Eu ouvia rock. Só rock. Apenas rock. Nada além de rock. Mas como havia decidido ir contra mim mesmo, parei de ouvir rock e comecei a ouvir música clássica. Fui em um supermercado e comprei uma dúzia de CDs de capas bucólicas que estavam na promoção. Não conhecia nada do gênero, então, sequer escolhi, só peguei.
Sexta-feira era dia de balada, mas como havia decidido ir contra mim mesmo, ficava em casa. Deitava na cama e colocava os CDs de música clássica para tocar. Mas não ouvia. A música só fazia fundo musical para os devaneios.
Assim foi por meses.
Até que uma melodia conseguiu atravessar meus ouvidos entupidos e chegar até minha cabeça oca. De repente, não tinha mais “eu” ouvindo música, só tinha música. E não era feita de notas, era feita de lógica. Era como se estivesse ouvindo uma equação matemática.
Quando a música terminou, depois de 25 minutos, estava em estado de choque. Meu coração ardia. Peguei a capa do CD e li o nome do autor e da música: Ludwig van Beethoven – Violin Concerto in D Major, Op. 61 (1. Allegro ma non Troppo).