Toda vez que você executa alguma estratégia, você faz isso na esperança de realizar um desejo. Quando você bebe água, por exemplo, você faz isso na esperança de que essa estratégia (beber água) irá saciar sua sede. Ter esperança significa que você acredita que algo é possível. Não ter esperança, é o posto, significa que você acredita que algo é impossível.
Cada um vive e realiza seus desejos conforme o tamanho da sua esperança. Quem tem mais esperança, realiza mais, pois acredita que a realização é possível e essa crença produz persistência. Quem tem menos esperança, realiza menos, pois acredita que a realização é impossível e essa crença produz desistência.
Por isso que a esperança é a última que morre. Você sempre pode inventar uma nova estratégia para realizar o que deseja, mesmo que a realização pareça impossível. Viajar até a lua, por exemplo, foi considerado impossível no começo, mas devido à esperança de muitas pessoas, esse sonho se tornou realidade.
Esperança, no sentido de acreditar que algo é possível de ser realizado, é a força mais empoderadora da experiência humana. Todo ser humano que realiza feitos “impossíveis” só faz isso porque acredita que o “impossível” é possível. Davi venceu Golias porque acreditou que o “impossível” era possível. Santos Dumont saiu voando porque acreditou que o “impossível” era possível. Atletas olímpicos quebram recordes olímpicos porque acreditam que o “impossível” é possível.
Sem esperança, você é medíocre. É a esperança que transforma você em um ser extraordinário, capaz de realizar o “impossível”. Contudo, não é sobre esse significado de esperança que esse livro trata. Esse livro trata da esperança como esperar acontecer ao invés de fazer acontecer. Davi acreditou que poderia vencer Golias, mas ele não ficou passivo, esperando a vitória acontecer, ele fez acontecer.
O primeiro passo para realizar o “impossível” é acreditar que é possível. O segundo passo é abandonar a estratégia da esperança e agir. Tudo é possível de ser realizado desde que aja realização. Sem realização é impossível realização. Isso é óbvio ululante.
A palavra esperança tem duplo significado. Nesse livro vamos estudar a esperança no sentido de passividade (querer sem agir). Então, se você tem esperança que esse livro resolva alguma bosta na sua vida, pare com a leitura agora mesmo. Esse livro não é para alimentar sua passividade, é para acabar com ela. Esperança não resolve, mantém o problema. Espero que a leitura desse livro lhe ajude a se conscientizar disso.
Boa leitura!
2600 anos depois de Moisés ter subido o Monte Sinai para receber os 10 mandamentos, Maicolsofite Uindous, último descendente de Moisés, recebe um chamado durante um sonho e sobe o Monte Sinai novamente para receber um update.
— O senhor me chamou?
— Chamei sim, Maicolsofite!
— Em que posso lhe ser útil?
— Já faz tempo que conversei com seu ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ra vô. Muita água passou debaixo da ponte. Está na hora de fazer um update nos 10 mandamentos.
— Entendo, dez ficou pouco, vai aumentar.
— Não, vou diminuir
— Diminuir? A mundo está uma zona!
— Por isso mesmo!
— Vai ficar quantos? Cinco?
— Menos.
— Menos de cinco! Três?
— Menos.
— Dois?
— A partir de agora tem um mandamento só.
— Um só! Se 10 mandamentos não resolveram, como espera que um só vá resolver?
— Foi exatamente isso que pensei.
— Não entendi, senhor, pode me explicar melhor.
— Quando ditei os 10 mandamentos para seu ta ta ta ta ta ta ta ta ta ta ra vô, Moisés, eu tinha esperança que funcionasse, tinha esperança que resolvesse, tinha esperança que vocês, meus filhos, encontrassem a paz e a felicidade.
— Continuo sem entender, senhor.
— É simples, Maicolsofite, o bug no sistema é a esperança.
— Como assim?
— Eu passei mais de 2600 anos sofrendo porque tinha esperança que uma vez escrito os 10 mandamentos vocês iriam tomar juízo e ser bons filhos.
— Então, ao invés de diminuir, aumenta os mandamentos. Faz logo uma constituição divina inteira, com direito a código de defesa do consumidor e tudo mais. Coloca todos os pingos nos ís, todos os acentos, todas as vírgulas e aumenta a punição para quem desobedecer. Ir para o inferno está pouco, porque o mundo já está um inferno. Coloca multa em dinheiro que dinheiro é a única coisa que o povo respeita.
— Não, Maicolsofite, você só está me dizendo isso porque ainda está rodando o bug da esperança. Esse é o problema: a esperança. Por isso te chamei aqui. Vou fazer um update em você e você irá repassá-lo para seus irmãos.
— Tudo bem, senhor, estou pronto. Pode fazer o update. Qual é o único mandamento?
— Perca as esperanças.
— Senhooooor!!!! Ficou louco!!!!
— Não, Maicolsofite, nunca estive tão lúcido.
— Toda religião está baseada na esperança. Todos seus filhos vão à missa e fazem de conta que estão seguindo os 10 mandamentos na esperança de que você cuide bem deles e resolva seus problemas.
— Exatamente, Maicolsofite. E quando foi que eu resolvi o problema de alguém? Você sabe quando? Nunca! Todos os problemas que são criados no mundo são vocês que criam e toda solução também. O único problema que eu criei no mundo foi dar esperança para vocês. Mas agora entendi meu erro e chamei você aqui para começar a corrigi-lo.
— Quer dizer que não devemos ter esperança que você irá nos salvar e resolver nossos problemas?
— Vocês não devem mais ter esperança em mim nem em ninguém. Vocês devem desistir de toda e qualquer esperança. Vocês devem encontrar outra maneira de resolver seus problemas. Vocês devem encontrar outra maneira de viverem em paz e serem felizes. A esperança não funciona. Temos 2600 anos de prova do fracasso da esperança. Todo mundo vive esperando tudo de todo mundo e tudo que todo mundo consegue é apenas continuar esperando. A esposa tem esperança que o marido mude e o marido tem esperança que a esposa mude, o fulano tem esperança que ciclano mude e o ciclano tem esperança que fulano mude. E nada muda porque a esperança é o problema, é o bug no sistema, entendeu agora?
— Sim, senhor, entendi. Mas se perdermos a esperança, não sobra nada! Cada um ficará por conta própria e se tornará o único responsável por viver em paz e ser feliz.
— Isso mesmo!
— Ok, senhor, espero que funcione.
— Olha o bug novamente!
Viver bem não é questão de força, é questão de inteligência. Por isso, não importa o tanto que você queira viver bem, se você não usar uma boa estratégia, por mais que queira viver bem, por mais que se esforce, você viverá mal.
Melhores resultados não vem de maiores desejos, vem de melhores estratégias. Todo bom jogador sabe disso. E você, mesmo que não goste de jogos, deveria saber também, afinal, viver é jogar o jogo de ser humano.
Mas o que a estratégia tem a ver com a bosta? Vou explicar.
Imagine que você tomou chuva e sua calça ficou molhada. Você tira a calça e a pendura no varal para secar. Talvez você precise esperar um dia ou dois, mas sua calça irá secar. E por que? Simples, porque água evapora.
Agora, imagine que você cagou nas calças. Adianta você usar a mesma estratégia? Adianta pendurar a calça cagada no varal para resolver o problema? Claro que não! E por que não? Porque bosta não evapora.
Estou usando a imagem da bosta para representar um problema. O pneu do seu carro furou, por exemplo, é uma bosta. Como resolver? Adianta pendurar a bosta do pneu furado no varal? Claro que não! Por que não? Porque bosta não evapora. O boleto vence amanhã. Adianta pendurar a bosta do boleto no varal? Claro que não! Por que não? Porque bosta não evapora.
Se bosta é uma metáfora para problema, pendurar a roupa no varal é metáfora para quê? É metáfora para esperança. Quando você pendura a calça molhada no varal, você faz isso na esperança de que o calor do sol evapore a água e seque a calça. Você usa a estratégia da esperança. E funciona, porque água evapora. Quando você usa a estratégia da esperança com a calça cagada, não funciona, porque bosta não evapora.
Em outras palavras: esperança não serve para resolver problemas. E por que não? Porque problemas não se resolvem sozinhos (não evaporam). Para se resolver um problema é preciso que você faça ele evaporar. Para consertar o pneu furado, você precisa reparar o pneu. Para não levar multa, você precisa pagar o boleto.
Era um grupo de 20 pessoas dentro do meu apartamento. Tinha uns médiuns incorporados, a gira girando e o pau comendo. Me deitei no chão para receber um passe energético. De repente, um amigo, que estava incorporado, se aproximou para falar comigo. Só que ele veio falar no meu ouvido, como se fosse um segredo. Devia ser algo muito importante para ser dito em particular. Redobrei a atenção. Ele me disse: “Cresça!”.
Arregalei os olhos. Era tudo que não queria ouvir. Mas também era tudo que precisava ouvir. Fiquei em dúvida se o autor do ensinamento era um guia ou era meu amigo se valendo da situação. Cheguei a conclusão que era irrelevante. Após destruir todas minhas defesas com uma única palavra, veio o golpe final: “Você não é mais criança, então, pare de se comportar como uma!”.
Minha infância acabou ali, naquele instante, aos 38 anos de idade.
Esperança é uma estratégia infantil. Esperança é esperar por um milagre. Quando você é criança, você abre a geladeira e o leite está lá, você senta na mesa e tem pão, você abre o guarda roupa e tem roupa limpa e perfumada. Você não tem consciência dos processos que fazem com que todas as coisas aconteçam na sua realidade, então, você acredita que acontecem por milagre. Por conta disso, você desenvolve a crença de que algo ou alguém vai resolver seus problemas por você. Na infância, seus pais até fazem isso. Porém, quanto mais você fica adulto, menos santo tem para te ajudar.
Não importa o tamanho da sua fé na evaporação da bosta, não vai acontecer. Bosta não evapora. Ou você faz o milagre acontecer, ou não acontece. O leite não vai aparecer na geladeira. O pão não vai se materializar em cima da mesa. A roupa suja não vai se lavar sozinha. Nenhum dos seus problemas serão resolvidos através da esperança.
Você pode e deve ser positivo em relação à ação que irá realizar para resolver seu problema, mas você precisa agir. Ficar esperando que seus problemas evaporem é perpetuar o problema. Para resolver seus problemas, desista da estratégia da esperança e coloque qualquer outra estratégia autoísta em ação.
Se a bosta externa não evapora, menos ainda a bosta interna, que sequer tem acesso ao sol. Problemas externos, embora não possam ser resolvidos com esperança, podem ser terceirizados. Você pode, por exemplo, levar sua roupa suja até uma lavanderia, casar com uma pessoa rica que pague seus boletos, pedir para um borracheiro consertar seu pneu furado.
Tudo isso pode ser terceirizado porque pessoas externas podem acessar seus problemas externos. Mas no caso dos problemas internos, isso é impossível. Só você tem acesso aos seus sentimentos, pensamentos, valores e desejos.
Então, em relação as suas bostas internas, angústia, depressão, pânico, ansiedade, culpa, revolta, etc, usar a estratégia da esperança é garantia absoluta de perpetuação do sofrimento. Ou você executa o processo de mudança interior, ou a bosta interna vai continuar fedendo tanto quanto antes, ou até pior.
A primeira vez que produzi um clip da música Shangrilá, eu morava em um sítio com minha avó. No sítio ao lado morava Sebastião, irmão mais velho dela. Bastião, como todos o chamavam, acordava todo dia bem cedo para fazer caminhada na rodovia vicinal que passava em frente o sítio. Ele andava dois quilômetros em uma hora, ida e volta, arrastando os chinelos pelo asfalto. Dava tempo de ordenhar todas as vacas do sítio e Bastião ainda não havia terminado sua caminhada matinal.
A paciência vagarosa de Bastião me encantava. Era como se ele caminhasse cantando a música Shangrila. Então, certo dia, peguei minha filmadora e gravei ele caminhando até chegar na porteira do sítio. Depois peguei a gravação, acrescentei a música Shangrilá e carreguei no youtube. Foi o primeiro clipe da música. A versão atual dessa música é com outra gravação e outro vídeo, mas a caminhada de Bastião permanece na minha memória como fonte de inspiração.
Bastião era caipira pira pora, mas caminhava como um discípulo budista, dando passinhos de zazen. “Será que todo caipira é iluminado?” eu pensava. Minha avó também era iluminada. Ela tinha até mantra para expressar o caminho para iluminação. Ela dizia: “Devagar é pressa”. Sabe quando uma pessoa querida te abraça calorosamente numa situação de estresse e te diz: “Calma! Está tudo bem”. Eu sentia o mesmo conforto ouvindo o mantra da minha avó.
Mas onde quero chegar com tudo isso? Quero chegar em Shangrilá e explicar a diferença entre paciência e passividade. Contei tudo isso para introduzir e ilustrar o tema. O que desejo esclarecer é porque paciência é uma virtude e passividade não.
Primeiro vamos entender o que é passividade.
Imagine que você está jogando xadrez. Passividade é a crença equivocada de que você não precisa fazer nada para ganhar o jogo, que um milagre irá pensar por você, mexer suas peças por você, jogar por você e ganhar por você. Passividade é esperança. É esperar que algo ou alguém irá fazer por você o que só você pode fazer por você: viver sua vida. Por isso que passividade não é virtude.
Passividade é sua vida sem você. Passividade é você sentado no banco do passageiro assistindo os outros e as circunstâncias dirigirem sua vida. E pior! Na maioria das vezes, dirigindo sua vida para o lugar oposto de onde você deseja estar.
Por isso que muitas vezes você perde a paciência, berra, esperneia, roda a baiana e parte para briga. Você pensa: “Passividade não, passividade nunca, passividade jamais!”. Seu pensamento está correto, pois passividade não te ajuda mesmo. É preciso ter atitude para ser autor da própria história. Mas não é perdendo a paciência que você consegue isso.
Voltando ao jogo de xadrez, você deve agir para jogar e ganhar o jogo. Você deve pensar, optar e mover suas peças. Mas isso é na sua vez de jogar. Uma vez que você moveu sua peça, sua vez acabou e começa a vez do outro. É a vez do outro pensar, optar e fazer a jogada dele. Nesse momento do jogo, quando é a vez do outro jogar, não há nada externo que você possa fazer, pois você não controla o arbítrio do outro. Nesse momento do jogo, a única coisa que você pode fazer é ter paciência.
Eis o desafio do jogo da convivência. Conviver é igual dirigir carro no trânsito, você dirige seu carro, mas só dirige o seu, não dirige o carro dos outros. Quando você esquece disso ou ignora isso, é impossível ter paciência.
Passividade é fruto do medo, paciência é fruto da lucidez. Passividade é quando você se proíbe de agir por medo da reação do outro. Paciência é quando você sabe que é impossível agir pelo outro e por isso nem tenta. Quem olha para você de fora vê o mesmo comportamento: não-ação. Mas na paciência você fica em paz com a não-ação e na passividade você fica contrariado.
No livro Sidarta, de Hermann Hesse, tem uma linda passagem sobre a paciência. Sidarta está procurando emprego e vai conversar com um comerciante:
— O que você sabe fazer? — pergunta o comerciante.
— Sei pensar, sei esperar, sei jejuar. — responde Sidarta.
— E que valor tem saber isso? — pergunta o comerciante — O jejum, por exemplo, para que serve o jejum?
— O jejum é a coisa mais inteligente que se pode fazer para quem não tem o que comer. Se eu, por exemplo, não tivesse aprendido a suportar a fome, seria obrigado a aceitar hoje mesmo um serviço qualquer, seja na tua casa, seja em outro lugar, já que a fome me forçaria a fazê-lo. Mas posso aguardar os acontecimentos com toda calma. Não preciso ficar impaciente. Para mim não existem situações embaraçosas. Posso aguentar por muito tempo o assédio da fome e ainda rir dela. É para isso que serve o jejum.
Hermann Hesse está explicando porque você perde a paciência. A fome representa a dor, esperar representa a paciência. Quando você está sofrendo, seja com dor física, como na fome, seja com dor psicológica, como na raiva, a probabilidade de você perder a paciência aumenta, pois você precisa ter sabedoria interior para suportar a dor do desejo insatisfeito. Sabedoria interior para suportar a dor do desejo insatisfeito é o que Hermann Hesse chama de jejum (suportar a fome).
Hermann Hesse explica que paciência é uma aprendizagem, ou seja, que requer prática, e explica o benefício: “Se eu não tivesse aprendido a suportar a fome, seria obrigado a aceitar hoje mesmo um serviço qualquer, seja na tua casa, seja em outro lugar, já que a fome me forçaria a fazê-lo”. Ou seja, paciência não é heroísmo, nem abnegação, é apenas inteligência, é apenas a melhor opção. Se Sidarta perdesse a paciência e não suportasse a dor, teria que aceitar um serviço qualquer.
A famosa oração da serenidade diz assim: “Deus, conceda-me a serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, a coragem para mudar as coisas que posso e a sabedoria para discernir uma da outra”. Note que a oração explica que tem coisas que são do seu arbítrio e coisas que não são, mas o segredo do sucesso é discernir uma da outra. Ou seja, viver mal não vem do fato de que tem coisas que são do seu arbítrio e coisas que não são, mas da ignorância disso. Por isso, para ter paciência, só com lucidez.
Paciência é o tanto de contrariedade, frustração e desconforto que você consegue suportar até realizar o que quer. Sou uma pessoa paciente, por isso me sinto a vontade para definir essa competência. Mas não nasci paciente. Ninguém nasce com paciência. Todo ser humano quando nasce é um bicho com reação instintiva e capacidade zero de suportar a dor. Paciência é uma competência intelectual e adulta, desenvolvida através de muita prática de autoobservação e autoanálise.
Assim como não é num click que você consegue suportar 20 quilos com os braços, também não é num click que você consegue suportar contrariedade, frustração e desconforto com a consciência.
Não é nada fácil desenvolver a paciência e digo isso por experiência própria. Não é fácil suportar a dor. É um trabalho de Hércules. Não é fácil discernir entre o que são as coisas que você pode mudar e as coisas que não pode. É um trabalho de Buda. Mas vale todo o esforço.
Com paciência você vive e convive bem. Assim como John Lenonn, você entende que nada é capaz de mudar seu mundo (tirar sua paz). Daí, ao invés de enroscar nas circunstâncias feito carrapicho, você começa a deslizar feito sabonete. Assim como minha avó, você entende que devagar é pressa e começa a caminhar tranquilo e feliz como Bastião. Assim como Sidarta, você descobre que Shangrilá é aqui, se torna barqueiro, e vai morar na terceira margem do rio.
Todo texto, pequeno ou grande, livro ou redação, começa pelo título. O título é o resumo máximo da ideia. O texto é o desdobramento do título. Todo escritor roda ao redor do título, assim como uma mariposa roda ao redor da luz. Pode ser que o título surja só no fim, depois que o texto esteja concluído. Mas isso não significa que o título não está sempre presente. Está. E o escritor roda ao redor dele, só que inconsciente. Terminado o texto, o escritor percebe qual é o centro de sua órbita e traz o título ao consciente.
Quando um escritor olha para o título de sua obra, ele vê tudo que a compõe, todos os parágrafos, todas as palavras, tudo que foi dito explicitamente e tudo que foi implicado. O título “O retrato de Dorian Gray”, por exemplo, já diz tudo que Oscar Wilde tem a dizer para o leitor. Só que o leitor, antes da leitura, ainda não tem acesso a tudo que já está no título. Depois da leitura, sim, o leitor olha para capa do livro e pensa: estava tudo no título.
Por que estou falando em títulos se o título do meu texto não é “títulos”? Porque assisti um seriado que tem um título aparentemente bobo, mas que se torna extraordinário depois que você assiste. O título é: “Olá, amanhã!”. Passei batido nas primeiras vezes que o algorítimo me ofereceu. E se dependesse do título, continuaria ignorando. Só dei uma chance ao seriado porque o ator principal é ótimo e ótimos atores não costumam aceitar papéis ruins.
Comecei a assistir o seriado e o título ruim se transformou em excelente. O que aconteceu que mudou meu entendimento? Aconteceu a história de um golpe perfeito. Jack, personagem principal do seriado, percebe que as pessoas têm uma vida miserável, que estão deprimidas e cheias de problemas. Então, decide vender uma solução mágica para resolver isso: mudar para lua. Deixe seus problemas na terra e vá morar na lua!
Jack inventa uma imobiliária falsa que vende casas falsas na lua. Claro que nenhum comprador compra a casa em si, compram a promessa de Jack: o fim de todos os problemas. Mas isso a Coca-Cola, o McDonald’s e todas as religiões do planeta também vendem. O golpe de Jack é perfeito porque os compradores nunca chegam a descobrir que foram enganados. Tem um segundo golpe dentro do primeiro: o dia do lançamento do foguete que irá levar os compradores até a lua (fim de todos os problemas) é amanhã.
Amanhã é nunca! É por isso que a esperança não resolve bosta nenhuma. Qualquer um pode resolver todos os seus problemas amanhã, até você pode fazer isso. Só que amanhã é um dia que nunca chega, por mais que você espere. Então, esperar que seus problemas sejam resolvidos amanhã, só serve para perpetuá-los. Se você quer resolver seus problemas, não caia no golpe da esperança, a solução é agir agora e sempre.
Todo grupo de amigos tem suas piadas particulares. Participo de um grupo de skatistas veteranos que a piada é: “Deu sorte!”. Tem um integrante desse grupo que é um excelente skatista, um dos melhores da cidade. Ele grava vídeos dele executando manobras difíceis e posta nas redes sociais. A qualidade da execução das manobras são dignas de emojis de palmas. Contudo, não importa quão excelente é a execução dele, em nosso grupo, ao invés de receber palmas, recebe sempre o mesmo comentário jocoso: “Foi sorte!”.
Meu amigo já está acostumado com o comentário e sabe que é inveja. Inveja branca, porque somos amigos, mas ainda assim, inveja. Tanto que, outro dia, antevendo a tradicional piada, ele postou um vídeo dele com a seguinte legenda: “Depois de 121 tentativas, olha só a sorte que dei na tentativa 122!”. Claro que ninguém se rendeu a sua dedicação. Os comentários foram os mesmos de sempre, apenas adaptando a piada ao número 122.
Pense em todos os grandes seres humanos que já existiram na história da humanidade. Grandes filósofos, grandes artistas, grandes atletas, grandes mestres, grandes profissionais, etc. Pense nas pessoas que você convive e admira. Grandes pais, mães, maridos, esposas, filhos, amigos, etc. Você realmente acredita que a excelência de todas essas pessoas é sorte? Claro que não! Mas então, por que tem esperança de que a sorte irá fazer por você o que só você pode fazer por você: ser você ao máximo?
Quer ter sorte na vida? É simples! Siga a receita de todos os seres humanos que atingiram a excelência: pare de querer e comece a agir! Querer não realiza porra nenhuma! Querer apenas dá a direção do que você deseja realizar, mas nada acontece se você não faz acontecer. Não existe sorte. Não existe milagre. Não existe realização sem ação. Ou você tira a bunda da cadeira e faz alguma coisa a respeito do que quer, ou vai morrer frustrado, sentado na mesma cadeira, colocando a culpa no azar que você mesmo criou para si.
Você tenta limpar uma casa. Usa água, sabão, detergente, escovas, aspirador de pó e muita motivação. Porém, por mais que tente limpar essa casa, não consegue. A sujeira não sai. A bagunça continua.
Você não entende porque fracassa, mas não desiste. Nada abala sua motivação. Todo dia você acorda e tenta novamente. Heroicamente. E segue fracassando até morrer.
Quando morre, fica arrasado. Você passou a vida inteira tentando limpar uma casa e fracassou. Você sente que desperdiçou sua vida. Tanto trabalho para nenhum resultado. A frustração é tanta que você não consegue parar de chorar.
Um anjo escuta seu choro e vem conversar com você. Ele pergunta o que aconteceu e você conta sua história. O anjo vai até a casa que você tentou limpar e volta para conversar com você.
— Você cometeu um grande equívoco — diz o anjo.
— Qual equívoco? — você pergunta — Usei o sabão errado? Usei a escova errada? Usei o detergente errado? O que foi que fiz de errado?
— Você tentou limpar a casa errada! — responde o anjo — Aquela casa não é a sua! É a casa do outro!
Não faça a coisa certa no lugar errado. Faxina mental é certo, mas a única mentalidade que você consegue limpar é a sua.
Se você quer mudar o outro: sua esposa, seu marido, seus filhos, seu pai, sua mãe, seus amigos, seus inimigos, o vizinho, sua sociedade, etc. Meu conselho é que desista. Você está numa missão impossível. Você vai morrer tentando sem jamais conseguir. Se fosse possível mudar o outro, o outro não seria outro, seria você.
Se você quer mudar sua realidade, resolver seus problemas, realizar suas capacidades, melhorar suas habilidades e comportamentos, mas está fracassando, troque o ponto final pela vírgula e acrescente a palavra “ainda”. Eu não consegui, ainda.
Não existe fracasso, tudo é aprendizagem. Fracasso é o laboratório do êxito. Tente! Teime! Insista! Persista! Tente outra vez! De novo! O impossível não é maior que seu poder de inventar outra opção. Ou você consegue, ou você aprende.
Sim, pra tudo tem jeito / tudo pode ser feito / se você acredita / Nada pode lhe impedir / de sempre conseguir / se você acredita /
O impossível não é maior que seu poder / de inventar outra opção: recriar / Eu também penso que não / mas o meu coração / por alguma razão / insiste que sim / Eu também penso em desistir / mas o meu coração / por alguma razão / não desiste de mim /
Não existe perfeito / apenas faça do jeito / que você acredita / Seu inimigo é tudo / seu aliado é tudo / que você acredita /
O impossível não é maior que seu poder / de inventar outra opção: recriar / Eu também penso que não / mas o meu coração / por alguma razão / insiste que sim / Eu também penso em desistir / mas o meu coração / por alguma razão / não desiste de mim
Claro que é mais fácil dizer que é difícil. Claro que é mais fácil fazer mimimi. Claro que é mais fácil ficar na mesmice, na zona de conforto, censurar e depois dizer vitorioso: “Eu não disse que era loucura!”. Mas é esse tipo de vitória que você quer experimentar? A vitória do mais do mesmo? A vitória da inércia? Ou será que você está louco de vontade de pirar nas possibilidades, de se atirar de cabeça nos desafios, de colocar o delírio em prática, de realizar o impossível e depois dizer: “Eu não disse que era loucura!”.
Quem quer inventa um meio, quem não quer inventa um freio. Se você quer mesmo. Se quer de doer no osso. Se quer de ficar com febre. Então, de que importa o tamanho do desafio? Não há dificuldade capaz de vencer sua inteligência e vontade. Difícil é viver mal.
Eram quatro pessoas: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém. Havia um trabalho a ser feito. Todo Mundo tinha esperança que Alguém faria. Qualquer Um podia fazer. Mas Ninguém fez. Todo mundo ficou esperando Qualquer Um fazer. Terminou Todo Mundo culpando Alguém porque Ninguém fez o que Qualquer Um podia ter feito.
Você possui duas vidas. A vida que vive, mas não quer viver, e a vida que quer viver, mas não vive. Entre as duas, encontra-se a esperança.
Você provavelmente já ouviu a história: mulher fica sabendo que tem câncer, seis meses de vida. Em poucos dias, pede demissão do trabalho, retoma seu sonho de compor canções que abandonou para cuidar da família (ou começa a estudar grego clássico, ou dedica-se a cuidar de bebês com AIDS). Os amigos da mulher acham que ela enlouqueceu. Ela mesma nunca se sentiu mais feliz. O câncer da mulher começa a regredir.
É preciso encarar a morte para você abandonar a esperança e partir para ação? É preciso que a esperança aleije e desfigure sua vida para você entender que amanhã é nunca?
Quantas pessoas se tornam bêbadas e drogadas, desenvolvem tumores e neuroses, sucumbem a medicamentos e compulsões, por não viverem em acordo com o que seus corações clamam?
Esperança mata.
Se todas as pessoas do planeta abandonassem a esperança hoje e decidissem viver em auto-realização, todos os psiquiatras da lista telefônica fechariam as portas amanhã, as prisões se esvaziariam, as indústrias de bebidas alcoólicas iriam à falência e a violência se extinguiria.
Olhe no fundo do seu coração. A menos que eu seja louco, neste mesmo instante uma vozinha fraca está sussurrando, dizendo-lhe, como já fez milhares de vezes, qual é a vocação que é sua e apenas sua. Você sabe. Ninguém tem que lhe dizer. E a menos que eu seja louco, você não está mais perto de tomar uma atitude em relação a ela do que estava ontem ou estará amanhã.
Pare de querer e comece a fazer. Abandone a esperança.
Hitler queria ser artista. Aos 18 anos, pegou sua herança, setecentos kronen, e mudou-se para Viena. Inscreveu-se na Academia de Belas-Artes e posteriormente na faculdade de arquitetura. Já viu algum quadro dele? Eu também não. Você pode achar que é exagero, mas vou dizer mesmo assim: foi mais fácil para Hitler ir contra o mundo inteiro do que ir a favor da sua auto-realização.
(Trecho adaptado do livro Guerra Da Arte, de Steven Pressfield)
Não existe estratégia boa ou má em si. Uma estratégia só se torna boa ou má quando se determina um objetivo. Usar uma chave de fenda, por exemplo, é uma boa estratégia quando seu objetivo é apertar um parafuso, mas é uma má estratégia quando seu objetivo é escovar os dentes.
Outra coisa é que depende do beneficiário, ou seja, boa para quem? Vamos supor que seu objetivo é que seu filho pare de jogar videogame. Colocar fogo no videogame dele é uma boa estratégia. Mas essa estratégia é boa para você e não para o seu filho. Em questão de convivência, não é boa nem para você, pois resulta em má convivência com seu filho.
Então, o primeiro passo para se criar uma boa estratégia, é estar bem esclarecido sobre qual é o objetivo que você deseja atingir. O segundo passo é exercitar a imaginação, pois estratégias são produtos da imaginação.
A esperança é sempre uma opção. O problema é que, embora você sempre possa optar pela esperança, a estratégia da esperança jamais irá levar você a realização do seu objetivo. Esperança é uma estratégia sempre optável, porém, jamais realizadora do objetivo.
Não! O ciclo de estudos Eureka irá ensinar você a se resolver.
Da quantidade de memórias de êxito que você tem em relação a um objetivo. Por exemplo, se seu objetivo for fazer um bolo de cenoura e você nunca fez isso antes, a ausência de memórias de êxito nesse objetivo irá deixá-lo inseguro do êxito, ou seja, sua fé em si será fraca. Por outro lado, se você for um confeiteiro, que faz bolo de cenoura todo dia, a abundância de memórias de êxito nesse objetivo irá deixá-lo totalmente seguro em relação ao êxito, ou seja, sua fé em si será forte.
Cura psicológica é cura do outroísmo. A doença psicológica humana é o outroísmo. Todas as doenças psicológicas humanas são nomes diferentes para o outroísmo.
Lamúria é uma estratégia de controle. Visa convencer o outro que você é vítima e fazer com que o outro sinta pena de você. Ou seja, você não executa a lamúria para resolver seu sofrimento, você executa a lamúria para controlar o outro.
Você não cultiva o sofrimento, você cultiva a ignorância, que resulta em viver mal, que resulta em sofrimento.
Seus pais não te aceitam assim, então, você finge ser assado. Seus amigos não te aceitam redondo, então, você finge ser quadrado. O casamento não aceita a libido, então, você finge ser capado. A religião não te aceita egoísta, então, você finge ser abnegado.
Cada fingimento que você executa é um tijolo a mais que você coloca nas costas. Você vive soterrado, mas não deixa ninguém relar em um tijolo sequer. São seus troféus. É o fruto da sua autonegação. Anos e anos aprimorando a competência subconsciente em ser outro. Você nem sabe mais ser você. Ser outro é tudo que lhe resta.
Por isso você defende seu outroísmo apesar do sofrimento.
O outroísmo mais difícil de curar é o próprio. Até porque não tem outro para você curar.
Estudo do ser humano no aspecto existencial, psicológico, pessoal e social.
Aula do ciclo de estudos de autociência EUreka 2024 – 1ficina