte de coisas na sua mentalidade. Essas mudanças na sua mentalidade, muda seu jeito de viver. Mas sua experiência humana continua igual, não muda nada. Como diz o proverbio zen: “Antes da iluminação, cortar lenha e carregar água. Depois da iluminação, cortar lenha e carregar água.”
Essa necessidade de permanecer na consciência existencial o tempo todo é uma neurose espiritualista. Eu não tenho essa neurose, então, não faço nada. Passo a maior parte do tempo na mentalidade materialista, lidando com as situações do dia a dia, igual o mais ignorante dos seres humanos. A única diferença entre eu e o mais ignorante dos seres humanos, é que sei onde fica a porta de entrada para a consciência existencial. Então, quando preciso, eu atravesso a porta e entro.
A pirâmide de Maslow é uma observação pertinente sobre o comportamento humano. Você não estaria aqui conversando comigo sobre autoconhecimento existencial se sua realidade fosse de uma pessoa analfabeta, de classe econômica abaixo da linha da miséria, trabalhando dia e noite para não morrer de fome.
Onde é lugar e lugar é mentalidade materialista. Lugar diz respeito a um corpo no espaço. Um carro, por exemplo, é um corpo e o lugar dele é um espaço chamado garagem. Quando você pergunta “onde fica a consciência?”, você está procurando uma garagem para estacionar a consciência, como se a consciência fosse uma coisa ou um fenômeno. Só que a consciência não está no espaço, a consciência é o espaço onde tudo está. Por isso é impossível localizar a consciência.
Por quatro motivos:
1) Porque sua existência não é uma experiência.
2) Porque sua existência é tão óbvia, mas tão óbvia, mas tão tão tão óbvia, que passa completamente despercebida.
3) Porque você nasceu em uma coletividade de seres existencialmente ignorantes que acreditam que existência é sinônimo de realidade.
4) Porque ninguém ensinou os seres da sua coletividade a praticarem auto-observação, eles só foram ensinados a acreditar e repetir, então, eles fizeram o mesmo com você.
Porque não se constrói uma casa começando pelo telhado. Começamos pelo alicerce até chegarmos no telhado. Existência, vivência e convivência. A convivência é o telhado. É no telhado que o bicho pega. É no telhado que a coletividade humana está em chamas. Apagar o fogo do telhado humano é urgente para que os seres humanos não se autodestruam. Por isso tem trabalhos que pulam o alicerce e vão direto para o telhado. São trabalhos de pronto socorro. Trabalhos de bombeiro que visam apagar o fogo da má convivência. Tudo tem prós e contras. Ao meu ver, a opção de pular o existencial tem mais contras do que prós. Melhor do que ficar curando os feridos é acabar com a guerra. Por isso não pulo o alicerce existencial, mesmo que ninguém entenda.
Você tem visão. Se você coloca um óculos com a lente suja, você enxerga menos, mas sua visão continua a mesma. Se você retira a sujeira do óculos, você tem a sensação que sua visão aumentou, que expandiu, mas foi a sujeira que diminuiu. O mesmo com a ignorância e a consciência. Não existe expansão da consciência, o que existe é diminuição da ignorância. Por isso que iluminação é menos.
A lógica da explicação existencial é a lógica existencial. Só que a lógica existencial é uma lógica atemporal e adimensional. Então, não tente entender a lógica maior pela menor. Não tente encaixar o atemporal e adimensional dentro do temporal e dimensional. Faça o oposto. Perceba que a lógica do materialismo está contida na lógica existencial. Perceba que temporalidade e dimensionalidade é produto da existência. Percebido isso, problema resolvido.
O que você quer dizer quando diz “espiritualidade”? Qual é sua definição de espiritualidade? Esse é o problema da espiritualidade. Quem fala em espiritualidade não sabe do que está falando e quem escuta não sabe o que está ouvindo. Espiritualidade é fazer reiki? É ler livros espiritualistas? É acreditar em deus? É acreditar em espírito? É fazer caridade? É recitar mantras? É acender incenso? É rezar? É obedecer mandamentos? Espiritualidade não é nada disso. Espiritualidade é autoconhecimento existencial. Só isso! Todo o resto é carnaval, festa, ritual e adereço, não é espiritualidade.
Essa confusão faz surgir em você uma doença incurável com a qual você irá lutar até a morte. Que doença é essa? A vida. Tá espantado? Fica um minuto sem respirar para você ver o que acontece. Quem tenta te matar todos os dias, não é a morte, é a vida. A morte é apenas o momento em que você perde e a vida ganha.
Esquecer e ignorar não são sinônimos. Esquecer é quando você não lembra, ignorar é quando você não sabe. Se você perder a memória, você esquecerá a cor da camisa da seleção brasileira. Se você ficar cego, você não verá mais a cor da camisa da seleção brasileira. Esquecer é uma questão de perda de memória, ignorar é uma questão de perda perceptiva. Consciência não é memória, é percepção, é saber. Atualmente você é uma consciência humanizada, ou seja, que sabe através dos parâmetros humanos. Esses parâmetros são os 5 sentidos e a percepção mental.
Não, você está confundindo consciência com consciente. A consciência já existia, pois o que existe sempre existe, mas você só ficou consciente da consciência a partir do momento que começou a observá-la. Iluminação é igual luz de geladeira. Toda vez que você abre a geladeira, a luz está acesa, mas não porque fica acesa o tempo todo, e sim porque abrir a geladeira faz acender a luz. O mesmo acontece com a iluminação. Toda vez que você observa a observação, você fica consciente da consciência, mas não porque estava consciente o tempo todo, e sim porque a observação da consciência deixa você consciente da consciência.
Estudo do ser humano no aspecto existencial, psicológico, pessoal e social.
Aula do ciclo de estudos de autociência EUreka 2024