Tenho 10 anos de idade. Estou no meu quarto chorando muito. Estou com raiva e contrariado. Estou aos prantos.
Meus pais me proibiram de passear com meus amigos por um motivo injusto. Eu disse que o motivo era injusto. Disse várias vezes. Mas eles não acreditaram em mim. Fiquei revoltado por não me darem ouvidos e fui chorar no quarto.
Estou chorando muito, muito, sem parar, fritando de raiva com a injustiça e a falta de credibilidade. Meu pai entra no quarto para conversar comigo. Não quero conversar com ele. Ele não é um bom pai. Acredita nos outros e não acredita no próprio filho. Começo a gritar para ele sair do quarto. Ele sai.
Minha mãe entra e a mesma cena se repete. Ela também não é uma boa mãe. Grito para ela sair também. Ela sai.
Minha irmã entra no quarto. Ela tenta me acalmar.
— Oi Celinho! Que que foi? Fica calma senão você vai ter um treco.
— O pai e a mãe me proibiram de passear com meus amigos por um motivo injusto. Não é justo. Não é justo. Não é justo. — eu digo.
— Por que não é justo?
Eu sei de algo que não quero contar para os meus pais. Não quero contar porque eles não merecem. Eles não acreditam em mim, não confiam em mim, então, também não merecem minha confiança. Não merecem saber o que sei.
— Fala comigo — Diz minha irmã.
— Não! Você é uma espiã. Você está do lado deles. Se eu te contar, você irá contar pro pai e pra mãe. — eu digo.
Minha irmã faz uma cara de empatia, segura na minha mão e diz:
— Não vou não! Pode confiar em mim. Não vou contar nada pro pai e pra mãe. Sou sua irmã. Pode falar. O que foi?
Eu conto para minha irmã o que não quero contar para os meus pais. Conforme conto, vou ficando mais calmo e parando de chorar.
Minha irmã passa a mão na minha cabeça fazendo um cafuné.
— Tá tudo bem! Tá tudo bem! Agora descansa um pouco — Ela diz e sai do quarto.
Passado alguns minutos meu pai e minha mãe entram no quarto me questionando sobre o que havia acabado de contar para minha irmã.
Senti como se tivesse recebido uma punhalada nas costas. Minha irmã realmente estava fazendo papel de espiã. Fingiu que era minha irmã e depois me apunhalou pelas costas.
Eu estava sozinho no mundo. Ninguém na minha família estava ao meu lado, ninguém se importava realmente comigo. Minha raiva se transformou numa decepção que nunca havia experimentado antes. Senti uma tristeza profunda.
Esse texto foi escrito de forma didática e faz parte do primeiro passo de uma prática de autoanalise chamada: Diário Da Consciência. Clique no áudio abaixo para ouvir a prática inteira.