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Fiat livro (abertura)

Fiat livro (abertura)

Escrever um livro é explicar o título. Tudo que tenho para dizer sobre o que é ser humano está condensado nessa palavra de sete letras: “egogame”. Eu olho para a palavra “egogame” como quem olha para a palavra “tudo”. Vejo tudo, entendo tudo e quero explicar tudo. Muitas observações, analogias e explicações surgem na minha cabeça. Fico contente que são muitas, contudo, não surgem organizadas em capítulos, não surgem de forma ordenada, surgem como uma explosão de pensamentos, surgem como a voz da gênese: “fiat livro!”. Resumindo, tenho muito para dizer e não sei por onde começar, mas sei que se for esperar saber para parir esse livro, ele jamais nascerá. Então, primeiramente, vou escrever sem ordenação definitiva e depois que estiver tudo escrito, daí reorganizo tudo na melhor sequência. Para você que está lendo esse livro em construção, peço que tenha paciência comigo. Dito isso, boa leitura e muitas eurekas. Fiat livro!

Tributo de agradecimento

Tributo de agradecimento

Relutei em escrever esse capítulo. Não é propriamente um capítulo sobre o tema, não é uma observação, nem um apontamento, mas como já dizia minha avó: verdade seja dita. Além disso, creio que esse livro não irá se desenrolar se não prestar o devido tributo de agradecimento. Para tanto, conto com sua colaboração.

Você tem vela na sua casa? Pode ser vela de bolo de aniversário. Se não tiver, vá até o supermercado e compre uma vela. Pode ir, eu espero. Comprou a vela? Está com a vela na mão? Muito bem! Acenda a vela e coloque sobre a mesa, fazendo uma espécie de altar. Vamos juntos prestar um tributo de agradecimento a um ser humano que dedicou a vida dele para ajudar você a entender a sua.

Claro, ele não foi o único, mas foi um dos principais. Sem ele, você continuaria sendo apenas uma mulher histérica, posto que antes dele, tudo era histeria. Sem ele, você ainda estaria amarrado numa cadeira tomando choque elétrico, posto que antes dele essa era a única forma de tratamento psicológico.

Já sabe quem é? Sim, é ele mesmo, Sigmund Freud. Procura uma foto dele no celular e coloca em frente à vela. Vamos juntos fazer uma oração de agradecimento pelos serviços prestados. Tudo bem que você não concorda com tudo que ele disse. Eu também não concordo com tudo. Seu mais amado e brilhante discípulo, Carl Gustav Jung, também não concordou com tudo. Mas só pela criação do modelo psicológico ID, ego e superego, o pai da psicologia já merece uma novena anual de agradecimento.

Eu poderia escrever esse livro inteiro usando o modelo Freudiano sem jamais citar os termos ID, ego e superego. Mas ainda assim, a santíssima trindade estaria aqui. Mesmo não estando, mesmo não sendo citada, estaria presente. E por quê? Porque Freud acertou em cheio nisso. Assim como Nicolau Copérnico, o velho barbudo viu o óbvio. Assim como Platão, Sigmund Freud foi o primeiro a sair da caverna do hardware e voltar falando em software. E nem existia computador na época dele.

Freud é o espermatozoide fundador da psicologia. Quer você goste disso ou não, é fato. Nós, estudantes do funcionamento da natureza humana, somos todos filhos de Freud. Então, vamos agora prestar nosso tributo de agradecimento.

Caro ser humano e companheiro de viagem, Sigmund Freud. Honramos e celebramos o serviço prestado por você para o nascimento e desenvolvimento da psicologia. Que nós, sucessores nessa aventura de desvendar o funcionamento da natureza humana, tenhamos a mesma curiosidade que você teve e o mesmo ânimo para enfrentar os desafios dessa jornada.

Em nome do ID, do ego e do superego…

Prossigamos…

Novo paradigma de vida

Novo paradigma de vida

Egogame é um paradigma autocientífico que estou construindo dentro da sua cabeça para lhe ajudar a entender o que é ser humano. O primeiro passo para que isso se realize, é fazer você entender o que é paradigma. Paradigma é a lógica que você está usando para entender a realidade que você está experimentando, é o software mental que você está usando para transformar sua percepção em entendimento.

Para entender o que você está experimentando, você precisa raciocinar o que você está experimentando (pensar). Para pensar, você precisa usar uma lógica de entendimento. Existem diversas formas de você pensar a mesma experiência, ou seja, existem diversos paradigmas disponíveis dentro da sua cabeça assim como aplicativos dentro de um celular. O tipo de paradigma que você usa para pensar o que está experimentando determina o tipo de entendimento que você tem sobre o que está experimentando. Por isso, quando você muda o paradigma, você muda o entendimento.

Imagine que você está olhando para um objeto em cima da mesa. Se você usar o paradigma geométrico para entender o objeto, você entenderá que está vendo uma esfera. Se você usar o paradigma físico para entender o objeto, você entenderá que está vendo um corpo. Se você usar o paradigma ótico para entender o objeto, você entenderá que está vendo tons de amarelo. Se você usar o paradigma botânico para entender o objeto, você entenderá que está vendo uma laranja.

Percebe como a mudança de paradigma muda seu entendimento sobre o que você está experimentando? Parece até que a experiência muda, mas não, a experiência continua a mesma, o que muda com a mudança de paradigma é seu entendimento da experiência.

Egogame é um paradigma autocientífico que estou construindo dentro da sua cabeça para lhe ajudar a entender melhor essa experiência que você chama de vida. Não vou mudar isso que você chama de vida. Depois da leitura desse livro, você continuará tendo exatamente a mesma experiência de vida que estava tendo antes da leitura desse livro. Mas vou mudar seu paradigma sobre o que é viver. Vou construir um novo paradigma dentro da sua cabeça.

A sensação que você terá ao pensar a vida através do paradigma do egogame é que você morreu e ressuscitou para um novo tipo de experiência humana. Você terá um espanto do tipo: “Como assim! Como nunca percebi isso antes! É óbvio! Onde eu estava com a cabeça?”. Você estava com a cabeça em outros paradigmas que vou explicar mais para frente neste livro.

Dito isso, vamos ao motivo do livro.

Por que estou construindo esse paradigma chamado egogame dentro da sua cabeça? A resposta é: eficiência. Todos os paradigmas que você usa atualmente para entender o que é ser humano são ineficientes para produzir bem viver e boa convivência. É impossível para qualquer ser humano viver bem e conviver bem usando qualquer um dos tradicionais paradigmas presentes na cultura humana. Prova disso é que todos vivem mal e convivem mal. Um novo paradigma precisa ser construído para possibilitar o bem viver e a boa convivência. A função desse livro é construir esse novo paradigma para que você, finalmente, consiga viver bem e conviver bem.

Competência para viver

Competência para viver

Você já assistiu algum tutorial no Youtube? Me refiro àqueles vídeos que explicam como usar o Whatsapp, ou como fazer bolo sem glúten, ou como desentupir o cano da pia, etc? Já assistiu algum? Pois então, sua cabeça, atualmente, é um Youtube lotado de tutoriais. Só que sua cabeça funciona melhor que o Youtube, pois basta você olhar ou pensar em algo e você já entende como lidar com isso.

Por exemplo, quando você olha para um objeto em cima da mesa e vê uma laranja, imediatamente você entende que se chama laranja, que é uma fruta, que tem suco dentro, que o suco é doce e ácido, que tem vitamina C, que faz bem para saúde, que para beber o suco você deve retirar a casca com uma faca, ou então, espremê-la com um espremedor, etc, etc, etc e tal.

O que são cada um desses entendimentos que habitam sua cabeça? São seus paradigmas. Eis aí uma forma simples de você entender o que é um paradigma: é um programa mental que lhe explica duas coisas sobre o que você está experimentando:

1) O que é (definição).
2) Como funciona (uso).

Só que você nasce zerado de paradigmas. Por isso, quando você é bebê, não entende nada e não consegue fazer nada, nem mesmo usar o próprio corpo. Você nasce igual um celular novo que só tem o sistema operacional instalado e não tem nenhum aplicativo. Conforme você vai vivendo, vai tendo experiências. Conforme você vai tendo experiências, vai produzindo memórias. Conforme você vai produzindo memórias, vai produzindo entendimento, ou seja, produzindo paradigmas.

Foi vivendo, tendo experiências e produzindo memórias que você saiu da absoluta incompetência em entender e lidar com a vida, ou seja, absoluta incompetência em viver, e chegou na competência atual. O problema é que sua competência atual para viver, embora seja amplamente maior que a competência que você tinha quando era um bebê, ainda é muito incompetente. Prova disso é que você vive e convive mal.

Sendo assim, para que você deixe de viver mal e comece a viver bem, ou pelo menos, melhor, e melhor, você deve atualizar e corrigir seus paradigmas, uma vez que são eles que produzem seu entendimento sobre o que é viver e como funciona viver.

Você vive mal porque pensa mal. Eis o motivo da sua incompetência em viver bem. Seu entendimento sobre o que é viver e como funciona viver é um entendimento construído com paradigmas equivocados. Para ampliar sua competência em viver e começar a viver bem, você precisa desmascarar seus paradigmas equivocados. Como? Deixando óbvio para si mesmo que são paradigmas equivocados. Como? Praticando autociência.

Esse livro está sendo escrito para lhe ajudar nisso.

Davi contra Golias

Davi contra Golias

Paradigmas podem ser pessoais ou coletivos. Paradigmas pessoais são mais fáceis de serem desmascarados porque a única ignorância que os mantêm operantes é a sua. Paradigmas coletivos são bem mais difíceis de serem desmascarados porque são mantidos de pé pela influência da ignorância coletiva. Lembra quando você era criança e acreditava em Papai Noel e Bicho Papão? Hoje em dia é óbvio que eram paradigmas equivocados, que Papai Noel era seu pai fantasiado de roupa vermelha e barba branca e que Bicho Papão era apenas uma história de terror. Mas ninguém na sua coletividade infantil desconfiava que o paradigma do Papai Noel e do Bicho Papão eram farsas. Muito pelo contrário, todos seus amiguinhos, e até os adultos, reforçavam a farsa. Ou seja, a influência de um paradigma coletivo é tremenda nos indivíduos, é Davi contra Golias, é você acorrentado na Caverna de Platão. Então, assim como na infância era quase impossível você escapar dos paradigmas do Papai Noel e do Bicho Papão, também é quase impossível você escapar dos paradigmas coletivos atuais sobre o que é ser humano. Só que quase impossível não é impossível. Tem um jeito de você sair da Caverna de Platão, tem um jeito de Davi vencer Golias. O jeito é praticando autociência. É o que estamos fazendo aqui, passo a passo.

Samba do crioulo doido

Samba do crioulo doido

Escreva uma carta para o Papai Noel, envie para o polo norte e fique esperando o bom velhinho descer pela chaminé do seu apartamento sem chaminé trazendo o presente. O que vai acontecer se você fizer isso? Você vai morrer esperando. O que isso demonstra? Demonstra que USAR PARADIGMA EQUIVOCADO NÃO PRODUZ BOM RESULTADO.

É por isso que você vive mal. Você está usando paradigmas equivocados para viver. A vida não é isso que você pensa que é. Ser humano não é isso que você pensa que é. Só que você acredita piamente nos paradigmas equivocados que acredita. Mesmo vivendo mal, mesmo em constante conflito consigo mesmo e com os outros, você ainda acredita que entende o que é viver e o que é ser humano. E sendo que seus paradigmas equivocados são coletivos, fica mais difícil ainda você duvidar deles, fica quase impossível.

O geocentrismo é um exemplo clássico de paradigma coletivo equivocado. Houve uma época na história da humanidade em que todos os seres humanos acreditavam que a Terra era o centro do universo e que todos os planetas giravam ao redor da Terra. Esse paradigma se chamava geocentrismo.

O problema do geocentrismo era que ele só criava confusão. Quando os astrônomos iam estudar e mapear o comportamento dos astros no céu partindo do paradigma geocêntrico, o que eles viam era o samba do crioulo doido. Os planetas davam cambalhotas, faziam zigue-zague, era o caos. Não fazia absolutamente nenhum sentido a forma maluca e desarmônica que os astros se comportavam. Algo devia estar muito errado. Mas o quê?

Foi então que um ser humano chamado Nicolau Copérnico, teve uma eureka. Nicolau olhou para o paradigma geocêntrico e decidiu, num ato de loucura absoluta, retirar a Terra do centro do universo e colocá-la orbitando ao redor do sol. Nicolau criou um novo paradigma de sistema planetário chamado heliocentrismo. Depois ele foi estudar como ficava o comportamento dos astros a partir desse novo paradigma. O que você acha que aconteceu?

Para o espanto de Nicolau Copérnico, ele viu algo que sempre esteve presente, mas ele nunca havia visto antes. Ao invés do samba do crioulo doido, Nicolau viu o balé dos cisnes. Os astros pararam de fazer zigue-zague e passaram a deslizar harmoniosamente em elipses ao redor do sol. A grande confusão celeste começou a fazer sentido. Nicolau começou a entender tudo.

A história da transição do paradigma geocêntrico para o paradigma heliocêntrico é muito famosa no meio científico e é conhecida como revolução copernicana. Pense sobre isso! Qual foi a estratégia que Nicolau Copérnico usou para consertar o mal funcionamento do sistema planetário? O que Nicolau fez?

Nicolau PENSOU DIFERENTE. Só isso! Apenas isso! Nada além disso! Nicolau ousou cometer a heresia de considerar que o paradigma geocêntrico era um paradigma equivocado. E foi uma heresia mesmo, tanto que Nicolau teve sérios problemas com a igreja por causa disso.

Analogamente, o mesmo está acontecendo com você atualmente. Sua vida é o samba do crioulo doido porque você entende a vida e o ser humano de forma equivocada, através de paradigmas equivocados. Para que sua vida e o ser humano possa começar a fazer sentido para você, você deve fazer o mesmo que Nicolau Copérnico fez: PENSAR DIFERENTE.

Ao se permitir pensar diferente, ao se permitir duvidar dos tradicionais paradigmas sobre o que é ser humano, você terá eurekas existenciais, psicológicas e pessoais. Tudo irá mudar sem que absolutamente nada mude. E também, assim como Nicolau Copérnico, você estará dando início a nova revolução humana, a revolução autocientífica.

Fotografia metafórica da ignorância científica

Fotografia metafórica da ignorância científica

Era uma vez um cientista que negava a existência de câmeras fotográficas. Ele dizia que não havia evidência. Foi então, que outro cientista, amigo seu, marcou um encontro para ele com uma câmera fotográfica no laboratório.

A câmera fotográfica chegou primeiro e ficou aguardando o cientista. O tempo foi passando e o cientista não aparecia. Como já estava tarde e a câmera fotográfica precisava ir embora, ela bateu uma fotografia do laboratório e deixou a fotografia sobre o balcão. Com a fotografia, ela deixou um bilhete: “Caro cientista, estive aqui para o nosso encontro, mas como você não apareceu, deixo esta fotografia do laboratório como prova da minha existência”.

No dia seguinte, o amigo do cientista lhe perguntou sobre o encontro. Ele respondeu:

— Meu carro quebrou e quando cheguei no laboratório a suposta câmera fotográfica já havia ido embora, só tinha esta fotografia no balcão.

O amigo indagou se agora, com a fotografia de prova, ele reconhecia a existência de câmeras fotográficas. O cientista respondeu:

— Claro que não! Eu examinei cada detalhe dessa fotografia e não encontrei a câmera fotográfica em lugar nenhum da imagem.

Para entender a realidade não adianta olhar para fora e entrar dentro do fora, dentro do observado, é preciso inverter o olhar e entrar dentro do dentro, dentro do observador. Assim como é impossível a câmera fotográfica aparecer na fotografia, mas é evidente que ela existe, também é impossível observar a consciência, mas também é evidente que a consciência existe.

O método científico da observação, criado com sangue e suor pelos cientistas, é o único método capaz de retirar um ser humano da superstição e levá-lo até o óbvio. Toda gratidão e honra aos cientistas por isso. Porém, o método científico é alicerçado na mentalidade materialista e ao aplicá-lo no estudo da realidade, ele cria o problema que está tentando solucionar.

Não tem como entender a realidade partindo da suposição de que a consciência é um produto da realidade. Acreditar nisso é o mesmo que acreditar que a câmera fotográfica é um produto da fotografia. Para entender a realidade é preciso aplicar o método científico no próprio método científico, é preciso observar a observação, é preciso usar o método da auto-observação.

Ignorância Hereditária

Ignorância Hereditária

Lembra que expliquei no capítulo Samba do Crioulo Doido: PARADIGMA EQUIVOCADO NÃO PRODUZ BOM RESULTADO? Pois então! É o paradigma materialista que você usa para entender a vida que lhe impede de entender sua vida. É o paradigma materialista que você usa para entender o que é ser humano que bloqueia seu autoconhecimento. Consequentemente, é o paradigma materialista que você usa para viver que lhe impede de viver bem.

Só que você sequer desconfia que pensa de forma materialista. É fato, mas você ignora esse fato porque a mentalidade materialista é um paradigma coletivo e hereditário. Seus antecessores também ignoravam que eram materialistas, os antecessores dos seus antecessores também, e assim por diante. Nunca ninguém quebrou essa ignorância hereditária.

É preciso sair da ilha para ver a ilha. Só que seus antecessores não saíram da ilha da mentalidade materialista, pelo contrário, dia após dia, trabalharam para aumentar os muros da ilha e a crença de que é impossível sair da ilha.

É totalmente possível sair da ilha e muito simples. Eu moro fora da mentalidade materialista e estou falando com você de fora da mentalidade materialista. Eu encontrei a saída e você pode encontrar também.

A saída é entrar. Isso mesmo! A porta para você sair do materialismo é a mesma porta que você usa para entrar nele. Parece contraditório, mas não é. Explico. O que te mantém pensando de forma materialista é sua ignorância de que você pensa de forma materialista, então, para sair do pensamento materialista você precisa entender como você entra nele.

É fundamental que você se torne consciente de que sua mentalidade atual é materialista para que possa sair dela. A seguir você terá essa oportunidade. Vou apontar para sua mentalidade materialista. Olhe para ela. Não adianta olhar para o meu dedo. Ou seja, não adianta apenas ler minha explicação sobre o que acontece dentro da sua cabeça, você deve olhar dentro da sua cabeça e comprovar por si mesmo o que irei explicar.

E fique tranquilo, você não irá perder nem abandonar seu atual entendimento materialista da realidade, você irá apenas ampliá-lo e entendê-lo melhor.

EUreka existencial

EUreka existencial

Realidade não é sinônimo de existência. Esse é o equívoco fundamental do paradigma materialista. Existência é anterior à realidade. Existência é causa, realidade é efeito. Sem existência não tem onde a realidade acontecer, assim como sem espaço não tem onde um corpo estar e se deslocar. Existência é o espaço vazio onde a realidade cheia acontece.

Existência é a fábrica da realidade assim como uma televisão é a fábrica de um filme. O que você chama de realidade é um filme acontecendo no vazio, igual um sonho. Agora, o pior de tudo, o mais inconcebível para sua mentalidade materialista, é que esse vazio é você.

É inconcebível, mas é óbvio. Óbvio ululante! Todo efeito é produto de uma causa. Todo sonho é produto de um sonhador. Então, é óbvio que você é a fábrica da sua realidade. Por isso que sua realidade passa e você permanece. Você é o sonhador e sua realidade é seu sonho.

Eu sei que às vezes esse sonho parece um pesadelo. Falarei sobre isso em breve. Mas independente da sua realidade ser agradável ou desagradável, é fundamental que você entenda que realidade é efeito (sonho) e que você é a causa (sonhador).

Agora, vou conduzir você da explicação para a comprovação (eureka existencial). Está preparado para despertar a consciência e sair do paradigma materialista? Então, vamos lá!

Considere que essa realidade que você está experimentando é um sonho. Se pergunte: cadê o sonhador?

Note que o sonhador está e não está no sonho. O sonhador está em todos os lugares do sonho e não está em lugar nenhum. O sonhador é o espaço vazio onde o sonho cheio está acontecendo. O sonhador é a existência vazia que está criando a realidade cheia.

Agora note que o experimentador desse sonho que você está experimentando é você. Note que só você está assistindo a esse sonho que você chama de realidade, ninguém mais, é exclusividade sua, pois esse sonho é seu, é você que está sonhando esse sonho. Permaneça nessa posição de sonhador observando o próprio sonho e se pergunte: cadê eu?

EUreka? É por isso que você sonhador, você existência, você causa, não existe para a mentalidade materialista. Aos olhos da mentalidade materialista a realidade é um sonho sem sonhador, um efeito sem causa, um produto sem fábrica.

Eis a causa primária do seu mal viver. Viver pensando de forma materialista não funciona porque não é assim que criação de realidade funciona. Realidade não é um efeito sem causa. Realidade é um produto da sua existência e não a fábrica da sua existência. Quem existe é você e não a realidade.

Esse espaço vazio que contém toda a realidade cheia, e que você chama de espaço, não é espaço, é você. Você, existência, é o espaço vazio. Você, espaço vazio, é o criador da realidade cheia.

Ou seja, não é a matéria que cria você, é você que cria a matéria.

Realidade é experiência

Realidade é experiência

Realidade é experiência. Por isso realidade tem dimensão, cronologia e qualidade (cor, cheiro, sabor, densidade, temperatura, etc). Existência é adimensional, atemporal e vazia de qualidade, assim como a tela de uma televisão. Realidade é tudo e existência é nada. Porém, assim como é a tela adimensional, atemporal e vazia da televisão que possibilita e cria a realidade dimensional, temporal e multimídia do filme, existência é o nada que possibilita e cria tudo.

Você é um SER humano. Existência é o ser que você é: você-ser. Você-ser é o criador e experimentador dessa realidade dimensional, temporal e humana que você chama de vida. Você-ser existe aqui e agora, porém é anterior ao tempo e ao espaço, assim como o sonhador existe aqui e agora, mas também é anterior ao sonho que está sonhando.

Você-ser é o sonhador que está sonhando sua vida. Você não percebe isso porque sua vida é um sonho que está sendo sonhado com perspectiva perceptiva humana de primeira pessoa (eu-corpo). É essa perspectiva perceptiva humana de primeira pessoa que faz você acreditar que você é um corpo material humano contido em um universo externo (mundo externo).

Você-ser não é um corpo material contido em um universo externo, você-ser está sonhando que é um corpo-material contido em um universo externo. Você-ser não é o que acredita que é. Você está sonhando. Não existe universo externo. Não tem nada lá fora. Não existe fora. Realidade é uma experiência que você está criando e experimentando dentro de você-ser.

Assista o vídeo abaixo, foi feito para lhe ajudar a despertar para o paradigma materialista e sair dele.

Espermatozoide em evolução

Espermatozoide em evolução

Acreditar que você é um corpo material contido em um universo externo é a primeira fase da brincadeira de ser humano, é a fase materialista. E tanto faz se você é religioso ou ateu. Se você é religioso, você acredita que Deus criou a matéria. Se você é ateu, você acredita que o Big Bang criou a matéria. O jeito de pensar ateu (evolucionismo) e o jeito de pensar religioso (criacionismo) são igualmente materialistas. A única diferença é que no criacionismo o Bing Bang recebe o nome de Deus e no evolucionismo Deus recebe o nome de Big Bang.

Mas não é só a gênese do universo que é materialista. Segundo a mentalidade materialista, você também não existia antes de nascer. Então, certo dia, seus pais, cheios de hormônios, decidiram transar no banco de trás do fusca. Seu pai não usou camisinha, sua mãe não tomou a pílula do dia seguinte, então, você, que não existia, começou a existir.

E mais! Começou também sua jornada de espermatozoide em evolução. Dentro da barriga da sua mãe você começou a evoluir desenvolvendo braços, pernas, órgãos, etc. Depois, você saiu de dentro da barriga da sua mãe e continuou evoluindo, aprendeu habilidades, desenvolveu competências, ganhou dentes, pelo no sovaco, etc. Até chegar num limite que cessou sua evolução e começou sua involução. Você começou a definhar, atrofiar, apodrecer e vai chegar um momento que você irá morrer, ou seja, deixará de existir.

Essa é a lógica da sua existência segundo a mentalidade materialista. É uma lógica correta no que diz respeito à realidade. Porém, realidade não é existência. Você não é SÓ humano, você é um SER humano. Você existe antes de nascer. Você é a existência sem a qual seria impossível sua experiência de realidade, pois a existência antecede a experiência.

Tudo que nasce, evolui, involui e morre. Você, enquanto pessoa, nasceu e irá morrer. O destino de tudo que nasce é morrer. O que não nasce, não evolui, não involui e não morre. Você-ser não nasce, não evoluiu e não morre. Você-ser não é um espermatozoide em evolução. Você-ser existe aqui, agora e sempre.

Jogador do egogame

Jogador do egogame

Até agora estive usando analogia do sonho para lhe ajudar a entender o que é vida e o que é ser humano, mas a analogia do sonho não é a melhor analogia para isso, a melhor analogia é o egogame. Mas o que é o egogame? Egogame é o programa consciencial que você-ser está usando para experimentar essa perspectiva perceptiva de que você é uma pessoa, um eu humano, um ego, um corpo contido na realidade, e assim poder brincar de ser você humano.

Simplificando: a vida é um jogo de videogame compartilhado. Você decidiu jogar, ou seja, você decidiu entrar no jogo. Para entrar, você fez login igual você faz login para entrar no Facebook. Desde então você está jogando o jogo de ser humano (egogame). Se você soubesse como dar logout, você imediatamente sairia do jogo assim como sai do Facebook e perceberia que a vida é um jogo de videogame. Só que você não sabe, nem tem como saber.

Platão diria que você está dentro de uma caverna amarrado aos cinco sentidos. Platão foi Jedi antes dos Jedis, foi Ninja antes dos Ninjas. Platão entendeu que a vida é um egogame antes da invenção dos videogames. De fato, o que te mantém preso na fase materialista do egogame são os cinco sentidos. Por isso, para sair da fase materialista do egogame, só tem um jeito, só tem uma prática: ficar consciente da própria cognição.

Antigas tradições budistas chamam essa prática de meditação. Atualmente, para desligar a meditação da tradição religiosa budista, essa prática está sendo chamada de mindfulness. Eu chamo de autoobservação (observação de si). E quando você observa a natureza humana da sua observação, chamo de autoobservação existencial. Faço essa distinção, pois existem três tipos de autoobservação: existencial, psicológica e pessoal.

Mas enfim, assim como não tem como você jogar um videogame sem o programa do videogame no seu Playstation, analogamente, não tem como você-ser brincar de ser humano sem fazer login no egogame. E qual é a importância de entender isso? Em que isso te ajuda a viver melhor? Ajuda em muitas coisas. Primeiramente, ajuda você a se esclarecer sobre quem é o jogador.

Tudo que foi explicado neste livro até agora teve esse único objetivo: ajudar você a ficar consciente que o jogador do egogame é você-ser, você-existência, você-vazio, e não você-pessoa. Você-pessoa é mentalidade materialista. É impossível você entender o que é vida e o que é ser humano enquanto você iguala sua existência com sua realidade.

Lembra do conselho no capítulo Samba do Crioulo Doido: PARADIGMA EQUIVOCADO NÃO PRODUZ BOM RESULTADO? Pois então! Quando você iguala sua existência com sua realidade, fica impossível você viver bem. Por isso, a primeira confusão a ser esclarecida para você jogar bem o egogame (viver bem) é que o jogador do egogame é você-ser, você-existência, e não você-pessoa.

Claro que para você-ser jogar o egogame, você precisa se ver e se manifestar como uma pessoa (mentalidade materialista), mas isso não significa que o jogador é você-pessoa, não é, o jogador do egogame é você-existência (você-ser).

Bebê babão chorão

Bebê babão chorão

Para jogar futebol, você usa as pernas e os pés. Para jogar vôlei, você usa os braços e as mãos. Para jogar videogame, você usa o controle do videogame. Para jogar o egogame, você-ser usa o quê? Sendo que você-ser é vazio, atemporal, adimensional, ou seja, você-ser não tem perna, nem pé, nem braço, nem mão, nem cabeça, nem nada, como você-ser faz para jogar o egogame? O que você-ser usa para executar suas jogadas dentro do jogo? Sabe dizer? Tem alguma ideia? Nenhuma?

Você-ser usa um controle chamado arbítrio. É através do arbítrio que você-ser joga o egogame. É por isso que a realidade que você-ser experimenta é sempre desdobramento do seu arbítrio. Se você-ser opta por se levantar da cadeira, a realidade que você-ser experimenta é você se levantando da cadeira. Se você-ser opta por sentar na cadeira, a realidade que você-ser experimenta é você se sentando na cadeira. E assim para tudo.

O controle no egogame funciona igual no videogame. No videogame, num jogo de Fórmula 1, por exemplo, você clica do lado direito do controle e o carro vira para a direita, você clica do lado esquerdo do controle e o carro vira para a esquerda. No egogame também, você-ser opta por virar à direta, você-ser tem a experiência de virar à direita, se você-ser optar por virar à esquerda, você-ser tem a experiência de virar para a esquerda.

Livre arbítrio é livre click. Clicou, experimentou. Isso é sensacional quando você-ser é lúcido e sabe usar seu arbítrio com lucidez. O problema é que seu caso é exatamente o oposto. Por isso você vive mal. Pegue o controle de um videogame, dê na mão de um bebê e veja o que acontece. O bebê vai jogar muito mal. Por quê? Ausência de arbítrio? Pelo contrário! Porque o bebê tem arbítrio, mas não sabe usar. O bebê ignora como usar bem o arbítrio. O mesmo acontece com você-ser no egogame.

Em questão de autoconhecimento, você-ser é um bebê babão. Você-ser está no controle do seu viver, mas você-ser está em profundo estado de ignorância de si, do que é ser humano e do que é viver. Então, quem está no controle é sua ignorância. Como viver bem assim? Impossível! Por isso, ou você-ser pratica autociência e aprende como usar bem seu arbítrio ou continuará bebê babão chorão (ser humano vivendo mal).

Combinado sobre você

Combinado sobre você

Vamos combinar sobre a palavra “você”. Daqui para frente, toda vez que eu escrever a palavra “você”, entenda que estou me referindo a “você-ser”. Isso irá me ajudar a escrever com menos palavras e irá ajudar você a ler com menos palavras. Combinado? Ótimo! Então, prossigamos…

EUrekatividade

EUrekatividade

Você já ganhou um jogo que você não sabia jogar? Como você fez para aprender a jogar? Provavelmente você leu o manual de instruções. Seria bom se o egogame viesse com manual de instruções também, não é mesmo? Só que não vem. E pior! Mesmo que viesse, não adiantaria nada, pois você tem que aprender a jogar o egogame muito antes de aprender a ler.

Quando você nasce, você não vai para a escola aprender o que é ser humano e o que é viver, você vai para o berço e tem que aprender tudo sozinho. “Que porra é essa aqui? Vou enfiar o dedo aqui! Ops! Entupiu! Ops! Não tô respirando. Tô ficando roxo! O que tá acontecendo? Melhor tirar o dedo daqui. Ops! Minha barriga tá doendo! Que trem é esse de dor? Não tinha dor antes. O que eu faço com essa dor? Tá incomodando demais. Tá insuportável! Não aguento! Buáááá! Buáááa! Até que enfim chegou a teta. Leite quentinho. Eu choro, a teta vem, eu bebo o leite e a dor passa. Agora entendi como funciona”.

Esse é um exemplo imaginário para simular você aprendendo a jogar o egogame desde o berço, em absoluta solidão, sem professor nenhum. Claro que foi mais difícil que isso, pois você não sabia nada de nada. Você não sabia sequer que você era um você (ser humano). A vantagem era que você não tinha outra coisa para fazer no berço além de ficar se perguntando: “Quiporra é essa? Quiquitá rolando? Quemquieusô? Dondeuvim? Prondeuvô?”

O egogame não vem com manual de instruções porque o egogame é uma eurekatividade (atividade de autoconhecimento). O egogame é um jogo de descobrir as regras do jogo. Você entra no egogame em absoluta ignorância justamente para brincar de sair da ignorância através da experimentação do jogo. Ou seja, você entra no egogame para aprender a jogar jogando.

O egogame é um jogo que possui regras assim como todo jogo. Só que você nem sabe disso. Você não sabe absolutamente nada. No começo da brincadeira, você é apenas um bebê babão com o arbítrio na mão. E cabe a você, bebê babão, descobrir tudo, absolutamente tudo sobre o funcionamento do egogame usando esse arbítrio que você nem sabe que tem.

E adivinha só: você consegue! Você ainda não descobriu todas as regras do egogame, mas já descobriu muitas. Se não tivesse descoberto estava morto, porque continuar vivo é uma das regras para continuar jogando. Só que viver é mais do que apenas sobreviver. Ser humano é mais do que comer, beber, mijar e cagar para continuar comendo, bebendo, mijando e cagando. Tem mais regras para você descobrir além das regras de sobrevivência e poder viver melhor (jogar melhor).

Se você vive mal, é porque ainda ignora regras fundamentais do egogame. Para que você possa sair da ignorância dessas regras fundamentais e viver melhor, a partir de agora vou apontar para algumas delas. Olhe, veja, investigue e fique consciente dessas regras. Não acredite no que vou explicar. Não fique só na teoria. Não fique só na explicação. Seja um autocientista e comprove a si mesmo, por si mesmo e em si mesmo.

Determinismo e arbítrio

Determinismo e arbítrio

O que você chama de vida é um jogo de videogame e sua realidade é uma experiência virtual dentro de você. Isso já está explicado. Só que toda realidade virtual é efeito de uma programação. Essas letras que você está lendo na tela do seu celular, por exemplo, não estão organizadas na tela por milagre. Tem um programa invisível instalado no seu celular, chamado Android, que está organizando tudo na tela do seu celular. Analogamente, tem um programa invisível instalado em você, chamado egogame, que está organizando essa realidade virtual que você está experimentando.

Existe um famoso debate filosófico que questiona se existe mesmo arbítrio frente ao determinismo mecânico da natureza. Esse debate só permanece por conta da mentalidade materialista que os seres humanos usam para pensar a vida, o ser humano e a natureza. Determinismo e arbítrio não são excludentes, são complementares. Todo jogo é um cardápio de opções predeterminadas e são essas opções predeterminadas que possibilitam o jogador jogar, ou seja, escolher. Caso contrário, seria impossível jogar, pois não existiriam opções para o jogador optar.

Pense em um jogo de videogame. O que um jogador faz quando está jogando um jogo de videogame? O que é cada clique que o jogador dá no controle do videogame? Cada clique é uma escolha, é uma decisão, é um arbítrio. Mas para que o jogador possa optar por aquela opção e não pelas outras, o que precisa existir? Precisa existir um cardápio de opções de jogadas predeterminadas. Subir ou descer? O jogador decide. Mas para decidir entre subir ou descer é preciso que existam as opções de subir e descer no cardápio do jogo.

Existem diversos jogos que se pode jogar com o mesmo baralho: truco, buraco, cacheta, pôquer, rouba monte, mico, etc. O que diferencia um jogo do outro se todos esses jogos são jogados com o mesmo baralho? O que diferencia é o cardápio de opções de cada um. Por exemplo, tem opções que você pode fazer no jogo de pôquer, mas não pode fazer no jogo de truco, porque não existe no cardápio de opções do jogo de truco e vice-versa.

E o que tem a ver determinismo com programação? Programação é o cardápio pré-determinado de possibilidades (opções) disponíveis para o jogador. Egogame é o jogo de ser humano, então, seu cardápio de opções é humano. Isso significa que tem coisas que você pode fazer, que são humanamente possíveis, e tem coisas que você não pode fazer, que são humanamente impossíveis. Só que você não sabe o que é possível e o que é impossível. E só tem um jeito de descobrir: tentando.

É aí que o ID, o ego e o superego vão entrar na brincadeira.

Fonte da vida

Fonte da vida

Freud usou três termos para explicar seu entendimento do funcionamento psicológico humano: ID, ego e superego. Esses três termos são conceitos psicológicos muito úteis para o entendimento do funcionamento do egogame. Vou explicar cada termo e depois explicar o papel de cada um dentro do egogame. Vou começar explicando o ID.

ID é vontade. ID é querer. Vontade não é racional, é irracional. Pense na fome, por exemplo. Qual é a racionalidade da fome? Nenhuma. Fome não é raciocínio, não é ideia, não é um entendimento. Fome é vontade irracional de comer. Você tem vontade e não consegue deixar de ter, assim como você tem fome e não consegue deixar de ter.

Ou seja, você não precisa fazer esforço para querer, é inevitável. Vontade brota. Não dá para você se programar para ter vontade, nem para deixar de ter. Por exemplo, não adianta você colocar assim na sua agenda: “Terça-feira, 19:15, sentir saudades da minha mãe. Todo sábado, 20hs, sentir tesão pelo meu marido. Só sentir preguiça em domingos e feriados”.

De repente, você quer e pronto. Você pode fingir que não quer. Mas é impossível desligar seu querer. Por exemplo, você pode fingir que não está com fome, mas é impossível você desligar a vontade de comer (fome). E o inverso igualmente. Quando você não quer, não adianta se esforçar para querer. Ou seja, assim como é impossível desligar a vontade também é impossível ligá-la.

Resumindo: vontade não é opcional.

O papel da vontade no egogame é o impulso. Sem vontade você seria como um celular sem carga, um carro sem gasolina. Vontade é ânimo, motivo, energia, fonte da vida. Sem vontade você não seria um jogador, pois jogar é a jornada da realização da vontade.

Manual de funcionamento do egogame

Manual de funcionamento do egogame

Vou criar quatro experimentos mentais para você pensar e entender o que é o superego.

A) Imagine que você é uma criança recém-nascida e está com seu pai em um quarto que tem um ursinho de pelúcia, de repente, esse ursinho de pelúcia se transforma em um urso de verdade. Quem fica espantado com isso: você ou seu pai?

B) Imagine que você é uma criança recém-nascida e está na cozinha com sua mãe, de repente, um tomate em cima da mesa começa a falar português: “Olá! Bom dia! Eu sou um tomate, blá blá blá…” Quem fica espantado com isso: você ou sua mãe?

C) Imagine que você é uma criança recém-nascida que está na sala assistindo televisão com seus pais e seu cachorro, de repente, seu cachorro começa a flutuar e voar pela sala. Quem fica espantado com isso: você ou seus pais?

D) Imagine que você é uma criança recém-nascida que está no sítio com seu avô, de repente, uma galinha para na frente de vocês, começa a rejuvenescer até virar um pintinho e depois volta a virar ovo. Quem fica assustado com isso: você ou seu avô?

Quem vai ficar espantado é seu pai, sua mãe e seu avô. E por quê? Por que eles já têm um superego e você ainda não tem. Como assim? Explico. Lembra que o egogame é um jogo que vem sem manual de instrução, que é uma eurekatividade, que é um jogo que você aprende a jogar jogando? Pois então, tudo que você aprende sobre o funcionamento do egogame você grava em um arquivo mental que Freud chamou de superego.

É por isso que no experimento mental A, B, C e D, seu pai, sua mãe e seu avô se espantam e você não. No superego deles está gravado assim: “Ursinho de pelúcia não vira urso de verdade. Tomates não falam português. Cachorros não flutuam. Galinhas não voltam a virar ovo”. No seu superego de recém-nascido não tem nada gravado ainda, então, você ainda não sabe que essas coisas são impossíveis, por isso não se espanta de acontecerem.

Entendeu o que é o superego? Superego é seu sistema de crenças. Já que o egogame não vem com manual de funcionamento, você vai criando seu próprio manual de funcionamento do egogame conforme você vai jogando (vivendo). Claro que você não faz isso conscientemente, mas faz, desde que entrou no jogo (nasceu) e fará até o dia que sair do jogo (morrer).

Ter um superego é uma benção. É graças às instruções de funcionamento fornecidas pelo superego que você sabe como tudo funciona e consegue lidar bem com tudo (viver bem). Mas seu superego também pode ser uma maldição, pois ele pode estar cheio de instruções equivocadas e inapropriadas que, ao serem executadas, te fazem viver mal.

Herói da jornada

Herói da jornada

De repente, você sente fome (vontade de se alimentar). O ID começa a berrar feito um bebê: “Quero comer, quero comer, quero comer!”. Pronto! O ID apertou o play. Começou mais uma jornada no seu egogame. Agora você tem um motivo para viver. Agora sua vida tem um sentido. Agora você tem um objetivo. Agora você tem uma meta. Agora você tem um ponto B para chegar. Agora você tem uma missão: matar o dragão da fome (realizar a vontade de se alimentar).

Mas péra! Ops! Tem um detalhe importantíssimo! Quem vai cumprir a missão? Quem vai realizar o objetivo? Quem vai sair do ponto A e chegar no ponto B? Quem vai enfrentar todos os terríveis obstáculos entre o sofá e a geladeira e matar o dragão da fome? Enfim, quem é o jogador que vai jogar o egogame?

Quem vai jogar o egogame é o ego. O ID é a vontade, é a missão que o ego deve cumprir no egogame. O superego é a memória, é a voz que diz ao ego o que é possível e impossível de ser feito no egogame. O ego é o jogador do egogame, é o responsável por realizar a jornada da realização da vontade, é o responsável por encontrar um jeito de sair do ponto A (vontade não realizada) e chegar no ponto B (vontade realizada): missão cumprida.

O ego é a autoconsciência. Creio que essa é a melhor palavra psicológica para explicar o ego. Poderia dizer que o ego é a inteligência. Consciência e inteligência são conceitos similares e ambos expressam a natureza do ego. Mas o principal não é o conceito, o principal é você ficar consciente dos três aspectos do jogador que você é: vontade, memória e consciência.

Mágica não funciona

Mágica não funciona

Vamos relembrar dois experimentos mentais do capítulo 18:

A) Imagine que você é uma criança recém-nascida e está com seu pai em um quarto que tem um ursinho de pelúcia, de repente, esse ursinho de pelúcia se transforma em um urso de verdade. Quem fica espantado com isso: você ou seu pai?

D) Imagine que você é uma criança recém-nascida que está no sítio com seu avô, de repente, uma galinha para na frente de vocês, começa a rejuvenecer até virar um pintinho e depois volta a virar ovo. Quem fica assustado com isso: você ou seu avô?

Seu pai, sua mãe e seu avô ficam espantados porque sabem que tais acontecimentos são impossíveis, eles sabem que não é assim que o egogame funciona. Você também sabe. E ninguém precisou te ensinar. Você aprendeu sozinho no berço.

Seu ursinho de pelúcia nunca se transformou em um urso de verdade. Seu corpo jamais rejuveneceu até você virar um feto e voltar ao útero. E por que não? Porque o egogame funciona com ordenação espacial e temporal, com fisicalidade e cronologia, ou então, não funciona.

Mágica não funciona. Milagre não funciona. Sua memória sabe disso, ou pelo menos deveria saber, uma vez que você nunca conseguiu comer uma azeitona sequer estalando os dedos, nem jamais conseguiu voltar o tempo por mais que tentou.

Tem outras coisas no egogame que também não funcionam, como conversar com tomates em português, ir voando até o supermercado, sobreviver respirando gás carbônico, enxugar gelo, descer para cima, subir para baixo, etc e tal.

Seu sistema de crenças (superego) deveria saber bem que coisas assim não funcionam para alertar você sobre essas impossibilidades. Porém, por mais que o repetitivo fracasso lhe mostre que o egogame não funciona assim ou assado, muitas vezes, você demora para perceber e aprender.

Para lhe ajudar a perceber e aprender, seguem algumas dicas:

Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
Envelhecimento é inexorável.
Nada se perde, tudo se transforma (o tempo todo). “Ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio, pois quando nele se entra novamente, não se encontra as mesmas águas, e o próprio ser já se modificou”.
Vontade não é opcional.
Arbítrio é incorruptível.
Milagre não funciona.
Mágica não funciona.
Unicórnios só existem na imaginação.

Por fim, seguem algumas dicas fundamentais e valiosíssimas para realização da boa convivência, que é o aspecto do egogame onde você mais joga mal (vive mal).

VOCÊ É VOCÊ.
VOCÊ NÃO É O OUTRO.

O OUTRO É OUTRO.
O OUTRO NÃO É VOCÊ.

Você é incompetente em ser o outro.
O outro é incompetente em ser você.

Você é incompetente em saber pelo outro.
O outro é incompetente em saber por você.

Você é incompetente em querer pelo outro.
O outro é incompetente em querer por você.

Você é incompetente em optar pelo outro.
O outro é incompetente em optar por você.

Tem diversas outras coisas que você faz todo dia, a todo instante, e que não funcionam no egogame. Por isso você vive mal. Viver mal é o egogame te mostrando que algo não funciona como você acredita, pois se funcionasse, estaria funcionando. Dei algumas dicas aqui, mas cabe a você descobrir o que é possível e o que é impossível no egogame. E não acredite nas minhas dicas, nem nas dicas de ninguém. Considere, mas não acredite. Investigue e comprove por si mesmo. E se você descobrir que alguma dica que lhe dei está equivocada, ficarei contente em saber disso e atualizar meu sistema de crenças sobre o funcionamento do egogame, pois também quero viver bem.

Retrato de Dorian Gray

Retrato de Dorian Gray

Quando estava na faculdade, li um livro chamado “O Retrato de Dorian Gray”, do Oscar Wilde. O livro conta a história de um rapaz que vai sendo traumatizado por suas experiências e vai transferindo os traumas para um auto retrato que ele mantém guardado dentro de um quarto. Quanto mais o rapaz vai vivendo, mais o auto retrato vai envelhecendo, só que o rapaz se mantém eternamente jovem.

O retrato de Dorian Gray representa seu sistema de crenças (superego).

Viver é traumatizante. Trauma é marca, cicatriz, registro, memória. Tudo que você experimenta gera marca, cicatriz, registro, memória. Você usa a palavra trauma apenas para memórias desagradáveis, mas tanto memórias desagradáveis como memórias agradáveis são traumas.

Traumatização é fundamental para jogar bem o egogame. Por mais estranho que possa parecer, você precisa dos seus traumas para viver bem, porque sem memória você não sabe como fazer nada. Tem um filme chamado “Eternamente Alice” que conta a história de uma mulher com Alzheimer. Tem uma cena em que Alice, uma mulher de mais de 40 anos, faz xixi nas calças porque não consegue lembrar onde fica o banheiro.

Você só percebe quão fundamental é algo que você tem quando não tem mais, quando você perde. Por isso você não percebe a importância da memória, ela nunca lhe faltou. Mas tente fazer alguma coisa sem usar sua memória para ver se consegue. Ou então, apague toda a memória do seu computador e tente usá-lo para você ver o que acontece.

Quando você entra no egogame sua memória está virgem. Seu sistema de crenças (superego) é uma tela em branco. Você não deu nenhuma pincelada ainda, não tem nenhum trauma ainda. Por isso não consegue fazer nada, nem segurar a colher da sua papinha. Mas conforme você vai vivendo, sua memória vai sendo traumatizada, muitas pinceladas vão sendo dadas na tela em branco. Cada novo trauma é uma nova crença. Quanto mais crenças, mais você entende como o egogame funciona e mais coisas você consegue fazer.

Por exemplo, assim que você entra no egogame, demora até você entender que você é um corpo, que existem muitos outros corpos, e que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Por isso você dá tanta cabeçada no berço. Você não aprende física na escola, com o professor Horácio, você aprende física no berço, dando cabeçada e se traumatizando.

Não tem aprendizagem sem trauma. Aprendizagem é traumatizagem, ou seja, é o processo de produção de memória. Por isso que tudo no egogame é eurekatividade. Viver é traumatizante e traumatização é aprendizagem. Assim que você entra no egogame, você começa a viver, assim que começa a viver, começa a se traumatizar, ou seja, começa a aprendizagem.

Suas crenças são suas aprendizagens, são os traumas mentais que você vai produzindo sobre o funcionamento do egogame para conseguir fazer as coisas. Lembra que no capítulo 13 expliquei que no começo do jogo você é um bebê babão com o controle na mão? Pois então! Você não sabe como o egogame funciona, então, o jeito é fazer experiências. Cada arbítrio produz uma experiência, cada experiência produz um trauma, cada trauma é uma memória, cada memória é uma crença (aprendizagem).

É assim, arbítrio após arbítrio, que vai surgindo em você um sistema de crenças, um registro mental de tudo que vivenciou e aprendeu sobre o funcionamento do egogame, um retrato de Dorian Gray, um sábio ancião chamado superego.

Quem é você?

Quem é você?

Você tem passado a vida tentando descobrir quem é você? Chegou o dia de descobrir. Vou te propor três experimentos mentais para você entender quem é você.

(A) Imagine que, de repente, sua memória fosse apagada completamente e eu lhe perguntasse: “Quem é você?”. Qual seria sua resposta?

(B) Imagine que, de repente, sua memória fosse substituída pela memória do Elvis Presley e eu lhe perguntasse: “Quem é você?”. Qual seria sua resposta?

(C) Imagine que, de repente, sua memória fosse substituída pela memória de uma minhoca e eu lhe perguntasse: “Quem é você?”. Qual seria sua resposta?

Entendeu quem é você agora? Você é o que seu sistema de crenças (superego) diz que você é. Por isso quando sua memória muda, sua identidade muda. Sua identidade é sua crença.

Tem uma cena no filme Matrix que o herói precisa lutar karatê, mas ele não é lutador de karatê. Por que não? Porque ele não sabe lutar karatê. Por que não sabe? Porque ele não tem memórias de lutador de karatê. Daí, ele senta em uma cadeira e recebe um download de memórias de lutador de karatê. Terminado o download ele é um lutador de karatê.

Se seu sistema de crenças (superego) diz que você é Elvis Presley, quem é você? Você é Elvis Presley. Se diz que você é uma minhoca, quem é você? Você é uma minhoca. Se diz que você é médico, quem é você? Você é médico. Se diz que você é mãe, quem é você? Você é mãe. Se diz que você é brasileiro, quem é você? Você é um brasileiro. Se diz que você é feio, quem é você? Você é feio. Se diz que você é cristão, quem é você? Você é cristão. Se diz que você é vítima, quem é você? Você é vítima. Se diz que você é culpado, quem é você? Você é culpado.

Muito louco, né? É seu sistema de crenças que define quem você é. É seu superego que define sua identidade. Mas não para por aí! É mais louco ainda! Sua identidade determina seu jeito de jogar, ou seja, determina seu jeito de viver e conviver.

Se seu sistema de crenças (superego) diz que você é Elvis Presley, você vive como Elvis Presley e interage como Elvis Presley. Se diz que você é uma minhoca, você vive como minhoca e interage como minhoca. Se diz que você é médico, você vive como médico e interage como médico. Se diz que você é mãe, você vive como mãe e interage como mãe. Se diz que você é brasileiro, você vive brasileiro e interage como brasileiro. Se diz que você é feio, você vive como feio e interage como feio. Se diz que você é cristão, você vive como cristão e interage como cristão. Se diz que você é vítima, você vive como vítima e interage como vítima. Se diz que você é culpado, você vive como culpado e interage como culpado.

E assim por diante…

Quem é o outro?

Quem é o outro?

Para você, eu sou o outro e todos que não são você é outro. Sendo assim, vamos fazer três experimentos mentais semelhantes aos do capítulo anterior, mas agora aplicado ao outro.

(A) Imagine que, de repente, sua memória fosse apagada completamente e eu lhe perguntasse: “Quem sou eu?”. Qual seria sua resposta?

(B) Imagine que, de repente, sua memória fosse substituída pela memória de que eu sou o Elvis Presley e eu lhe perguntasse: “Quem sou eu?”. Qual seria sua resposta?

(C) Imagine que, de repente, sua memória fosse substituída pela memória de que eu sou uma minhoca e eu lhe perguntasse: “Quem sou eu?”. Qual seria sua resposta?

Entendeu quem é o outro? O outro é o que seu sistema de crenças (superego) diz que ele é. Por isso quando sua memória muda, a identidade do outro muda. A identidade do outro também é sua crença.

Se seu sistema de crenças (superego) diz que eu sou Elvis Presley, quem sou eu para você? Eu sou o Elvis Presley. Se diz que eu sou minhoca, quem sou eu para você? Eu sou uma minhoca. Se diz que eu sou médico, quem sou eu para você? Eu sou médico. Se diz que eu sou sua mãe, quem sou eu para você? Eu sou sua mãe. Se diz que eu sou brasileiro, quem sou eu para você? Eu sou um brasileiro. Se diz que eu sou feio, quem sou eu para você? Eu sou um feio. Se diz que eu sou cristão, quem sou eu para você? Eu sou um cristão. Se diz que eu sou vítima, quem sou eu para você? Eu sou a vítima. Se diz que eu sou o culpado, quem sou eu para você? Eu sou o culpado.

Também é seu sistema de crenças que define quem é o outro. E é a identidade que seu sistema de crenças dá ao outro que determina seu jeito de conviver com o outro.

Se seu sistema de crenças diz que o outro é o Elvis Presley, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como Elvis Presley. Se diz que o outro é uma minhoca, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como uma minhoca. Se diz que o outro é médico, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como médico. Se diz que o outro é sua mãe, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como sua mãe. Se diz que o outro é brasileiro, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como um brasileiro. Se diz que o outro é feio, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como feio. Se diz que o outro é cristão, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como cristão. Se diz que o outro é vítima, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como vítima. Se diz que o outro é culpado, você interage com o outro com expectativas de que o outro se comporte como culpado.

E assim por diante…

Atravessando a parede

Atravessando a parede

Você faz login do egogame, começa a jogar como bebê babão com o controle na mão e vai descobrindo como o jogo funciona. Você começa a descobrir o que é possível e o que é impossível. Você sai correndo e tromba com a parede. Tromba de novo e de novo. Você descobre que é impossível atravessar paredes. Daí você vê sua mãe atravessando a parede do seu quarto repetidas vezes e sempre por um lugar específico que abre e fecha. Você descobre que é possível sim atravessar paredes, desde que use a porta.

E assim você vai fazendo experiências e descobrindo tudo que é possível e impossível no egogame, igual um cientista que chegou em outro planeta. As coisas impossíveis você memoriza como NÃO PODE. Por exemplo, “Não pode atravessar a parede pela parede”. As coisas possíveis você memoriza como PODE. Por exemplo, “Pode atravessar a parede usando a porta”.

Passado algum tempo, seu sistema de crenças (superego) está cheio de informação sobre o que PODE e o que NÃO PODE. Isso é ótimo! Pois agora você não precisa mais ficar batendo a cabeça na parede para saber que é impossível atravessar paredes, seu sistema de crenças lhe dá um super poder: a capacidade de prever o futuro.

Muito antes de você sair correndo em direção à parede seu sistema de crenças lhe explica: “Você NÃO PODE atravessar a parede pela parede, você só PODE atravessar a parede usando a porta, então, use a porta para sair do quarto”. Você segue o conselho do seu sistema de crenças e… UAU!!!! Você consegue sair do quarto!!! Sucesso total!!! You are the champion!

Passado mais algum tempo, seu super poder de previsão aumentou tanto, que você já é capaz de prever como quase tudo no egogame funciona. Você sabe que fogo queima, que água molha, que tem comida na geladeira, que cobertor protege do frio, que a torneira abre girando no sentido horário, etc.

Por fim, passado muito tempo, graças ao seu sistema de crenças, além de prever como tudo funciona no egogame, você já interage com tudo sem precisar pensar. Você não pensa mais que precisa usar a porta para atravessar a parede, você simplesmente abre a porta e atravessa a parede, automaticamente, subconscientemente, sem lembrar de nenhuma das cabeçadas que deu para aprender a fazer o que está fazendo.

Você programou seu poder de previsão do futuro com milhões de dados e agora ele funciona de forma subconsciente. Você não precisa mais pensar para jogar o egogame, basta desejar e sua programação subconsciente joga por você. Por exemplo, basta você desejar comer uma maçã que sua programação subconsciente faz você abrir a porta do quarto, atravessar a parede, andar até a cozinha, abrir a geladeira e pegar uma maçã.

Manga com leite

Manga com leite

Quando você é criança, você não entende nada do que os adultos falam, então, você tem que descobrir tudo que é possível e impossível no egogame através da experimentação. Depois que você aprende a falar português, você deixa de ser um cientista empírico e se torna um crente, você começa a aprender o que é possível e impossível acreditando no que os outros lhe ensinam.

É aí que começa o problema. Um exemplo clássico disso é a história da manga com leite. Essa crença aconteceu comigo e com muitas pessoas. Minha avó morava em um sítio que tinha duas coisas que eu adorava: manga e leite. Só que minha avó me ensinou que era impossível sobreviver à ingestão de uma manga seguida da ingestão de leite. Ou seja, manga com leite não podia, era morte certa.

Ao invés de fazer a experiência para descobrir se era impossível mesmo, eu acreditei. Todo domingo eu ia no sítio da minha avó e recebia um reforço da impossibilidade. “Não mistura manga com leite que você morre menino”. E eu acreditava novamente. E segui acreditando até os 18 anos de idade. Até que descobri que essa história era uma mentira inventada e espalhada pelos donos de fazenda para manter os escravos longe das vacas.

Com 18 anos eu achava que já tinha vivido uma vida inteira, então, fiquei em choque com a descoberta da mentira, pois eu havia sido enganado minha vida inteira. Comecei a pensar no que mais eu havia acreditado e que era mentira.

Esse é o problema de deixar de ser cientista e se tornar crente, você vive enganado. Coisas que são possíveis se tornam impossíveis não por impossibilidade, mas porque você acredita que são impossíveis. E vice-versa. Coisas que são impossíveis se tornam possíveis não por serem possíveis, mas porque você acredita que são possíveis. Por exemplo: milagre, Papai Noel, cegonha que traz bebê, deus, diabo, etc. A lista de mentiras é infinita.

Era melhor ter continuado cientista, não era? Foi virar crente: se fudeu!

Educação, moral e cívica

Educação, moral e cívica

Acha que viver acreditando em mentiras é ruim? Acha que não tem como ficar pior? Tem sim! Afinal, que graça tem jogar um jogo sem desafio? Sempre dá para ficar pior. Tão logo você deixa de ser cientista empírico e vira crente, você é matriculado em um curso intensivo de preparação para viver bem chamado: educação moral e cívica. Nesse curso você tem basicamente duas matérias: não pode e tem que. Seus professores chamam o trabalho deles de educação, mas de fato é um adestramento.

Você coloca uma pedra na boca e…
Não pode! É caca!
Você mija gostoso nas calças e…
Não pode! Tem que mijar no penico.
Você quer comer bolacha e…
Não pode! Tem que comer salada.
Você isso e…
Não pode! Tem que aquilo!
Você aquilo e…
Não pode! Tem que esquilo.
Você esquilo e…
Não pode! Tem que crocodilo!
E tem que dormir tal hora.
Tem que acordar tal hora.
Tem que ir pra escola.
Tem que amarrar os sapatos.
Tem que fazer a lição.
Tem que ter uma profissão.
Tem que ficar rico.
Tem que ser uma pessoa de sucesso.
Não pode ser gay.
Não pode ficar solteira.
Tem que casar.
Tem que ficar grávida.
Tem que ter uma família.
Tem que se aposentar.
Você vai morrer,
é inevitável, mas…
não pode morrer.

O curso de educação moral e cívica dura toda a infância e juventude. Começa com seus pais e continua na escola. Durante esse período seus educadores lhe repassam todo o adestramento que receberam dos antecessores. A intenção deles é que você aprenda a viver bem. Por isso, para garantir a aprendizagem, seus professores usam instrumentos pedagógicos como chinelos, tamancos, cintas, pau de macarrão, alicates, facas, martelos, etc. Só que seus professores cometem dois equívocos:

1) Seus professores ignoram que cada jogador é UM jogador, que tem vontade própria e individualidade, ou seja, natureza existencial singular, diferente do outro. Então, ignoram também que a moral que funciona para um, não funciona para o outro.

2) Seus professores ignoram que “não pode” é diferente de “não deve”. E também ignoram que, para você, “não pode” é sinônimo de impossível e não de inapropriado.

Esses dois equívocos, colocados em prática por seus professores, com profundo amor e dedicação pelo seu bem viver, ampliam astronomicamente suas dificuldades em jogar bem o egogame (viver bem). O primeiro equívoco leva você à prática da autonegação e uniformidade (ser igual aos outros). O segundo equívoco faz você acreditar que leis morais são leis naturais do egogame, logo, que você é obrigado a segui-las.

Receita da felicidade

Receita da felicidade

Durante o curso de educação moral e cívica, através dos comandos TEM QUE e NÃO PODE, você vai sendo programado para ser feliz. É bem simples ser feliz. Você não precisa nem pensar. Basta acreditar e seguir as receitas que seus professores lhe imputam. Tem infinitos receitas para ser feliz. Tem receitas religiosos, ateus, quânticos, artísticos, políticos, modernos, pós-modernos, retros, brancos, pretos, amarelos, homossexuais, heterossexuais, capitalistas, comunistas, hippies, pró-culturas, contraculturas, agrícolas, urbanos, sertanejos, punks, norte americanos, sul-americanos, europeus, utópicos, distópicos, off tópicos, cibernéticos, analógicos e etc. Cada receita diz exatamente o que você TEM QUE fazer e NÃO PODE fazer para ser feliz. Não tem erro. É só seguir a receita passo a passo. “Mas por que ninguém vive bem se é simples assim?”, você me pergunta. Além das mentiras sobre o que é possível e impossível, pelos dois motivos que expliquei no capítulo anterior: 1) Você tem vontade própria. E você quer realizar sua vontade e não as receitas que seus educadores imputaram em você. Ou seja, você quer autorrealização e não outrorrealização. 2) “Não pode” é diferente de “não deve”. Então, tudo que é possível no egogame, pode. Você que decide se deve ou não, mas nada é obrigatório nem proibido, tudo é opcional.

Solucionática

Solucionática

“Entendi claramente qual é a problemática? Então, agora, por favor, me diga, qual é a solucionática?”. A solução, como em todo jogo, é você mudar de opção. Desde o início do curso de educação moral e cívica você deixou de ser cientista e tem optado por ser crente. A solução é deixar de ser crente e voltar a ser cientista. Melhor dizendo: autocientista.

PERGUNTAS

Quem inventou o programa humano?

Quem inventou o programa humano?

Não sei. E é irrelevante. Você sabe quem inventou o jogo de xadrez? Você precisa saber quem inventou o jogo de xadrez para jogar xadrez? Tem alguma relevância saber? O mesmo com a natureza humana.

Ser humano é ser limitado? Me sinto em uma jaula.

Ser humano é ser limitado? Me sinto em uma jaula.

Para jogar futebol você deve se limitar a usar apenas os pés e nunca as mãos. Essa é a graça de jogar futebol. Para jogar basquete você deve se limitar a usar apenas as mãos e nunca os pés. Essa é a graça de jogar basquete. Ou seja, a graça de jogar um jogo, seja qual for, está justamente em se limitar às regras daquele jogo. A experiência humana é o jogo de ser humano. Entender isso muda seu entendimento da função da limitação humana. Ao invés de você se sentir limitado, você se sente desafiado. Fazer muito com muito é fácil, não tem desafio nenhum, difícil é fazer muito com pouco. Conduzir uma bola usando as mãos, é fácil, não tem desafio nenhum, conduzir uma bola usando só os pés, é desafiador. E quanto maior o desafio, maior o prazer de vencê-lo. O mesmo com a limitação humana.

Se a programação do egogame nunca muda, como fica a evolução da ciência?

Se a programação do egogame nunca muda, como fica a evolução da ciência?

Fica igual a evolução de uma semente, igual a evolução de qualquer coisa dentro do egogame, faz parte das possibilidades do jogo. Dito isso, o que você está chamando de “evolução da ciência” é, de fato, “evolução da tecnologia” e não da ciência. As duas andam juntas, mas não são a mesma coisa.

A programação do egogame é estática, não muda?

A programação do egogame é estática, não muda?

Se mudasse seria impossível jogá-lo. Se mudasse você optava por uma jogada e resultava em outra. Como jogar um jogo assim? Impossível. Expliquei isso no capítulo DETERMINISMO E ARBÍTRIO. É impossível arbítrio sem determinismo.

Porque envelhecimento é inexorável?

Porque envelhecimento é inexorável?

Imagina um filme na Netflix como sendo sua vida. As coisas vão acontecendo, acontecendo, consequentemente, num desenrolar evolutivo de acontecimento. Só que no filme da Netflix tem a possibilidade de dar pause (parar o tempo) e dar um rewind (voltar o tempo). No egogame é impossível dar pause (parar o tempo) e dar rewind (voltar o tempo). Então, dentro do egogame, mesmo uma experiência de rejuvenescimento é um forward e não um rewind. O tempo cronológico não tem rewind, então, todo acontecimento, mesmo que for de rejuvelhecimento (aparentemente contra o tempo cronologico), é um forward (a favor do tempo cronológico).

Qual é o sentido de jogar egogame?

Qual é o sentido de jogar egogame?

O mesmo sentido de jogar qualquer jogo: se divertir. Pense no seguinte, você-ser existe. E só! Nada de ruim acontece, mas também nada de bom, pois absolutamente nada acontece no existir. Você-ser não tem nada para fazer nunca. Existir é um tédio absoluto e eterno. Então, para ter um pouco de diversão, você-ser decide jogar videogame. Tem várias opções de jogos. Você-ser pode ser minhoca, ser pedra, ser samambaia, ser gato, ser avestruz, ser rinoceronte, e ser humano. Você pensa: “Ser humano deve ser divertido, vou jogar esse jogo”. Você faz login no egogame e olha quanta diversão!

As pessoas que estão na minha realidade, inclusive você, são criações minhas?

As pessoas que estão na minha realidade, inclusive você, são criações minhas?

Sim, porque pessoa é realidade e realidade é sua decodificação da manifestação dos seres do universo. O que precisa ficar claro é que decodificar não é manifestar. Então, você não cria a manifestação dos seres do universo, você apenas decodifica as manifestações. Ao decodificar você trans_forma (dá forma) a essas manifestações. Pessoa é uma forma que você dá à manifestação de um ser.

Por que você usa a palavra paradigma ao invés de crença?

Por que você usa a palavra paradigma ao invés de crença?

Crença é a estrutura mental mais simples. Crença é tipo o bloquinho de lego do pensamento. Paradigma é uma estrutura mental complexa feita de várias crenças. Um paradigma é tipo um castelo de bloquinhos de legos, um castelo de crenças. Por isso optei pela palavra paradigma. Em alguns momentos eu troco a palavra “paradigma” por “mentalidade”. A palavra mentalidade também deixa evidente que o materialismo é uma estrutura mental mais complexa do que uma crença.

Qual é a utilidade do paradigma materialista?

Qual é a utilidade do paradigma materialista?

O paradigma materialista serve para você executar todas essas atividades físicas e práticas que você executa o tempo todo, como fritar um ovo e comê-lo, por exemplo. Porém, entender isso não esclarece qual é o problema do paradigma materialista. Para você entender o problema do paradigma materialista deve se perguntar o inverso: “Para que NÃO SERVE o paradigma materialista?”. O paradigma materialista não serve para explicar o que é a vida e o que é ser humano. E por que não serve? Porque se servisse, já tinha servido, já tinha explicado, e você viveria bem.

Como faço para pensar diferente?

Como faço para pensar diferente?

Minha resposta para sua pergunta dá um livro. Vou tentar resumir. Primeiramente, honre ter um cérebro e pense. Pare de alimentar sua preguiça mental. Seu cérebro é como um músculo e a única forma de você exercitá-lo é pensando, e pensando, e pensando, sempre e mais. Quanto mais você pensa, mais aumenta sua musculatura mental. Quando você alimenta sua preguiça mental, sua capacidade de pensar atrofia igual qualquer outro músculo do seu corpo. Dito isso, ajuda alheia é bem-vinda. Entre em contato com diferentes jeitos de pensar. Pare de alimentar sua cabeça com mais do mesmo. Se você está acostumado a pensar de forma artística, entre em contato com o jeito científico de pensar. Se você está acostumado a pensar de forma religiosa, entre em contato com o jeito ateu de pensar. Se você está acostumado a pensar de forma masculina, entre em contato com o jeito feminino de pensar. E assim por diante. Vá atrás de jeitos de pensar que desestruturem suas convicções, que tirem o chão debaixo dos seus pés, que tragam caos para dentro da sua ordem, que tragam o inferno para dentro do seu paraíso, que te façam perder o sono ao invés de dormir. Abrace o ponto de vista inaceitável, a explicação estranha, o jeito de pensar que parece loucura. Enfim: erre!

Como a lógica existencial explica as leis da natureza?

Como a lógica existencial explica as leis da natureza?

Você e todos os seres humanos estão experimentando uma realidade humana porque estão usando uma interface de comunicação humana. A realidade humana que você e todos os seres humanos estão experimentando tem aspectos. A cultura humana determina palavras para cada aspecto: matéria, objeto, deslocamento, velocidade, altura, cor, luz, energia, líquido, som, natureza e leis da natureza. Então, as leis da natureza não são leis naturais, são criações da interface de comunicação humana. Pense em um videogame. Na realidade virtual de um videogame também tem “leis da natureza”, só que você sabe que são criações do videogame. Nessa experiência humana que você está tendo, é a mesma coisa, só que você ignora que são criações do vídeo game humano (egogame).

AULAS

FRASES

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