Esse livro irá conduzir você em uma prática de auto-observação existencial. Reproduza fisicamente — passo a passo — tudo que está explicado. Se você não tiver um despertar existencial na primeira vez que fizer esse exercício, não se preocupe, não é falta de capacidade, é o hábito do materialismo que está lhe atrapalhando. Repita esse exercício quantas vezes for necessário, sem pressa e com atenção, que inevitavelmente você irá despertar a consciência existencial.
Fique consciente de um objeto na sua realidade. Qualquer objeto. Aponte para esse objeto. Não use a imaginação, aponte de fato, usando o dedo. Assuma que a ponta do seu dedo é o ponto A e o objeto para o qual está apontando é o ponto B. Fique consciente que o objeto no ponto B é uma experiência visual feita de cores, forma e dimensões (altura, largura e profundidade). Fique consciente que existe distância entre o ponto A e o ponto B. Fique consciente que o objeto no ponto B está contido no espaço.
Fique consciente de outro objeto na sua realidade. Qualquer objeto. Aponte para esse objeto. Não use a imaginação, aponte de fato, usando o dedo. Assuma que a ponta do seu dedo é o ponto A e o objeto é o ponto B. Fique consciente que existe distância entre o ponto A e o ponto B. Fique consciente que o objeto no ponto B é uma experiência visual, feita de cores, forma e dimensões (altura, largura e profundidade). Fique consciente que o objeto no ponto B está contido no espaço.
Fique consciente do seu corpo. Aponte para uma parte do seu corpo. Seu pé, por exemplo. Não use a imaginação, aponte de fato, usando o dedo. Fique consciente que seu pé também é uma experiência objetiva (experiência de objeto). Assuma que a ponta do seu dedo é o ponto A e seu pé é o ponto B. Fique consciente que existe distância entre o ponto A e seu pé no ponto B. Fique consciente que seu pé no ponto B é uma experiência visual feita de cores, forma e dimensões (altura, largura e profundidade). Fique consciente que seu pé está contido no espaço.
Aponte para todas as partes do seu corpo que consegue ver. Suas mãos, seus braços, suas pernas, sua barriga, etc. Fique consciente que seu corpo inteiro é uma experiência objetiva (experiência de objeto). Assuma que a ponta do seu dedo é o ponto A e as partes do seu corpo são pontos B. Fique consciente que existe distância entre o ponto A e as partes do seu corpo no ponto B. Fique consciente que as partes do seu corpo no ponto B são experiências visuais feitas de cores, formas e dimensões (altura, largura e profundidade). Fique consciente que seu corpo está contido no espaço.
Aponte para a consciência que está consciente dos objetos na sua realidade. Como você está fazendo esse exercício focado na experiência visual, aponte para sua visão. Não use a imaginação, aponte de fato, usando o dedo, tal como na imagem acima. Assuma que a ponta do seu dedo é o ponto A e a consciência que está consciente da sua realidade é ponto B.
Cadê a consciência no ponto B? Você consegue ver a consciência no ponto B? Qual é a distância entre o ponto A e a consciência no ponto B? Qual é a dimensão da consciência no ponto B? Qual é a forma da consciência no ponto B? Qual é a cor da consciência no ponto B? A consciência no ponto B está contida no espaço?
O ponto B é a consciência, o observador, o experimentador, a testemunha, a quarta parede, o espírito, o ser, etc. Por motivos pedagógicos chamarei o ponto B de consciência e o ponto A de realidade, mas independe do nome, ao se perguntar sobre a natureza do ponto B, você irá constatar que:
Embora seja impossível observar a consciência assim como você observa a realidade. Embora a realidade seja cognicivel e a consciência seja incognoscível. Embora a consciência não tenha dimensão, nem cor, nem forma, assim como a realidade. Embora a consciência não seja um objeto. Embora a consciência não esteja contida no espaço, assim como os objetos. Embora não exista distancia entre a realidade (ponto A) e a consciência (ponto B).
Enfim, embora a consciência não possua nenhuma grandeza ou qualidade, é inegável que existe. Caso contrário, quem estaria consciente do ponto A? Quem estaria consciente do dedo? Quem estaria consciente da realidade?
Iluminou? Saiu do materialismo? Finalmente descobriu seu lugar no universo? Ótimo! Mas tem um erro nesse entendimento acima. Sabe qual?
Não é só a ponta do dedo que está apontando para o ponto B, é toda a realidade. Todos os pontos da realidade que você está experimentando estão (agora e sempre) apontando para você-observador. Todos os pontos da realidade da qual você está consciente estão (agora e sempre) apontando para você-consciência.
Sendo assim, sua realidade inteira é o ponto A. Sua realidade inteira é um dedo apontando para você-consciência.
Mas ainda tem um erro no entendimento acima. Sabe qual?
O erro é que está faltando você-consciência. Se realidade é tudo, cadê você-consciência? Vamos adicionar você-consciência nesse entendimento.
Se tudo é B (consciência), cadê a realidade (A). Ainda tem um erro. Sabe qual?
O erro é a suposição de separação. Você-consciência não está além da sua realidade. Sua realidade é imanente a sua existência. Sua realidade é seu estado existencial (estado de ser). Imanência é igual sonho. Em um sonho, o sonhador não está além do sonho, sonhador e sonho são uma coisa só. A separação entre sonhador e sonho não é espacial, é causal. O sonhador é a fábrica do sonho. A separação entre você-consciência e você-realidade também não é espacial, é consciencial. Você-consciência é o permanente saber e sua realidade é o transitório sabido. Você é o saber no sabido. Essa é a porta de entrada para o despertar existencial. Toda vez que quiser ir direto ao ponto, basta ficar consciente disso.
Se você realmente ficou consciente de tudo que foi apontado até aqui, você despertou para sua natureza existencial. Você-ser é a consciência no ponto B. Você-ser é o observador da sua realidade. Iluminação é assim: a volta dos que não foram. Bem-vindo de volta ao lugar de onde você nunca saiu! Você-ser sempre esteve no ponto B e sempre estará. Só que você estava adormecido (inconsciente).
Por isso iluminação também recebe o nome de despertar da consciência. Esse despertar desloca a fonte da sua identidade. Antes do desperta, a fonte da sua identidade é a realidade. Você se entende como sendo um corpo, que mora em uma determinada cidade, que pertence a uma determinada família, que tem uma determinada profissão, que gosta e odeia determinadas coisas, que acredita e dúvida de determinadas verdades, etc.
Depois do despertar, a fonte da sua identidade é a consciência. Nada muda na sua realidade. Absolutamente nada. Você continua tendo a experiência de que é um corpo, que mora em uma determinada cidade, que pertence a uma determinada família, que tem uma determinada profissão, que gosta e odeia determinadas coisas, que acredita e dúvida de determinadas verdades, etc. Só que você vive consciente de que isso é sua experiência e não sua identidade.
Como diz o provérbio zen: “Antes da iluminação, cortar lenha e carregar água. Depois da iluminação, cortar lenha e carregar água”. Se você realmente despertou para sua natureza existencial, meus parabéns! Você deu um enorme passo no autoconhecimento. Mas a brincadeira do autoconhecimento não acabou, começa agora. Sua realidade não deixará se ser desagradável, insatisfatória e frustrante. Continuará do mesmo jeito. Iluminação não muda o jogo, muda seu jeito de jogar. Bom jogo!