Você entra em pânico, se descabela, frita de raiva, reclama da trilha sonora e o cara diz impávido colosso: “É só um filme!”. Você pensa: “Puta cara chato!”. Acertou! E não é o único. Nem é o primeiro. É apenas o chato da vez. Mais um que saiu da caverna de Platão.
Aliás, eis o chato honoris. Chatão era tão chato, mas tão chato, que inventou o cinema só para ser o cara chato no cinema. Apontava para o mundo e dizia: “É só uma sombra!”. Todo mundo fazia cara de ué. Se a piada fosse entendida, era legal. Se fosse legal, não era chata. Se não fosse chata, não era legal. Paradoxo chato.
Mas nem sempre o cara chato no cinema é chato. Quando o filme está bom, o cara é chato. Você pensa: “Pensar é chato!”. Quando o filme dói, o cara chato se transforma na última Neosaldina do pacote. Você pinta o chato de ouro, coloca o chato num altar, acende incenso para o chato, se ajoelha na frente do chato e tenta sair do transe cinematográfico cantando o mantra: “É só um filme”. Funciona como paliativo. Até que você dorme no cinema. Quando acorda, tem um cara chato do seu lado.