O fogo trêmulo da vela atravessou a noite me dizendo: “Vela, velório, vela, velório, vela, velório, vela, velório…” Peguei uma caneta e comecei a escrever.
Pela manhã, quando não havia mais vela nem velório, o caixão do meu pai foi colocado ao lado do jazigo. Tirei o papel do bolso e li: “Vela, velório, vela, velório, vela, velório, vela, velório…”
Quer dizer, não disse isso. Pronunciei frases compreensíveis, com sujeito, verbo e predicado. Mas todas falavam: “Vela, velório, vela, velório, vela, velório…”.
O povo começou a chorar copiosamente. Para terminar, declamei esse poema:
Fulano pessoa era gente
Era gente igual qualquer um
Fulano pessoa era gente
Era uma pessoa comum
Ele não tinha planos
Um desejo e nada além
Ter a vida calma
Como uma lagoa
Mas o mais difícil
Nessa vida é ser ninguém
E isso vale para
Qualquer pessoa