— Tem dois jeitos de controlar os outros — diz o unicórnio.
— Discordo! Tem vários! Minha mãe, por exemplo, me controlava mostrando o chinelo. Às vezes, nem precisava tanto, bastava me olhar enviesado e eu já obedecia — diz Marx.
— Todas as formas de controle se resumem a duas — diz o unicórnio — Sua mãe usava uma dessas duas.
— Não estou entendendo, seja mais claro! — diz Marx.
— Por que você obedecia sua mãe quando ela te mostrava o chinelo? — pergunta o unicórnio.
— Porque tinha medo de apanhar! — responde Marx.
— Essa é uma forma de controlar o outro: colocando medo no outro. Quando sua mãe te mostrava o chinelo, ela estava colocando medo em você. Você obedecia porque ficava com medo de apanhar — diz o unicórnio.
— Sim, era exatamente isso! — diz Marx.
— Imagina que você está dirigindo sua vida e está prestes a decidir se vai virar a direita ou à esquerda. Para controlar sua decisão, o que devo fazer? — pergunta o unicórnio.
— Você deve apontar para o lado indesejado e me mostrar o chinelo? — Marx responde fazendo uma piada.
— Hahahahaha — gargalha o unicórnio — Exatamente isso! Você deve me colocar medo. Deve dizer, por exemplo, que se eu virar a esquerda vou chegar em um lugar onde as pessoas comem criancinhas.
— Hahahahaha — gargalha Marx, entendendo a ironia — Mas a religião também faz isso, não?
— Faz sim, — responde o unicórnio — a religião aponta para o lado indesejado e te mostra um chinelo chamado inferno.
— O medo que o capitalismo coloca em mim tem data de validade. Quando eu morrer, não preciso mais me preocupar com dinheiro. O medo que a religião coloca em mim é o oposto, quando eu morrer é que meus problemas vão começar.
— Hahahahaha — gargalha o unicórnio — Bem observado, Marx.