Certa vez, pensei em colocar a música Dia Branco no começo do encontro.
A letra diz assim: “Se você vier / Pro que der e vier / Comigo / Eu lhe prometo o sol / Se hoje o sol sair / Ou a chuva / Se a chuva cair / Se você vier / Até onde a gente chegar / Numa praça / Na beira do mar / Num pedaço de qualquer lugar / Nesse dia branco / Se branco ele for / Esse tanto / Esse canto de amor / Se você quiser e vier / Pro que der e vier / Comigo”.
Queria fazer uma espécie de Método Matrix De Escolha Por Correspondência. Primeiro eu perguntaria aos participantes se estavam abertos ao que der e vier. Daí, tocaria a música. Enquanto a música estivesse tocando, cada um tomaria sua decisão. Quem estivesse aberto, permaneceria ali. Quem não estivesse, era só ir embora, sem problemas.
Só que no meio do gramado do Ibirapuera não tem tomada para ligar aparelho de som. Então, fui na rua Santa Efigênia, tradicional reduto de lojas de eletrônicos em São Paulo, em busca de uma solução. Encontrei uma caixa amplificada com bateria interna recarregável. Eu podia ligar um MP3 player na caixa e estava resolvido.
Mas ainda faltava um jeito de levar a caixa amplificada até o parque do Ibirapuera. A solução foi comprar um carrinho de mão, parecido com carrinho de feira, mas aberto na frente.
No domingo, depois do almoço, chamei minha esposa para irmos juntos ao encontro. Ela disse que não queria andar até o Ibirapuera debaixo daquele sol, que não estava a fim de conversa metafísica, ser ou não ser, quem veio primeiro, o ovo ou a galinha, e que iria ficar em casa. Coloquei a caixa amplificada em cima do carrinho e fui sozinho.
Foram três quilômetros puxando o carrinho debaixo de um sol de rachar mamona. E mais! Da entrada do parque até o planetário, que era o ponto de encontro, tinha mais um quilômetro.
Cheguei no planetário ensopado e resmungando. Cuspi meia dúzia de marimbondos, comprei uma água gelada e fiquei esperando os participantes chegarem. Quando deu o horário, ninguém chegou. Passaram-se 10 minutos e ninguém chegou. Passaram-se 20 minutos e ninguém chegou. Passaram-se 30 minutos e ninguém chegou. Passou uma hora e ninguém chegou.
Daí, caiu a ficha! Eu havia criado aquele exercício para mim mesmo. Liguei a caixa de som e coloquei a música para tocar. Quando terminou, respondi sim e voltei puxando o carrinho, sem reclamar.