Houve um tempo em que você podia plantar qualquer planta no quintal da sua casa. Daí, a sociedade criou uma lei para proibir a plantação de maconha. Desse momento em diante plantar maconha se tornou um crime. Se você plantar maconha no seu quintal, será considerado criminoso e será punido. Tem países em que essa lei não existe, logo, esse crime não existe.

É a lei que cria o crime e não o contrário. O mesmo acontece com o errado. É o certo que cria o errado e não o contrário. Tudo é o que é, nem certo, nem errado, até que alguém crie uma lei, ou seja, um certo. Daí, por contraposição, surge o errado. Por exemplo, o lugar onde uma toalha está é apenas o lugar onde a toalha está. Daí, alguém cria uma lei de que o lugar certo da toalha é pendurada no banheiro. Pronto! Imediatamente se torna errado deixar a toalha em cima da cama, se torna um crime. Se você deixar a toalha em cima da cama, você se torna um criminoso merecedor de punição.

É por isso que as pessoas te punem, fazendo cara feia, xingando, dando bronca, puxando sua orelha, te cancelando, ou mesmo te batendo. Você é um criminoso. Você pode não saber qual é o seu crime, o que fez de errado, mas as pessoas que estão te punindo sabem. O mesmo acontece quando você pune os outros. Toda vez que alguém desrespeita suas leis, essa pessoa se torna uma criminosa. Todo criminoso é merecedor da sua punição. Por isso você também pune os outros.

Você vive policiando e punindo os outros por conta dessas leis pessoais dentro de você. O outro faz o mesmo. Como uma convivência assim, de polícia e bandido, pode ser boa? Não pode! Mas o problema não é ter leis pessoais. O problema é ignorar que essas leis pessoais são pessoais, ou seja, que estão dentro de cada um e não escritas na pedra. Até que a sociedade decida colocar na constituição que o lugar certo da toalha é pendurada no banheiro, ninguém tem como saber que existe essa lei, nem que colocar a toalha em cima da cama é um crime.

Seres humanos convivem sob o equívoco de que suas leis pessoais são de conhecimento de todos e obrigatória para todos. Não são! Você não sabe quais são as leis pessoais dos outros e, mesmo que soubesse, não tem obrigação de segui-las. O outro não sabe quais são suas leis pessoais e, mesmo que soubesse, não tem obrigação de segui-las. Através do diálogo vocês podem descobrir e, ao invés de conviverem como polícia e bandido, conviverem como seres humanos com critérios diferentes.

© 2023 • 1FICINA • Marcelo Ferrari