Diferença entre xícara e penico

08/06/2024 by in category Realidade multimídia, Textos tagged as , , with 0 and 0

Qual é a diferença entre a xícara e o penico? Se você não sabe, não me convide para tomar café na sua casa. Pode rir, eu espero. Pronto? Bom, essa brincadeira, aparentemente boba, aponta para uma sabedoria profunda: sem discernimento é impossível viver bem.

Você não se dá conta disso porque discernimento é um processo mental que acontece de forma automática. Você só percebe que está sempre discernindo quando o discernimento falha. Por exemplo, quando você pega a colher para cortar o pão, ou veste a camisa do pijama para ir trabalhar. Quem nunca?

Discernimento é mais que importante, é questão de sobrevivência. Imagina se você fosse incapaz de discernir a diferença entre carro e árvore, você morreria atropelado.

Discernimento entre objetos não é um problema. Você tem bastante competência nisso. O problema é outro tipo de discernimento. Me refiro ao discernimento psicológico. Assim como é fundamental discernir entre um carro e uma árvore, também é fundamental discernir entre amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, medo, inveja, ciúmes, ansiedade e todos os sentimentos e emoções que você experimenta ininterruptamente.

Mas esse também não é o principal problema. Tem um terceiro tipo de discernimento em que você fracassa muito e não percebe. É o discernimento entre realidade e imaginação. Você acredita que tem esse discernimento apurado, mas não tem. Se você tivesse, não vivia sofrendo por hipótese.

John Nash, do filme Uma Mente Brilhante, por exemplo, por falta desse tipo de discernimento, acreditava que era perseguido por uma organização secreta e que seus colegas e familiares faziam parte de uma conspiração contra ele. Isso afetou sua vida pessoal e profissional, levando a períodos de internação em hospitais psiquiátricos e à perda de sua posição acadêmica.

“John Nash era esquizofrênico”, você pode dizer, tentando se colocar para fora do hospício. Mas você também não conversa com seus pensamentos? Então! Pode voltar para o hospício.

Todo ser humano é esquizofrênico, pois é natural da experiência humana viver simultaneamente em duas realidades: objetiva e simulada (imaginária). A diferença é que os lúcidos sabem que são loucos, enquanto os loucos acreditam que são lúcidos. Resultado? Os lúcidos tomam café em xícaras e os loucos em penicos.

Se você anda tomando café em penico, não se desespere, tem solução! Até John Nash conseguiu vencer sua esquizofrenia. Discernimento é como um músculo: quanto mais você exercita, mais seu discernimento se desenvolve. Então, bora! Todo instante é uma oportunidade de prática.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari