Estou pendurado na internet quando ouço o pedido: “Por favor, tire essa toalha molhada de cima da cama e a pendure no banheiro”. Pego o ser de pano pelo meio e o penduro no gancho, perto do chuveiro. A toalha fica surpresa no ar. Meu olhar se despendura de mim e vai buscar um ponto fixo na parede, mas escorrega de marcha ré até um ponto de interrogação:
“A toalha está pendurada no gancho, que está pendurado na parede, que está pendurada na casa, que está pendurada na rua, que está pendurada no bairro, que está pendurada na cidade, que está pendurada no estado, que está pendurada no país, que está pendurada no continente, que está pendurada no planeta, que está pendurada na galáxia… Se tudo que vem a vista está pendurado em algum ponto, onde está dependurado o ponto de vista?”.
Era uma vez um cientista que negava a existência de câmeras fotográficas. Ele dizia que não havia evidência. Foi então, que outro cientista, amigo seu, marcou um encontro para ele com uma câmera fotográfica no laboratório.
A câmera fotográfica chegou primeiro e ficou aguardando o cientista. O tempo foi passando e o cientista não aparecia. Como já estava tarde e a câmera fotográfica precisava ir embora, ela bateu uma fotografia do laboratório e deixou a fotografia sobre o balcão. Com a fotografia, ela deixou um bilhete: “Caro cientista, estive aqui para o nosso encontro, mas como você não apareceu, deixo esta fotografia do laboratório como prova da minha existência”.
No dia seguinte, o amigo do cientista lhe perguntou sobre o encontro. Ele respondeu:
— Meu carro quebrou e quando cheguei no laboratório a suposta câmera fotográfica já havia ido embora, só tinha esta fotografia no balcão.
O amigo indagou se agora, com a fotografia de prova, ele reconhecia a existência de câmeras fotográficas. O cientista respondeu:
— Claro que não! Eu examinei cada detalhe dessa fotografia e não encontrei a câmera fotográfica em lugar nenhum da imagem.
Para entender a realidade não adianta olhar para fora e entrar dentro do fora, dentro do observado, é preciso inverter o olhar e entrar dentro do dentro, dentro do observador. Assim como é impossível a câmera fotográfica aparecer na fotografia, mas é evidente que ela existe, também é impossível observar a consciência, mas também é evidente que a consciência existe.
O método científico da observação, criado com sangue e suor pelos cientistas, é o único método capaz de retirar um ser humano da superstição e levá-lo até o óbvio. Toda gratidão e honra aos cientistas por isso. Porém, o método científico é alicerçado na mentalidade materialista e ao aplicá-lo no estudo da realidade, ele cria o problema que está tentando solucionar.
Não tem como entender a realidade partindo da suposição de que a consciência é um produto da realidade. Acreditar nisso é o mesmo que acreditar que a câmera fotográfica é um produto da fotografia. Para entender a realidade é preciso aplicar o método científico no próprio método científico, é preciso observar a observação, é preciso usar o método da auto-observação.
Inferência é muito importante na ciência e na autociência. Têm coisas que não são possíveis de serem comprovadas através da observação direta. A lei da gravidade, por exemplo, é uma inferência. Nunca ninguém viu a lei da gravidade. O que vemos é a queda dos objetos. As coisas caem. Isso vemos. Daí se inferiu uma força que regula o comportamento dos corpos e se deu a essa dedução o nome de lei da gravidade. A eletricidade também é uma inferência. Alguém levou um choque e a partir do choque deduziu uma teoria de transmissão de energia que recebeu o nome de eletricidade. Tem vários exemplos de inferência na ciência. Na autociência também tem inferência.
Tudo que é existencial não é passível de observação direta, só se torna conhecido por inferência. A inferência existencial é inegável, mas é uma inferência. A primeira inferência existencial é você-consciência.
Nunca ninguém jamais observou, nem jamais conseguirá observar a consciência, pois consciência é a própria capacidade de observação. Contudo, o resultado da observação é inegável. Você vê objetos, sente cheiros, sente o peso dos objetos, a temperatura, a textura, o sabor, etc. Logo, você-consciência é inegável, pois como você poderia saber qualquer coisa se você não fosse senciente, se não fosse saber?
Fazendo uma analogia, o olhar nunca viu o olhar, nem jamais verá, contudo, é inegável que o olhar existe. A prova disso são os objetos que o olhar vê. O olhar também é uma inferência, não é uma observação direta.
Enfim, você-consciência é inegável, mas é uma inferência. Você-consciência é a primeira inferência existencial.
“Ninguém nasce sabendo”, diz o ditado popular. Isso é um equívoco. Claro que você não nasce sabendo andar, falar português, nem nada do que aprende depois que nasce. Mas se você não nascesse sabendo, como saberia que nasceu? E mais! Quando você não sabe de algo, como saberia que não sabe?
O que você aprende depois que nasce, não é saber, é sabedoria. Andar é sabedoria, falar português, é sabedoria. Você pode aprender infinitas sabedorias, desde fazer tricô a dar um salto duplo mortal carpado, mas é impossível aprender a saber. Se fosse possível, bastaria matricular um cego em um curso de ótica e ele começaria a enxergar.
Saber é capacidade perceptiva inata. Saber é anterior ao que você está sabendo. Por isso que toda experiência passa e o saber permanece. Saber é parte da sua natureza existencial. Você é saber. Só que você não sabe disso. Você ignora sua natureza existencial. Por quê?
Imagine que você fosse incapaz de fechar os olhos, o que aconteceria?
(1) Você confundiria o que você está enxergando (visto) com a visão (ver).
(2) Você não saberia o que é enxergar porque não saberia o que é não-enxergar.
É impossível não saber, por isso:
(1) Você confunde o que está sabendo (sabido) com o saber.
(2) Você não sabe o que é saber porque não sabe o que é não-saber.
Resumindo: você ignora que é consciência porque é consciência.
Você-existência é a segunda inferência existencial. Você-existência é uma obviedade baseada na impermanência da realidade. Sendo que a realidade observada é impermanente (acontece), logo, isso que observa, existe, ou seja, é permanente. É através da impermanência da realidade que se faz a inferência da sua existência, daquilo que é permanente: você-existência.
Você-potência é a terceira inferência existencial. Você-potência é uma obviedade baseada na manifestação da realidade. Sendo que a realidade é manifesta, logo, existe uma vontade criando a realidade. É através da inegabilidade da criação que se faz a inferência da potência, daquilo que cria a realidade: você-potência.
Caso a consciência fosse negável, todas as duas inferências subsequentes, a existência e a potência, não teriam como serem inferidas. Só que é impossível negar a consciência, pois até para negar a consciência você precisa de consciência. Tente negar sua consciência e comprove isso.
Por fim, escrevi esse livro por três motivos:
1) Esse livro explica porque algumas escolas param na consciência e não explicam a existência e a potência do ser que você é. Uma vez que se desperta a consciência para consciência, é preciso seguir na inferência para ficar consciente dos outros dois aspectos da unitrindade do ser: a existência e a potência.
2) Esse livro explica no que me baseio para afirmar a unitrindade do ser. Me baseio na auto-observação e na inferência.
3) Agora que você tem o mapa do caminho, seja um autocientista: percorra o caminho.
Você está sempre manifestando 100% do seu potencial, igual uma televisão que está sempre manifestando 100% da imagem na tela. Pode ser que o filme que a televisão está manifestando esteja apenas 10% em acordo com o desejo da televisão, mas isso não significa que a televisão não está manifestando 100% do seu potencial, significa que a televisão não está produzindo uma manifestação 100% sintonizada com seu desejo. A televisão está 90% dessintonizada. O mesmo acontece com você. Sua realidade é sempre 100% do seu potencial de criação, mas se você a considera indesejada, é porque não é uma realidade 100% sintonizada com seu desejo. Para aumentar a porcentagem de sintonia da sua realidade com seu desejo, você precisa praticar autoanálise e descobrir o que está bloqueando a sintonia.
Observando o fluxo da sua criação de realidade. Observe como o fluxo da sua criação de realidade é guiado, instante após instante, através do seu arbítrio. Nesse instante, por exemplo, você está experimentando a leitura desse texto porque está executando o arbítrio nesse sentido, se optar por parar com a leitura e ir até a cozinha beber água, é isso que irá experimentar.
Sim e não. Esse é o ponto! Quando você-humano descobre que é ser, quem descobriu não foi você-humano, foi você-ser, pois você-humano não tem consciência. A consciência que você-humano aparenta ter, não pertence a você-humano, pertence a você-ser. Quem está em estado de ignorância não é você-humano, é você-ser que acredita que é só-humano. Por isso, quando você-humano desperta, na verdade, quem despertou foi você-ser.
Raciocínios (pensamentos) surgem na auto-observação porque são objetos psicológicos observados. Basta perceber isso. Só perceber. Observe os pensamentos superficialmente. Seu trabalho na auto-observação existencial não é entrar na lógica dos raciocínios, é apenas constatá-los como realidade (experiência). Raciocínios são experiências. Só isso. Se você entrar em processo de análise, se entrar na lógica de um raciocínio, tudo bem, você nem irá perceber que entrou e tão logo perceber, é porque já saiu.
O conceito de “ser = existência” é uma pedagogia. O conceito de “ser = pré-existência” também é uma pedagogia. Ambas pedagogias têm o mesmo propósito: apontar para você-ser (ser que você é). Tem pessoas que não conseguem entender a diferença entre existência e realidade de jeito nenhum. São pessoas de mentalidade altamente materialista, que acreditam que existência é tudo que existe, pronto, acabou, fim de papo. Para apontar o ser para esse tipo de pessoas, uso a pedagogia da “pré-existência”. Digo para elas que o ser “pré-existe”, que é anterior a existência.
A pedagogia da “pré-existência” não é a melhor explicação, pois ainda contém a confusão entre realidade e existência. Mas pode ajudar nesses casos em que o aluno está profundamente adormecido na mentalidade materialista. Pelo menos o aluno começa a entender que o ser é a fábrica antecede o produto, é a causa antecede o efeito. Entender isso já é uma vitória. Na maioria das vezes, eu prefiro usar a pedagogia da existência-causa e realidade-efeito. Em todos os livros eu uso essa pedagogia.
Usei a pedagogia da pré-existência um tempo, mas abandonei. Em alguns vídeos, a pedagogia da pré-existência permanece, pois não tenho como editar os vídeos tal como edito os textos. Em vez de deletar os vídeos para padronizar a pedagogia, por enquanto, estou mantendo, são bons vídeos e o dano pedagógico é pouco. Mas enfim, você, ser, voser, existência, pré-existência, são palavras diferentes para apontar para mesma coisa: você-ser.
O que difere é que eu não sou você. Eu sou um ser e você é outro ser. Eu sou uma unicidade existencial e você é outra unicidade existencial. Eu sou uma unitrindade e você é outra unitrindade. O que iguala é que sou um ser igual você, sou uma unicidade existencial igual você, sou uma unitrindade igual você e vice versa. Ou seja, somos igualmente diferentes.
A ciência, como estudo da realidade externa, desaparecerá, e os cientistas entenderão que, mesmo inconscientes, estavam praticando autociência. E tem mais! Se a realidade não é externa, se é virtual e imanente a você, criador da realidade, as leis naturais também são. Essa será a grande revolução da ciência, ela deixará de ser um estudo da realidade externa e se tornará o estudo da natureza humana, que cria a realidade que parece externa. Os cientistas irão descobrir que tempo e espaço fazem parte do sistema operacional humano (natureza humana). E não terão descoberto nada de novo. O filósofo Emanuel Kant, por exemplo, já explicou isso faz tempo.
Porque ignoram que o ser é uma unitrindade. E entendo porque ignoram. São dois motivos: 1) A inferência da consciência é a mais fácil de inferir. A inferência da potência é muito difícil de inferir. 2) Seus antecessores (professores desses professores) também só inferiram a consciência, então, apenas repetem o que aprenderam por tradição.
Um professor que entende e considera o ser apenas como consciência está usando um mapa incompleto do ser. E sendo assim, faz todo sentido afirmar que não existe arbítrio. Um cego, ao abrir a torneira de um chuveiro, também concluiria que não é responsável pela água que está caindo sobre sua cabeça.
Por fim, vale observar que a psicologia, por outro lado, tem um mapa bem detalhado sobre o funcionamento do desejo, mas sendo que a potência do ser (desejo) é existencial, a psicologia também não entende a razão primordial do sofrimento. O mapa da psicologia também é incompleto.
Mentalidade e crença são o mesmo. Sua mentalidade é feita de crenças. Uma mentalidade é um conjunto de crenças. Crenças são objetos da sua observação. Você observa suas crenças. Sua observação altera suas crenças. Por exemplo, você acredita que as crianças vêm ao mundo trazidas pela cegonha. Daí você observa uma mulher grávida em trabalho de parto e essa observação altera sua crença sobre o nascimento das crianças.
Não! Mentalidade e consciência não são sinônimos. Fazendo uma analogia da visão com a consciência e da mentalidade com o conhecimento, não importa quanto conhecimento você tem sobre o que você está vendo, sua visão continua a mesma. O mesmo com a consciência. Sua programação mental pode se alterar, mas você-consciência não se altera.
Sim, claro! O materialismo é um exemplo disso. A inferência de que a matéria é uma entidade física e externa ao observador, é uma inferência equivocada. Mas a ciência é uma prática baseada na observação, então, sempre tromba com alguma observação que aponta para a inferência equivocada. Atualmente as inferências da física clássica estão trombando com as observações da mecânica quântica. No passado, o geocentrismo trombou com as observações heliocêntricas. E assim por diante. Na verdade, a ciência avança com o fracasso de suas inferências e não com o sucesso. O fracasso do materialismo resultará, com certeza, no maior avanço científico da história do ser humano.
Estudo do ser humano no aspecto existencial, psicológico, pessoal e social.
Aula do ciclo de estudos de autociência EUreka 2024 – 1ficina