Crédito ou débito?

22/12/2024 by in category Capitulos, Marx tagged as , , with 0 and 0

— Qual é o problema em precisar de dinheiro para sobreviver? — pergunta Marx.

— Marx, Marx, Marx, meu caro Marx, — diz o unicórnio — vai passar essa vergonha no crédito ou no débito?

— Hahahaha! No crédito! — responde Marx.

— O problema de você precisar de dinheiro para sobreviver é que você não precisa de dinheiro para sobreviver — diz o unicórnio.

— Putz! Tô devagar! Não entendi! — diz Marx — Acabamos de conversar que dinheiro é o novo oxigênio, questão de vida ou morte, que é preciso dinheiro para sobreviver.

— Novamente te pergunto: você come dinheiro? — diz o unicónio.

— Isso eu já entendi. Não como dinheiro, como comida: arroz, feijão, batata, ovo, melão, manga, etc. Mas preciso de dinheiro para comprar comida. Então, preciso de dinheiro para sobreviver. Esse é o problema?

— Não, o problema não é esse! — diz o unicórnio.

— Então, qual é? — pergunta Marx.

— O problema é que você acredita que precisa de dinheiro para sobreviver. Você não precisa de fato, você apenas acredita que precisa — diz o unicórnio.

— Como vou comprar comida sem dinheiro? — pergunta Marx.

— Não vai! É impossível — responde o unicórnio.

— Tá vendo! É preciso ter dinheiro para sobreviver, porra!!!! — diz Marx.

— Marx, Marx, Marx, meu caro Marx, — diz o unicórnio — vai passar mais essa vergonha no crédito ou no débito?

— Hahahaha! Vou passar essa no débito também! — responde Marx.

— É preciso ter dinheiro para COMPRAR comida e não para sobreviver. — diz o unicórnio — Se fosse preciso ter dinheiro para sobreviver todos os outros seres do planeta já estariam mortos, pois não existe dinheiro na natureza. Cavalo tem dinheiro? Periquito tem dinheiro? Samambaia tem dinheiro? Já viu vaca fazendo compra no supermercado?

— Mas esses não são seres humanos! — diz Marx, apelando para o último recurso lógico que lhe sobrou.

— Marx, Marx, Marx, meu caro Marx, — diz o unicórnio — vai passar mais essa vergonha no crédito ou no débito?

— Hahahaha! No débito também, se eu ainda tiver algum! — responde Marx.

— Índios são seres humanos e também não precisam de dinheiro para sobreviver — diz o unicórnio.

— Mas não posso chegar no supermercado e pegar uma manga na prateleira igual um índio pega uma manga no pé! — diz Marx.

— Por que não? — pergunta o unicórnio.

— Porque é crime! É roubo! — diz Marx.

— E o que é roubo? — pergunta o unicórnio.

— É apropriação indevida da propriedade alheia! — responde Marx.

— E a manga é propriedade de quem? — pergunta o unicórnio.

— É propriedade do dono do supermercado! — responde Marx.

— E quem foi que disse isso? A mangueira? Hahahahaha. Marx, Marx, Marx, meu caro Marx, você não cansa de passar vergonha? — diz o unicórnio — A manga não é propriedade de ninguém. Propriedade é uma invenção que faz parte da estratégia que os 100 espertos usam para controlar os 8 bilhões de otários. Se tem algum ladrão nessa história, são os inventores dessa mentira chamada “propriedade”. Não estou falando nenhuma novidade. O companheiro Rousseau já explicou isso faz tempo.

— O primeiro homem que inventou de cercar uma parcela de terra e dizer “isto é meu”, foi o autêntico fundador da sociedade civil. De quantos crimes, guerras, assassinatos, desgraças e horrores teria livrado a humanidade se aquele, arrancando as cercas, tivesse gritado: “Não, impostor” — diz Marx, citando uma célebre frase de Rousseau.

— Exatamente! — diz o unicórnio — O capitalismo está fundado na farsa da propriedade. Por isso é imprescindível que todos os seres humanos acreditem nessa mentira. Se você tiver consciência que o dono do supermercado não é dono da manga, como ele vai te vender a manga? Não vai! Você apenas pega a manga na gôndola, igual um índio pega a manga no pé.

— Daí a polícia me prende! — diz Marx.

— Com certeza, pois a função da polícia é fazer você se lembrar que a mentira da propriedade é verdade. — diz o unicórnio.

— Mas todo mundo acredita na mentira da propriedade e também que é preciso COMPRAR comida para sobreviver! — diz Marx.

— Sim, claro! As crianças aprendem isso na escola. Os pais ensinam isso aos filhos. E se depender dos 100 no topo da pirâmide, vai continuar assim eternamente. Caso contrário, como 100 vão conseguir escravizar e explorar 8 bilhões?

— Puta que pariu! Inacreditável! 8 bilhões de seres humanos vivendo na merda, escravizados e explorados dia e noite, tudo porque acreditam na farsa da propriedade e de que precisam de dinheiro para sobreviver. É muita burrice! Muita burrice! O problema não é o dinheiro, nem o capitalismo, nem os 100 espertos, o problema é a burrice. Somos 8 bilhões de trouxas!

— Exatamente! — diz o unicórnio — Vai passar essa vergonha no crédito ou no débito?

— Hahahahahaha! Estou rindo, mas é de desespero! — diz Marx.

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