Fui aplicar uma prática de autociência em um retiro de fim de semana e pedi que os participantes identificassem a emoção desagradável mais recorrente na experiência deles. Noventa por cento dos participantes disseram “ansiedade”.

Ansiedade é uma experiência humana. Animais não ficam ansiosos esperando chegar sexta feira, por exemplo. E por que não? Porque animais não sabem o que é sexta feira. Animais não tem noção de tempo. Só seres humanos são livres para viajar no tempo. Mas toda liberdade tem um preço. Um passarinho é livre para voar. O preço da liberdade do passarinho é usar bem as asas para não se esborrachar no chão. O preço da liberdade humana de viajar no tempo é usar bem a imaginação para não viver fritando de ansiedade.

Olhe para todos os objetos e sistemas de organização que você conhece e usa diariamente. Desde as coisas mais simples, como um clips, até as coisas mais complexas, como um telefone celular, desde os sistemas de organização mais simples, como as horas, até os sistemas de organização mais complexos, como um idioma. É tudo fruto da imaginação humana. A imaginação humana é Deus em pessoa. Contudo, mais extraordinária ainda, é a incompetência humana em usar bem a imaginação.

Eis o motivo de noventa por cento dos participantes do retiro sofrerem de ansiedade. Ansiedade é a emoção que você experimenta quando viaja para o futuro. Ansiedade tem duas polaridades. Quando você viaja para um futuro desejado, você anseia que tal futuro se realize logo. Esse tipo de ansiedade você chama de ansiedade mesmo, ou pressa. Quando você viaja para um futuro indesejado, você anseia que tal futuro não se realize nunca. Esse tipo de ansiedade você chama de medo.

Até aí tudo bem. O problema começa quando você esquece que o presente não é resultado só do seu arbítrio. Quando você decide viajar para o passado, ninguém tem como interferir nisso. Você é o único que controla sua experiência de passado. Quando você decide viajar para o futuro, ninguém tem como interferir nisso. Você é único que controla sua experiência de futuro. Só que você não é o único que controla sua experiência de presente. Os outros interferem no seu presente.

É aí que começa seu mal viver. Para que seu presente seja idêntico ao que você imagina, você precisa controlar a interferência dos outros. Só que isso é impossível, pois você só controla seu arbítrio, você não controla o arbítrio dos outros. Então, quanto mais você tenta apressar os outros, mais você fica preso na ansiedade, e quanto mais tenta bloqueá-los, mais fica preso no medo.

Qual é a solução? Simples! Ficar consciente que você só controla seu arbítrio e parar de tentar controlar o arbítrio dos outros. Ansiedade só é um problema quando você fica preso nela, fritando igual pastel de feira no óleo quente. E você só fica preso na ansiedade quando esquece que o presente é uma construção coletiva resultante do arbítrio coletivo.

Fique consciente disso e você deu o primeiro passo para lidar bem com a ansiedade. O segundo passo é desenvolver uma competência chamada paciência. Falo sobre a prática da paciência no texto TERCEIRA MARGEM DO RIO. Se estiver disposto a dar o segundo passo, recomendo a leitura.

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